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3.3 O MUNICÍPIO: LOCALIZAÇÃO, CONTEXTO SOCIAL E ECONÔMICO

3.3.2 Contexto econômico

Atualmente, a principal atividade econômica de São Lourenço é a agropecuária, com destaque para suínos, bovinos, laticínios, milho, feijão, soja, arroz, batata, cebola, aspargo, pimenta, alho, amendoim e fumo. Na linha de alimentos, o carro-chefe da industrialização é o arroz, caracterizado dentro de uma proposta de alta escala de produção. O município conta com 114 produtores que cultivam uma área de aproximadamente 10,3 mil hectares e que geram uma produção média de 70 mil toneladas anuais e um rendimento médio de 6,7 toneladas por hectare (IBGE, 2009). O que confirma um sistema de produção em escala para este tipo de produto.

A Tabela 3 traz alguns indicadores econômicos de São Lourenço do Sul e dos municípios fronteiriços. Portanto, constituem uma região de espaços políticos, econômicos e sociais. Em se tratando da caracterização da região, quanto à população, o somatório dos seis municípios encontra-se em torno de 501.375 habitantes.

Tabela 3: Indicadores econômicos de São Lourenço do Sul e municípios vizinhos

CIDADES POPULAÇÃO PIB R$ MIL PIB R$ PER CAPITA

São Lourenço 43.047 668.993 15.546 Canguçu 53.599 680.884 12.719 Cristal 7.460 108.736 14.738 Camaquã 63.430 1.198.353 18.984 Turuçú 3.552 55.231 15.807 Pelotas 330.287 5.532.992 16.795 TOTAL 501.375 8.245.189 94.589 Fonte: FEE (2015).

Na dimensão econômica, São Lourenço do Sul se mantém na quarta posição em relação aos municípios fronteiriços. Quanto aos dados econômicos, o somatório do PIB dos municípios se encontra em torno de R$ (mil) 8.245.189. Em relação ao PIB per capita, a característica da região aponta para um total em R$ 94.589. Em São Lourenço do Sul, o PIB está estimado em R$ (mil) 668.993 e o PIB

per capita em R$ 15.546. A cidade com maior PIB é Pelotas, estando em torno de

R$ (mil) 5.532.992 e com um PIB per capita de R$ 16.795. Em segundo lugar Camaquã, com PIB de R$ (mil) 1.198.353 e PIB per capita de R$ 18.984. Canguçu ocupa o terceiro lugar no ranking, com PIB de R$ (mil) 680.884 e PIB per capita de R$ 12.719. Na classificação final se encontram os municípios de Cristal e Turuçú. Cristal com PIB em torno de R$ (mil) 108.736 e PIB per capita de R$ 14.738. O menor PIB – R$ (mil) 55.231 – e o menor PIB per capita – de R$ 15.807 – são atribuídos à Turuçú.

Um dado importante a ser apresentado é a relação da economia local com a plantação do tabaco. A crise que se instala nas décadas de 80 e 90, no município, decorrente de problemas nos cultivos da batata e outras culturas, induz os agricultores a se inserirem em novas formas de produção. Neste contexto, no início da década de noventa intensifica-se na região o crescimento coordenado pela indústria fumageira. O agricultor é incentivado, através de financiamentos, a

construir unidades de cura (estufas para secagem). Este financiamento, avalizado pela indústria fumageira, torna-se um atrativo aos agricultores.

O que se oportuniza aos agricultores locais, em meio a uma crise, é a adoção de estratégias menos autônomas, inserindo-os na produção integrada a grandes indústrias fumageiras. Desta forma, os agricultores do município vislumbraram no cultivo do fumo uma forma de minimizar os problemas de exclusão impostos à agricultura familiar. Em linhas gerais, a década de 1990 é decisiva para a agricultura familiar. Ocorreram mudanças profundas na regulação, organização e nas formas de acesso aos mercados agrícolas tradicionais. Evidencia-se o esfacelamento da intervenção do Estado nos mercados, se abrem novos mercados, adotam-se formas integradas de produção com enfoques regionais, o que modifica radicalmente as dinâmicas produtivas (WILKINSON, 2008). E foi nessa perspectiva que os agricultores do município adotaram estratégias que possibilitariam, em curto espaço de tempo, diversificar a produção e aproveitar a propriedade, isto porque 95% das propriedades locais são de base familiar.

No Estado, nas últimas safras, das regiões que plantam tabaco, três municípios superaram a média de produção: São Lourenço do Sul, Candelária e Venâncio Aires. Cada um produziu o estimado entre 18.975 toneladas/ano e 24.933 toneladas/ano. De acordo com Vargas (2012), a soma de produção de doze municípios responde por aproximadamente 43% do total da quantidade produzida de tabaco no Estado. As famílias produtoras de tabaco possuem, em média, propriedades com 16,1 hectares e a área cultivada representa em torno de 15% da área total dos imóveis. Na safra 2009/10, a renda per capita do setor foi de R$ 9.907,00. A produção de tabaco alcançou uma rentabilidade média de R$ 11.849,10 por hectare, comparada com a produção animal e vegetal de R$ 1.882,00, atingindo 15% do valor que produziu o tabaco (AFUBRA, 2010).

Em seu estudo, Dietrich (2011) identificou que a composição da renda das famílias, com o cultivo de tabaco, representa 70% do montante que se origina na propriedade. Os dados revelam que a rentabilidade da atividade é um atrativo ao produtor.

Não se objetiva aprofundar a discussão em torno destes dados estatísticos, entretanto, entende-se que disponibilizar estes dados contribui com as reflexões que norteiam este estudo. Reflexões estas que buscam entender como se constituem e sobrevivem as agroindústrias rurais familiares, em regiões adversas a esta forma de

organização da produção. Esta é uma das questões que se quer responder neste estudo. E que é confirmada por Gazzola (2012) e Mior (2005), os quais ressaltam que as regiões dominadas por economias de escala geram severas restrições aos pequenos agricultores. Estes são impelidos a tornarem-se, em muitos casos, produtores de matéria-prima barata para as grandes indústrias e agroindústrias. E é neste universo que as agroindústrias investigadas estão imersas, em um município de fortes características de produção integrada a grandes indústrias fumageiras de um lado, e de outro, à produção em escala, no caso do arroz, limitando assim sua autonomia e criatividade, e impedindo sua apropriação da fatia mais importante do valor gerado através da industrialização do produto. Este panorama abre espaço para iniciativas das atividades em pequena escala, como no caso das agroindústrias rurais familiares, tema a ser analisado de forma descritiva e analítica no próximo capítulo.

4 AGROINDÚSTRIAS COMO ESTRATÉGIA DE MUDANÇA

Após a apresentação da caracterização geral do município e do contexto empírico envolvendo as agroindústrias, este capítulo objetiva dar continuidade à análise dos dados. Para tanto, utilizando-se da perspectiva do ator, encaminhar-se-á a responder aos objetivos propostos, conduzindo o leitor a compreender de forma descritiva e analítica o fenômeno em torno do processo de consolidação e desenvolvimento das agroindústrias em estudo. Nos estudos de Mior (2005) e Guimarães e Silveira (2007), o processo de constituição e consolidação das AFRs está relacionado aos diferentes recursos e capacidades que a família dispõe e às relações mantidas com os consumidores e os demais atores da rede social da qual as AFRs fazem parte, sendo estes decisivos no sucesso ou fracasso da atividade. Portanto, é nessa perspectiva de análise que avançar-se-á neste momento e nos próximos subtítulos.