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CONTAS PÚBLICAS

No documento Prestação de Contas (páginas 31-39)

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Prestação de Contas - Heloísa Caldas Ferreira

Esta Unidade tratará da análise realizada sobre as prestações de contas

apresentadas e buscará demonstrar os motivos pelos quais as contas poderão ser consideradas regulares, regulares com ressalvas ou irregulares.

Ainda, serão destacadas as diferenças entre as contas que se referem às

transferências legais e as que se referem às transferências voluntárias, objetivando demonstrar as regras e procedimentos realizados na apresentação e análise das prestações de contas, tanto na esfera federal, estadual, quanto municipal.

A análise das contas por parte do Tribunal de Contas pode resultar na regularidade, regularidade com ressalvas ou na irregularidade das contas apresentadas, conforme disposições contidas na Lei Orgânica do Tribunal de Contas da União – Lei nº 8.443/92.

Contas regulares. Quando expressarem, de forma clara e objetiva, a exatidão dos demonstrativos contábeis, a legalidade, a legitimidade e a economicidade dos atos de gestão do responsável, sendo dada quitação ao responsável.

Contas regulares com ressalvas. Quando evidenciarem impropriedade ou qualquer falta de natureza formal que não resulte dano ao erário, sendo determinada a adoção de medidas necessárias para a correção de

impropriedades ou faltas identificadas, para prevenir que ocorram outras falhas semelhantes.

Contas irregulares. As contas serão consideradas irregulares quando forem comprovadas as seguintes ocorrências:

- omissão no dever de prestar contas;

- prática de ato de gestão ilegal, ilegítimo, antieconômico, ou infração à norma legal ou regulamentar de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional ou patrimonial;

- dano ao erário decorrente de ato de gestão ilegítimo ou antieconômico;

- desfalque ou desvio de dinheiros, bens ou valores públicos;

- quando houver reincidência no descumprimento de determinação do Tribunal de Contas de que o responsável tenha tido ciência.

ANÁLISE DAS CONTAS

Quando as contas forem consideradas irregulares, se houver débito, o Tribunal condenará o responsável ao pagamento da dívida atualizada monetariamente, com o acréscimo de juros de mora devidos, podendo ser aplicada multa prevista no artigo 57 da Lei Orgânica:

Você já deve ter conhecimento, por meio do noticiário, de fatos sobre desfalque ou desvio de dinheiro público. Pesquise na internet sobre esses casos. Assista aos jornais diários e faça anotações sobre esse problema tão grave enfrentado pelos brasileiros.

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“Art. 57. Quando o responsável for julgado em débito, poderá ainda o Tribunal aplicar-lhe multa de até cem por cento do valor atualizado do dano causado ao erário.”

Na hipótese de não haver débito, mas comprovada omissão no dever de prestar contas, bem como prática de ato de gestão ilegal, ilegítimo, antieconômico, ou infração à norma legal ou regulamentar de natureza contábil, financeira,

orçamentária operacional ou patrimonial, será aplicada a multa prevista no artigo 58, I, da Lei Orgânica:

“Art. 58. O Tribunal poderá aplicar multa de até Cr$ 42.000.000,00 (quarenta e dois milhões de cruzeiros), ou valor equivalente em outra moeda que venha a ser adotada como moeda nacional, aos responsáveis por:

I – contas julgadas irregulares de que não resulte débito, nos termos do parágrafo único do art. 19 desta Lei.”

OBS: este valor foi atualizado pela Portaria nº 96/2009 do Tribunal de Contas da União, sendo fixado em R$ 34.825,94 (trinta e quatro mil, oitocentos e vinte e cinco reais e noventa e quatro centavos).

A referida multa pode ser, ainda, aplicada nos casos de:

- ato praticado com grave infração à norma legal ou regulamentar de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e

patrimonial;

- ato de gestão ilegítimo ou antieconômico de que resulte injustificado dano ao erário;

- não atendimento, no prazo fixado, sem causa justificada, a diligência do Relator ou a decisão do Tribunal;

- obstrução ao livre exercício das inspeções e auditorias determinadas; - sonegação de processo, documento ou informação, em inspeções

ou auditorias realizadas pelo Tribunal; e

- reincidência no descumprimento de determinação do Tribunal.

Quando o Tribunal constatar a existência de dano ao erário, decorrente de ato de gestão ilegítimo ou antieconômico ou desfalque ou desvio de dinheiro, bens ou valores públicos, realizará a remessa de cópia da documentação ao Ministério Público da União para ajuizamento das ações cíveis e penais cabíveis.

Verifica-se, ainda, conforme o disposto no artigo 270 do Regimento Interno do Tribunal de Contas da União – Resolução nº 155/2002 – que sempre que o Tribunal considerar grave a infração cometida, o responsável ficará inabilitado, por um período de 5 (cinco) a 8 (oito) anos, para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança no âmbito da Administração Pública.

Na hipótese de irregularidade das contas, poderá haver sanções não só por parte do Tribunal de Contas, mas também por outros órgãos competentes,

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Legislação correlata: Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, que

estabelece, de acordo com o art. 14, § 9º, da Constituição Federal, casos de inelegibilidade, prazos de cessação e determina outras providências.

