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Contexto da Pedagogia Jesuítica diante do Colonizador e do Gentio do Novo

Os portugueses chegaram às terras brasílicas em 1500, porém, só a partir de 1530 é que a Coroa Portuguesa decidiu explorar o litoral, visando, com isso, a facilitar o desenvolvimento agrícola exploratório da Colônia e formar defesas contra o rival, os franceses. Para isso, a ocupação de terras facilita a exploração da pecuária, e, entre tantos fatores, a proposta de estabelecer uma exploração cultural e religiosa das terras brasílicas também é uma realidade.

Existiu uma necessidade de o reino de Portugal mostrar seu poder e proteger sua Colônia, apresentando-se no reconhecimento de um Conselho Ultramarino, na fundação de uma cidadela (que imitasse a Metrópole Portuguesa) e da cultura luso-europeia.

O Conselho Ultramarino, segundo Souza, era vital para entender a história do Brasil colonial. Consultando as edições semidiplomáticas e documentos manuscritos, foi possível entender as “transcrições que preserve as características gráficas e linguísticas da época”163. Além disso, Souza está convencida de que a importância do Conselho Ultramarino teve na administração do Brasil colonial uma prática cotidiana que levava decisões aos âmbitos administrativos da Colônia 164.

Portanto, a intervenção ultramarina não só possibilitou a Portugal conservar a terra, como, também, estabelecer uma diplomacia. O Conselho Ultramarino era, naquele momento, a representação da forma diplomática de uma Colônia em formação, das terras exploradas, da imagem do governo do Rei e outros.

Construir uma cidadela na Colônia brasílica com imagem da Metrópole Portuguesa possibilitou a D. João III, em 1530, um aprimoramento urbanizador, já que o fracasso das capitanias hereditárias era evidente. Entre as capitanias fracassadas, tem a doada para Francisco Pereira Coutinho, que não teve ajuda assegurada de Diogo Álvares Corrêa, o Caramuru, que sofreu naufrágio e viveu entre os gentios. Urbanizador porque o estabelecimento de um Governo-Geral e a possibilidade da construção

163 SOUZA, Erica Cristina Camarotto. Apontamentos Diplomáticos sobre Consulta do Conselho

Ultramarino referentes à Capitania de São Paulo, 2007.

164 Cf. SOUZA, Erica Cristina Camarotto. Apontamentos Diplomáticos sobre Consulta do Conselho

73 arquitetônica de uma cidade forma no imaginário dos homens a imagem da presença do Rei.165

O desenho arquitetônico, como instrumento racional e síntese de ascensão, não era apenas da construção civil, e, sim, do reino português. A Metrópole é o indício de formação urbanística. Mas não adianta ter formação urbanística se não houver a possibilidade da existência uma cultura luso-europeia.

Vários fatores levaram à implementação da cultura luso-europeia. Porém, é oportuno lembrar que os jesuítas contribuíram, via catequese, para o desenvolvimento cultural da Colônia. Para Bittar e Ferreira Junior, a práxis pedagógica apresenta-se, inicialmente, nas “escolas de bê-á-bá” e na “catequese”, partindo dos cânones tridentinos e alcançando as localidades de habitação dos ameríndios.

De 1549 a 1556. Nesse curto interregno, a prática pedagógica se traduz na própria ação catequética com os índios, principalmente crianças, e os mamelucos, particularmente da Bahia e São Vicente. Destacaram-se nessa fase pelo menos três nomes: Antonio Rodrigues (Rijo), o primeiro mestre de bê-á-bá do Brasil; Juan de Azpilcueta Navarro, o primeiro jesuíta a esboçar a estrutura lingüística do tupi; e José de Anchieta, que foi catequizador, autor da primeira gramática da língua tupi e criador do catecismo bilíngüe (português e tupi). 166

Segundo Serafim Leite, “o fim principal da Missão do Brasil era a conversão do gentio, mas simultaneamente o de atender aos portugueses”167. O projeto dos jesuítas era catequizar, e “Nóbrega sem perder um instante, logo apresentou, na nova terra, a religião do Crucificado. Ele pregava aos portugueses, ergueu uma Igreja, abriu escola de ler e escrever para os meninos, e começou a visitar os índios”168.

