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Construindo para o Futuro (1986)

Construindo para o Futuro (1986)

As críticas são sempre contundentes, em maior ou cm menor grau, até mesmo quando bem-intencionadas; e, deforma nenhuma, todas as que foram dirigidas à Maçonaria foram bem intencionadas, com algumas delas bastante sinceras . A reação natural ao orgulho ferido é a raiva; porém, é mais sensato tentar refletir se e até que ponto os críticos podem ter as suas razões. Isso envolve o questionamento dos fundamentos sobre os quais a nossa própria conduta se baseia. Assim, havia duas coisas a serem feitas na situação que nós enfrentamos em meados dos anos de l980: primeiramente, tínhamos de determi nar quais eram os fundamentos pelos quais existimos e, em segundo lugar, tínhamos de distinguir as críticas genuínas ou procedentes daquelas formuladas pelos mais questionáveis e duvidosos motivos. O presente discurso teve o objetivo de tentar levantar pon tos a partir dos quais os primeiros pudessem ser determinados.

Espero que agora vocês já tenham tido tempo suficiente para se recuperar da surpresa e do choque aos quais os recentes ataques à Franco-Maçonaria podem ter induzido, especialmente os provenientes daqueles que, com todo o direito, pensávamos ser ao menos simpáticos aos nossos ideais. Muitos daqueles que se juntaram aos ataques podem ter tido os seus motivos em conformidade com as suas luzes; alguns estavam mal informados, e receio que outros tenham sido deliberadamente desencaminhados, nem sempre sem segundas intenções. Em certas ocasiões, havia um ar de regozijo em alguns ambientes nos quais deveríamos esperar

existir a compreensão ou, ao menos, a compaixão. De nossa parte, tentamos encontrar os nossos detratores com razão e esclarecimento e, posso dizer, com uma caridade, que nem sempre eles nos dedicaram; podemos, com toda a razão, sentir que respondemos todas as suas perguntas, ainda que eles preferissem não ouvir. Agora, é chegado o tempo de se fazer um balanço e olhar para a frente.

Eu acho que nós, ao menos, aprendemos alguma coisa disso tudo. Fomos forçados a olhar, desapaixonada e imparcialmente, para uma parte de nossas vidas que tanto significou, e significa, para cada um de nós. Acredito que cada um de nós haverá de chegar à conclusão de que nada temos de importante para nos recriminarmos, a não ser, quiçá, uma grande tendência a sermos reservados sobre a nossa associação à Maçonaria e sobre os seus propósitos e princípios — algo que surge a partir de nosso anseio de desfrutar da privacidade normalmente observada em clubes privados e reuniões. Talvez a nossa própria reserva tenha sido, de fato, uma das razões para que alguns de nossos críticos possam ter sido levados a acreditar que nós realmente temos alguma coisa vergonhosa a esconder.

Alguns aspectos, tais como as penalidades implícitas nos Juramentos e a da segunda palavra em nossa própria Ordem, podem ter sido convenientes para alguma ação. Mas acredito que, à parte de tal ação, é chegado o momento de deixarmos isso para trás, para que possamos refletir e planejar, construtivamente, para o futuro, lembrando e reconhecendo com gratidão o trabalho feito por aqueles que tão duramente labutaram por nós, incentivando-os a continuar em seus esforços. Podemos, com toda a segurança, deixar para eles as

questões altamente políticas, tais como as de relações públicas, e fazer a nossa parte agindo em conformidade com os princípios de nossa Arte. Contudo, enquanto fazemos o balanço, seria muito bom refletir sobre os princípios básicos e cada um de nós deveria assegurar- se de ter bem claro em sua mente do que é que tratam e o que são esses princípios, mormente na nossa relação com a Ordem.

Sobre que bases, então, devemos construir o nosso futuro como Fraternidade? Certamente sobre aquelas que, ao longo de tantos anos, carregaram a mensagem do Amor Fraternal, Ajuda e Verdade a todos nós. Nada mudou a esse respeito, exceto, talvez, que corretamente conferimos qualquer tendência que possa surgir para empanar ou distorcer a linha existente entre a Franco- Maçonaria e a religião. Permanecemos firmes em nossos princípios básicos, jamais interferindo, em nenhuma instância maçónica, nas crenças religiosas de um Irmão, mas recusando a admissão de alguém que não confesse a sua crença em um Ser Supremo, requerendo a todo e qualquer Irmão um alto padrão de moralidade, inculcando as virtudes da Compaixão, da Benevolência e da Caridade, não apenas em relação aos nossos Irmãos, mas a toda a humanidade, derramando a lágrima da dor pelo infortúnio de um Irmão e "derramando o curativo bálsamo do consolo dentro do peito do aflito".

