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Mapa 2 Sistematização do Sistema Municipal de Atenção Básica

2.1 BRASIL: um país jovem de cabelosbrancos

2.1.2 Construindo novas estratégias, buscando novos espaços políticos: a

Como já ressaltado anteriormente, o processo de envelhecimento não é equânime, não confere igualdade, antes, preserva as diferenças e até as exacerba; é um período singular, mas que deve ser tratado como múltiplo. Pensado como uma fase do desenvolvimento humano e, portanto, vivenciada por todos aqueles que chegarem/ultrapassarem a faixa etária dos 60 anos.

Nesta perspectiva, não há como os governos deixarem de pensar, como viabilizar a discussão e construção de políticas públicas, que dêem conta das especificidades inerentes aos indivíduos envelhecentes, nos diversos espaços societais, onde estes interagem. O mundo têm se preocupado com esta temática e, nesse sentido, promovido eventos onde se debate com os países, independentes de suas características sociais, econômicas e culturais, a responsabilidade de elaborar leis que tratem das muitas necessidades dos idosos do planeta.

Dessa forma, serão apresentados, aqui, eventos que se constituíram como primordiais para dar visibilidade à problemática dos idosos, e que contribuíram para promover discussões sobre este tema, bem como na elaboração de políticas públicas voltadas para o processo de envelhecimento em diversos países do mundo.

O primeiro documento oficial que aborda a questão da responsabilidade do estado para com os idosos que vivem sob sua tutela, foi a Declaração dos Direitos Humanos (ONU, 1996), elaborada pela Assembléia Geral da ONU, em 10 de dezembro de 1948, em Paris, o qual diz no seu artigo XXV:

1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle (grifo nosso).

A Declaração dos Direitos Humanos deixa claro no seu preâmbulo, que é norteada pelos princípios do Estado de Bem Estar Social ou Welfare State, o qual afirma que existem direitos sociais indissociáveis à existência de qualquer indivíduo. Os direitos a que se propunha o Welfare State incluíam a educação em todos os níveis, a assistência médica gratuita, o auxílio ao desempregado, a garantia de uma renda mínima, dentre outros.

Partindo-se do princípio que este documento não “obrigava” qualquer um dos países membros da ONU, a seguir seus preceitos, o mesmo não alterou a forma como eram tratados os idosos – como uma responsabilidade que cabia a esfera privada, ou seja, a família – sem que o poder público se manifestasse acerca dessa temática.

Entretanto, com o aumento continuado da população envelhecente no mundo, e as demandas surgidas a partir desta realidade, surge a necessidade de discutir como os países deveriam proceder para dar conta dessa problemática.

Assim, em 14 de dezembro de 1982, foi realizada a I Assembléia Mundial do Envelhecimento que teve como resultado a elaboração do Plano de Ação Internacional de Viena sobre o Envelhecimento o qual apresentou como meta prioritária,

fortalecer a capacidade dos países para abordar de maneira efetiva o envelhecimento de sua população e atender às preocupações e necessidades especiais das pessoas de mais idade, e fomentar uma resposta internacional adequada aos problemas do envelhecimento com medidas para o estabelecimento da nova ordem econômica internacional e o aumento das atividades internacionais de cooperação técnica, em particular entre os próprios países em desenvolvimento. (ONU. Plano de Ação Internacional de Viena sobre o Envelhecimento, 1982).

Por tratar-se de um documento que apresentava especificamente às questões das pessoas de mais idade, este Plano de Ação foi basilar para muitas discussões que envolveram a elaboração de políticas sociais que garantissem direitos a estes indivíduos.

A partir daí os eventos foram acontecendo com mais regularidade e, em 17 de novembro de 1988, a Convenção Americana de Direitos Humanos (ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS, 1988) elaborou o Protocolo de San Salvador que, no seu artigo 17, intitulado de Proteção de Pessoas Idosas afirma que,

Toda pessoa afetada por diminuição de suas capacidades físicas e mentais tem direito a receber atenção especial, a fim de alcançar o máximo desenvolvimento de sua personalidade. Os Estados Partes comprometem-se a adotar as medidas necessárias para esse fim e, especialmente, a:

a. Executar programas específicos destinados a proporcionar aos deficientes os recursos e o ambiente necessário para alcançar esse objetivo, inclusive programas trabalhistas adequados as suas possibilidades e que deverão ser livremente aceitos por eles ou, se for o caso, por seus representantes legais;

b. Proporcionar formação especial às famílias dos deficientes, a fim de ajudá-los a resolver os problemas de convivência e converte-los em elementos atuantes no desenvolvimento físico, mental e emocional destes;

c. Incluir, de maneira prioritária, em seus planos de desenvolvimento urbano a consideração de soluções para os requisitos específicos decorrentes das necessidades deste grupo;

d. Promover a formação de organizações sociais nas quais os deficientes

possam desenvolver uma vida plena.

Nele se dispunham diretrizes, afirmando que a garantia do ideal do ser humano livre, só seria possível se fossem respeitados seus direitos econômicos, sociais e culturais, bem como seus direitos civis e políticos.

Com a efervescência gerada em prol da temática, o que foi possibilitado pela conformação etária que foi sendo observada no mundo, especialmente nos países centrais, que já detinham grande número de longevos, foi elaborado em 1991, pela ONU, um documento denominado Princípios das Nações Unidas em Prol das Pessoas de Idade (ONU, 1991) tendo este assumido como lema Para dar mais vida aos anos que são acrescentados à vida

e sendo subdividido em cinco tópicos, a saber: independência, participação, cuidados, auto-realização e dignidade.