165 Segundo BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. “Sistema de produção da arquitetura na cidade colonial

brasileira – Mestres de ofício, ‘riscos’ e ‘traças’”. In_: Anais do Museu Paulista. v.20. n.1, jan.- jun. 2012, p. 343, “o desenho como instrumento de raciocínio e síntese esteve na base da ascensão da arquitetura ao contexto das artes liberais nas cortes italianas, mas não estava ausente nos circuitos menos letrados, relacionados às artes mecânicas da construção civil em Portugal e nas conquistas ultramarinas, aí incluso o Brasil”. Isso significa dizer que a base arquitetônica brasílicas tinha como finalidade lembrar, em tudo, os aspectos da Metrópole, as relações ultramarinas, a figura do Rei e outros. Tem-se, nessa perspectiva de Bueno, a apresentação de uma investida urbanizadora projetada para formar um modelo de cidade portuguesa na colônia.

166 BITTAR, Marisa e FERREIRA JUNIOR. “Casas de bê-a-bá e colégios jesuíticos no Brasil do século

16”. In_: FERREIRA JUNIRO, Amarilio (Org). Em Aberto/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Anísio Teixeira, v. 21, n. 78, dezembro de 2007b, pp. 36.

167LEITE, Serafim. “Introdução Geral, vol I”. In_: ____________. Cartas dos Primeiros Jesuítas do

Brasil, vol I, 1956, p. 8.

168LEITE, Serafim. “Introdução Geral, vol I”. In_: ____________. Cartas dos Primeiros Jesuítas do

74 Nóbrega fundou o Colégio dos Meninos de Jesus, com o auxílio dos mamelucos e dos órfãos que aprendiam a língua com os ameríndios169 e a ensinavam aos jesuítas. De início, foram 200 meninos frequentando a escola. Os jesuítas introduziram uma forma de mundo, uma representação deste que culminava na mudança de realidade dos ameríndios e de todos que ali habitavam. Um novo mundo surge na solércia do mundo português.

Nóbrega, Antonio Rodrigues, Azpilcueta Navarro ou um José de Anchieta, todos eles são, na prática, os responsáveis pela aplicação da pedagogia jesuítica. A pedagogia possibilitou, nas terras brasílicas, a difusão da cultura portuguesa170, legitimando a difusão das relações dos homens que habitavam na Colônia com a Metrópole Portuguesa.

Isso só seria possível para os jesuítas se houvesse um bom investimento educacional. Bittar e Ferreira Junior entendem que, de 1549 a 1599, com a incorporação dos bens proporcionados pelo capital, tornou-se viável sustentar as “escolas de ler e escrever (escolas de bê-á-bá)”171 e, por consequência, promover o projeto cultural.

Nóbrega é o primeiro a introduzir essa forma de pensar, o primeiro a dispor de escravos, o primeiro a entender que, se aplicasse o capital para manter as escolas, seria possível construir um Estado cristão que favoreceria o bem da Igreja e de Portugal. Assim, poderiam ser incluídos, no mundo cristão, os gentios (índios) salvos em nome de Cristo.

Quando o padre Luís da Grã, Gregório Serrão172 (que exercia o oficio de enfermeiro), José de Anchieta e mais alguns irmãos chegaram à Bahia, em 13 de julho

169 Segundo CABRAL, Luis Gonzaga. Jesuítas no Brasil no Século XVI, 1925, p. 150 – 151, “não

houve quasi outros mestres em terras de Santa Cruz, além dos JESUITAS; os seus Collégios de cultura humanista formavam ali toda a população ilustrada da Colônia. Ora, como era possível cursar as bellas lettras sem saber ler e escrever? Mas ha mais: Sabemos que raros eram os Índios que ascendessem até ás aulas do Curso Médio, e, contudo os JESUITAS abriram' por toda a parte aulas em que ensinavam os Índios. De que seriam: essas aulas se não eram de ler e escrever? Mas os documentos são numerosos e irrespondíveis”.

