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O Projecto Educativo de Escola Autonomia e Identidade da Escola

Capítulo 2: Autonomia da Escola – Requisitos Político-Organizacionais

5. Os Instrumentos da Autonomia Escolar

5.1. O Projecto Educativo de Escola Autonomia e Identidade da Escola

É numa perspectiva de inovação e no contexto da aplicação da Reforma que na Lei de Bases do Sistema Educativo surge, pela primeira vez, a consagração legislativa do

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Decreto-Regular n.º 12/2000, de 29 de Agosto – Requisitos para a constituição de agrupamentos de escolas e procedimentos relativos á sua criação e funcionamento.

Projecto Educativo de Escola (PEE) em Portugal.

Das várias definições de PEE incluídas em textos legais, parece particularmente pertinente aquela que considera este documento como “um instrumento aglutinador e orientador da acção educativa que esclarece as finalidades e funções da escola, inventaria os problemas e os modos possíveis da sua resolução, pensa os recursos disponíveis e aqueles que podem ser mobilizados. Resultante de uma dinâmica participativa e integrativa, o Projecto Educativo pensa a educação enquanto processo nacional e local e procura mobilizar todos os elementos da comunidade educativa, assumindo-se como o rosto visível da especificidade e autonomia da organização escolar” 33 .

No preâmbulo do Decreto-lei n.º 43/89 de 3 de Fevereiro, é salientada a importância do PEE para a construção da autonomia escolar, na medida em que é referido que “a autonomia da escola concretiza-se na elaboração de um Projecto Educativo próprio, constituído e executado de forma participada, dentro de princípios de responsabilização dos vários intervenientes na vida escolar e de adequação a características e recursos da escola e, às solicitações e apoios da comunidade em que se insere.” Nesta perspectiva, cada escola é entendida como uma instituição única, com identidade própria, no sentido em que não pode dissociar-se do meio em que está inserida e da realidade à qual deve dar as respostas adequadas. A especificidade e identidade de cada escola são construídas através da sua dinâmica interna, mas também pelas interacções que estabelece com o exterior. Cada escola deve, por isso mesmo, fazendo uso da sua autonomia, definir os seus objectivos de acordo com essa mesma realidade em que se insere (Afonso, 1999:47).

O Projecto Educativo surge, assim, como uma estratégia fundamental para a inovação educativa e curricular, uma vez que confere uma maior autonomia das escolas face ao poder político central, uma maior abertura da escola à participação de toda a comunidade educativa, estimulando a inserção social dos jovens, ao propor-lhes situações educativas e instrutivas enriquecidas pelo aproveitamento da realidade envolvente.

No Decreto-lei referido anteriormente, verificamos que o PEE está estreitamente ligado à questão da autonomia, na medida em que é através deste que a escola exerce a sua autonomia, sempre com a participação dos vários intervenientes do processo

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educativo. A própria definição de autonomia, surge neste Decreto-lei associada ao Projecto Educativo, Autonomia é definida como a “capacidade de elaboração e realização de um Projecto Educativo em benefício dos alunos e com a participação de todos os intervenientes no processo educativo”34 .

Como refere Benavente (1990:15), “O Projecto Educativo de Escola contribui para a progressiva autonomia de cada estabelecimento escolar e para a construção da sua identidade própria, na medida em que a torna responsável pela realização de um projecto integrador para o qual contribui a acção dos protagonistas”.

O PEE é um documento de carácter pedagógico, que diz respeito à organização do estabelecimento educativo. Este estabelece a identidade própria de cada escola constituindo-se como uma marca da sua autonomia, apresentando um modelo geral de organização e os objectivos pretendidos pela instituição. Enquanto instrumento de gestão é ponto de referência, orientador na coerência e unidade da acção educativa. É através deste documento, que se definem as estratégias e se traçam percursos de actuação para a concretização e avaliação da eficácia do exercício da autonomia da escola.

Costa (1991:65) realça três aspectos fundamentais da importância do PEE:

- a redução da estandardização dos estabelecimentos de ensino, “[…] criando uma identidade própria a cada escola e garantindo o preenchimento do seu espaço de autonomia”.

- “abrir a escola à comunidade através da participação dos vários intervenientes do processo educacional nas macro-decisões da escola”.

- “Contribuir para a qualificação do ensino e eficácia escolar”.

Ferreira (1995:193) acrescenta ainda que “o Projecto Educativo é o instrumento pelo qual as pessoas implicadas no processo educativo comungam dos objectivos da educação intencionados naquela escola, através de um processo de decisão negociado e, por isso, participado por professores, pais, alunos, funcionários e representantes da comunidade local”.

No Decreto-lei n.º 115-A/98, de 4 de Maio, é referido que “ a autonomia é o poder reconhecido à escola pela administração educativa de tomar decisões nos domínios estratégicos, pedagógicos, administrativo, financeiro e organizacional, no quadro do seu projecto educativo e em função das competências e dos meios que lhe estão

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consignados”35. O mesmo documento refere ainda a capacidade de decisão que é

atribuída à escola através do Projecto Educativo, na medida em que este documento “consagra a orientação educativa da escola […] para um horizonte de três anos, no qual se explicitam os princípios, os valores, as metas e as estratégias segundo os quais a escola se propõe cumprir a sua função Educativa”.

O Projecto Educativo tem um papel fundamental na autonomia da escola, como refere Formosinho e Machado (2000c:121): “o processo de elaboração do projecto Educativo de Escola permitirá compreender se a autonomia a construir é, de facto, um processo autonómico ou, antes, uma reconversão do processo de actuação da Administração Educativa […]”.

Formosinho e Machado (2000c:121) referem igualmente que a escola não deve centrar-se apenas na elaboração do Projecto Educativo, mas deve estar atenta aos aspectos que lhe poderão “conferir novos sentidos, significados e valores à sua acção”, entrando sempre em linha de conta com o meio em que está inserida (Formosinho e Machado, 2000c:122).

Mais recentemente, surge no Decreto-lei nº. 75/2008, de 22 de Abril, o Projecto Educativo, como sendo “[…] um documento que consagra a orientação educativa do agrupamento de escolas ou escola não agrupada,[…] no qual se explicitam os princípios, os valores, as metas e as estratégias segundo os quais o agrupamento de escolas ou escola não agrupada se propõe cumprir a sua função educativa”36, assumindo, assim, relevância enquanto instrumento do exercício da autonomia.

Em suma, podemos descrever de forma simplificada a complexidade de questões associada ao PEE, definindo-o da seguinte forma: “O Projecto Educativo deve ser a ponte entre o que a escola é e aquilo que se deseja que ela venha a ser”37

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