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Hipótese

Turismo 13 s.m (Do fr tourisme, do inglês tourism) 1 Actividade que consiste em viajar

3. O caso das Caldas da Rainha

3.2. Os elementos do aglomerado Termal

3.2.2. Igreja da Nossa Senhora do Pópulo

A Igreja da Nossa Senhora do Pópulo, esteve desde sempre integrada no complexo do Hospital Termal, sendo que, de todos os elementos termais mandados construir pela rainha D. Leonor, este é o único edifício que resta do plano de obras de 1484, podendo-se referir as palavras de Jorge Mangorrinha na descrição da Igreja quando diz “ A Igreja é, por isso mesmo, a certidão do nascimento e baptismo desta terra”.154

A existência de um equipamento religioso ligado aos conjuntos de estâncias termais está muitas vezes associada à ideia de continuidade das actividades religiosas que se praticam fora do tempo de vilegiatura ou no período de tratamento, assim como na forma de libertação espiritual que, em conjunto com os banhos terapêuticos, permitem uma purificação total do corpo. No primeiro dia que chegavam à instituição, ali se confessavam e comungavam e só depois iniciavam-se os tratamentos termais. Outra justificação encontra-se na assistência e acolhimento de que estas instituições religiosas deram durante muito anos aos doentes e peregrinos que passavam junto das nascentes na procura de albergaria, e como resultado, após a construção dos conjuntos termais, houve sempre a necessidade de criar uma Igreja para como forma de reconhecimento e, possivelmente, na pratica de curas espirituais.

A história da Igreja da Nossa Senhora do Pópulo encontra-se delimitada pelo inicio da primeira fase de construção em 1500155, ainda descrita na sua inscrição epigráfica como capela, e julga-se terminada em 1508, na sequência das obras iniciadas no reinado de D. João II e posteriormente apoiadas por D. Manuel. A sua função serviu desde sempre de apoio religioso aos doentes e aquistas que frequentavam as termas durante o tratamento, contudo, quando passou a igreja matriz, assumiu funções paroquiais. Apesar de no século XX, a igreja matriz ser atribuída à nova Igreja da Nossa Senhora da Conceição - construída na época na Praça da novo edifício da Câmara – a Nossa Senhora do Pópulo continuou aberta para a população, sem exclusividade para os aquistas.

A sua orientação a Nascente, colocada numa posição axial, dispõe-se perpendicularmente do edifício do Hospital, do lado oposto ao conjunto hospitalar condicionando a sua comunicação com o mesmo. Esta posição “não seguiu um dos programas de construções hospitalares iniciados em Itália”, presente na Igreja do Hospital Real de Todos-os-Santos cuja “capela-mor localiza-se no ponto de cruzamento que permitia que os doentes acompanhassem das enfermarias as cerimónias religiosas”. Segundo José Custódio Vieira da Silva, a ordenação do Hospital das Caldas “[...] segue a tradição medieval que dispunham

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Jorge Mangorrinha, in “ À Volta das Termas”, 2002, p.301

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em cada enfermaria um altar para que os enfermos pudessem assistir aos ofícios divinos, estando a capela-mor da Igreja no lado oposto das enfermarias [...]” o que leva a considerar que possa ter sido pensada no momento em que “[...] a rainha pediu autorização a D. João II para fixar 30 vizinhos junto ao estabelecimento termal [...]” implicando a “[...] necessidade de haver uma igreja destinada aos moradores da nova povoação, onde pudessem receber assistência espiritual que, a existirem apenas os altares nas enfermarias, eles não poderiam ter [...]” 156

Após a sua construção, a Igreja teve algumas remodelações, ainda que sem sequência totalmente segura, nomeadamente em 1505, após a sua nomeação a Igreja Matriz, recebeu elementos próprios de uma igreja matriz, com a torre sineira e a pia baptismal.157 Por volta de 1510, foi executado o tríptico no seu interior, mandado construir pela D. Leonor158. Em 1549, foi acrescentado um novo andar sobra a copa dos enfermos e do coro, devido à construção do segundo andar do Hospital.159 No mandado de D. João V (1689-1750), foram feitas a renovação dos altares e a colocação de uma balaustrada interior de pedra, mandou construir o Coro e a Casa do Tesouro. Posteriormente, após as obras de restauro em 1968, a balaustrada e a Casa do Tesouro deixam de existir.160 Em 1659, a colocação de azulejos seiscentistas de tipo “padrão” no interior da Igreja e, conservando, da primitiva construção painéis de azulejos hispano-árabes nos altares laterais.161

A sua arquitectura aparenta um misto de estilos marcadas pelos diferentes tempos em que sofreu alterações. São eles um conjunto de elementos de arquitectura locais renascentistas, já pouco evidentes, com uma mistura tardo-gótica, da autoria de Mateus Fernandes (1515)162 – um estilo muito comum de seu estilo pessoal.

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Manuel Batoréo, in “O Triptíco da Igreja da Nossa senhora do Pópulo nas Caldas da Rainha.” Problema de leitura e contra-leitura, http://batoreo.net/caldas.htm, consultado em 9 Junho 2014

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Jorge Mangorrinha in “ À Volta das Termas”, p.301

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João B. Serra in Tabela Cronológica - “ Caldas da Rainha: Cronologia - 2. Fundação (1484 – 1532)“

159

Manuel Batoréo, “O Triptíco da Igreja da Nossa senhora do Pópulo nas Caldas da Rainha.” Problema de leitura e contra-leitura, http://batoreo.net/caldas.htm, consultado em 9 Junho 2014

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in “Arquitectura Caldense do século XVIII”, na monografia intitulada “Terra de Águas, Caldas da Rainha – História e Cultura, Câmara Municipal das Caldas da Rainha, 1993, p.1142.

161

João B. Serra, in Tabela Cronológica - “ Caldas da Rainha: Cronologia - 2. Fundação (1484 – 1532)“

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Mateus Fernandes, arquitecto Mestre da Pedraria, foi um dos responsáveis pelas Capelas Imperfeitas no Mosteiro da Batalha em 1386

No seu interior destaca-se o tríptico da Paixão de Cristo sobre acro triunfal, os altares em talha dourada, a cobertura abobadada, os bocetes decorados, as pinturas do século XVI, feitas sobre a madeira, a pia baptismal de pedra calcária e os azulejos setecentistas.

A sua planta original é constituída por uma junção de um rectângulo e um quadrado – nave e capela-mor. No seu interior o salão amplo, ainda que fosse fiel à sua arquitectura tardo- gótica, veio servir as necessidades dos doentes acamados que se curavam no Hospital. Os seus aspectos estruturais e decorativos oferecem-lhe uma exclusividade com a junção do seu arco triunfal e o tríptico nele inserido.

No seu exterior são eminentes os relógios encavilhados na torre com carrilhão, doados à Igreja da Nossa Senhora do Pópulo por D. João V, no fim da sua vida, e o pêndulo de tamanho raro.