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Fluxo 1: Modelo Lógico de Programas de Prevenção de DST/AIDS para Jovens

5. Estudo de Caso Comparativo

5.2. O Caso 2 – A Implementação do Programa “Agente Jovem” da ONG

5.2.2. Oportunidade

recorriam a US, aos familiares ou a outros projetos. O que se tem é que o preservativo é introduzido no cotidiano como um hábito, como um item que faz parte do cenário da vida sexual desses jovens.

“Tem pessoas assim que não faz, mais eu faço com amor e procuro sempre me prevenir até porque o projeto me deu essa base. Antes do projeto eu usava quando eu queria [...] Eu sabia que existia, mas não sabia como que era, o que causava, quais eram os sintomas das DST, eu não sabia nada, entendeu. Eu sabia o básico, do básico e o que a televisão me deixava saber, porque muitas vezes a televisão, depois que eu fui aprendendo eu fui ver que a televisão não mostra diretamente o real da história.” (Eva, jovem ONG – 17 anos)

Dessa maneira, constatamos que não só o preservativo, mas toda a ação de prevenção DST passa a fazer parte dos processos de produção comunitários, na perspectiva do desenvolvimento local. Pois, o programa foca a melhoria da qualidade de vida dos jovens, que tem como um dos itens a prevenção de DST/AIDS.

De forma a controlar o número de jovens beneficiados pela intervenção, os agentes de prevenção (jovens ou não) os cadastram, se for de interesse do mesmo. Contudo, não há uma exigência rígida quanto à necessidade de cadastramento para a retirada do preservativo. Os agentes recomendam o cadastramento para conseguirem fazer um acompanhamento mais apropriado junto aos supervisores e coordenadores locais e da ONG.

Para retirar o preservativo os jovens não necessitam de nenhum tipo de documentação e nem tampouco da autorização dos responsáveis para participar das atividades. Mas os pais, segundo relato dos profissionais do programa, são freqüentemente convidados a participarem de atividades do programa. De forma a facilitar o vínculo, os profissionais se colocam a disposição para qualquer um dos responsáveis dos beneficiados que queiram conversar, tirar dúvidas, ter aconselhamento.

Mas esses jovens, na visão do gestor, enfrentam barreiras diferenciadas de acesso.

As barreiras que se impõem, como questões relativas ao contexto externo à intervenção avaliada, também são geográficas, econômicas e simbólicas na medida que a divisão de território decorrente da briga pelo controle do tráfico de drogas os impedem de circular de forma mais livre no espaço da comunidade. É a cor da roupa, a marca da roupa, a cor do cabelo, ou seja, códigos que os distinguem em comunidades partidas e controladas (guetos).

Tanto o gestor quanto os profissionais reforçam a violência local como uma barreira concreta que dificulta o deslocamento. No caso da comunidade, por vezes inviabiliza a realização de algumas atividades; embora a comunicação seja bastante efetiva quanto ao impedimento dessa realização. Mas o fenômeno da violência é incluído e tratado de forma transversal à temática da prevenção das DST/AIDS.

“A gente tem uma experiência com um menino do Lins que já tinha trabalhado no tráfico, mas ele entrou e participou. Ai, depois de três meses de projeto ele chegou e falou para a coordenação de campo. Depois eu pedi para conversar com ele. Ele falou que o projeto era muito legal, que ele tinha aprendido muita coisa, mas o que ele queria mesmo era continuar no tráfico. Eu falei: a questão é sua, eu não posso falar nem sim nem não. E voltou para o tráfico e acabou morrendo duas semanas depois e foi um choque para a coordenação de campo. E aí eu falei, o que a gente faz é oportunizar. Agora quem vai avaliar se vai ficar ou não é ele. Não somos nós.

E aí pra ele o tráfico era mais atraente que o projeto.” (Felício, profissional de educação ONG)

Esse relato traz um dilema ético enfrentado pelos profissionais da ONG quando a questão da proteção da vida desses jovens, nessas comunidades dominadas pelo tráfico de drogas, está em jogo. O drama vivido pelos jovens nesse cotidiano tão violento e ameaçador também deve ser de interesse da ONG, que partilha dessa realidade na sua produção e reprodução. E, nesse sentido, a responsabilidade não é só desse jovem mas também da ONG, que preza pelos direitos humanos, pela promoção de saúde e de vida com qualidade, pois é importante que esses jovens não continuem a morrer diariamente.

No caso da ONG, vimos que as ações de prevenção atendem às necessidades e expectativas dos jovens, na medida que estes participam ativamente do planejamento e das atividades, o que os colocam no centro do processo de decisão na busca de adequação e aprimoramento. A questão está na diversidade das demandas dos jovens dos diferentes núcleos de prevenção comunitários, pois, muitos são aqueles que expressam o interesse em se beneficiar do programa pela forma como se sentem envolvidos.

No período de realização da pesquisa constatamos que esta é uma intervenção social tida como uma grande oportunidade de capacitação, qualificação profissional, inserção social pelos tipos de atividades promovidas pela ONG, assim como apresentado no estudo de Monteiro & Ceccheto (2006). Portanto, a temática de AIDS, no caso do programa, passa a ser aglutinadora e profícua para o fortalecimento dos movimentos comunitários existentes, dos quais os jovens também são parte.

“A gente tem a coisa de dar a oportunidade, não é dar oportunidade, mas você propicia que a pessoa escolha, você não pode estar aliciando de nenhum dos dois lados. A gente está ali oportunizando o espaço para as pessoas, o espaço deles, mas quando ele diz não, aí é questão pessoal, da família, a gente tem limites na atuação” (Suzy, gestora ONG)

A fala da gestora explicita claramente o quanto à participação no programa cria para o jovem possibilidades de inserção, na medida que as oportunidades são criadas no próprio processo de implementação das atividades. Contudo, não nega questões sócio-culturais, econômicas, que, por vezes, impõem necessidades que falam mais alto na vida do jovem, muitas vezes por se apresentarem como formas mais imediatas de resolução dos problemas mais emergenciais do cotidiano.