Cabe destacar que antes de qualquer decisão, em relação às contas apresentadas, deve ser observado o direito de defesa, consubstanciado no princípio do contraditório e da ampla defesa, garantido no artigo 5º, LV, da Constituição Federal:

“Art. 5º. (...)

LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.”

O Tribunal de Contas da União, no ano de 2007, julgou as contas de 20.006 responsáveis, tendo como resultado:

IRREGULARES REGULARES REGULARES COM RESSALVAS 1.574 13.019 5.413 2007

Fonte: Tribunal de Contas da União.

como é o caso da inelegibilidade por parte da Justiça Eleitoral, ou seja, não podem ser eleitos os responsáveis pelas contas irregulares, para as eleições que se realizarem nos 5 (cinco) anos seguintes, contados a partir da data da decisão.

Alguns resultados e benefícios decorrentes das atividades desenvolvidas pelo TCU no 2º trimestre de 2008:

- condenação de 675 responsáveis ao recolhimento de débito

e(ou) pagamento de multa, no valor total de R$ 135,8 milhões;

- 624 denúncias recebidas pela Ouvidoria do TCU sobre indícios

de irregularidades na aplicação de recursos públicos;

- inabilitação de 36 responsáveis para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança no âmbito da Administração Pública Federal;

- decretação de inidoneidade de nove empresas para participar de licitação no

âmbito da Administração Pública Federal.

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Os motivos do julgamento pela irregularidade das contas foram:

DESFALQUE OU DESVIO DE DINHEIRO,BENS OU VALORES PÚBLICOS 19% OMISSÃO NO DEVER DE PRESTAR CONTAS 18% PRÁTICA DE GESTÃO ILEGAL OU INFRAÇÃO A NORMA LEGAL 32% DANO AO ERÁRIO

DECORRENTE DE ATO DE GESTÃO ILEGÍTIMO OU ANTIECONÔMICO

31%

CONVÊNIOS

O que é convênio?

As prestações de contas podem ser divididas em:

- Prestações de contas anuais: são aquelas que o agente público tem o dever de apresentar, anualmente, ao término de cada exercício financeiro, referentes à sua gestão e à aplicação de recursos públicos.

- Prestações de contas de convênios: são aquelas que não se referem às transferências legais, como na prestação de contas anual, mas às

transferências voluntárias, que são repasses decorrentes de ato de

vontade entre as pessoas jurídicas envolvidas, que são apresentadas por meio de convênio, ajuste, acordo ou outros instrumentos

congêneres.

Primeiramente, vamos tratar da prestação de contas referente às transferências voluntárias, ou seja, aos Convênios:

O termo “convênio” será tratado de forma abrangente, referindo-se a quaisquer transferências voluntárias, como ajuste, acordo ou outros instrumentos congêneres, ou seja, semelhantes.

Como já apresentado, os convênios são firmados por ato de declaração

voluntária entre as pessoas jurídicas envolvidas e, por este motivo, os repasses das verbas são realizados para um fim específico.

Referidas transferências voluntárias relacionam-se diretamente aos interesses da entidade que recebe os recursos e aos interesses da Administração e se os valores que foram repassados e aplicados não cumprirem o que foi anteriormente

acordado ou preestabelecido, serão imputadas as devidas responsabilizações e a consequente devolução dos valores incorretamente utilizados.

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Para Remilson Soares Candeia, convênio pode ser entendido “como uma das formas de descentralização de recursos da Administração Pública para entes públicos ou privados para a consecução de objetivos de interesses recíprocos entre os partícipes” (CANDEIA, 2005, p. 22).

Apresentamos outras definições importantes relacionadas ao tema:

- Concedente é o órgão da administração pública direta, autárquica ou fundacional, empresa pública ou sociedade de economia mista responsável pela transferência dos recursos financeiros referentes ao convênio.

- Convenente é o órgão da administração pública direta, autárquica ou fundacional, empresa pública ou sociedade de economia mista, de qualquer esfera de governo, ou organização particular, com a qual é celebrado o convênio.

- Auxílio é a transferência de capital derivada da lei orçamentária destinada ao atendimento a ônus ou encargo assumido pela União e que somente será concedida para entidade sem finalidade lucrativa. - Subvenção social é a transferência de capital para instituições

públicas ou privadas, com caráter social assistencial ou cultural, sem fins lucrativos, e que independe de lei específica, objetivando a cobertura de despesa de custeio.

- Contribuição é a transferência concedida em virtude de lei, para pessoas de direito público ou privado sem finalidade lucrativa e sem exigência de contraprestação direta em bens ou serviços.

A Lei de Responsabilidade Fiscal – Lei Complementar nº 101/00 –, que será posteriormente estudada em capítulo específico, conceitua as transferências voluntárias em seu artigo 25:

“Para efeito desta Lei Complementar, entende-se por transferência voluntária a entrega de recursos correntes ou de capital a outro ente da Federação, a título de cooperação, auxílio ou assistência

financeira, que não decorra de determinação constitucional, legal ou os destinados ao Sistema Único de Saúde”.