Mas para os Companheiros do Arco Real há muito mais. Cada vez que entramos no Capítulo do Arco Real, somos lembrados da estrutura sobre a qual está apoiado o ensinamento da Ordem, pois ali está, bem no meio do Capítulo, o pedestal sobre o qual está colocado o Inefável Nome de Deus, tal como fora revelado por Moisés, colocado sobre o emblema da eternidade. Os nossos

detratores e caluniadores têm destacado o fato de que, em alguns rituais, aquele pedestal é denominado de altar, o que evidencia estaremos a praticar uma religião, e assim, mais uma vez, desvirtuando e distorcendo, interpretando-nos erroneamente seja intencionalmente, seja por ignorância. É claro que não é nada disso; ele está ali para nos lembrar que os forasteiros (ou sobrestantes) encontraram um altar do qual ali está uma representação, e lembrar-nos do fato de que um Compa- nheiro do Arco Real vê os ensinamentos da Arte à luz da eternidade e não dessa existência terrena que, tal como na Maçonaria Simbólica, é esperado que ele reverencie o seu Deus e pratique a sua religião. Ali sobre ele tal como no altar, está colocado o Inefável Nome, um nome que, como bem sabem os nossos críticos, tem a sua origem na Bíblia Sagrada, o Nome que reverenciamos e que justifica a palavra "santo" presente no título de nossa Ordem.

O formato daquele pedestal tem uma mensagem para nós. Ele representa um duplo cubo de pedra trabalhada, uma perfeita pedra de cantaria, termo que se aplica a qualquer bloco de pedra que tenha sido trabalhada e aparada, tornando-a pronta a ocupar seu devido lugar na construção, ainda que não se trate de um cubo absolutamente perfeito, com todos os seus lados iguais. Nós todos estamos bem familiarizados com as palavras usadas nas Preleções e na Explanação da Tábua de Delinear do Primeiro Grau, que descrevem essa pedra — "uma pedra de esquadria perfeita, servindo somente para ser medida pelo esquadro e compasso". Assim, para o franco-maçom especulativo, a perfeita pedra de cantaria — a Pedra Quadrada Polida — representa, nas palavras do ritual, "uma vida regularmente despendida em atos de

piedade e virtude"; o esquadro representando a Moralidade e o Compasso a nos lembrar da Justiça de Deus.

É somente sobre uma pedra assim, um emblema da Eternidade, que ousamos colocar o Inefável Nome; e demonstramos nosso respeito e reverência por Ele por meio de gestos que selam nossa fidelidade aos ensina- mentos de nosso Criador, em qualquer forma que O adoremos, ao passo que, humildemente, reconhecemos não sermos suficientemente dignos para admirá-Lo.

Assim, esse pedestal emula a diferença entre a Maçonaria Simbólica e o Arco Real, à primeira vista unidos no Grau de Mestre Maçom, ainda que separados por aquilo que assinala a diferença entre Irmão e Compa- nheiro, e por nossa persistência de que cada parte de nossa peregrinação terrena está condicionada e governada pela eternidade na qual ela está estruturada. E, assim como acontece na vida, em que você não escolhe o seu Irmão, mas escolhe o seu Amigo, o mesmo acontece na "Maçonaria Antiga pura"; embora você ingresse em uma fraternidade em que talvez não conheça todos os Irmãos da Loja na qual foi admitido e, certamente, pouco saiba o que pode esperar, você é admitido em um Capítulo, entre Companheiros, muitos dos quais você já conhece, e já contando com um razoável conhecimento sobre a Franco-Maçonaria.

Nós, como Companheiros dessa Ordem, certamente estamos ansiosos em trazer Irmãos para junto de nosso companheirismo. No entanto, devemos certificar-nos de que aqueles que tentamos introduzir haverão de, ao seu devido tempo, apreciar os sérios aspectos de seus ensinamentos. Muitos Irmãos se apresentarão à exaltação em virtude da sensação de perda e lacuna, que

é algo endêmico no Terceiro Grau, e causa-lhe um senti- mento de insatisfação e frustração, e por lhe dizerem que os verdadeiros segredos do Mestre Maçom somente serão conhecidos no Capítulo. Ele somente chegará a aprender o significado profundo de nosso ensinamento se for verdadeiramente aceito como um Companheiro. Nós temos uma séria mensagem no Arco Real, mas ainda podemos aprender bastante no simbolismo e esforçamo- nos pela união no grande projeto de "sermos felizes e transmitir a felicidade"; e lembre-se sempre de que não é possível conseguir um sem praticar o outro. Como já frisei tantas vezes, "aprecie e desfrute com satisfação a sua Maçonaria"; ao fazer isso, você estará ajudando os demais não apenas a apreciá-la, mas também a entendê- la, seja no Simbolismo, seja no Arco Real.

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