De 5 a 13 de setembro de 1994, acontece no Cairo, a Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (ONU, 1994) considerado um marco na história por ter tratado de uma diversidade de assuntos, dentre estes o envelhecimento, mas articulando-o as outras discussões como gênero, raça, etnia, responsabilidade social, meio ambiente, desenvolvimento populacional sustentável, e muitos outros temas que foram consolidados no Programa de Ação do Cairo (ONU, 1994).

No ano seguinte, ocorreu em Copenhagen, de 6 a 12 de março de 1995, a Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Social Copenhagen (ONU, 1995) que relacionou dez compromissos a serem assumidos pelos países do mundo, sendo estes:

Compromisso 1: criar um ambiente econômico, político, social, cultural e

jurídico que permita o logro do desenvolvimento social;

Compromisso 2: como imperativo ético, social, político e econômico da

humanidade. Cumprir com o objetivo de erradicar a pobreza no mundo mediante uma ação nacional energética e a cooperação internacional;

Compromisso 3: promover o objetivo do pleno emprego como prioridade básica

de nossas políticas econômicas e sociais e preparar todas as mulheres e todos os homens para conseguir meios de vida seguros e sustentáveis mediante o trabalho e o emprego produtivos elegidos livremente;

Compromisso 4: promover a integração social fomentando sociedades

estáveis, seguras e justas, e que estejam baseadas na promoção e na proteção de todos os direitos humanos, assim como, na não discriminação, na tolerância, no respeito da diversidade, na igualdade de oportunidades, na solidariedade, na segurança e na participação de todas as pessoas, incluindo os grupos e as pessoas desfavorecidas e vulneráveis;

Compromisso 5: promover o pleno respeito da dignidade humana e fazer com

que haja igualdade e equidade entre homem e mulher e reconhecer e aumentar a participação da mulher em funções de direção, na vida política, civil, econômica, social e cultural e no desenvolvimento;

Compromisso 6: promover e alcançar os objetivos de acesso universal e

eqüitativo a uma educação de qualidade, o nível mais alto possível de saúde física e mental e o acesso de todas as pessoas a uma atenção primária de saúde, respeitando e promovendo nossas culturas comuns e particulares;

Compromisso 7: acelerar o desenvolvimento econômico, social e humano da

África e dos países com menor nível de desenvolvimento;

Compromisso 8: velar para que nas discussões e acordos dos programas de

ajuste estrutural sejam incluídos os objetivos de desenvolvimento social;

Compromisso 9: aumentar substancialmente ou utilizar com maior eficácia os

recursos designados ao desenvolvimento social;

Compromisso 10: melhorar e fortalecer o espírito de co-participação no marco

da cooperação internacional, regional e sub-regional para o desenvolvimento social por meio das Nações Unidas e de outras instituições multilaterais.

Destaca-se, no contexto destes compromissos, a proclamação do ano de 1999 como sendo o Ano Internacional das Pessoas Idosas, cujo lema assumido pela Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas era Por uma sociedade para todas as idades, onde se buscava chamar a atenção para o respeito aos direitos humanos, a justiça social e, também, as liberdades individuais, especialmente para a população idosa.

Em 8 de setembro de 2000, a ONU elaborou um documento designado Declaração do Milênio das Nações Unidas (ONU, 2000), onde são listadas oito metas, dezoito objetivos e quarenta e oito indicadores a serem alcançados até o ano de 2015.

Dois anos depois, mas especificamente de 8 a 12 de abril de 2002, ocorreu em Madrid, a II Assembléia Mundial do Envelhecimento (ONU, 2002) que aprofundou discussões sobre o envelhecimento e suas repercussões no mundo, através do enfoque de temas relevantes e atuais inerentes a esta realidade. Dentre estes, apontamos: a exclusão social, as péssimas condições de vida e saúde, a fome que assola alguns países do mundo, as questões de gênero que são determinantes para o entendimento e enfrentamento da violência, e conflitos contra a mulher, as guerras e as suas repercussões no cotidiano da sociedade, o medo, a pobreza da população idosa em grande parte do mundo, o que a deixa vulnerável a muitos riscos e agravos.

Nesse quadro de resistência e denúncia foi gestada a Estratégia Internacional de Ação sobre o Envelhecimento (ONU, 2002) cuja proposta é contribuir com o (re)pensar do envelhecimento no século XXI, desenvolvendo “uma sociedade para todas as idades”.

Em termos gerais, estes são momentos históricos que embasaram a construção de políticas públicas voltadas para a população idosa. Evidentemente, muitos outros eventos foram/estão ocorrendo em todo o mundo na perspectiva de influenciar positivamente os países a assumirem a responsabilidade perante estes velhos cidadãos que estão a florescer em todo planeta.

É importante, também mencionar, a importância que assume na atualidade os eventos de geriatria e gerontologia os quais permitem discutir com profundidade os problemas, principalmente de saúde, que mais afligem a população de mais idade.

Devemos destacar também a importância do movimento dos idosos que vêm promovendo debates e discussões em todo o mundo, na perspectiva de construção de emancipações, que no dizer de Santos (2006), são reconhecidas através de um trabalho de tradução destas experiências, utilizando-se para isso a hermenêutica diatópica, que possibilita o estabelecimento do diálogo entre os conceitos das culturas políticas alternativas, bem como a confrontação das ações desenvolvidas e os resultados obtidos.

2.1.3 Os direitos dos idosos na legislação brasileira: criando soluções,