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Uma maneira de construir uma vers˜ao do processo descrito na se¸c˜ao 4.1 ´e usar a constru¸c˜ao gr´afica de Harris. Para isto, considera-se uma cole¸c˜ao de processos de Poisson independentes:

4.2. Constru¸c˜ao gr´afica e sobrevivˆencia do processo 35 Os processos Nλx,y, Nx,y

α tˆem intensidades λ e α respectivamente, e Dx tem intensidade 1.

No que segue, iremos detalhar os processos de Poisson introduzidos acima, indicando as poss´ıveis transi¸c˜oes de estados e respectivas taxas nas quais elas ocorrem.

1. Em cada tempo de chegada de Nλx,y se existe 1 ou 2 em x e 0 em y, ent˜ao o estado do s´ıtio y muda para 1.

2. Em cada tempo de chegada de Nx,y

α se os s´ıtios x e y est˜ao nos estados 2 e 1

respectivamente, ent˜ao o estado do s´ıtio y muda para 2.

3. Em cada tempo de chegada de Dx se existe 1 ou 2 em x, ent˜ao ser´a substitu´ıdo por 0.

Figura 4.1: Uma poss´ıvel realiza¸c˜ao da representa¸c˜ao gr´afica do modelo de difus˜ao de inova¸c˜ao na reta Z. O eixo horizontal representa o espa¸co, e a reta vertical sobre um ponto x ´e a linha do tempo em x. As retas verticais cinzas indicam a fra¸c˜ao do espa¸co-tempo que o ponto x est´a no estado 0, as retas azuis no estado 1 e as retas vermelhas no estado 2. As setas verdes s˜ao marcas do processo de Poisson Nλx,y, as setas roxas identificam

marcas do processo de Poisson Nαx,y, e os pontos × s˜ao do processo de Poisson Dx.

Dessa maneira, ´e poss´ıvel construir uma vers˜ao espacial do modelo de difus˜ao de inova¸c˜ao considerado. Primeiro, focaremos nossa aten¸c˜ao tanto na sobrevivˆencia quanto na extin¸c˜ao da informa¸c˜ao.

Defini¸c˜ao 4.2.1. Extin¸c˜ao e sobrevivˆencia. A extin¸c˜ao da informa¸c˜ao tem diferentes significados dependendo da configura¸c˜ao inicial do processo. Neste caso, “informa¸c˜ao” refere-se tanto `a existˆencia de conscientes quanto de adotadores. Se o processo come¸ca

36 Cap´ıtulo 4. Modelo de difus˜ao de inova¸c˜ao com um n´umero finito de conscientes e adotadores, dizemos que a informa¸c˜ao se extingue se existe, quase certamente, um tempo aleat´orio finito depois do qual todos os s´ıtios de Zd est˜ao em estado 0. Por outro lado, se o processo come¸ca com um n´umero infinito de conscientes ou adotadores, dizemos que a informa¸c˜ao se extingue se para cada s´ıtio fixado existe, quase certamente, um tempo aleat´orio finito depois do qual o s´ıtio ficar´a em estado 0 para sempre. Se a informa¸c˜ao n˜ao se extingue dizemos que sobrevive.

Antes de discutir sob quais condi¸c˜oes a informa¸c˜ao sobreviver´a ou se extinguir´a, ´e preciso lembrar a defini¸c˜ao do parˆametro cr´ıtico com rela¸c˜ao ao processo de contato b´asico d-dimensional.

Defini¸c˜ao 4.2.2. O parˆametro cr´ıtico do processo de contato b´asico d-dimensional, com δ = 1, ´e definido da seguinte maneira:

λc= λc(d) = sup{λ : θ(λ) = 0}. (4.2)

Teorema 4.2.1. Considere o modelo estoc´astico de difus˜ao de inova¸c˜ao em Zd, para d ≥ 2, e seja λc(d) o parˆametro cr´ıtico do processo de contato b´asico d-dimensional.

(i) Se λ > λc(d), ent˜ao a informa¸c˜ao sobrevive com probabilidade positiva.

(ii) Se λ ≤ λc(d) ent˜ao a informa¸c˜ao se extingue quase-certamente.

Observa¸c˜ao 4.2.1. Vamos considerar os indiv´ıduos que est˜ao no estado 2 como perten- centes ao estado 1, n˜ao existe interesse em identific´a-los separadamente. Diante disso, a demonstra¸c˜ao do Teorema 4.2.1 resulta do acoplamento direto, via constru¸c˜ao gr´afica, do processo de difus˜ao de inova¸c˜ao com o processo de contato b´asico d-dimensional de parˆametro λ.

