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Capítulo I Orientações oficiais para a educação nacional

2. Conteúdos escolares

2.3. Conteúdos atitudinais

Atitudes, valores e normas são chamados pelos PCN (1998) de conteúdos atitudinais. Assim, cada disciplina da grade curricular envolverá tanto os conteúdos específicos quanto os procedimentais e atitudinais.

É importante deixar claro que, na escolha dos conteúdos a serem trabalhados, é preciso considerá-los numa perspectiva mais ampla que leve em conta o papel, não somente dos conteúdos de natureza conceitual - que tem sido tradicionalmente predominantes - mas também dos de natureza procedimental e atitudinal" [...] (BRASIL, 1998 a, p. 76).

Neste trabalho o conteúdo “atitudes” foi abordado parcialmente através das condutas. Essas serão encaradas como um conteúdo que favorece a formação de atitudes, a revisão de valores e o estabelecimento e cumprimento de normas socialmente aceitáveis.

Sobre atitudes existem diversos trabalhos desenvolvidos por participantes do grupo de Psicologia Cognitiva, coordenado pelas professoras Dra. Márcia Regina Ferreira de Brito e Dra. Lucila Dihel Tolaine Fini.

Sobre “atitudes” Gonçalez apresentou diversos trabalhos sobre. Dentre eles, a dissertação de mestrado: “Atitudes (des)favoráveis com relação à Matemática” (1995) e a tese de doutoramento: “Relação entre a família, o gênero, o desempenho, a confiança e as atitudes em relação à Matemática” (2000). Este último teve por objetivo investigar as atitudes de alunos do ensino fundamental e de seus pais em relação à Matemática e avaliar até que ponto essas atitudes influenciam o desempenho matemático dos alunos. Os resultados indicaram que os professores e a família devem buscar soluções conjuntas visando incentivar o aluno a participar das atividades matemáticas permitindo que todos, na classe e

em casa, tenham as mesmas chances de participação, favorecendo o desenvolvimento de atitudes positivas o que, provavelmente, possibilitará sucesso na disciplina.

Em relação aos conteúdos atitudinais, os PCN (1998), destacam que jogos em grupos co-operativos podem desempenhar um papel importante para o desenvolvimento dos três tipos de conteúdo. Porém, outros métodos como, por exemplo, Resolução de Problemas, podem ser tão eficazes quanto os jogos.

Não se pode esquecer de que:

A escola é um contexto socializador, gerador de atitudes relativas ao conhecimento, ao professor, aos colegas, às disciplinas, às tarefas e à sociedade. A não compreensão de atitudes, valores e normas como conteúdos escolares faz com que estes sejam comunicados sobretudo de forma inadvertida - acabam por serem aprendidos sem que haja deliberação clara sobre esse ensinamento.

Por isso, é indispensável que a equipe escolar adote uma posição crítica em relação aos valores que a escola transmite, explicita ou implicitamente, por meio de atitudes cotidianas (BRASIL, 1998 a, p.77).

O ensino e a aprendizagem de condutas vão exigir da equipe escolar um posicionamento sobre o que e como se vai ensinar. Esse posicionamento estará, necessariamente, explicitado no "Projeto Pedagógico" de cada escola.

Segundo os PCN (1998):

[...] as atitudes são bastante complexas, pois envolvem tanto a cognição (conhecimentos e crenças) quanto os afetos (sentimentos e preferências) e as condutas (ações e declarações de intenções) (BRASIL, 1998 a, p. 78).

Os PCN (1998), entretanto, não definem "atitudes". Assim, são colocadas aqui duas definições julgadas adequadas:

Reação ou maneira de ser em relação a determinadas pessoas, objetos, situações etc. (HOLANDA, 1986).

Tendências ou disposições adquiridas e relativamente duradouras a avaliar de um modo determinado um objeto, pessoa, acontecimento ou situação e a atuar de acordo com essa avaliação (COLL, 1998, p.122).

O termo “conduta” significa:

Procedimento moral (bom ou mau); comportamento. (HOLANDA, 1986). Já, no dicionário de Psicologia, encontra-se:

