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No decorrer desta pesquisa, algo que à população geral era inimaginável aconteceu: fomos acometidos por uma pandemia. Aproximadamente em março de 2020 a vida dos brasileiros ganhou novos rumos graças ao COVID-19, nome oficial da doença, que depois de assolar diversos países, chegou ao Brasil. No começo o Coronavírus era um tema que víamos pela TV e pela internet.

Em dezembro de 2019, ouvíamos falar sobre o vírus que parou a China, tendo começado na cidade de Wuhan, se espalhou com facilidade causando muitas mortes, causando o confinamento e terror do outro lado do mundo. O vírus começou a circular pelo mundo e então, em março de 2020, após aproximadamente um mês do registro do primeiro contágio em Roma, assistimos atônitos ao caos na Itália, onde, com o colapso do sistema funerário, os corpos precisaram ser transportados em caminhões do exército.

Esta não foi a primeira pandemia na história da humanidade, mas foi a primeira após o advento da internet. Entre temores, notícias ruins e notícias falsas, as chamadas fake news, vimos o coronavírus se aproximar do Brasil como um tsunami. Saindo dos países ricos em direção à América Latina.

Ainda em março, assistimos Guayaquil, cidade do Equador, num colapso hospitalar e funerário, em que as pessoas caiam mortas, os corpos das vítimas do vírus ficavam nas casas ou eram colocados na rua. Em meio à uma crise política, os brasileiros assistiram ao que o SARS COV 2, nome oficial do vírus, poderia causar em um país mais pobre.

O primeiro caso oficial no Brasil foi registrado em 26 de fevereiro, um homem de 61 anos que havia viajado para Lombardia, o epicentro da doença na Itália. A

doença afetou inicialmente as camadas mais ricas da sociedade e os casos que eram tratados nos hospitais mais caros de São Paulo, sendo que as infecções eram importadas, não havia ainda a transmissão comunitária, que é quando não se consegue rastrear a origem do caso. Em meados de março, ouvimos relatos do que poderia ser a primeira morte no Brasil, uma mulher de 63 anos que teria sido infectada por sua patroa, que viajou para a Itália. Hoje, a primeira morte pelo COVID 19, nome oficial da doença causada pelo vírus, considerada oficialmente no Brasil é de uma mulher de 57 anos, diarista, moradora de um conjunto habitacional na cidade de São Paulo, que faleceu em 12 de março, não se sabe a origem do contágio, mas os jornais contam que após sua morte, mais quatro familiares seus também morreram vítimas da doença. Apesar de vivermos numa era de informações rápidas e conexão com o mundo todo pela internet, no Brasil, tivemos a demora de confirmação dos casos e em alguns momentos a dificuldade de acesso às informações sobre a doença, apenas no final de abril houve a confirmação de que esta seria a primeira morte.

A previsão dos cientistas era de que se nenhuma providência fosse tomada, as mortes por COVID-19 no Brasil seriam acima de um milhão. Mesmo vendo todo o caos causado pelo vírus no mundo, o atual presidente de nosso país vem desdenhando o vírus desde o começo, dando declarações de que a COVID-19 não passava de uma “gripezinha”6 entre outras que minimizam a gravidade da situação e foi amplamente divulgado e criticado pela mídia no Brasil e no Mundo. Com a disseminação mundial do vírus, em 11 de março de 2020 a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia de COVID-19.

Vimos o número de casos aumentar e a transmissão comunitária ser declarada na portaria nº 454, de 20 de março de 2020 publicada no Diário Oficial da União nesta mesma data. Em Sorocaba, o primeiro óbito foi confirmado em 28 de março, um homem de 92 anos, que estava internado desde o dia 23 de março e era um dos três casos confirmados da doença na cidade.

Como em muitos países, no Brasil, a suspensão das aulas foi uma das primeiras medidas para a contenção da transmissão do vírus, mas como havia divergências quanto a isso entre o Governo Federal e Estaduais, a decisão ficou a cargo de cada estado e município. Em Sorocaba, seguindo a decisão do governo do 6 https://jc.ne10.uol.com.br/politica/2020/07/11953165-gripezinha--historico-de-atleta-e-aglomeracoes--a-cronologia-de-bolsonaro-ate-contrair-o-coronavirus.html

estado de São Paulo, as aulas foram suspensas a partir do dia 23 de março pela Instrução Normativa SEDU/GS nº 2 de 18 de março de 2020. Despedimo-nos da creche e de nossas crianças com um até breve, sem imaginar que não voltaríamos a ter aulas em 2020.