Demonstra¸c˜ao. Considere um acoplamento entre o processo de difus˜ao de inova¸c˜ao e o processo de contato d-dimensional (ξt)t≥0 com taxas dadas por:

transi¸c˜ao taxa 0 → 1 λn1(x, ξ)

1 → 0 1.

(4.3)

No tempo inicial 0, definimos ξ0(x) = 0 se η0(x) = 0 e ξ0(x) = 1 se η0(x) 6= 0.

Em palavras, usamos como configura¸c˜ao inicial para o processo de contato a configura¸c˜ao inicial do processo de difus˜ao de inova¸c˜ao substituindo todos os 2’s por 1’s. Constru´ımos dessa forma uma vers˜ao do processo de contato com taxas dadas por (4.3) usando os

4.3. Principais resultados 37 mesmos processos de Poisson Nλx,y e Dx considerados na constru¸c˜ao gr´afica do processo

de difus˜ao de inova¸c˜ao, ignorando as marcas dos processos Nx,y

α . Mais precisamente,

usamos a taxa λ do processo de Poisson Nλx,y a qual faz aparecer 1 em ξ, e usamos a taxa constante 1 do processo Dx para recupera¸c˜ao em ξ. A partir desse acoplamento obtido, podemos afirmar que um s´ıtio est´a infectado no processo de contato se, e somente se, existe um consciente ou um adotador no mesmo s´ıtio para o processo de difus˜ao de inova¸c˜ao. Diante disso, utilizaremos resultados do processo de contato para garantir a sobrevivˆencia ou a extin¸c˜ao da inova¸c˜ao. Assim, quando λ ≤ λc(d) o processo de contato se extingue

para qualquer configura¸c˜ao inicial (finita ou infinita). Isso significa que conscientes e adotadores no processo de difus˜ao de inova¸c˜ao desaparecem, o que implica na extin¸c˜ao da informa¸c˜ao. Em contrapartida, se λ > λc(d), existe uma probabilidade positiva de que

existir˜ao sempre 1’s ou 2’s no processo de difus˜ao de inova¸c˜ao, se inicialmente tivermos pelo menos um consciente ou um adotador.

4.3

Principais resultados

Na se¸c˜ao anterior, definimos a extin¸c˜ao da informa¸c˜ao como na defini¸c˜ao 4.2.1. Neste caso, “ informa¸c˜ao ” refere-se tanto `a existˆencia de informantes quanto de adotadores.Por outro lado, nessa se¸c˜ao, definimos a extin¸c˜ao da inova¸c˜ao como na Defini¸c˜ao 4.2.1, mas concentrando a aten¸c˜ao apenas nos adotadores. Isto ´e, se existir um tempo aleat´orio finito depois do qual, quase certamente, n˜ao haver´a mais adotadores no sistema.

Dessa forma, os seguintes resultados tratam o caso em que a informa¸c˜ao sobrevive com probabilidade positiva. Queremos investigar para quais valores de α temos a extin¸c˜ao ou a sobrevivˆencia da inova¸c˜ao.

A demonstra¸c˜ao dos Teoremas inclui argumentos de caixas e compara¸c˜ao com modelos de percola¸c˜ao orientada convenientemente definidos. As caixas representam v´ertices no modelo de percola¸c˜ao orientada e s˜ao declaradas abertas ou n˜ao de acordo a eventos de interesse. Limitantes para as probabilidades desses eventos s˜ao calculados via compara¸c˜ao do processo original com o processo de contato restrito `a caixa.

Teorema 4.3.1. Seja λ > λc(d) fixo. Ent˜ao existe uma constante 0 < α1 < ∞ tal que se

α < α1, a inova¸c˜ao se extingue.

Demonstra¸c˜ao. A principal id´eia para provar a extin¸c˜ao dos adotadores do processo de difus˜ao de informa¸c˜ao ´e comparar o sistema de part´ıculas (ηt)t≥0 com um processo de

percola¸c˜ao orientada adequado definido em L = Zd× Z +.

38 Cap´ıtulo 4. Modelo de difus˜ao de inova¸c˜ao Considere as seguintes regi˜oes espa¸co-tempo:

Λ1 = [−2L, 2L]d× [0, 2T ] Λ2 = [−L, L]d× [T, 2T ]. (4.4)

Seja ∆ a fronteira de Λ1:

∆ = {(x, t) ∈ Λ1 : |xi| = 2L para algum i = 1, ..., d ou t = 0}.