170 Cf. CARDIM, Fernão. Tratado da Terra e Gente do Brasil, 1980, entendia que deveria fazer uma

análise linguística para entender e interpretar os ameríndios brasílicos. Assim, poderiam os jesuítas apresentar uma possibilidade de mundo vigente nessas terras. Algo que perceberam quando se empenharam em fundar escolas.

171 BITTAR, Marisa e FERREIRA JUNIOR, Amarilio. “A pesquisa em história da educação colonial”.

In: PAIVA, José Maria de, ASSUNÇÃO, Paulo e BITTAR, Marisa, (org). Educação História e Cultura

no Brasil Colônia, 2007a, passim.

172 Segundo CARDIM, Fernão. Tratado da Terra e Gente do Brasil, 1980, p. 380, “Gregório Serrão

entrou para a Companhia, em 1550, em Coimbra, e chegou à Bahia no terceiro socorro, a 13 de julho de 1553, com o padre Luiz da Grã e outros padres e irmãos, entre os quaes Joseph dè Anchieta; vinha ainda como irmão ou escolar e exercia o officio de enfermeiro. Em Piratininga, residiu muito tempo em companhia do irmão Manuel de Chaves, aprendendo a lingua da terra e ensinando os meninos da escola.

75 de 1553, ocorreu uma divergência entre “Luís da Grã e Nóbrega” sobre os bens adquiridos pela Companhia de Jesus no Brasil. Luís da Grã173 queria que Nóbrega cumprisse os preceitos constitucionais e que se fechassem as escolas de bê-á-bá,

uma vez que no texto da Magna charta jesuítica não estava prevista a possibilidade de qualquer ordenação econômica para esse tipo de prática. Nóbrega resistiu, e a partir daí as divergências doutrinárias estabelecidas entre ele e Luís da Grã foram dirimidas em seu favor em virtude da intervenção direta do padre Diego Laynes, sucessor de Loyola no comando da Companhia de Jesus.174

A divergência doutrinária entre Nóbrega e Luís da Grã caracterizou-se pela apropriação dos bens materiais (propriedades de terras, escravos e gado) para manter as escolas primárias. Luís da Grã entendia, como jesuíta, que a “pobreza da Companhia é apostólica: o Senhor nos enviou a pregar em pobreza”175. Aos jesuítas, cabia a proibição de receber donativos ainda que a aplicação deles tivesse fins religiosos. A pobreza para esses religiosos é “condição de nossa credibilidade apostólica”176

De 1556 a 1570. Período no qual já estava em circulação em todas as Províncias, isto é, nas circunscrições territoriais da Companhia de Jesus, a IV Parte das Constituições, referente aos preceitos educativos, e uma versão do Ratio Studiorum, (...) Essa etapa ficou caracterizada pelas divergências doutrinárias entre os padres Manuel da Nóbrega e Luis da Grã em relação aos negócios temporais – propriedades de terras, escravos e gado –, nos quais a Companhia de Jesus havia se imiscuído para dar sustentação material às casas de bê-á-bá. A disputa entre ambos, já que Grã defendia a imediata aplicação dos preceitos das Constituições que permitiam a posse de bens apenas para os colégios da Companhia, foi resolvida a favor da tese defendida por Nóbrega, que advogava o princípio de que as casas de ensino das primeiras letras também

Passados alguns annos nesses exercicios, foi mandado para a Bahia, onde em Julho de 1562 recebia das mãos do bispo d. Pedro Leitão as ordens sacerdotaes”.

