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Contexto local Comunidade Educativa

Capítulo 2: Autonomia da Escola – Requisitos Político-Organizacionais

3. Actores na construção da autonomia Escolar

3.3. Contexto local Comunidade Educativa

Para sermos claros, devemos definir o que se entende por contexto local, quando o relacionamos com a escola. Como nos refere Costa (1989:8), podemos entender contexto local como a “realidade física e humana circundante à escola; espaço geográfico (podendo ser identificado muitas vezes com a própria divisão administrativa: lugar, freguesia. concelho, cidade, […], sócio-económico-cultural que mantém com a escola uma relação de proximidade […]”. Deste modo, o contexto local é constituído pelos mais diversos actores: alunos, professores, pais, município, residentes, instituições escolares, empresas, associações culturais e recreativas.

A importância da ligação da escola com o contexto local emerge a partir da LBSE, na qual a escola surge como “comunidade educativa”. Este normativo refere que “o sistema educativo deve ser dotado de estruturas administrativas de âmbito nacional, regional autónomo, regional e local, que assegurem a interligação com a comunidade mediante adequados graus de participação dos professores, dos alunos, das famílias, das autarquias, de entidades representativas das actividades sociais, económicas e culturais e ainda de instituições de carácter científico”27.

O modelo de autonomia da gestão escolar, que tem sido implementado nos últimos anos privilegia a escola, enquanto comunidade local, cujos objectivos, instrumentos, meios e recursos são autonomamente definidos pelos seus representantes legais e consagrados em acordo com os representantes da administração central, regional e entidades locais.

O decreto-lei n.º 43/89, de 3 de Fevereiro, é um dos primeiros momentos no qual o Governo tenta dar cobertura legal à autonomia da Comunidade Educativa, materializando-a através do Projecto Educativo de Escola. Dez anos mais tarde, o Decreto-Lei n.º 115-A/98, de 4 de Maio, reforça a importância da comunidade educativa, ao salientar que a organização da administração educativa centrada na escola e nos seus territórios administrativos terá de ter em conta a valorização dos diferentes intervenientes no processo educativo, como pais, professores, pessoal não docente e representantes do poder local.

O conceito de comunidade educativa pressupõe um conceito de escola aberta ao

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meio em que está inserida. A escola Comunidade Educativa é marcada “[…] por uma ideologia pedagógica igualitária[…] ”, exigindo uma mudança profunda no estatuto dos alunos e pai que passam de “[…] meros utilizadores e beneficiários dos serviços da escola ao de membros e clientes para assim poderem determinar, em parceria com professores e funcionários, a natureza e conteúdo das actividades” (Ferreira, 1995:191).

Barroso (1991) refere que “a autonomia da escola não é a autonomia dos professores, ou a autonomia dos pais, ou a autonomia dos gestores. A autonomia é um campo de forças, onde se confrontam e equilibram diferentes detentores de influência, dos quais se destacam: o governo, a administração, os professores, os alunos, os pais e outros membros da sociedade local. A autonomia afirma-se, assim, como expressão da unidade social que é a escola. Ela é um conceito construído social e politicamente pela interacção dos diferentes actores organizacionais, numa determinada escola, à busca do bem comum local”. As escolas, sendo organizações sociais em relação com os seus contextos, são influenciadas por este e também o influenciam. Gerir a autonomia é gerir as relações com todos os intervenientes no processo educativo.

A institucionalização da autonomia abre a possibilidade de as escolas se auto- organizarem de forma a resolverem os seus próprios problemas, identificar objectivos e metas, ajustando-os a sua identidade. Este é um conceito de Escola onde se reconhece o direito de participação aos diferentes parceiros educativos. A autonomia da escola deve ser um valor intrínseco, não esquecendo que esta pressupõe que as escolas desempenhem um melhor serviço público de educação. A autonomia não constitui, pois, um fim em si mesma, mas um meio de a escola executar os fins para os quais foi criada.

Como já referimos anteriormente, o Decreto-Lei n.º 75/2008 de 22 de Abril, veio salientar a importância de toda a comunidade educativa, na medida em que os seus objectivos principais são “o reforço da participação das famílias e comunidades na direcção das escolas”, assim como o “reforço da autonomia das escolas”.

Para que seja possível a concretização destes objectivos, foram criados órgãos de direcção, administração e gestão, nomeadamente o Conselho Geral e o Conselho Pedagógico nos quais têm lugar os docentes e não docentes, os pais e encarregados de educação, representantes da comunidade local e autarquias. Caso se trate de uma escola secundária, os alunos têm também assento.

A participação de todos os elementos da comunidade educativa é de grande importância na medida em que:

 os professores, enquanto detentores de alguma formação especializada, e possuidores de competências e conhecimento, e sendo uns dos principais responsáveis no processo educativo, preparam todo o processo de aprendizagem e tudo que este envolve;

 os alunos, sendo os sujeitos da aprendizagem, devem participar nas decisões mais importantes que dizem respeito ao seu processo educativo, pois são os principais interessados;

 os não docentes realizam a sua actividade profissional nos estabelecimentos de ensino e acabam por participar activamente no processo educativo;

 os pais e encarregados de educação são os principais responsáveis na educação dos seus filhos, devendo ter participação activa na escola e devendo encarar a comunidade escolar como parceiro educativo;

 a autarquia e comunidade envolvente, pois, para além das competências especificas que já referimos, são essenciais à realização outro tipo de actividades. Santos (2008:46) refere que o mais importante para uma escola que pretenda ganhar mais autonomia é “ a tomada de uma posição muito pró-activa de conquista da autonomia.” As escolas devem ter os seus objectivos bem definidos no que se refere à autonomia que desejam adquirir, assim como os benefícios que consideram que essas margens de autonomia trarão para a escola, ou seja, saber “o porquê e para quê” da necessidade de autonomia.