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2. Os Contextos da Prevenção das DST/AIDS para Jovens

2.2. Contexto Externo

complementares, que têm suas ações vinculadas às ações de outros programas, como no caso do

“Vista essa Camisinha” que está diretamente vinculado ao Programa de DST/AIDS.

É importante destacar, que os dados dos contextos aqui mencionados possibilitam não só a orientação da construção do desenho da avaliação e da abordagem a ser adotada, como também na identificação de fatores que podem produzir efeitos independentes dos programas submetidos à avaliação.

De acordo com Calazans (1999), há uma associação entre as matrizes disciplinares da sociologia e o uso da categoria juventude, entre as matrizes disciplinares da psicologia e o uso da categoria adolescente, enquanto os estudos que adotam perspectivas interdisciplinares associam abordagens demográficas, epidemiológicas, biomédicas, psicológicas e sociológicas.

No desenho de programas e projetos voltados para adolescentes e jovens é recorrente a preocupação com o corte etário, pelo fato da adolescência ainda ser tratada como fenômeno a-histórico e não como construção sócio-histórica. Uma referência, em termos de corte etário, é o da Organização Mundial de Saúde (OMS) que considera o período da adolescência a faixa etária de 10 a 19 anos e propôs, mais recentemente, como população jovem a faixa de 10 a 24 anos. A OMS recomenda uma divisão dessa categoria em três subgrupos: 10 a 14 anos, 15 a 19 anos e 20 a 24 anos (OMS, 1986 apud Calazans, 1999).

Por compreender a justaposição das duas categorias, não nos ocuparemos em definir um corte etário, mas sim de compreender a juventude como um fenômeno demarcado por influências sociais, culturais, econômicas e políticas. Contudo, cabe ressaltar que os programas de prevenção de DST/AIDS para jovens vão delimitar um corte etário como forma de definir seu público-alvo de intervenção.

De fato, não existe um consenso na literatura quanto ao conceito de adolescência e juventude, nem mesmo em termos de delimitação etária. Identifica-se, no entanto, a incorporação de uma referência psicossocial, como, por exemplo, a do ethos geracional de adiamento da entrada no mercado de trabalho, dependência afetiva e econômica. Tais argumentos, segundo Reis (2000), evidenciam a dificuldade de estabelecer limites e enfatizam a necessidade de constante redefinição dos limites etários em função de um contexto mais amplo e de caráter relacional.

De acordo com esta autora a categoria social juventude, por um lado, “... é um recorte geracional que a distingue de outras categorias, referindo-se a uma experiência geracional comum, e, por outro, não se pode considerá-la um produto único e homogêneo” (Reis, 2000:89).

Neste sentido, não se pode deixar de considerar a condição de transitoriedade da categoria juventude e adolescência, pois, são vistas como momentos de transição da heteronomia e dependência da infância à autonomia e independência da vida adulta, não somente de transformação biológica da puberdade.

As concepções de juventude e adolescência, como fase de grandes tensões associadas às transformações relativas às dimensões corporal, subjetiva e cotidiana, é processual, visto que, varia de acordo com as características de cada cultura e condição sócio-econômica conjugada a cada sexo, etnia, raça, moral, costumes, não tendo assim caráter estritamente biológico (Gonçalves, 2003). Ou seja, mais do que uma referência natural e biológica, a juventude é uma categoria cultural e histórica, como já mencionado anteriormente, na medida que há juventudes diversas e diferenciadas culturas juvenis.

A idéia de diversidades e de pluralidades do ser e estar adolescente ou jovem deslocou o eixo do discurso, que tem sido orientado para a noção de juventudes, adolescências e puberdades em sua pluralidade. A pluralidade das adolescências, juventudes e da pessoa jovem como uma totalidade, de acordo com Monteiro (1999), é resultante das muitas vivências pessoais obtidas em sua trajetória de vida e pelas diversas instâncias da sociedade onde se insere.

O que se observa no contexto atual é que a situação de vulnerabilidade dos jovens as DST/AIDS expõe um grande desafio para a prevenção, à medida que alguns jovens estão mais vulneráveis do que outros. Pois, muitos deles, além das mudanças características da própria idade, vivenciam mudanças relacionadas à pobreza, ao desemprego, à baixa escolaridade, à

violência estrutural e à dificuldade de acesso aos meios de comunicação, de serviços de saúde e de meios de prevenção.

Esses são aspectos que nos levam a refletir em que medida as estratégias de prevenção de DST/AIDS adotadas pelos programas de prevenção garantem o acesso às ações de prevenção, criam espaço para incorporar as necessidades e demandas dos jovens nessas ações, particularmente, no que tange a diversidade e pluralidade desse grupo para a garantia de uma vida sexual mais segura. Afinal, o fenômeno ganha novos contornos que prescinde um olhar e uma abordagem diferenciada que envolva, sobretudo, aspectos relacionados aos direitos humanos, à postura ética e ao cuidado.