173 Segundo FERREIRA JUNIOR, Amarilio. “Os jesuítas na pesquisa educacional”. In_: (Org) ______.

Em Aberto/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, v. 21, n. 78,

2007, p. 18, apesar do princípio de divergência que tiveram Luís da Grã e Manuel da Nóbrega, “a prevalência da tese defendida por Nóbrega, com o apoio de Roma, sobre a de Luiz da Grã marcou de forma irremediável a longa hegemonia educacional jesuítica de 210 anos. Contrariando os preceitos consubstanciados na IV Parte das ‘Constituições’, o substituto de Inácio de Loyola no comando da Companhia de Jesus, padre Diego Laines, autorizou as casas de bê-á-bá a amealharem bens econômicos, como terras, escravos e gado, tal como defendia Nóbrega, regalias essas que só eram permitidas aos colégios da Ordem”.

174 BITTAR, Marisa e FERREIRA JUNIOR, Amarilio. “A pesquisa em história da educação colonial”.

In: PAIVA, José Maria de, ASSUNÇÃO, Paulo e BITTAR, Marisa, (org). Educação História e Cultura

no Brasil Colônia, 2007a, p. 698.

175 CONSTITUIÇÕES DA COMPANHIA DE JESUS/Normas complementares, 2004, p. 288/IIB,

Parte VI, Seção IV, 159.

176 CONSTITUIÇÕES DA COMPANHIA DE JESUS/Normas complementares, 2004, p. 288/IIB,

76 possuíssem propriedades. Foi essa disputa, porém, que acelerou a fundação dos colégios, conforme discutiremos mais adiante.177

Mem de Sá entendia que Nóbrega e seu projeto catequético só poderiam sobreviver se houvesse como ele gerar seu próprio sustento, dispondo de escravos e promovendo renda: “Mem de Sá tinha, sem dúvida, têm a mesma opinião de Nóbrega”178. O governador ofereceu uma renda de 40$000 réis para o sustento de 12 pessoas; e o supervisor na época era Rodrigos de Freitas, viúvo e funcionário do Rei que mais tarde entraria na Companhia de Jesus.

Além das dificuldades que havia para a manutenção dos colégios nas terras brasílicas, as distâncias das missões e os lugarejos abandonados pela sorte forçaram a criação dos colégios fixos, em cidades estratégicas e ao mesmo tempo. Isso vinha ao encontro dos interesses da Coroa lusitana e dos interesses da Companhia de Jesus que, naquele momento, a escravização era um meio de sustentação. E foi no

alvará de 1564 de D. Sebastião que fixou o padrão “de redízima de todos os dízimos e direitos que pertenceram a El-Rei em todo o Brasil de que Sua Alteza faz esmola para sempre para sustentação do Collégio da Baya” forneceu aos inacianos os recursos financeiros de que até então carecia em seus empreendimentos os missionários.179

O próprio governador Tomé de Sousa e alguns benfeitores, sem o auxílio do Rei de Portugal, nada conseguiam fazer para ajudar os jesuítas na catequese. Em 1551, os aposentos da escola jesuítica já estavam concluídos e esta começou a recolher as crianças. Em 1552, com a ajuda de El-Rei, compraram-se outras casas que custaram 17$000 reis, pagos a Luiz Dias.180 O apoio de Tomé de Souza era político, por isso, pouco financiamento não favorecia a Ordem.

Segundo Leite, em 1555, chega ao governador da Colônia Duarte da Costa e ao Bispo, uma carta em que o Rei autorizava a construção do Colégio de Padres. Em um

177 BITTAR, Marisa e FERREIRA JUNIOR, Amarilio. “Casas de bê-a-bá e colégios jesuíticos no Brasil

do século 16”. In_: FERREIRA JUNIOR, Amarilio. Em Aberto/Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira., v. 21, n. 78, dezembro de 2007b, p. 36-37.