Para que o ente receba essas transferências, deve observar as normas contidas na Lei de Responsabilidade Fiscal, entre as quais se destacam:

- existência de dotação específica; - previsão orçamentária;

- comprovação de pagamento de tributos, empréstimos e financiamentos devidos ao ente transferidor;

- prestação de contas dos recursos anteriormente recebidos;

- cumprimento dos limites constitucionais referentes à educação e à saúde;

- observância da impossibilidade de destinar esses recursos ao pagamento de despesas com pessoal ativo, inativo e pensionistas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, conforme o disposto no artigo 167, X, da Constituição Federal.

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O Projeto Básico: Quando os convênios se referirem a obras ou serviços, deverão

conter um projeto básico que especifique com precisão a obra ou serviço a ser executado, as fases, o custo e os prazos de execução, com os elementos contidos no artigo 6º, IX, da Lei nº 8.666/93, que se aplica, no que couber, aos convênios.

Vigência: Deve ser especificada a vigência do convênio, de acordo com as

metas que foram estabelecidas, bem como pelo prazo previsto para a realização do objeto, sendo proibida a aplicação de recursos antes e depois da vigência do convênio.

Fiscalização: Todo aquele que recebe e administra recursos públicos

descentralizados por meio de convênio, ajuste, auxílio ou subvenção tem o dever de realizar a prestação de contas.

Em relação à transferência de recursos federais, caberá ao órgão recebedor dos recursos prestar contas ao órgão repassador, que terá 60 (sessenta) dias para se pronunciar sobre a aprovação ou desaprovação das contas, e não ao Tribunal de Contas da União.

Sempre, porém, que for verificada qualquer irregularidade na aplicação desses recursos, ou seja, perda, extravio, prejuízo ao erário ou omissão no dever de prestar contas, deverá ser instaurada a tomada de contas especial (instituto que será analisado posteriormente), que será encaminhada ao Tribunal de Contas da União para a devida apreciação e julgamento.

Se as contas forem julgadas irregulares, o órgão convenente poderá se tornar inadimplente no Sistema Integrado de Administração Financeira da União - SIAFI, ficando impedido de receber novas transferências.

A prestação de contas relativas a convênios com recursos federais deverá respeitar as regras contidas na Instrução Normativa nº 01/97, da Secretaria do Tesouro Nacional - STN.

A fiscalização por parte do Tribunal de Contas da União pode ser realizada por solicitação do Congresso Nacional e por iniciativa própria, selecionando os

convênios com base em banco de dados informatizados, bem como por meio de denúncias de terceiros e representações por autoridades. Caso seja apurada qualquer irregularidade, determinará a instauração de tomada de contas especial para a apuração da devida responsabilidade.

A documentação de comprovação das despesas, que inclui documentos originais fiscais ou equivalentes, deve conter as faturas, recibos, notas fiscais e quaisquer outros documentos comprobatórios, emitidos em nome do convenente ou do executor. Além disso, tais documentos devem ser mantidos no próprio local em que forem contabilizados, à disposição dos órgãos de controle interno e externo, pelo prazo de 5 (cinco) anos, contados estes da aprovação da prestação ou tomada de contas, do gestor do órgão ou entidade concedente, referente ao exercício da concessão (art. 30, § 1º IN/STN 01/97).

Prestação de Contas Final: é relativa ao total de recursos recebidos, referente a

todas as parcelas. O prazo para prestação das contas encontra-se expresso no termo de convênio, sendo, geralmente, de 60 (sessenta) dias contados do término da vigência do convênio, se não houver previsão de prestação de contas parcial.

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Prestação de Contas Parcial: é relativa a cada uma das parcelas de recursos

transferidos, quando a liberação dos recursos ocorrer em 3 (três) ou mais parcelas, sendo que a liberação da terceira parcela ficará dependendo da apresentação da prestação de contas referente à primeira parcela que foi liberada.

Ex: se um Tribunal de Contas Estadual verifica, durante a sua fiscalização em algum Município, que há irregularidades na aplicação de recursos federais, este deve representar ao Tribunal de Contas da União, porque é deste a competência para fiscalizar.

Importante!

Contrato convênio

Tanto o contrato como o convênio são formalizados por meio de acordo de vontades. O que os diferencia é que, enquanto nos contratos os interesses são antagônicos, ou seja, uma parte quer o objeto contratado e a outra a

remuneração, nos convênios os interesses são recíprocos, almeja-se o mesmo objeto.

No convênio, verifica-se que as partes têm objetivos institucionais comuns e objetivam o mesmo resultado, o que já não ocorre no contrato.

A seguir você conhecerá como ocorre a análise das contas nos três âmbitos do governo federal, estadual e municipal.

Veremos que a análise das contas no âmbito federal possui uma sistemática diferenciada, em relação às contas apresentadas pelo Chefe do Poder Executivo - Presidente da República - e às contas apresentadas pelos

administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos.

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