Associamos a cada s´ıtio (x, t) uma vari´avel aleat´oria ω(x, t) que assume os valores 0 − 1.

Figura 4.2: Esbo¸co das caixas no caso d = 1, onde L = Z × Z+, Λ1 = [−2L, 2L] × [0, 2T ]

e Λ2 = [−L, L] × [T, 2T ].

Se ω(x, t) = 1, dizemos que o s´ıtio (x, t) est´a aberto, caso contr´ario, o s´ıtio (x, t) est´a fechado. Assim, dizemos que um s´ıtio (x, t) ∈ L est´a aberto se, e somente se, para o processo restrito a Λ1 + (x, t), a caixa Λ2 + (x, t) cont´em apenas s´ıtios no estado 0 ou 1

(ou seja, n˜ao cont´em nenhum s´ıtio no estado 2) independentemente dos estados dos s´ıtios na fronteira ∆ + (x, t). Os s´ıtios que n˜ao est˜ao abertos s˜ao denominados fechados.

No que segue, mostraremos que para qualquer ε > 0, existe α1 > 0 tal que se α < α1

ent˜ao:

P({(x, t) est´a aberto}) ≥ 1 − 2ε. (4.5) Pela invariˆancia por transla¸c˜ao, temos que P({(0, 0) est´a aberto}) = P({(x, t) est´a aberto}), ou seja, ´e suficiente considerar o s´ıtio (0, 0) ∈ L. De fato, como o evento “(x, t) est´a aberto” relaciona-se a processos de Poisson definidos na caixa Λ1+ (x, t), da pr´opria constru¸c˜ao

4.3. Principais resultados 39 Vamos considerar o evento A = {n˜ao existem setas do processo Nx,y

α em Λ1}, e notar

que P({(0, 0) est´a aberto}) ≥ P({(0, 0) est´a aberto} |A)P(A), na qual cada termo desse produto ´e pelo menos 1 − ε.

Suponha que o s´ıtio (0, 0) esteja fechado. Isto ´e, existe pelo menos um adotador no interior de Λ2. Al´em disso, se condicionarmos o evento {(0, 0) est´a fechado} ao evento A,

segue que para alcan¸car Λ2, o adotador deve ter sido originado de algum s´ıtio na parte

inferior da fronteira ∆ e restrito a [−L, L]d.

A prova do Teorema 4.3.1 se encontra dividida em 4 etapas. Etapa 1. Provar que P(A) ≥ 1 − ε.

Etapa 2. Provar que P({(0, 0) est´a aberto} |A) ≥ 1 − ε. Etapa 3. Provar que P({(0, 0) est´a aberto}) ≥ 1 − 2ε.

Etapa 4. Concluir a demonstra¸c˜ao utilizando argumentos de percola¸c˜ao orientada K-dependente.

Etapa 1. Inicialmente, queremos encontrar um limitante inferior para a probabilidade do evento A ocorrer. Em vista disso, para α suficientemente pequeno mostraremos que a probabilidade do evento A ocorrer ´e pelo menos 1 − ε, isto ´e, P(A) ≥ 1 − ε.

Como Ac = {existe pelo menos uma seta do processo Nαx,y de parˆametro α em Λ1},

temos que: P(Ac) = P     [ x,y ∈ [−2L,2L]d x6=y {Nx,y α [0, 2T ] ≥ 1} ∪ {N y,x α [0, 2T ] ≥ 1}     ≤ 2 X x,y ∈ [−2L,2L]d x6=y P({Nαx,y[0, 2T ] ≥ 1}) ≤ (4L + 1)d (1 − P({Nαx,y[0, 2T ] = 0})) = 2(4L + 1) d(1 − e−2T α ), logo P(Ac) ≤ 2(4L + 1)d(1 − e−2T α). Dessa forma, segue que:

P(A) ≥ 1 − 2(4L + 1)d(1 − e−2T α).

Notemos que quando α vai para 0, ent˜ao (1 − e−2T α) converge para 0. Ou seja, ∀ε > 0, ∃δ > 0, tal que se 0 < α < δ, ent˜ao 1 − e−2T α < ε. Dado ε > 0, seja ˜ε = 2(4L+1)ε d, ent˜ao

existe ˜δ > 0 tal que se 0 < α < ˜δ, ent˜ao 2(4L + 1)d(1 − e−2T α) < ε

2(4L+1)d = ˜ε. Logo, segue

que P(A) ≥ 1 − ε.

