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Hipótese

Turismo 13 s.m (Do fr tourisme, do inglês tourism) 1 Actividade que consiste em viajar

2.1. Contexto Histórico do Termalismo

“[...] as termas são lugares privilegiados de terapia e de reencontro com a natureza e a cultura local, e as tendências evolutivas em todo o Mundo caminham em torno da conservação deste equilíbrio.” 95

A história do termalismo tem uma cronologia difícil de contornar, face à natural relação que o Homem criou com os elementos da natureza ao longo da sua descoberta. Ainda que tenhamos que delimitar os acontecimentos no período de tempo definido à priori, torna-se imprescindível relacionar a história do termalismo, sem mencionar as suas origens e inícios de evolução.

O termalismo é conhecido pela prática terapêutica desenvolvida pelos poderes curativos das águas minerais termais utilizadas para tratamentos físicos, psicológicos e espirituais, como alternativa natural à medicina. A sua relação com o Homem começou na Antiguidade, nas civilizações muçulmanas e hindu que utilizavam as águas como fontes espirituais e religiosas, as quais permitiam a purificação harmoniosa do corpo.

As civilizações gregas e romanas tinham uma veneração especial pelas nascentes, reconhecendo que as águas estavam associadas aos poderes divinos, provenientes dos deuses e das ninfas. Os seus banhos faziam parte de um ritual de higiene corporal que envolvia um conjunto de exercícios físicos, massagens com óleos especiais, imersões em águas de diferentes temperaturas, limpeza consciente da pele, finalizadas de cremes e adereços. Um ritual de convívio social de saúde, também político e religioso, que emancipava a beleza e a pureza daqueles que consagravam estes espaços naquela época. Face ao exposto, a popularidade dos banhos termais tiveram uma dimensão admirável e a prática termal passou a ser fundamental na vida de muitas civilizações, criando uma união entre os povos que rapidamente assumiram uma expansão destas construções em todos os cantos do mundo até ao ocidente contemporâneo. A construção dos balneários foram parte integrante da paisagem, e das águas cresceram obras emblemáticas e exemplos monumentais para esta prática, assumindo dimensões construtivas e decorações exuberantes, de tal forma, que o seu desenho funcional foi a base conceptual das termas românticas que cresceram na Europa no século XIX. Para além do sobrenaturalismo emancipado naquela época, foram também as civilizações romanas, os pioneiros na descoberta das águas como terapêuticas, construindo inteligentes sistemas de captação e drenagem de águas e esgotos.

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Durante a Idade Média, as estâncias termais adoptaram um estilo envolto ao divertimento e prazer social muito específicos, o deslumbramento de higiene e preocupação corporal passou a ser um factor extra na ida às termas, e os interesses da população foram virados para as práticas sociais na procura de satisfação nas casas de jogo, bordéis e tabernas, aquando do desenvolvimento social e das práticas termais tornaram-se cada vez mais populares com a implementação de novos espaços e serviços luxuosos que fossem capazes de distrair as classes praticantes e boémias. Precisamente após a segunda metade da Idade Média, surgiu umas das estâncias termais mais populares da Europa, como a cidade de Karlovy Kary, na República Checa, fundada pelo Imperador da Alemanha, Carlos IV (1316- 1378), no século XIV, dotada de uma arquitectura barroca memorável.

Também as estâncias de Spa (1763) na Bélgica e Baden-Baden (1822) na Alemanha, ganharam prestigio através da implementação dos casinos e empresas ligadas aos jogos de poder, sendo que, de um modo geral, as estâncias alemãs foram modelos turísticos para a passagem das férias de Verão, onde as elites despojavam os “excessos” do ano inteiro.

Por outro lado, o progresso do termalismo não esteve só envolto nas questões sociais, também as águas termais foram utilizadas para tratamentos de doenças, como no caso da lepra, que se alastrou por toda a Europa, havendo a necessidade de se construir, juntos às nascentes de águas termais, inúmeros hospitais destinados ao tratamento dos leprosos e outras doenças. Foi exemplo disso, o Hospital Termal das Caldas da Rainha, no ano de 1485, até à data o primeiro no mundo com funções hospitalares96, destinado ao cuidado do povo desfavorecido e debilitado que, junto das nascentes se banhavam.

