No Brasil, a transparência na Administração Pública se encontra incentivada pela própria legislação que estabelece padrões de disponibilização de informações, observados por todos os entes públicos (CAMPAGNONI et al., 2016).
A Lei Complementar nº 131/2009 foi criada para alterar a Lei de Responsabilidade Fiscal, no tocante à transparência da gestão (BRASIL, 2009). A novidade trazida por ela foi a determinação de que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios disponibilizassem, em meio eletrônico e tempo real, informações pormenorizadas sobre sua execução orçamentária e financeira de acesso público, sendo obrigatória a divulgação em sítios oficiais da rede mundial de computadores, ou seja, na internet (BRASIL, 2013).
A Lei Complementar nº 131/2009 definiu prazos diferentes para o cumprimento de tais dispositivos:
União, Estados, Distrito Federal e municípios com mais de cem mil habitantes: até maio de 2010 para atender a lei;
Municípios que possuem entre cinquenta e cem mil pessoas: até maio de 2011;
Municípios com até cinquenta mil habitantes: até 28 de maio de 2013.
Caso algum ente da Federação não disponibilizasse as informações exigidas até o prazo final, de acordo com o modelo previsto na legislação, ele ficaria impossibilitado de receber transferências voluntárias de recursos da União. Além disso, o titular do Poder Executivo municipal estaria sujeito a responder por crime de responsabilidade (BRASIL, 2013).
A FIG. 1 apresenta o histórico evolutivo dos normativos que ampliam diretamente a transparência e o acesso à informação pública, a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988.
2000 2004 2009 2012 LC 131/2009 - Lei da
Transparência
Portal da Transparência
Lei 12.527 - Lei de Acesso à Informação
1988
LC 101/2000 - Lei de Responsabilidade Fiscal Constituição Federal
Figura 1 – Histórico dos normativos da transparência e acesso à informação
Fonte: Adaptado de Brasil (2013c, p. 11).
A Lei de Acesso à Informação (LAI) entrou em vigor em 16 de maio de 2012 com o propósito de regulamentar o direito constitucional de acesso à informação pública por parte dos cidadãos (BRASIL, 2011a). A LAI e a Lei Complementar nº 131/2009 se complementam e ambas obrigam que as informações públicas sejam disponibilizadas em meio eletrônico (BRASIL, 2013).
Em sua totalidade, a Lei nº 12.527/2011 estimula a iniciativa de transparência, sendo que o artigo 3º, inciso II e o artigo 8º fazem referências à iniciativa de Transparência Ativa. São elas:
Art. 3°. Os procedimentos previstos nesta Lei destinam-se a assegurar o direito fundamental de acesso à informação e devem ser executados em conformidade com os princípios básicos da administração pública e com as seguintes diretrizes:
(...)
II - divulgação de informações de interesse público, independentemente de solicitações;
(...)
Art. 8°. É dever dos órgãos e entidades públicas promover, independentemente de requerimentos, a divulgação em local de fácil acesso, no âmbito de suas competências, de informações de interesse coletivo ou geral por eles produzidas ou custodiadas.
O artigo 8º da LAI, além de estabelecer que a Transparência Ativa seja dever dos órgãos e entidades públicas, delimita ainda, em seu §1º, um rol de informações mínimas que deverão ser objeto de iniciativas de transparência pública fornecidas na internet, quais sejam:
Conteúdo institucional: competências, estrutura organizacional, endereços e telefones das unidades, horário de atendimento ao público e respostas às perguntas mais frequentes da sociedade;
Conteúdo financeiro e orçamentário: registros de repasses ou transferências de recursos financeiros, bem como de despesas. Informações de licitações, tais como os editais, os resultados e os contratos celebrados. Dados gerais sobre programas, ações, projetos e obras de órgãos e entidades.
O artigo 8º, § 3º da LAI estabelece alguns dos requisitos mínimos para os portais eletrônicos de órgãos públicos. Segundo a LAI o site deverá:
I - conter ferramenta de pesquisa de conteúdo que permita o acesso à informação de forma objetiva, transparente, clara e em linguagem de fácil compreensão;
II - possibilitar a gravação de relatórios em diversos formatos eletrônicos, inclusive abertos e não proprietários, tais como planilhas e texto, de modo a facilitar a análise das informações;
III - possibilitar o acesso automatizado por sistemas externos em formatos abertos, estruturados e legíveis por máquina;
IV - divulgar em detalhes os formatos utilizados para estruturação da informação;
V - garantir a autenticidade e a integridade das informações disponíveis para acesso;
VI - manter atualizadas as informações disponíveis para acesso;
VII - indicar local e instruções que permitam ao interessado comunicar-se, por via eletrônica ou telefônica, com o órgão ou entidade detentora do sítio; e
VIII - adotar as medidas necessárias para garantir a acessibilidade de conteúdo para pessoas com deficiência, nos termos do art. 17 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000, e do art. 9º da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, aprovada pelo Decreto Legislativo nº 186, de 9 de julho de 2008.
Diante do exposto, cabe destacar que os requisitos exigidos para os portais na internet precisam ser elaborados de forma a facilitar o acesso dos cidadãos às informações, prevendo a existência de ferramentas de busca e garantindo que as informações disponibilizadas possam ser amplamente utilizadas (BRASIL, 2013c). Outro fator que deve ser observado é que a relação de informações listada no artigo 8º da LAI não é exaustiva, ou seja, não são somente as informações listadas em lei que deverão ser objeto de iniciativas de transparência pública. Sendo assim, a relação apenas delimita as informações mínimas que deverão ser divulgadas, cabendo ao órgão ou entidade pública definir outras informações que possam ser de interesse coletivo ou geral e que deverão ser objeto de iniciativas de Transparência Ativa (BRASIL, 2013c).
Por fim, na visão de Bernardes, Santos e Rover (2015), a Lei de Acesso à Informação representa um passo fundamental rumo à consolidação da democracia
brasileira. Entre seus preceitos está a obrigação da disposição de informações na internet sobre a estrutura, funcionamento e prestação de contas de todos aqueles que recebem subvenção pública.
3 REFERENCIAL TEÓRICO
Este capítulo apresenta o referencial teórico construído para embasar a pesquisa nos portais eletrônicos do legislativo municipal, o qual contempla a definição e os modelos de Administração Pública, os principais conceitos, definições e dimensões da accountability e estudos anteriores relacionados à accountability nos portais eletrônicos governamentais.