Etapa 2. Queremos estimar a probabilidade condicional P((0, 0) est´a aberto |A)), e para tal utilizaremos o evento complementar e as poss´ıveis inclus˜oes de eventos que se encontram abaixo.

40 Cap´ıtulo 4. Modelo de difus˜ao de inova¸c˜ao n {(0, 0) est´a fechado}\Ao⊂        [ x ∈ [−L,L]d T ≤t≤2T {ηt(x) = 2} \ A        ⊂    [ x ∈ [−L,L]d {Dx(0, T ) = 0}\ A    na qual, S x ∈ [−L,L]d T ≤t≤2T

{ηt(x) = 2} corresponde ao evento de que existe pelo menos um adota-

dor em Λ2, independentemente dos estados dos s´ıtios na fronteira ∆. Por outro lado,

S

x ∈ [−L,L]d

{Dx(0, T ) = 0} representa o evento de que existe pelo menos um s´ıtio x que

n˜ao cont´em nenhuma marca de Dx no intervalo [0, T ]. Calculando a probabilidade das

inclus˜oes de eventos acima, obtemos a seguinte desigualdade:

P({(0, 0) est´a fechado} |A) × P(A) ≤ P   [ x ∈ [−L,L]d {Dx(0, T ) = 0}|A  × P(A). (4.6)

Como P(A) > 0, ´e poss´ıvel simplificar ambos os lados da desigualdade (4.6) dividindo por esse valor, e ao final conseguimos:

P({(0, 0) est´a fechado} |A) ≤ P   [ x ∈ [−L,L]d {Dx(0, T ) = 0}|A  . (4.7)

Os processos de Poisson Nαx,y de parˆametro α relacionados ao evento A s˜ao independentes dos processos associados a Dx, sendo esse ´ultimo de taxa constante e igual a 1. Em virtude da independˆencia entre os processos, temos que:

P({(0, 0) est´a fechado} |A) ≤ P   [ x ∈ [−L,L]d {Dx(0, T ) = 0}  ≤ X x ∈ [−L,L]d P ({Dx(0, T ) = 0}) .

Dado que Dx(0, T ) tem distribui¸c˜ao de Poisson de parˆametro T , da desigualdade acima resulta que:

P({(0, 0) est´a fechado} |A) ≤ (2L + 1)de−T, (4.8) de onde segue que P({(0, 0) est´a aberto} |A) ≥ 1 − (2L + 1)de−T. Dessa forma, tomando L = T suficientemente grande, obtemos que:

4.3. Principais resultados 41

P({(0, 0) est´a aberto|A}) ≥ 1 − ε. (4.9)

Etapa 3. Da lei da probabilidade total, e usando as desigualdade obtidas na Etapa 1 e Etapa 2 temos:

P({(0, 0) est´a aberto}) ≥ P({(0, 0) est´a aberto|A})P(A) ≥ (1 − ε)(1 − ε).

Dessa forma, conclu´ımos que com probabilidade arbitrariamente pr´oxima de 1, o s´ıtio (0, 0) estar´a aberto quando α for suficientemente pequeno, isto ´e,

P({(0, 0) est´a aberto}) ≥ (1 − ε)2 = 1 − 2ε + 2 ≥ 1 − 2ε. (4.10) Pela invariˆancia por transla¸c˜ao, temos que a inequa¸c˜ao (4.10) vale para qualquer s´ıtio (x, t) ∈ L.

Etapa 4. Para concluir a demonstra¸c˜ao, posicionaremos elos orientados entre os s´ıtios em L a fim de obter um modelo de percola¸c˜ao. Ademais, utilizaremos argumentos de percola¸c˜ao orientada K-dependente.

Lembre que L = Zd× Z+, Λ1 = [−2L, 2L]d× [0, 2T ], Λ2 = [−L, L]d× [T, 2T ] e defina

Λ(x, t) = (x, t)+Λ1. Note que o evento “ (x, t) est´a aberto” depende somente de processos

de Poisson dentro da caixa Λ(x, t).