Termo usado principalmente na França. Certos clínicos lamentam que seu uso já não seja tão freqüente e que se prefira, a ele, como em inglês a palavra comportamento (behavior). A conduta foi inicialmente definida por P. Janet: ‘o fato psicológico é a conduta do ser vivo, conduta exterior e não interior. É o conjunto dos movimentos, das ações, das palavras, de tudo o que ele pode fazer, que é exteriormente perceptível, que sai de seu organismo, que atinge os objetos exteriores’. Mas existem também condutas internas, como a ‘conscientização’ ou tomada de consciência, que é um aperfeiçoamento da conduta. Enquanto, no primeiro caso, nos defrontamos com uma psicologia objetiva comparável à do comportamento, no segundo caso adentramos à vida do espírito, ao domínio dos sentimentos; é assim que a crença, o amor, a linguagem são operações psicológicas pelas quais construímos nossa personalidade no convívio com o outro. Passamos das condutas corporais para as condutas sociais; essa mudança é o fruto do pensamento , que é uma maneira de preparar as ações resguardados os indiscretos. Mesmo não se sabendo bem em que ela consiste, a evolução da personalidade a testemunha. Para D. Lagache a conduta (ou comportamento) é o conjunto das operações materiais ou simbólicas pelas quais um organismo em condições tende a realizar suas possibilidades e a reduzir as tensões que ameaçam sua unidade e o motivam. A própria consciência não pode ser biologicamente compreendida senão como uma conduta ou uma qualidade de conduta. Nós não a atingimos senão em condutas e por meio delas. A redução física do comportamento desfiguraria a psicologia, pois a conduta é um emergente original. Seu ‘sentido’ é aquilo que constitui a integração de uma motivação; em geral, ele não é unívoco e não é senão parcialmente consciente. Por condutas, é preciso entender as que se exteriorizam em ação, mas também as

que são interiorizadas como fantasias ou sob a forma de relações intra- subjetivas entre as diversas tendências do aparelho psíquico. (DORON e PAROT, 1998)

A inclusão de "atitudes", "valores" e "normas" como conteúdo escolar não significa uma maneira de controlar o comportamento dos alunos. A intenção é que a Escola possa estar intervindo de forma sistematizada e permanente na formação do cidadão.

O conteúdo "normas" deve orientar as condutas desejadas e definidas pelos grupos de trabalho.

No trabalho com normas, vem se destacando no cenário da Educação Matemática o Professor Doutor Roberto Ribeiro Baldino, da UNESP de Rio Claro, e seu grupo. O professor apresenta uma proposta de intervenção em sala de aula, denominada “Assimilação Solidária", que muda o conceito de mérito ao colocar valores que vão além daquele atribuído ao conteúdo específico, na qual um "Contrato de Trabalho" é indispensável.

O instrumento fundamental da Assimilação Solidária é um ´Contrato de Trabalho´, negociado entre professor e alunos que vincula a avaliação e o trabalho realizado em pequenos grupos em sala de aula (SILVA 1997, p.14). Entretanto, na opinião da pesquisadora, não é obrigatório o trabalho com “Assimilação Solidária” para que sejam estabelecidas normas a serem obedecidas nas salas de aula. Essas “normas” devem estabelecer ações e condutas adequadas para o bom andamento do processo de ensino e aprendizagem, visando atingir os objetivos desejados.

Num jogo, segundo Château (1987), as regras estipuladas e as normas são interessantes, pois colocam ordem nas ações e no pensamento, facilitando a criação de estratégias necessárias para se atingir os objetivos propostos. As normas vão objetivamente dirigir os procedimentos e subjetivamente, as atitudes.

Uma maneira de abordar os conteúdos atitudinais, indicada pelos PCN (1998) e que não descarta as considerações anteriores, é o trabalho com os Temas Transversais.

Os Temas Transversais formam um conjunto articulado. [...] Os valores e princípios que os orientam são os mesmos (os da cidadania e da ética democrática e as atitudes a serem desenvolvidas nos diferentes momentos e espaços escolares, ainda que para cada Tema Transversal possam ser caracterizadas atividades diferentes). (BRASIL, 1998c, p 27).

Embora os temas transversais não sejam objeto de estudo deste trabalho, pode-se verificar em cada um deles, como no parágrafo seguinte, alguma indicação para o trabalho com os conteúdos atitudinais.

Cada ser humano posiciona-se diante de um conjunto de valores que não foram criados por ele isoladamente, mas no contexto das relações com outros seres humanos. É dentro do contexto social, dos grupos de que faz parte, que o indivíduo desenvolve suas potencialidades (BRASIL, 1998c, p.51-52).

Ainda é necessário destacar que:

A conquista dos objetivos propostos para o ensino fundamental depende de uma política educativa que tenha como eixo a formação de um cidadão autônomo e participativo. Essa prática pressupõe que os alunos sejam sujeitos de seu processo de aprendizagem e que construam significados para o que aprendem, por meio de múltiplas e complexas interações com os objetos de conhecimento, tendo, para tanto, o professor como mediador. A interação dos alunos entre si é outro aspecto essencial nesse processo (BRASIL, 1998a, p. 81).

A expressão "ser sujeito de seu próprio processo de aprendizagem" remeteu a pesquisadora para o construtivismo piagetiano e "a interação dos alunos entre si", aos grupos co-operativos.