“Um pouco por todo o país, construíram-se abrigos à utilização das nascentes, quase sempre feitos pela população local. A maior parte das nascentes brotavam em lugares ermos e a sua descoberta coube, ocasionalmente, a pastores e residentes locais, a quem estas águas melhoravam as suas enfermidades. Também acontecia que eram os próprios animais a curarem feridas e, por tal facto, a despertar atenções.”97

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Facto referido na monografia Terra de Águas, Caldas da Rainha – História e Cultura, Câmara Municipal das Caldas da Rainha, 1993, p.53. No seguinte capítulo “As Caldas. A Fundação do Hospital e da Vila pela Rainha D.Leonor – Aspectos da sua evolução até ao séc. XVII”, João L. Saavedra Machado ao falar da data da inauguração do Hospital Termal em 1503, segundo Jorge de São Paulo, refere que “[...] sem que tivesse sido provável viriam a construir esplendoroso despontar de um

famoso conjunto hospitalar [...]” utilizando a citação de Fernando Correia “único do seu género no mundo” para justificar o facto de que este seria o primeiro hospital a ser construído com funções

termais.

“[...] O Hospital Termal das Caldas da Rainha. Como estas características foi o primeiro Hospital do mundo e durante muitos anos o único.” In Jorge Mangorrinha, “ O Lugar das Termas”, 2000, p.157

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Da mesma forma, em 1742, na cidade de Bath em Inglaterra, é inaugurado o primeiro Hospital reumatológico da Inglaterra. Uma cidade termal complementada pelos mais diversos atractivos e equipamentos culturais de arquitectura georgiana neoclássica e extensos espaços verdes propícios para um ambiente de bem estar terapêutico.

Mais tarde, em meados do século XIX, na designada época de ouro do termalismo, do termalismo introduziu novas formas de tratamento medicinais, como a hidroterapia98, defendida por Sebastian Kneipp (1821-1897), que combinados com exercício físico, uma alimentação equilibrada e um quotidiano equilibrado, contribuíam para o beneficio físico e mental do corpo. Estes progressos foram importantes para o desenvolvimento da medicina e do termalismo que abriram portas para o tratamento moderno do corpo. Dessa necessidade de exercício físico, as estâncias passaram a ser equipadas com espaços de dança, parques arborizados para os passeios e desportos ao ar livre, melhorando cada vez mais a qualidade de acolhimento das termas. Foi precisamente neste século, que as maiores estâncias termais, sobretudo na Europa Central, converteram-se em grandes complexos termais, complementados de complexos desportivos, hotéis de luxo, salas de dança e concertos, grandes parques para passeio pedonal e até mesmo lojas de requinte.

Em Portugal de 1892, o panorama estende-se com a mesma exploração arquitectónica, cujas termas não se faziam acompanhar sozinhas e vinham providas de instalações da mesma espécie, completando o microcosmo termal. As estâncias mais prestigiadas eram o principal encontro das classes altas, no conjunto de interesses de convívio social e político muito na moda naquela altura. Efectivamente, face ao crescimento e investimento das classes abastadas, justificava-se uma maior preocupação e embelezamento das estâncias termais. O período de desenvolvimento na construção de equipamentos tecnológicos e artísticos, foram transformados em grandes centros de lazer e turismo de grande importância, destinados para as celebridade das classes elitistas de uma sociedade restrita.

Em contrapartida, no século XX, após a instabilidade causada pela segunda Guerra Mundial, com condições político-económicas desfavorecidas, o interesse pelos lugares de mar e sol e com o decréscimo monetário dos fármacos, que até à altura beneficiavam a medicina termal, as estâncias passaram a ser lugares completamente distintos, face à vivência local destes espaços que serviriam a um número de classes sociais mais diversificado. No exemplo dessas mudanças, deu-se um crescimento de qualitativo em determinadas estâncias, especialmente em Monfortinho, Chaves, Vimeiro e Piedade. As estâncias termais serviam os gostos generalizado de cada classe, sendo que as classes populares mantinham o gosto pela utilização clássica termal e as classes de elite serviam-se das funções lúdicas. Ainda assim, o turismo termal apresentou um declínio nas duas aquisições como resultado de um turismo de praia mais diversificado. Consequentemente a essa distinção, durante o

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anos 60, o termalismo tornou-se um dos sectores da economia menos requisitado em Portugal. Só por volta dos anos 80 e 90 é que se notou uma nova recuperação desta vertente, sob forma de incrementar a utilização da cura termal das doenças, no combate ao stress e no melhoramento da condição física, através de componentes recreativas e culturais. Ainda assim, o posicionamento das populações mais desfavorecidas foram afectadas pela falta de apoio do Estado ao deixar de comparticipar nas despesas de tratamentos de saúde, nos transportes e na alimentação, sendo que, a exploração de grande parte das estâncias termais, tornou-se parte de projectos de investimento privados e mistos.