Posicionaremos os elos orientados da seguinte forma. Para cada par (x, t), (y, t0) ∈ L, desenhamos um elo orientado de (x, t) para (y, t0) se, e somente se, t ≤ t0 e

Λ(x, t) ∩ Λ(y, t0) 6= ∅. Al´em disso, os s´ıtios abertos (x, t) neste grafo orientado ( i.e, s´ıtios em que ω(x, t) = 1) constituem um modelo de percola¸c˜ao dependente. Diante disso, dizemos que o s´ıtio (y, t0) est´a conectado a (x, t) e denotamos por (x, t) → (y, t0) se existe uma sequˆencia de s´ıtios x0 = x, ..., xn = y e instantes de tempo t0 = t, ..., tn = t0

tais que: primeiro, existe um elo orientado de (xk, tk) para (xk+1, tk+1) para 0 ≤ k < n;

segundo, ω(xk, tk) = 1 para 0 ≤ k ≤ n. Nesse caso, observe que os estados dos s´ıtios

n˜ao s˜ao independentes. Entretanto, eles s˜ao K-dependentes no seguinte sentido, existe uma constante K dependendo somente da dimens˜ao d tal que se se a distˆancia entre os s´ıtios (x, t) e (y, t0) for maior do que K, ent˜ao o estado dos s´ıtios correspondentes s˜ao independentes (essa distˆancia deve ser medida no grafo n˜ao-orientado obtido de Zd× Z+

42 Cap´ıtulo 4. Modelo de difus˜ao de inova¸c˜ao quando removemos a orienta¸c˜ao). Em outras palavras, os s´ıtios (x, t) e (y, t0) s˜ao v´ertices centrais das caixas Λ(x, t) e Λ(y, t0), tais que Λ(x, t) ∩ Λ(y, t0) = ∅.

Na sequˆencia, vamos fazer uma contagem de caminhos an´aloga a que j´a foi feita no Cap´ıtulo 2. Existem constantes positivas δ (que depende somente da dimens˜ao d) e ν, de modo que o n´umero de caminhos orientados de comprimento r e auto-evitante (isto ´

e, o caminho n˜ao possui loops) em Zd× Z

+, e a partir de qualquer extremidade, n˜ao ´e

maior do que δr, pois para o primeiro passo temos δ op¸c˜oes de caminhos a seguir, como os

caminhos se evitam, para os pr´oximos passos temos no m´aximo δ − 1 caminhos poss´ıveis. E qualquer caminho auto-evitante de comprimento r cont´em pelo menos νr s´ıtios, cuja distˆancia entre quaisquer pares deles ´e maior do que K.

Sejam x ∈ Zd e T

x = sup{t ≥ 0; ηt(x) = 2}. Afirmamos que Tx ´e quase certamente

finito se α for suficientemente pequeno. No entanto, ´e suficiente provar que T0 ´e quase

certamente finito, pois o argumento ´e invariante por transla¸c˜ao.

Sendo assim, suponha que T0 > T M . Ent˜ao existe m ≥ M − 1 com a propriedade

de que (0, m) ´e a extremidade de um caminho orientado de s´ıtios fechados em Zd× Z +,

cuja outra extremidade tem a forma (x, 0) para algum x ∈ Zd. Pelas observa¸c˜oes acima, obtemos o seguinte: P [T0 > T M ] ≤ X x∈Zd P [(x, 0) e (0, m) estarem conectados] = X x∈Zd P [∪γ{γ est´a fechado}] ,

na qual a uni˜ao acima ´e sobre todos os caminhos conectando (x, 0) a (0, m). Segue que a ´

ultima igualdade acima pode ser reescrita como: ≤ X

x∈Zd

X

γ

P [{γ est´a fechado}] .

A dupla soma pode ser ent˜ao reordenada e obtemos: X m≥M −1 X |γ|≥m P [{γ est´a fechado}] ≤ X m≥M −1 X r≥m δr(P [{(0, 0) est´a fechado}])νr

em que δr´e a quantidade de caminhos partindo da origem e de comprimento r, e tamb´em, a probabilidade de um caminho γ de comprimento r estar fechado ´e a mesma que o produto das probabilidades de cada s´ıtio do caminho estar fechado. Portanto:

P[T0 > T M ] ≤ X m≥M −1 X r≥m δr(P [(0, 0) est´a fechado])νr. (4.11)

