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Consumo regular de café como fator de proteção contra o diabetes tipo 2 e possíveis mecanismos explicativos

86 3.1.2 Parâmetros descritivos e características da população

1.2 REVISÃO DE LITERATURA

1.2.5 Consumo de café e diabetes melito tipo

1.2.5.3 Consumo regular de café como fator de proteção contra o diabetes tipo 2 e possíveis mecanismos explicativos

O consumo regular de café parece proteger contra a ocorrência de diabetes tipo 2 (VAN DAM & HU, 2005). Esse tipo de achado vem sendo encontrado tanto em estudos prospectivos (SALAZAR-MARTINEZ et al., 2004; ROSENGREN et al., 2004; PEREIRA et al., 2006) quanto em estudos transversais (ISOGAWA et al., 2003; YAMAJI et al., 2004; PANAGIOTAKOS et

al., 2007). Além disso, verifica-se a manutenção do caráter de proteção do consumo de café contra o desenvolvimento de diabetes tipo 2 em diferentes populações, como as da Suécia (AGARDH et al., 2004), Grécia (PANAGIOTAKOS et al., 2007), Holanda (VAN DAM et al., 2004), Dinamarca (FAERCH et al., 2005) e Espanha (SORIGUER et. al., 2004).

Van Dam & Feskens (2002), ao realizarem um estudo com 17.111 holandeses do sexo masculino, verificaram que o risco de ocorrência de DM2 diminuiu de maneira gradual à medida que o consumo de café aumentou. Nesse estudo, foram examinados se haveria diferença nos resultados quando contrastados os efeitos da adição ou não de açúcar ou leite ao café. Após análise,

28 foi verificado que não houve alterações nos resultados previamente encontrados. Assim, esses autores concluem que em sua amostra a adição de leite ou açúcar não tornou negativa a associação benéfica do café contra o diabetes tipo 2 (VAM DAM & FESKENS, 2002).

Entretanto, Reunanen et al., (2003), verificaram que o consumo de café não conferiu efeito protetor contra o DM2 na população finlandesa. Alguns pesquisadores acreditam que esses achados contrastantes possam ser explicados da seguinte forma:

1) o tipo de café consumido na Finlândia pode ter concentração diferente dos componentes benéficos;

2) no estudo de Renaunen et al., (2003), a maioria dos consumidores de café ingeriam o tipo fervido não filtrado, enquanto que a população holandesa ingeriu o tipo fervido e coado com filtro de papel.;

3) participantes no estudo de Renaunen et al., (2003), mudaram a quantidade de café consumida no meio do estudo, assim como trocaram o tipo de preparação consumida, passando a utilizar a forma fervida e filtrada;

4) o estudo pode ter incluído pacientes com enfermidades que não sofrem influência do consumo de café, como alguns processos auto-imunes que podem participar do desencadeamento do diabetes em adultos (VAM DAM & FESKENS, 2002).

Van Dam & Feskens (2002) acreditam que esse efeito protetor do café contra o desenvolvimento de DM2 não se deva à cafeína, que pode diminuir de forma aguda a sensibilidade à insulina. Portanto, é sugerida que a ação de outros componentes presentes no café atuem, de forma benéfica, no metabolismo da glicose.

29 Battram et al., (2006), mostraram que os efeitos do consumo de café descafeinado e tradicional, observados no metabolismo dos carboidratos, não são comparáveis. Esses autores observaram um espectro de respostas, sendo a melhor resposta ao do teste oral de tolerância à glicose com o café descafeinado > placebo > café tradicional > cafeína isolada.

Os níveis de homocisteína têm sido indicados como fatores de risco para o desenvolvimento de diabetes. Assim, alguns autores vêm sugerindo que a homocisteína seja um fator explicativo para a associação inversa do café descafeinado e o menor risco de desenvolver diabetes, porque tem se mostrado uma relação dose-dependente entre o consumo de café e níveis de homocisteína (PANAGIOTAKOS et al., 2004; PANAGIOTAKOS et al., 2005). Por outro lado, também é demonstrado que a cafeína pode ser a responsável pelo efeito que o café possui de elevar os níveis de homocisteína (JACQUES et al., 2001).

Em paciente com diagnóstico de diabetes tipo 2, o café parece exercer efeito protetor contra a mortalidade por eventos cardiovasculares. É o que mostra o estudo prospectivo realizado em 3.837 finlandeses, por Bidel et al., (2006), cujos pacientes que consumiram 7 xícaras ou mais de café por dia tiveram 21 % de redução na mortalidade total; 21 % na mortalidade cardiovascular; e 29 % na razão de mortalidade por doença coronariana, quando comparados à indivíduos que ingeriam 2 xícaras ou menos.

Dentre os estudos que demonstraram uma relação inversa entre o consumo de café e tolerância à glicose, tem-se o de Yamaji et al., (2004). Esses autores, ao usarem o teste oral de tolerância à glicose (TOTG / 75g de carboidrato) para diagnosticar DM2 em indivíduos japoneses do sexo masculino, observaram que a ingestão de café inibiu a hiperglicemia pós-prandial e, assim,

30 agiu como protetor contra o aparecimento de DM2. Van Dam et al., (2004), também realizaram um estudo que utilizava o TOTG, verificando que o consumo habitual de café parece diminuir a incidência de intolerância à glicose, além de melhorar a sensibilidade à insulina.

Segundo Matsui et al., (2001), ao nível intestinal, o retardo ou inibição da ação da α-glicosidase pelos ácidos clorogênicos é um dos possíveis mecanismos protetores. Kobayashi et al., (2000) relataram que os ácidos clorogênicos podem inibir os transportadores de glicose dependentes de sódio, no mesmo estágio. Ainda, para alguns autores, o café pode influenciar na secreção dos hormônios GLP-1 e GIP, ambos com capacidade de diminuir os níveis de glicose (NAUCK et

al., 1993; MEIER et al., 2001).

Uma revisão publicada por McCarty (2005), levanta a possibilidade dos CGA‟s exercerem o papel de protetores das células beta do pâncreas. Os CGA‟s parecem estimular a produção de GLP-1 pelos enterócitos. Esse efeito neutraliza, em indivíduos resistentes à insulina e com sobrepeso, o impacto adverso da exposição crônica aos ácidos graxos livres na função das células beta. Além disso, os ácidos clorogênicos inibem a produção da G-6-P entérica, o que retarda a absorção de glicose, protegendo as células beta por limitar a hiperglicemia pós- prandial.

Ao nível hepático, a redução da hidrólise da glicose-6-fosfatase ou sua inibição pelos ácidos clorogênicos podem diminuir a liberação de glicose no plasma, o que acarretaria em uma menor concentração de glicose plasmática (NEWGARD et .al., 1984; ARION et al., 1997; BIDEL et al., 2008).

Uma revisão sistemática realizada por van Dam & Hu (2005), confere suporte à hipótese de que o consumo habitual de café esteja associado com a

31 diminuição substancial do risco para surgimento da DM2. Acredita-se que esses efeitos protetores observados devam-se a compostos antioxidantes, como os ácidos clorogênicos. Inclusive, uma extensa revisão realizada por Dorea & Da Costa (2005), frente às amplas ações benéficas do consumo de café à saúde evidenciadas na literatura, concluem ser o café um alimento funcional.