178 LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus, Tomo I, 1938, p. 43. Em “Carta do p.

Manuel da Nóbrega ao P. Miguel de Torres, Lisboa [Bahia, 8 de maio de 1558]”. In_: (org) LEITE, Serafim. Cartas do primeiro Jesuítas no Brasil (1553 – 1558), vol II, 1956h, p. 447 - 459, Nóbrega se

concentrou essencialmente em seis pontos distintos para educação e catequese dos gentios. São eles: (I) defender-lhes comer carne humana, e guerrear sem licença do Governador; (II) fazer-lhes ter uma só mulher; (III) vestirem-se, pois têm muito algodão; (IV) tirar-lhes o feiticeiro; (V) mantê-los em justiça entre si e para com cristãos; e (VI) fazê-los viver quietos.

179 HOLLANDA, Sergio Buarque de. Época Colonial, vol I. 14ª Ed, 2004, p. 141. 180 LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus, Tomo I, 1938, p. 35.

77 primeiro momento, Nóbrega não acreditou nesse documento181. Queixando-se Nóbrega da situação dos jesuítas e da falta de dinheiro, propõe que P. Francisco Henrique, encarregado de zelar pelos interesses da Colônia, pedisse ao Rei novas casas aos jesuítas; visto que se não houvesse interesse em educar as crianças, seria melhor perder a esperança de que a religião católica pudesse frutificar na terra.

No governo de Mem de Sá182, o questionamento de Nóbrega não teve o mesmo efeito imediato como o que houve no governo de Tomé de Souza. Apenas por vontade do Rei, foram enviados provimentos para a conclusão do Colégio, construiu-se a Igreja da Sé, edificaram novas habitações e recuperaram as antigas. Segundo Cabral:

Ainda não estava concluída a Egreja de Nossa Senhora da Ajuda, que elles construíram, como vimos, com suas próprias mãos, e já a escola estava franqueada; aos meninos da nova Cidade do Salvador. Este é, observa Vilhenade de Moraes, o facto característico da missão jesuítica na América latina, e talvez único na história do mundo: a criação da escola sempre contemporanea da fundação da própria cidade, ou ella precedendo, como em S. Paulo aconteceu, de modo a não se encontrar, no decorrer dos tempos, povoação alguma de certa importância que não tivesse o seu Collégio.183

Porém, é diante das dificuldades do governo de Mem de Sá que houve o estabelecimento definitivo da pedagogia jesuítica no Brasil e colégios começam a surgir como estrutura física. A pedagogia jesuítica no Brasil levou à imposição do aculturamento da doutrina cristã. Conforme citação de Leite apresentando as palavras de Nóbrega:

Convidamos os meninos a ler e escrever pregamos para ensinarmos a doutrina cristã, lhes pregamos para que com a mesma arte, com que o inimigo da natureza venceu o homem, dizendo: eritis sicut

dii scientes bonum et malum, com arte igual seja ele vencido, porque muito se admiram de como sabemos ler e escrever e tem muita inveja e vontade de aprender e desejam ser cristãos como nós.184

181 Segundo Leite (1938, p. 41), o padre Nóbrega acreditava não nessa carta e tinha razões para isso. Eram

duas: na colônia, (i) “havia outras obras, pelas quais se interessava o Prelado e o Governo”, e que, aliás, Nóbrega achava perfeitamente justa; e (ii) a Sé tinha que ser terminada, deveria erguer fortalezas no Rio de Janeiro, Bertioga, São Vicente outros. Por esse motivo, houve uma dúvida que foi levantada por Nóbrega quando ficou sabendo do conteúdo da Carta Régia 1555 referente a esse assunto.

182 Depois da publicação da Carta Régia de D. João III em 7 de janeiro de 1549, Tomé de Sousa assumiu

o Governo-Geral do Brasil (chegando a terras brasílicas com P. Nóbrega na Bahia) em 29 de março de 1549. Apenas em 1556, ele é substituído por Mem de Sá. Mem de Sá é nomeado Governador-Geral pela publicação da Carta Régia de 1556, no dia 23 de julho. No dia 28 de dezembro de 1557, Mem de Sá aporta na Bahia, mas só assumirá o governo no dia 4 de janeiro de 1558.