4.3. Principais resultados 43 Assim, pela invariˆancia por transla¸c˜ao, temos que a probabilidade para qualquer s´ıtio (x, t) ∈ L estar fechado ´e a mesma que para o s´ıtio (0, 0). Ademais, a probabilidade de um caminho de comprimento r estar fechado ´e a mesma que a probabilidade acima elevado `

a potˆencia νr. Utilizando o fato de que P({(0, 0) est´a fechado}) < 2, o lado direito da inequa¸c˜ao (4.11) ´e finito sempre que α for suficientemente pequeno e M ≥ 2. Logo, o lado direito de (4.11) se aproxima de 0 quando M → ∞, implicando assim em T0 ser

quase-certamente finito como quer´ıamos. De fato isso ´e verdade, pois note que a inclus˜ao dos eventos {T0 = ∞} ⊂ {T0 > T M } ´e v´alida, e aplicando a probabilidade, obtemos das

observa¸c˜oes anteriores que:

0 ≤ P(T0 = ∞) ≤ P(T0 > T M ).

Utilizando o Teorema do Confronto, conclu´ımos que P(T0 = ∞) = 0, ou seja,

P(T0 < ∞) = 1 − P(T0 = ∞) = 1,

de onde segue que T0 ´e quase certamente finito. Como o argumento ´e invariante por

transla¸c˜ao, conclui-se que Tx ´e quase certamente finito para qualquer x ∈ Zd. Por fim,

o ponto crucial ´e que se h´a um adotador em algum tempo no processo de difus˜ao de informa¸c˜ao (ηt)t≥0, ent˜ao h´a um caminho de s´ıtios fechados no processo de percola¸c˜ao de

caixas, na qual cada caixa est´a associada a um determinado s´ıtio. Al´em disso, tomando  suficientemente pequeno, podemos fazer a probabilidade de um caminho de s´ıtios fechados de comprimento r decair exponencialmente r´apido em r, como mostrado em (4.11). Isso implica que para qualquer s´ıtio fixado no processo de difus˜ao de informa¸c˜ao existe um tempo aleat´orio finito depois do qual o s´ıtio estar´a no estado 0 ou 1, ou seja, o estado 2 n˜ao sobreviver´a. Consequentemente, teremos a extin¸c˜ao dos adotadores, ou seja, da inova¸c˜ao.

Observa¸c˜ao 4.3.1. No Teorema 4.3.1, ao consideramos α suficientemente pequeno e ao condicionarmos o evento {(0, 0) est´a aberto} ao evento A, observamos que o comporta- mento do modelo ´e equivalente a quando α = 0.

Observa¸c˜ao 4.3.2. Uma outra maneira para provar que tomando α suficientemente pequeno o evento A ocorre com probabilidade arbitrariamente pr´oxima de 1 ´e utilizando o m´etodo do primeiro momento. De fato, se definirmos X a vari´avel aleat´oria que conta o n´umero de marcas do processo de Poisson Nαx,y de parˆametro α, ent˜ao o evento A pode ser identificado a X = 0. Dessa forma, para ∀ ε > 0, pode ser escolhido um α suficientemente

44 Cap´ıtulo 4. Modelo de difus˜ao de inova¸c˜ao pequeno tal que E[X] ≤ ε. Portanto,

P(A) = P(X = 0) ≥ 1 − ε.

Teorema 4.3.2. Seja λ > λc(d) fixo. Ent˜ao existe uma constante 0 < α2 < ∞ tal que se

α > α2, a inova¸c˜ao sobrevive.

Demonstra¸c˜ao. A principal id´eia utilizada para provar a sobrevivˆencia dos adotadores do processo de difus˜ao de informa¸c˜ao ´e comparar o modelo espacial de difus˜ao de informa¸c˜ao com um modelo de percola¸c˜ao orientada. De fato, para tal, s˜ao necess´arias algumas defini¸c˜oes. Considere:

L0 = {(m, n) ∈ Z2 : m + n ´e par; n ≥ 0}

e

B = (−4L, 4L)d× [0, T ] Bm,n = (2mL, nT ) + B

I = [−L, L]d Im = 2mL + I

na qual k = [√L] (sendo [a] a parte inteira de a) e L e T s˜ao valores a serem definidos posteriormente. Dizemos que um s´ıtio (m, n) ∈ L0 est´a aberto se, e somente se, no tempo

nT n˜ao existe nenhum 1 em Im e existem pelo menos k 2’s em Im, e se no tempo (n + 1)T

n˜ao existe nenhum 1 em Im−1 e Im+1 e existem pelo menos k 2’s em cada intervalo (veja

a Figura 4.3) . Os s´ıtios que n˜ao est˜ao abertos s˜ao denominados fechados.

