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LISTA DE SÍMBOLOS, NOMENCLATURA E ABREVIAÇÕES

4.1 – CONTEXTO DOS EDIFÍCIOS ESTUDADOS

Para o desenvolvimento dos estudos de caso escolheu-se a cidade de Brasília, no Distrito Federal. A cidade é capital do Brasil, inaugurada em 21 de abril de 1960, e o primeiro núcleo urbano construído no século XX considerado Patrimônio Histórico da Humanidade pelo Comitê do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO, em dezembro de 1987.

Nesta cidade, apesar do desenvolvimento de técnicas construtivas inovadoras, uso de novos materiais e do cuidado crescente no que se refere a projeto e execução de fachadas, muito se tem visto de falhas nos revestimentos.

4.1.1 – Abordagem histórica das edificações e procedimentos construtivos em Brasília

Brasília, apesar de ser uma cidade relativamente nova, pode ter o histórico suas edificações residenciais dividido em dois períodos de construção. O primeiro, compreendendo edifícios construídos entre os anos 60 até fim da década de 1970, quando vigoraram os Códigos de Obra de 1960, seguido do de 1967. Já o segundo período abrangendo edifícios construídos a partir da década de 80, época na qual vigorou o Código de Obra de 1989.

De acordo com Amorim e Flores (2005), nos edifícios residenciais pertencentes ao primeiro período, são características a presença de empenas cegas, salas e quartos voltados para a fachada frontal, janelas corridas, quebra-sol e existência de áreas de serviço protegidas da visibilidade externa por elementos vazados. Nestes, é comum o revestimento com reboco pintado ou pastilhas pequenas.

Já os edifícios concebidos a partir dos anos 80, segundo as mesmas autoras, apresentam como principais características, as formas mais recortadas, a presença de varandas, ocupação das empenas, apartamentos não vazados e a predominância de certos tipos de fechamentos opacos e transparentes. Nestes edifícios distingue-se maior uso dos revestimentos cerâmicos, especialmente a cerâmica esmaltada de 10x10 cm, utilização de placas de mármore ou granito e o pouco uso do concreto aparente.

Quanto aos edifícios de escritórios em Brasília, estes são notadamente marcados pelo uso de fachadas envidraçadas.

No que se refere ao procedimento executivo das edificações, Almeida (1994) estudou o processo de evolução do uso de argamassas em Brasília, embasado no conhecimento de engenheiros que fizeram parte da construção da cidade. Em sua pesquisa constatou que até o final da década de 70, o assentamento de placas cerâmicas era um processo artesanal e baseava-se na experiência do mestre de obras. Este assentamento era feito com argamassa convencional rodada em obra, sem aditivos, com alto consumo de cimento e elevada porosidade. Conhecida como “bolão”, a argamassa tinha espessura média em torno de 20 mm. Para diminuir a perda de água por sucção para o substrato e para o ambiente por evaporação, costumava-se imergir aplaca cerâmica em água, assentando-a úmida.

A partir da década de 80, as atividades construtivas passaram a ter algum tipo de controle. Começou a adotar-se a argamassa colante no trabalho de execução dos revestimentos em argamassa, que trouxe consigo ganho de produtividade. No sentido de otimizar o desempenho das edificações a empresa ENCOL, responsável pelos maiores avanços na tecnologia construtiva nas décadas de 80 e 90 no Brasil, propõe o uso de argamassas pré- misturadas nas centrais, com traço em massa de 1:1:5 (cimento:saibro:areia) para aplicação no emboço, sendo necessária apenas o acréscimo de água em obra, um avanço considerável, ainda que utilizasse saibro.

Em se tratando da incidência de manifestações patológicas referentes à execução dos revestimentos de fachada em Brasília, o desconhecimento das propriedades de materiais e a falta de normalização na primeira época, bem como a adoção de construções mais esbeltas no segundo momento, foram identificados como as principais fontes de danos.

O saibro foi largamente utilizado por conferir plasticidade às argamassas, todavia este uso indiscriminado sem o devido conhecimento de suas propriedades implicou no surgimento de danos nos revestimentos, como fissuras de retração, pulverulência, descolamento entre outros. Só entre 1995 e 2000 que o saibro foi sendo substituído em Brasília pelo uso da cal.

É importante destacar que nos períodos iniciais da construção de Brasília, cerâmicas recomendadas para uso em revestimentos externos ainda estavam sendo introduzidas no mercado. Logo, era comum a utilização de placas cerâmicas indicadas para uso interno, nas fachadas sem controle ou ensaios prévios.

4.1.2 – Condições climáticas da região de estudo

Localizada na região central do Brasil, Brasília é uma cidade de clima tropical de altitude,. Conforme o zoneamento bioclimático do território brasileiro, apresentado na Norma Brasileira de Desempenho Térmico para Edificações, a NBR 15220-3 (ABNT, 2005), entre as oito zonas que agrupam regiões de climas semelhantes, Brasília localiza-se na Zona 4 (Figura 4.1) que abrange 2% do território nacional.

Figura 4.1 – Mapa de zoneamento bioclimático brasileiro (esquerda) e mapa com destaque à zona 4, na qual se enquadra Brasília (ABNT NBR 15220-3, 2005).

A cidade é caracterizada por apresentar dois períodos bem definidos, um quente e úmido entre outubro e abril, e outro quente e seco de maio a setembro, considerado dos mais agressivos se comparada às outras regiões brasileiras.

Observando-se dados ilustrados nos gráficos climatológicos de umidade e de insolação, figuras 4.1 e 4.2 respectivamente, obtidos no Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), é fácil comprovar a distinção entre os dois períodos climáticos.

Figura 4.3 – Gráfico climatológico de umidade de Brasília (INMET, 2010).

Conforme Braga e Amorim (2004), por sua localização na área central do país e sua altitude, em média 1100 m, Brasília têm amplitudes diárias de temperatura consideráveis, especialmente no período seco, cerca de 14ºC, e na estação chuvosa de aproximadamente 10ºC. A temperatura média anual é de cerca de 19,8°C, podendo chegar aos 30,0°C de média das máximas em setembro, e aos 10,5°C de média das mínimas nas madrugadas de inverno, em julho. A umidade média anual é das mais baixas do Brasil, em torno de 67%, sendo que, de abril a setembro a umidade relativa alcança níveis inferiores a 25%.

Pereira (2007) destaca a importância da relação existente entre as condições climáticas, como a umidade relativa do ar, a temperatura ambiente e a velocidade dos ventos, e a perda de água por evaporação. Segundo o autor, a retração e o desempenho mecânico da argamassa estão intimamente ligados à quantidade de água presente no material no estado fresco e no endurecido acada instante. Aevaporação de água da argamassa para o meio ambiente tende a esvaziar progressivamente os capilares da argamassa, gerando uma pressão negativa, até que grande parte da água intersticial seja evaporada, causando contração, que ocasiona tensões internas.

No caso específico de Brasília, o intervalo de tempo de estiagem, é o mais propício para o surgimento de manifestações patológicas, especialmente decorrentes da retração da argamassa. Entretanto, é neste período, que normalmente são executados os revestimentos de fachadas dos edifícios.

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