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3. Impactos da crise no Brasil

3.1. Contas externas

13“Segundo o jornal Valor Econômico, edição de 4 de março de 2009: ‘O Brasil ‘será o primeiro país a

sair da crise’, após ter sido um dos últimos a desacelerar o ritmo de crescimento, afirmou hoje o ministro da Fazenda, Guido Mantega.’ O Ministro do Planejamento Paulo Bernardo fez afirmação semelhante, publicada no site do próprio Ministério: ‘Brasil será o primeiro país a sair da crise, diz Bernardo’.

O período 2003-2007 foi marcado pela tendência ascendente do ciclo de liquidez internacional que teve como consequência a abundância de fluxos de capitais para os países emergentes. No Brasil, como resultado desse processo, o saldo da conta financeira teve o maior superávit da sua história em 2007. E, mesmo com o acirramento da crise em setembro de 2008, o saldo da conta financeira naquele ano foi grande o suficiente para contrabalancear o déficit em transações correntes (o pior desde 1999). Tal resultado foi atingido em função da entrada recorde de Investimentos Diretos Estrangeiros (IDE), estimulados pelas perspectivas de rentabilidade associados a setores produtores de commodities e indústrias baseadas na exploração de recursos naturais. As expectativas de lucros estavam ligadas principalmente à tendência de alta desses produtos que se manteve até meados de 2008 (PRATES et al, 2011).

É interessante notar que a própria tendência altista dos preços das commodities pode ser vista com um dos primeiros efeitos da crise no país. Com o colapso do mercado financeiro americano e o aparente descolamento das economias emergentes, 2007 foi marcado por fluxo recorde de capitais para essas economias. Parte desses recursos advinha de fundos de investimento de caráter mais especulativo que, com a queda da taxa de juros nos EUA, buscavam oportunidades de lucro. Como forma de compensarem prejuízos no mercado subprime, os investidores ampliaram suas aplicações no mercado de futuros ligado a commodities, gerando alta sobre as cotações (PRATES et al, 2011; KREGEL, 2009).

No terceiro trimestre de 2008, com o contágio generalizado das economias emergentes pela crise internacional, ocorreu fuga de capitais, principalmente em

modalidades mais voláteis como “Investimentos de Portfólio” que apresentaram queda

de mais de 80% em relação a 200714 (PRATES et al, 2011). Tal movimento, em geral associado à busca de investimentos “mais seguros” e à cobertura de perdas nos mercados das economias centrais, contribuiu para o menor dinamismo do mercado de ações brasileiro (FREITAS, 2009).

A combinação desses fatores resultou em um módico superávit do balanço de pagamentos em 2008 (2,9 bilhões). Embora pequeno, o superávit é significativo dado o contexto internacional e pode ser creditado ao alto preço das commodities sustentado até agosto de 2008 e ao diferencial das taxas de juros praticadas nos EUA e a SELIC. A

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Queda esta que poderia ter sido maior, caso não houvessem vigorado condições tão favoráveis no primeiro semestre de 2008. A tendência de alta dos preços de commodities incentivou a entrada de recursos via “Investimentos de portfólio” que também foram impulsionados pela elevação do risco de crédito soberano do Brasil, em abril, pela agência Standard & Poors. (PRATES et al, 2011)

situação se reverte já no ano de 2009, quando o superávit do balanço de pagamentos cresce para R$ 46,6 bilhões, sustentado pelo resultado positivo da conta financeira, cujo crescimento em relação a 2008 foi superior a 140%. Ao contrário do ano anterior, observou-se crescimento nas aplicações sobre a modalidade de investimentos de portfólio e queda nos investimentos estrangeiros diretos (PRATES et al, 2011).

No que tange à balança comercial, em ambos os anos (2008 e 2009) foi registrado superávit de, respectivamente, R$ 24,8 e R$ 25,3 bilhões. Contudo, o desempenho é bastante inferior ao observado em 2007 quando as exportações superaram as importações em mais de R$ 40 bilhões. De acordo com Prates et al (2011), o desempenho da balança comercial nos dois anos tem explicações diferentes.

Enquanto, em 2008, o recuo de 37,7% do superávit comercial decorreu do maior ritmo de crescimento das importações relativamente às exportações (44% e 23% frente ao ano anterior, respectivamente), em 2009, em contrapartida, o ligeiro avanço deste superávit (de 1,3%) foi determinado pela maior retração das importações vis-à-vis às exportações (26,2% e 22,7%,

respectivamente, frente a 2008) (...) (PRATES et al, 2011 – p. 78).

Em 2008, o forte movimento de apreciação cambial criou dificuldades para as empresas exportadoras, o que foi parcialmente contrabalanceado pela tendência de alta nos preços das commodities, responsáveis por cerca de 50% da pauta exportadora brasileira (PRATES et al, 2011). A partir de setembro de 2008, a desaceleração generalizada da economia mundial provocou queda na demanda externa pelos produtos brasileiros, assim como reversão na tendência dos preços das commodities. De acordo com Araújo e Gentil (2011), em conjunto, tais movimentos geraram redução no preço e quantum exportados, mesmo em contexto de forte desvalorização cambial.

Já Prates et al (2011) defendem que a performance da balança comercial brasileira em 2008 teria sido resultado das condições em vigor no primeiro semestre e não dos efeitos provocados pelo acirramento da crise. Para os autores, o dinamismo da economia brasileira mantido até o terceiro trimestre de 2008 em conjunto com o movimento de apreciação cambial engendraram, respectivamente, aumento das importações e desestímulo às exportações.

Contudo, o resultado da balança comercial em 2008 poderia ter sido pior, caso as importações não tivessem respondido prontamente à queda da renda observada no último trimestre. Para Prates et al (2011), o perfil da pauta de comércio internacional brasileira teve papel importante na manutenção do resultado positivo. Isso porque a alta no preço das commodities sustentadas até meados de 2008 fez com que o valor das

exportações não se retraísse sobremaneira. Por outro lado, o perfil das importações, focado em produtos de maior intensidade tecnológica, faz com que a elasticidade-renda das importações brasileiras seja elevada, o que causou sua rápida queda no contexto de recessão.

Ambos os fatores também são válidos no contexto de 2009. Por um lado é possível citar a nova tendência de alta dos preços das commodities, sustentada pela retomada do crescimento de países emergentes, notadamente da China. Por outro lado, a recessão observada nos dois primeiros trimestres desestimulou as importações.