Figura 4.3: Esbo¸co para o s´ıtio (0, 0) no caso d = 1. O s´ıtio (0, 0) est´a aberto se, e somente se, no tempo 0 n˜ao existem nenhum 1 e pelos menos k 2’s em I0, e se no tempo T

4.3. Principais resultados 45 Assim, mostraremos que para qualquer ε > 0 existe uma constante α2 > 0 tal que

para α > α2 temos:

P[(m, n) est´a aberto] ≥ 1 − 3ε. (4.12) Note que pela invariˆancia por transla¸c˜ao, ´e suficiente provar isso para o s´ıtio (0, 0). Al´em disso, como forma de simplificar a nota¸c˜ao vamos supor d = 1 na demonstra¸c˜ao que segue. Para o caso d > 1 a demonstra¸c˜ao ´e an´aloga a que ser´a feita abaixo.

Primeiramente, ´e preciso definir o seguinte evento:

Ax,y = {sempre que aparecer uma seta do processo Nλx,y, antes de aparecer uma marca

do processo Dx ou outra seta do processo Nx,y

λ aparecer´a uma seta do processo Nαx,y

em [0, T ]}, e definimos o evento A como sendo a intersec¸c˜ao dos eventos Ax,y, isto ´e,

A = T

x,y∈(−4L,4L)

||x−y||=1

Ax,y.

Agora, vamos definir a vari´avel aleat´oria X como:

X = (

1 c.p. α 1+α+λ

0 c.p. 1+α+λ1+λ

Queremos mostrar que para cada (x, y) e para α suficientemente grande, a chance do evento Ax,y ocorrer ´e alta, j´a que temos uma densidade grande de setas do processo Nαx,y.

Para tal c´alculo, condicionaremos o evento Ax,y ao fato de que no tempo t aparecer´a a

primeira seta do processo Nλx,y. Assim, obtemos a seguinte equa¸c˜ao:

P(Ax,y) = Z T 0 P(Ax,y|S1λ = t)fSλ 1(t)dt = Z T 0

P(Ax,y|S1λ = t)λe −λt

dt, (4.13) na qual S1λ ´e uma vari´avel aleat´oria que indica o tempo de espera at´e que ocorra a primeira seta do processo Nλx,y. Ademais, vamos definir Xt como a indicadora que vale 1

se a primeira seta que vamos ter ap´os o tempo t ´e do processo Nx,y

α e 0 caso contr´ario.

Notemos que Xt = X, isto ´D e, Xt tem a mesma distribui¸c˜ao de probabilidade de X. Dessa

forma,

P(Ax,y|S1λ = t) = P(Ax,y|S1λ = t; Xt = 0) × P(Xt= 0|S1λ = t) +

P(Ax,y|S1λ = t; Xt = 1) × P(Xt = 1|S1λ = t)

= P(Ax,y|S1λ = t; Xt= 1) × P(Xt= 1) + P(Ax,y|S1λ = t; Xt = 0)

| {z } 0 ×P(Xt = 0) = P(Ax,y|S1λ = t; Xt = 1) × α 1 + α + λ.

46 Cap´ıtulo 4. Modelo de difus˜ao de inova¸c˜ao Para encontrar um limitante inferior para P(Ax,y|S1λ = t; Xt = 1) vamos considerar o

processo de Poisson B := Dx + Nx,y

λ de parˆametro 1 + λ, o qual ´e a superposi¸c˜ao dos

processos independentes Dx e Nλx,y. Logo,

P(Ax,y|S1λ = t; Xt = 1) ≥ P(B(t, T ) = 0) = e−(λ+1)(T −t).

Com isso, obtemos que P(Ax,y|S1λ = t) ≥ e

−(λ+1)(T −t) α

1+α+λ. Assim, voltando na equa¸c˜ao

(4.13) e substituindo o limitante inferior acima encontramos que:

P(Ax,y) ≥ Z T 0 e−(λ+1)(T −t) α 1 + α + λλe −λt dt = αλe −(λ+1)T 1 + α + λ Z T 0 etdt = αλe −(λ+1)T 1 + α + λ [e T − 1].