Essa reflexão torna-se por demais relevante da mesma forma em que são evidenciados na sociedade contemporânea os extremos da pobreza, da desigualdade, da violência, da exploração sexual, da marginalização, da indiferença, do crescente aumento da exclusão e da limitação de oportunidades de trabalho e de rendimento, principalmente, para o segmento jovem, decorrente da crise econômica e social que o país entrou no final dos anos 80 e início dos anos 90.

Essa vulnerabilidade dos jovens relacionada a esses fatores mencionados acima está estampada diariamente em jornais de grande circulação no Rio de Janeiro, que exibem o início precoce de crianças e adolescentes no mundo do tráfico das drogas e a banalização da vida dos meninos que movimentam o mercado de drogas em algumas favelas da cidade ou mesmo a prostituição de meninas na faixa de 11 anos no trânsito de Recife por um valor irrisório (Jornal O Globo, 2006).

A violência sexual praticada contra os adolescentes e jovens, incluindo o abuso e a exploração sexual comercial, caracteriza-se como fator de vulnerabilidade destes frente às DST/AIDS. Violência intradomiciliar que se potencializa quando associada à violência urbana,

aumentando ainda mais essa vulnerabilidade na medida que o sentido da proteção para os jovens, conforme abordou Monteiro (2002), ganha um sentido menor frente a situações cotidianas de maior ameaça a vida.

Contudo, tratar da vulnerabilidade dos jovens nos reporta, conforme destacou Pimenta et alii (2000), como fator essencial, a garantia do acesso a meios de proteção, de ordem material e cultural. Pois, são reais as barreiras sociais, econômicas, simbólicas que os jovens que vivem em precárias condições de existência enfrentam.

Na mesma lógica de pensamento, Ayres e outros autores analisando fatores que influenciam na vulnerabilidade dos jovens as DST/AIDS, destacam três grandes aspectos de vulnerabilização desse grupo:

“Há informação, mas pouca comunicação efetiva sobre o assunto; há importantes barreiras que limitam o acesso a meios de proteção, de ordem material e cultural; e a margem entre satisfação de necessidades e risco tem se tornado extremamente estreita, especialmente entre as camadas mais pobres, configurando um grave quadro de pobreza de alternativas” (Ayres et al, 1999b:103).

O que se observa é que para os jovens, o acúmulo de desvantagens colocado pela dificuldade de acesso à escola, pela falta de oportunidade de trabalho, pela inserção cada vez mais precoce no mundo do tráfico de drogas e da violência urbana, só vem a fragilizar ainda mais toda uma noção de pertencimento de grupo e de identidade coletiva. Dessa forma, os mais vulneráveis estão mais excluídos dos circuitos de trocas, sendo que na visão de Bourdieu (2004) são mais excluídos da possibilidade acesso tanto ao capital social quanto ao capital simbólico.

A convergência desses fatores contribui para o aumento das condições de vulnerabilidade entre os jovens, tanto pela redução da autonomia em suas escolhas, como pela dificuldade de

acesso a bens e recursos básicos para o cuidado com a saúde, assim como, por suas características peculiares remetidas a seus desejos, interesses, crenças, hábitos, valores, de viver a aventura do risco, ou seja, o que diz respeito as suas relações com o meio social.

Portanto, propor um estudo que tem por finalidade investigar o acesso ao preservativo e às práticas educativas de prevenção as DST/AIDS para jovens, baseia-se nas considerações de Heilborn quando diz que:

“... pensar nas políticas de saúde que incidem sobre o domínio da reprodução e da prevenção das doenças sexualmente transmissíveis é avaliar que os sujeitos aos quais elas se destinam estão marcados por condições sociais distintas, entrelaçando estas, determinações de classe, gênero, etnia, faixa etária, posição no ciclo reprodutivo, afiliação religiosa, capital cultural e educacional”.

(Heilborn, 1996, p. 101)

Neste sentido, não há como desconsiderar as condições sociais e culturais produtoras de uma dada realidade que complexifica a formulação das estratégias de enfrentamento dos problemas de saúde que afetam os jovens de baixa renda, principalmente, os dos grandes centros urbanos. Esse é o desafio que se põe frente ao interesse na construção de uma atenção à saúde dos jovens, desafio para planejadores, profissionais de saúde, educadores que precisam de alternativas para a formulação de soluções a partir de um olhar mais integral e mais adequado ao contexto vigente.