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CAPÍTULO 2 – Geologia Regional

2.1. CONTEXTO TECTÔNICO

A área de estudo encontra-se inserida na Província Estrutural Tocantins de Almeida et al. (1981), que é limitada a norte pela Província São Francisco e a sul pela Província Mantiqueira (figura 2.1). A Província Estrutural Tocantins, segundo os autores citados acima, representa o domínio orogênico decorrente da aproximação e colisão dos crátons Amazônico e São Francisco. A presença de um terceiro bloco, que atualmente estaria encoberto pelas rochas da Bacia do Paraná, é postulada por alguns autores, como por exemplo Brito Neves & Cordani (1991).

A Província Tocantins constitui-se de três faixas orogênicas, com evolução provavelmente diacrônica: as faixas Araguaia e Alto Paraguai, que bordejam o Cráton Amazônico, e a Faixa Brasília, que bordeja o Cráton São Francisco (Almeida & Hasui, 1984 e Trompete, 1994).

Na porção nordeste do Estado de São Paulo e sudoeste do Estado de Minas Gerais, região onde se insere a área de estudo, é reconhecida, por vários autores (Almeida et al. 1980, Hasui 1982, Halaryi & Hasui 1982, Halaryi et al. 1985, Almeida et al. 1992, Ebert, et al. 1993, Morales et al. 1996) uma complexa compartimentação de blocos crustais vinculada a processos colisionais, complicados por transcorrências sinistrais. Neste contexto, os blocos Brasília a norte e São Paulo a sul, são separados pela Sutura de Alterosa, que representa um expressivo limite entre dois domínios litológicos e estruturais distintos (figura 2.2). O Bloco São Paulo, cavalgante, expõe rochas de alto grau da crosta inferior (cinturão granulítico) representadas pelo Complexo Varginha (no sentido de Cavalcante et al. 1979). O Bloco Brasília, onde se insere a área de estudo, representa o bloco cavalgado e é caracterizado por uma complexa associação litológica, incluindo terrenos migmatíticos e granito-gnaisse-greenstone (Complexo Barbacena e seqüências metavulcano-sedimentares) além de rochas supracrustais alóctones (seqüências

metassedimentares) representadas pelos Grupos Araxá, São João Del Rei, Carandaí e Andrelândia.

A Sutura de Alterosa, localizada ao sul da área de estudo, corresponde a uma anomalia gravimétrica linear com forte gradiente gravimétrico. Caracteriza-se como uma importante anomalia, classificada por Haralyi & Hasui (1982) como tipo 1. Segundo os autores, este tipo de anomalia indica a compartimentação do embasamento pré-cambriano em blocos, delimitados por descontinuidades profundas. Os autores ressaltam que na zona de contato entre os blocos, um se mostra adelgaçado, inclusive exibindo níveis crustais profundos (cinturões granulíticos), e o outro apresenta forte espessamento crustal. No sudoeste do Estado de Minas Gerais a Sutura de Alterosa apresenta direção NW/SE. Exibe continuidade para norte, em direção ao Estado de Goiás, todavia, com direção NNW/SSE.

As rochas do entorno da área de estudo estão inseridas no contexto geotectônico Faixa Brasília. Atualmente a Faixa Brasília é caracterizada como um cinturão de dobras e cisalhamento neoproterozóico (790-600 Ma.) desenvolvido à margem ocidental do Cráton do São Francisco (Valeriano et al., 1995). O contexto geotectônico mais aceito para Faixa Brasília atribui as estruturas a um único ciclo tectônico, correspondente ao Brasiliano.

Vários autores (por exemplo: Teixeira & Danni, 1978; Schimidt & Fleischer, 1978; Simões, 1995, Valeriano et al., 1995, Seer, 1999) reconhecem que as unidades associadas à porção meridional da Faixa Brasília foram envolvidas em um complexo sistema de nappes e cavalgamentos, indicando transporte de grandes magnitudes (maiores que cem quilômetros), onde os contatos são marcados por zonas de cisalhamento de baixo ângulo e freqüentemente arqueados pelo desenvolvimento rampas laterais.

