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2.3 O Sistema Metafórico da Moralidade

2.3.1 Contabilidade moral

A constatação do domínio transação financeira como uma das fontes do conceito metafórico BEM-ESTAR É RIQUEZA fez com que Lakoff e Johnson (1999) propusessem a metáfora da moralidade contábil.

Resumidamente, Lakoff e Johnson (1999, p. 292-293) esclarece que a metáfora da

contabilidade moral apresenta as seguintes noções básicas:

(a) Aumentar o bem-estar alheio é aumentar nosso próprio bem-estar.

(b) Fazer algo de ruim para o outro é tirar algo de valor positivo (bem-estar) dessa pessoa. (c) Aumentar o bem-estar dos outros é ganhar crédito moral.

(d) Causar um dano a alguém cria um débito moral: passamos a ter com ele uma dívida moral. Conforme os teóricos, do domínio financeiro (transação financeira) que se orienta por princípios morais traduzidos na forma de moralidade contábil, mapeia-se a funcionalidade dos livros contábeis, de onde advêm as noções de perda/ganho, dever/pagar, crédito/débito e equilíbrio das contas, relacionadas aos parâmetros de moralidade e imoralidade. Assim, MORALIDADE É PAGAR AS DÍVIDAS; IMORALIDADE É NÃO PAGÁ-LAS (Ibid, 293).

Conforme os teóricos, o modelo metafórico revelado na metáfora da contabilidade moral se realiza com base em certo número de esquemas básicos entre os quais podemos destacar: Reciprocidade, Retribuição, Restituição Vingança, Altruísmo e Equidade. Vejamos alguns detalhes desses esquemas.

cognitivamente, uma perspectiva mercadológica, da qual, por meio de metáforas ontológicas, esses itens são concebidos em termos de bens materiais, sendo quantificados, postos à negociação e qualificados por valores. Isso tudo, a fim de conduzir o fiel ao que é positivo (ganho), e, se estivermos certos, à moralidade religiosa.

a) Reciprocidade

Conforme Lakoff (1995, p. 02), o esquema da reciprocidade constitui-se em dois princípios:

- É ação moral dar algo de valor positivo; dar algo negativo a alguém é ação imoral;

- É obrigação moral pagar uma dívida moral, o não pagamento de uma dívida moral é um ato imoral.

O autor explica que, a ação moral em que alguém faz algo de bom para outra pessoa atende ao primeiro princípio apresentado. Quando essa pessoa que foi beneficiada, reciprocamente, faz algo positivo a quem lhe fez bem, os dois princípios são envolvidos na ação, visto que, dando algo positivo, paga-se uma dívida moral em relação ao bem recebido, decorrendo daí que os dois indivíduos estão equacionados moralmente (Ibid, p. 02).

b) Retribuição

Para Lakoff (1995), esse esquema tem como fundamento a metáfora da aritmética moral, onde se estabelecem dois princípios: a) se alguém lhe prejudica, lhe dá algo de valor negativo, então você deve algo de igual valor (negativo) a essa pessoa; b) se em retribuição você der algo de valor negativo, pela metáfora da aritmética moral, você estará quitando uma dívida moral tirando algo de valor positivo a quem lhe fez mal, ficando, portando, equiparados moralmente (Ibid, p. 02).

Segundo o autor, os preceitos da aritmética moral geram dilemas morais frente uma ação negativa cometida por alguém. Os dilemas configuram-se da seguinte forma:

Primeiro dilema – Optando em fazer algo de negativo contra quem lhe prejudicou, pelo

primeiro princípio, você agiu de forma imoral, uma vez que tirou algo de valor dessa pessoa. Pelo segundo princípio, você atuou moralmente, pagando sua dívida moral (MORAL É ACERTAR AS CONTAS).

Segundo dilema - Não fazer nada contra quem lhe fez mal é uma ação moral ante o primeiro

princípio, porém, pelo segundo princípio, você estaria praticando uma ação imoral, já que teria deixado de pagar uma dívida moral que consiste na obrigação de equalizar as contas contábeis da moralidade com quem tenha lhe prejudicado.

O esquema contábil da vingança é posto por Lakoff (1995) como equivalente à retribuição moral, é mais uma forma de equilibrar as contas morais.

Retribuição e Vingança diferenciam-se a partir da noção da autoridade moral. Quando o equilíbrio das contas morais entre as partes envolvidas no conflito se dá mediante uma autoridade legitimada, trata-se de retribuição, sem autoridade que legitime a ação configura-se como vingança (LAKOFF; JOHNSON, 1999).

Assim, “se um juiz sentencia alguém à morte pelo assassinato de seu irmão, é justiça

retributiva, uma vez que o juiz é tem autoridade legitima. Mas se você, por conta própria,

agir para equilibrar as contas morais matando o assassino de seu irmão, trata-se de vingança”19 (Ibid, p. 295).

d) Restituição

Diferentemente da retribuição, na restituição, uma ação imoral por meio da qual privo alguém de algo positivo (bem-estar) não me obriga a dar-lhe por conta sempre algo de igual valor positivo. Há, portanto, a possibilidade da restituição parcial (LAKOFF, 1995, p. 03).

e) Altruísmo

Abordando esse esquema, Lakoff (1995), argumenta que pelos parâmetros da contabilidade moral, supondo um bem que eu tenha feito a alguém, essa ação coloca a pessoa beneficiada em débito moral em relação a mim. Devo ser restituído com algo de valor positivo. Porém, em uma perspectiva altruísta, na condição de credor, eu me abstenho de receber algo em troca pelo bem que fiz a uma pessoa. Ficando, portanto, com um crédito moral.

f) Equidade

Lakoff e Johnson (1999, p. 296) colocam que na perspectiva da metáfora da contabilidade moral, a justiça é o acerto de contas pelos nossos atos.

19If a judge sentences someone to death for the murder of your brother, it is retributive justice, since the judge has legitimate authority. But if you take it upon yourself to balance the moral books by killing the murderer of your brother, you are taking revenge.

O autor salienta também que existem outras formas de se conceber a equidade (justiça). Podendo ser a distribuição equitativa de objetos físicos – biscoitos, dinheiro – ou metafóricos – oportunidade de emprego, punições, elogios; equidade baseada na necessidade (quanto mais necessidade, mais direito você tem).

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