Como traz Santos (2020), existe o sul da quarentena, não como espaço geográfico, mas como espaço-tempo político, social e cultural, no qual alguns grupos se encontram em maior vulnerabilidade dentre eles, as mulheres, os trabalhadores precários, informais, moradores de rua e nas periferias pobres das cidades. Nesse sul, encontram-se a maioria das professoras das creches enquanto mulheres trabalhadoras. Ainda assim, diferente dessa classe profissional, nem todos os brasileiros tiveram ou tem o privilégio de cumprir uma quarentena. Na situação atual de crise política e sanitária do nosso país, colocou-se para muitos o dilema de escolher entre “morrer de COVID ou morrer de fome”.

A pandemia veio abruptamente impondo um mundo para toda a humanidade, um mundo em que estar longe é uma necessidade, abraços e uma proximidade menor que 1,5 metros não nos é permitido. Como ficamos nós professores? Numa situação em que nunca se viveu, neste momento, muitos professores e professoras estão trabalhando em seu lar e a creche e a escola adentrou a casa das crianças. Muitas questões suscitam neste momento, e esta profissão essencialmente humana mais uma vez se vê em um ponto em que a mudança se faz necessária e as consequências das mudanças que se fizeram necessárias ou nos foram impostas assombram como uma herança incerta para educação na pós pandemia. Mas como cantava Belchior: “No presente a mente, o corpo é diferente/ E o passado é uma roupa que não nos serve mais”.

No mês de outubro de 2020, o Brasil ultrapassou a marca de 150.000 mortes, e segundo levantamento (com números até 30 de setembro) feito pela Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, divulgado pela BBC News7, dos dez países com maior índice de morte per capta, seis deles estão na América Latina e o Brasil ocupa a quarta posição. Se considerarmos os números de morte, até o começo de outubro de 2020 o Brasil era o segundo país em mortes totais no mundo. A situação do país no decorrer da pandemia não melhorou e em 19 de junho de 2021, atingimos

7 Matéria divulgava em 2 de outubro de 2020 intitulada Em gráfico, os 10 países do mundo com mais mortes per capita por covid-19, disponível em https://www.bbc.com/portuguese/geral-54390838

oficialmente o triste número de 500.000 mortos pela COVID-19, batendo a cada dia um novo recorde de mortes, ultrapassando 2.000 mortes diárias pela doença. A humanidade espera por um remédio ou uma vacina que talvez ainda demore meses ou anos para chegar a todos, e enquanto isso, vamos nos adaptando no melhor e no pior sentido da palavra, no que alguns chamam de “novo normal” que normaliza as injustiças e a necropolítica, que coloca na rota da morte os mais pobres, e a necroeducação, que exclui aqueles que não tem condições de acesso à essa nova forma de escola, que vem sendo chamada de ensino remoto (LIBERALI, 2020). Apesar disso professores, professoras e comunidade em geral ainda buscam meios de amenizar a crise que se coloca e escancara, colocando luzes como de holofote em problemas que convivemos e buscamos solucionar desde sempre e que foram agravados deforma substancial.

Este contexto de pandemia mudou a forma de nos relacionarmos, pois hoje as aulas e reuniões são realizadas por videoconferência, o contato com as crianças é feito por meio de redes sociais com mensagens, fotos, vídeos, áudios e todos os meios que se fazem possíveis. A pandemia de COVID-19 de alguma forma permeia o trabalho, impactando diretamente na metodologia de pesquisa como veremos a seguir. Atualmente buscamos novas formas de ser professores e professoras, buscando o inédito viável, que como coloca Liberali (2020) baseando-se em Vigotski: “... eventos dramáticos vivenciados em nossa história marcam cada um de forma absolutamente singular. No entanto, certamente podem ser base para ampliação nossas formas de agir no mundo.” (p. 20).