Figura 2.2: Compartimentação estrutural da porção sudoeste do Estado de Minas Gerais / nordeste do Estado de São Paulo. Fonte: Carvalho et al. 1999 in: Feola, 1999.

A Faixa Brasília faz limite, ao sul, com a Faixa Ribeira. A zona de interferência entre as faixas foi inicialmente considerada uma faixa independente (Faixa Alto Rio Grande), definida por Hasui & Oliveira (1984) como a extensão regional dos grupos São João e Andrelândia. Estudos posteriores, realizados por Trouw et al (1994) e Ribeiro (1996) levaram a redefinição da Faixa Alto Rio Grande como a zona de interferência ente as faixas Brasília e Ribeira, a qual inclui unidades associadas ao

embasamento e seqüências deposicionais proterozóicas (São João Del Rei, Carandaí e Andrelândia).

Segundo Del Lama et al. (2000), as rochas de fácies granulito que ocorrem ao sul da área estudada vem sendo descrita, na literatura, através de várias denominações: Maciço Guaxupé (Almeida et al. 1976), Complexo Varginha (Cavalcante et al. 1979), Complexo Varginha-Guaxupé (Fonseca et al. 1979), Cunha de Guaxupé (Wernick et al. 1981), Bloco São Paulo (Haralyi & Hasui, 1982), Associação Guaxupé (Wernick & Arthur 1983), Sintaxe de Guaxupé (Ebert & Hasui, 1998), Nappe Socorro-Guaxupé (Campos Neto & Caby, 1999) dentre outras.

Entre o Grupo Barbacena e a Nappe de Socorro-Guaxupé (no sentido de Campos Neto & Caby, 1999), ocorrem rochas que apresentam evolução tectono- metamórfica similar às porções médias e superiores do Grupo Araxá, sendo correlacionadas, por vários autores (por exemplo: Trouw et al. 1984, Del Lama et al. 1994, Zanardo et al. 1996, Campos Neto & Caby, 1999, Valeriano, 1999, Del Lama et al. 2000), a este grupo (figuras 2.2 e 2.3).

Simões & Valeriano (1990), Valeriano et al. (1989), Valeriano (1993) e Valeriano et al. (1995) reconheceram na porção meridional da Faixa Brasília três domínios tectônicos, separados por superfícies de cavalgamento denominados de Domínio Alóctone Interno, Domínio Alóctone Externo e Domínio Autóctone. Mais recentemente estes domínios estruturais passaram a ser denominados de Domínio

Interno, Domínio Externo e Domínio Cratônico (por exemplo: Valeriano, 1999 e

Valeriano et al., 2000). Esta nomenclatura, mais recente, será utilizada no presente trabalho (figura 2.3).

Domínio Interno: segundo Valeriano et al. (1995) é o domínio tectônico

estruturalmente superior, com graus mais intensos de metamorfismo e deformação. Este domínio cavalga todas as unidades pré-cambrianas adjacentes, incluindo o Grupo Bambuí autóctone. Representa o último episódio de empilhamento tectônico (ca. 600 Ma.). Na região próxima a area de estudo, este domínio corresponde à unidade tectônica denominada de Nappe de Passos, um conjunto de metassedimentos de baixo a alto grau metamórfico pertencentes ao Grupo Araxá.

(Parte do Grupo Bambuí e seu embasamento). As rochas associadas ao Domínio Alóctone Externo, na região de Passos, variam bastante, incluindo rochas arqueanas, pertencentes ao Greenstone-belt de Piumhi, rochas do Grupo Canastra e metassedimentos de baixo grau metamórfico de idade e posição estratigráfica duvidosas, que podem incluir parte do Grupo Bambuí (Valeriano et al. 1995).

Domínio Cratônico: segundo Valeriano et al. (1995), inclui parte do Grupo

Bambuí e seu embasamento que, a leste tem continuidade com a infra-estrutura do Cráton do São Francisco (Figueiredo, 1991 in Valeriano et al. 1995) e a sul com o Complexo Barbacena (Cavalcante et al. 1979 in Valeriano et al. 1995).

Figura 2.3: Compartimentação da Faixa Brasília em três domínios tectônicos. Extraído de Valeriano (1999).