183 CABRAL, Luis Gonzaga. Jesuítas no Brasil no Século XVI, 1925, p. 148-149. 184 LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil, Tomo I, 1938, p. 31.

78 As escolas transformaram-se como ferramentas para propagar valores culturais. Segundo Bittar e Ferreira Junior,

Por fim, as casas de bê-á-bá simbolizam um momento distinto em que os padres jesuítas deslocaram o centro de seu interesse catequético do índio adulto para a criança, esperando que, por meio da sua aculturação, conquistassem o coração dos pais e, além disso, que não apenas ridicularizassem, mas, sobretudo, condenassem os seus valores culturais.185

A cultura que traziam os jesuítas, para a Colônia, tinha por base os interesses econômicos de um colonizador, o português. Educar crianças e, depois, ensinar indígenas, de acordo com o modelo europeu, é possibilitar aos representantes da Coroa Portuguesa, na Colônia, o poder da palavra que, antes, tinha como prerrogativa exclusiva a figura do pajé. 186

Conforme Azzi, os colégios jesuítas tinham por finalidade primeira “formar e sustentar os missionários Jesuítas que deveriam dedicar-se à obra de evangelização dos indígenas”187. É isso levou os colégios nas terras brasílicas a se transformarem em importantes centros intelectuais.

Esses colégios que eram abertos nas missões e foram introduzidos nas cidades da Colônia brasílica – principalmente nas povoações de Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Olinda. Tanto em Salvador como em qualquer outro lugar na Colônia, os jesuítas percorriam as aldeias ensinando nas escolas de ler e escrever os meninos:

havia escola de ler e escrever, aonde os padres ensinam os meninos índios; e alguns mais habeis também ensinam a contar, cantar e tanger; tudo tomam bem, e ha já muitos (pie tangem fraulas. violas, cravo, e officiam missas em canto d'orgão, cousas que os pais estimam muito. Estes meninos falam portuguez. cantam á noite a doutrina pelas ruas, e eii commendam as almas do purgatório.Os padres lêem uma lição de casos, outra de latim, e escola de ler e escrever, pregam, confessam, com os índios e negros de Cuiné se faz muito frueto. 188

185 BITTAR, Maraisa e FERREIRA JUNIOR, Amarilio.. “Casas de bê-a-bá e colégios jesuíticos no Brasil

do século 16”. In_: FERREIRA JUNIRO, Amarilio (Org). Em Aberto/Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, v. 21, n. 78, 2007b, p. 45.

186 Eisenberg lembra que Juan de Mariana escreveu um tratado chamado De Rege et Regibus Institutiones

(1559) e nele apresenta uma narrativa que mostra a possibilidade da passagem do homem natural (representado pelo gentio) para o homem político (representado pelo europeu). O autor lembra que qualquer carta dos jesuítas (inclusive as de Nóbrega), está apresentada essa prioridade. EISENBERG, José. “A escravidão voluntária dos índios do Brasil e o pensamento político moderno”. In_: _______________. Análise Social/IPAN. 2004, nº 170, p. 7-35.

187 AZZI, Riolando. “A instituição eclesiástica durante a primeira época colonial”. In_: (org)

HOORNAERT, Eduardo. História da Igreja no Brasil, 1992, p. 213.

79 Ferreira Junior e Bittar entendem isso como um processo de aculturação e conversão dos gentios ao cristianismo, imposta pela Igreja, por meio da catequese e, depois, a dos negros. Essa forma de ver o mundo, formada pelos jesuítas, visava somente a ajudar na construção e edificação do império colonial lusitano.189 Continuam os autores:

Esta relação existente entre educação e violência, no contexto histórico do período colonial, reveste-se de importância