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Contexto gerador de ação e transformação da sociedade

CAPÍTULO 4. ORQUESTRA PORTUGUESA DE GUITARRAS E BANDOLINS:

4.1 Contexto gerador de ação e transformação da sociedade

Eu trabalhei muitos anos na indústria farmacêutica e levei sempre a música como um hobby... A partir de meu contato e estudo do bandolim com o professor António e mais na frente minha entrada na OPGB, o rumo da minha vida mudou totalmente...neste momento faz parte da minha profissão, porque tudo que eu tenho tirado neste momento da minha vida deve-se ao rumo total da OPGB. Estudar o bandolim mais a sério, dar aulas de música, desenvolver esta minha atividade como luthier, são frutos de todos esses anos junto à orquestra e ao professor António. A OPGB no fundo é o epicentro do que está a passar agora aqui à volta...encontrei muitos amigos, gente fantástica e estamos todos no bom caminho, acho que a OPGB está a crescer de forma sustentada e estamos começando a colher frutos desse trabalho todo (entr. Silva 2016). As palavras transcritas foram expressas por Nelson Silva45, o chefe de naipe das bandolas da OPGB, desde 2017. Delegado de Informação Médica durante treze anos, iniciou-se na prática musical aos quinze anos, tendo frequentado o curso de guitarra clássica no ano de 1988 na Escola de Música Sete Notas, escola particular na cidade do Porto. Mas foi enquanto estudante do curso de Relações Internacionais na Universidade

45 Nasceu em 17 de fevereiro de 1971 na cidade do Porto. Iniciou seus estudos na guitarra em 1988 na

Escola de Música Sete Notas. O contato com uma tuna acadêmica leva-o ao aprendizado do bandolim de forma autodidata e o encontro com António através da Tuna Lusíada do Porto possibilita o inicio da aprendizagem no instrumento na Associação Cultural de Plectro e mais tarde no Conservatório de Música do Porto. Integrou a OPGB no naipe dos bandolins no ano de 2010 e tornou-se chefe de naipe das bandolas em 2017. Além de músico da OPGB acumula a função de arquivista sendo responsável pela organização e envio das partituras de cada programa para todos os integrantes da mesma (entr. Silva 2017).

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Lusíada do Porto e membro da TAULP – Tuna Académica Lusíada46, que iniciou de modo autodidata na aprendizagem do bandolim. O músico justifica o autodidatismo pela falta de escolas que ofereciam o ensino do bandolim na época, restando ao mesmo fazer uma espécie de “transposição” de seus conhecimentos aprendidos na guitarra clássica para o bandolim. Insatisfeito com a atividade que realizava como Delegado e devido à crise econômica, em janeiro de 2010 ausenta-se temporariamente e passa a dar aulas de música a convite de uma amiga nas Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC's) no primeiro ciclo do ensino básico a crianças entre os seis e os dez anos. Nesse período como professor de música, que dura oito meses, o bandolinista tentou sem êxito voltar às suas atividades como Delegado e em setembro do mesmo ano o músico conhece António Vieira em Lamego durante uma apresentação da Tuna Lusíada do Porto, tuna frequentada por António e Nelson quando ambos estudaram na Universidade.

Apesar de terem frequentado a mesma tuna, os dois bandolinistas não chegaram a se conhecer, pois frequentaram a tuna em épocas diferentes, Nelson como bandolinista em 1991 e 1996 e António como “Ensaiador” - responsável pelos arranjos musicais e por ensinar os elementos a tocar os diversos instrumentos - entre 2006 e 2008. Nesse encontro, são apresentados por um amigo em comum e o convite para integrar a OPGB foi feito por António de um modo bastante informal e direto, como relata Nelson Silva: “Tocas bandolim? Queres tocar na minha orquestra?” (entr. Silva 2016). É desta forma que Nelson entrou para a OPGB no naipe dos bandolins e passou a frequentar os ensaios que como referi no capítulo anterior, dividia-se em duas partes: uma primeira dedicada ao ensino coletivo do bandolim e uma segunda para trabalhar o repertório musical que viria a ser apresentado num concerto público. É deste modo que Nelson começou seus estudos sendo apresentado a ‘escola do bandolim’ com todas as técnicas e articulações presentes nos métodos utilizados para a aprendizagem do instrumento.

46 A Tuna Acadêmica da Universidade Lusíada do Porto foi fundada em 22 de março de 1991. Em 1992,

realizou o primeiro “Lusíada – Festival de Tunas”, festival que visa a promoção do convívio entre os elementos das Tunas, o intercâmbio entre centenas de pessoas e instituições, além da divulgação musical e da cultura da cidade do Porto. Apresentou-se em várias casas de espetáculo portuenses nomeadamente no Cinema do Terço, no Coliseu do Porto, no Teatro Sá da Bandeira e na Casa da Música. No ano 2000 gravou um CD intitulado “Luar da Ribeira”. Disponível em: http://taulp.por.ulusiada.pt/index.php Acedido em: 15 de maio de 2017, 10:00h.

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A partir desse contato com a OPGB, o músico resolveu não voltar mais a trabalhar como Delegado de Informação Médica e passou a dedicar-se exclusivamente à música, tendo aulas de bandolim com António Vieira na Escola da Associação Cultural de Plectro e mais tarde no Conservatório de Música do Porto. Com o seu aprimoramento e experiência musical decorrentes das aulas de bandolim e participação na orquestra, o músico vai estabelecer-se como intérprete, como professor de bandolim e bandola, e posteriormente como construtor de instrumentos de plectro (Figura 7).

Figura 7: Oficina do luthier Nelson Silva. Foto: Nelson Silva.

Atualmente é professor na Associação Cultural de Plectro desde janeiro de 2011; no Conservatório Bonfim47 desde setembro de 2011, onde para além das aulas individuais de bandolim também leciona a disciplina de classe de conjunto “com 21 meninos com guitarras, bandolins e uma harpa” com os quais desde 2012 realizou apresentações públicas, não só na escola como também em alguns locais públicos da cidade de Braga.

47 O Conservatório Bonfim, criado em 1993, através do enraizamento na comunidade como o dialogo

com parceiros institucionais como a Câmara Municipal de Braga, Universidade do Minho e Instituto Português de Museus, tem vindo a constituir-se também como instituição de referência na promoção de serviço cultural na área artística. Atualmente com cerca de 400 alunos ministra formação especializada de elevado nível técnico, artístico e cultural nos seguintes cursos: Pré-Escolar, Iniciação Musical, Curso Básico, Curso Secundário e Cursos Livres. Disponível em: http://conservatorio.bomfim.org Acedido em: 30 de maio de 2017, 17:00h.

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Este redirecionamento da sua vida profissional deve-se, na sua óptica, à OPGB.

Quando integrou a OPGB teve contato pela primeira vez com o bandolim modelo alemão48, um modelo de bandolim que em 2010 apenas António Vieira possuía. Foi através da internet, num site de vendas de artigos usados, que Nelson adquiriu o seu primeiro bandolim napolitano49 e, por encontrar-se danificado, viu-se na necessidade de proceder ao seu restauro. Esse processo obrigou-o a desenvolver conhecimentos de construção deste instrumento que irá aplicar a partir de 2014, ano em que constrói o seu primeiro bandolim. Depois dessa data, construiu onze bandolins e um Liuto cantabile, todos para músicos e alunos da OPGB e para além desses, possui dez encomendas para alunos, músicos e maestros, inclusive para fora do país.