Notemos que se tomarmos o limite com α −→ ∞, ent˜ao: λe−(λ+1)T[eT − 1] × lim α→∞ 1 1 α + α α + λ α = λe−(λ+1)T[eT − 1] × 1. Como lim α→∞ 1 1 α+ α α+ λ α

= 1, temos que para ∀ ε > 0, existe R > 0 tal que 1 1 α+1+ λ α − 1 < ε sempre que α > R. Dado ε > 0, seja ˜ε = λe−(λ+1)Tε [eT−1], ent˜ao existe ˜R > 0 tal que

1 1 α+1+ λ α − 1 < ˜ε = ε

λe−(λ+1)T[eT−1], sempre que α > ˜R.

Conclu´ımos dessa forma que P(Ax,y) ≥ 1 − ε. Entretanto, estamos interessados

em calcular P(A) = P    T x,y∈(−4L,4L) ||x−y||=1 Ax,y  

. Como os eventos Ax,y s˜ao independentes, a probabilidade da intersec¸c˜ao deles corresponde ao produto das probabilidades, de onde segue que:

P(A) ≥ (1 − ε)8L ≥ 1 − ˆε.

No tempo 0 existem pelo menos k = [√L] 2’ s e nenhum 1 em I. Al´em disso, nenhum 1 pode aparecer em I entre os tempos 0 e T . Logo, os 2’s em I se comportam como um processo de contato restrito a I cujas as transi¸c˜oes e taxas s˜ao as seguintes:

transi¸c˜ao taxa 0 → 2 λn2(x, ξ)

2 → 0 1.

(4.14)

Vamos restringir os 2’s a I, de modo a n˜ao permitir que 2’s possam surgir de fora de I para dentro de I. Agora, considere o processo de contato supercr´ıtico restrito ao volume finito {1, 2, ..., k} e defina τk o tempo (aleat´orio) que leva para um processo de contato ser extinto quando restrito ao volume finito {1, 2, ..., k}. Por Mountford (1993)

4.3. Principais resultados 47 (ver Proposi¸c˜ao A.0.1), temos que para um processo de contato supercr´ıtico restrito a {1, 2, ..., k}:

P(τk ≤ ek) < e−k para k grande.

Em palavras, isso quer dizer que o processo de contato supercr´ıtico restrito ao volume finito {1, 2, ..., k} sobrevive pelo menos ek com probabilidade pelo menos 1 − e−k, ou seja,

P(τk> ek) = 1 − P(τk ≤ ek) ≥ 1 − e−k. (4.15) Vamos supor que no tempo 0 existe um 2 em cada s´ıtio do volume finito {1, 2, ..., k}, e defina M como a parte inteira da √k. Particionamos {1, 2, ..., k} em M intervalos, na qual cada um ´e uma transla¸c˜ao de [0, M ]. Percorremos dessa maneira M processos de contato cada um restrito a um dos M sub-intervalos de {1, 2, ..., k}. Consequentemente, em qualquer tempo, existem pelo menos tantos 2’s em {1, 2, ..., k} quanto na uni˜ao desses sub-intervalos. Ademais, suponha tamb´em que no tempo L nenhum dos processos de contato que estejam ocorrendo em cada um dos M sub-intervalos de {1, 2, ..., k} tenha se extinguido, ent˜ao existem pelo menos M 2’s em {1, 2, ..., k} (existe pelo menos um 2 em cada sub-intervalo, garantindo assim a n˜ao extin¸c˜ao do processo de contato em cada um deles). Dessa forma, a probabilidade de que existam pelo menos M 2’s em {1, 2, ..., k} no tempo L ´e pelo menos:

P(τM ≥ L)M ≥ P(τM ≥ eM)M ≥ (1 − e−M)M ≥ 1 − ε,

para L suficientemente grande. Portanto, no tempo L temos pelo menos M 2’s em I e nenhum 1 em [−4L + 1, 4L − 1]. Como λ > λc(d), podemos usar resultados j´a conhecidos

do processo de contato supercr´ıtico. Em particular, dado que um processo de contato supercr´ıtico n˜ao se extingue, o Teorema da Forma (ver Teorema A.0.2) garante que os 2’s se propagam linearmente. Portanto, existe uma constante a > 0 tal que no tempo aL os 2’s tenham alcan¸cado os s´ıtios −4L e 4L. Assim, no tempo L + aL, existem pelo menos k 2’s em I1 = [L, 3L] e em I−1 = [−3L, −L] com probabilidade pelo menos 1 − 2ε (um ε

est´a relacionado `a probabilidade de sobrevivˆencia de M 2’s, ao passo que o outro vem do Teorema da Forma). Para finalizar essa parte defina T = L + aL e tome L suficientemente

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