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CAPÍTULO 4 – Geologia Estrutural

4.1. ESTRUTURAS DO DOMÍNIO CRATÔNICO

As descrições estruturais apresentadas para este domínio tectônico são baseadas nos dados dos projetos integrados (ver item 1.4.2) e nos dados apresentados na literatura, tendo em vista que os trabalhos de campo foram realizados apenas nas rochas referentes ao Domínio Interno, objeto de estudo do presente trabalho. Cabe ressaltar que nos projetos integrados não constavam dados estruturais referentes ao Grupo Bambuí, que ocorre apenas em uma pequena porção da área estudada (extremo nordeste da área). Portanto, as descrições aqui apresentadas referem-se essencialmente ao Complexo Barbacena e a Seqüência Metavulcano-Sedimentar Morro do Ferro. Regionalmente o Grupo Bambuí é caracterizado por uma foliação de baixo ângulo, muitas vezes subhorizontal, paralela ao plano de acamamento (S0).

Segundo Morales et al., (1991), o Domínio Cratônico na região entre Fortaleza de Minas e Alpinópolis, a leste da área de estudo, caracteriza-se por apresentar uma complexa estruturação, que envolve núcleos lenticulares pouco deformados limitados por zonas de cisalhamento. De acordo com os autores, nas porções menos deformadas, a orientação preferencial da foliação varia entre N40W e N50W, com mergulhos variados para NE e SW. Nas porções mais deformadas (zonas miloníticas) a orientação preferencial é N70W com alto angulo de mergulho.

Estudos realizados por Morales et al. (1996) demonstram que o traço da foliação a nordeste da Serra do Chapadão (que inclui parte da área estudada no

presente trabalho) apresenta direção geral N10W, sofrendo influência de zonas de cisalhamento transcorrentes, passando para N70W ou até E-W, nas porções que bordejam os corpos metaultrabásicos. Os mesmos autores mapearam, na região da Serra do Chapadão, três zonas de cisalhamento sinistrais com direção aproximada E-W, as zonas de cisalhamento da Fábrica e da Brabinha, na porção norte, e a Zona de Cisalhamento do Riacho Fundo, na porção sul (figura 4.1). Segundo Morales et al. (1996) estas zonas de cisalhamento tardias promovem o desenvolvimento de estruturas macroscópicas como, por exemplo, a Sinforma do Chapadão e a Antiforma de Termópolis. A presença destas estruturas é evidenciada também na seção geológica do Anexo 8B.

No presente trabalho, assim como nos trabalhos citados acima, é possível observar que o Domínio Cratônico é marcado por uma complexa estruturação. Nas rochas associadas ao Complexo Barbacena e à Seqüência Metavulcano-Sedimentar Morro do Ferro é possível observar uma foliação, marcada pela orientação preferencial dos minerais metamórficos ineqüidimensionais que neste trabalho será denominada, informalmente, de foliação principal. Morales et al. (1991) descreveram, à leste da área estudada, que nas rochas gnáissicas menos deformadas, esta foliação é caracterizada pelo bandamento migmatítico, sendo marcada por minerais de fácies anfibolito. Nestas rochas, os minerais metamórficos também marcam uma lineação, que aqui será denominada, genericamente, de lineação mineral. A distribuição espacial da foliação principal e da lineação mineral, presente nas rochas do Domínio Cratônico, pode ser observada no mapa estrutural do anexo 5A.

Buscando melhor caracterizar as variações exibidas pela foliação principal e pela lineação mineral, as atitudes destas estruturas foram lançadas em estereogramas, como pode ser observado nas figuras 4.2A e 4.3B. Morales et al (1996) descrevem que próximo a Serra do Chapadão, a foliação principal das rochas do Domínio Cratônico sofre distorções à medida que se aproxima da superfície de cavalgamento que separa estas rochas das rochas do Domínio Interno. Utilizando as ferramentas de pesquisa apresentadas pelo programa FieldLog (ver item 1.3.6.1) selecionou-se as atitudes das foliações e das lineações que ocorriam próximo e distante ao cavalgamento. Com este procedimento buscou-se verificar a influência da superfície de cavalgamento sobre as estruturas presentes nas rochas do Domínio Cratônico. As atitudes obtidas são apresentadas nos estereogramas das figuras 4.2 e 4.3 (B e C).

Analisando os estereogramas apresentados é possível observar que a influência do cavalgamento sobre as estruturas do Domínio Cratônico ocorre apenas na faixa próxima à superfície de falha. Na figura 4.2b percebe-se, inclusive, que a dispersão dos valores tende a formar uma guirlanda semelhante àquela apresentada pelos valores de foliação do Domínio Interno (figura 4.4). O valor do máximo exibido na figura 4.2B (333/40) reflete as medidas realizadas na base sul da Serra do Chapadão, que representam o maior número de dados presente no estereograma. Nos diagramas onde foram representadas as atitudes das lineações minerais (figura 4.3), observa-se que próximo ao cavalgamento estas lineações apresentam atitudes médias próximas às do Domínio Interno (figura 4.5). No diagrama onde estão representadas as lineações que ocorrem longe do cavalgamento (figura 4.3c) nota- se que as atitudes apresentadas são bem diferentes das que ocorrem próximo ao plano de falha.

Na figura 4.2 C, que representa os valores de foliação obtidos distante da superfície de cavalgamento a atitude média dos planos de foliação apresenta direção aproximada E-W (máximos 188/56 e 006/81). Estes valores representam a influência das zonas de cisalhamento de direção aproximada E-W a WNW que afetam o flanco norte da Serra do Chapadão (zonas de cisalhamento da Fábrica e da Brabinha – figura 4.1). Planos de foliação com direção aproximadamente N-S, que segundo Morales et al. (1996) representariam os domínios menos deformados, também podem ser observados na figura 4.2C.

Morales et al. (1991) concluem que as zonas de cisalhamento tardias que afetam as rochas do Domínio Cratônico estão associadas a um regime compressivo EW, responsável pela implantação dos domínios alóctones sobre o embasamento. No modelo proposto pelos autores, as rochas do embasamento responderam aos esforços compressivos através do desenvolvimento de zonas de cisalhamento direcionais de alto ângulo de mergulho. Ainda segundo os autores, o desenvolvimento destas zonas de cisalhamento se prolongou após a implantação dos terrenos alóctones, chegando a afeta-los, cortando a superfície de cavalgamento.

Figura 4.1: Mapa geológico estrutural da região da Serra do Chapadão, apresentado por Morales et al. (1996). Cobertura sedimentar: 1. Formação Aquidauana, 2. Silexitos. Grupo Araxá: 3. xistos e paragnaisses, 4. quartzitos. Seqüência Carmo do Rio Claro: 5. filitos, 6. filitos carbonáticos e mármores, 7. quartzitos, xistos, gnaisses, mármores e xistos ultramáficos. Seqüência Metavulvano- Sedimentar Morro do Ferro: 8. hematita quartzitos, 9. xistos máficos e ultramáficos. Complexo Barbacena: 10. gnaisses tonalíticos. 11. Foliação principal do embasamento (inclinada e vertical), 12. foliação principal nos metassedimentos (bandamento e xistosidade), 13. xistosidade, 14. foliação cataclástica, 15. lineação mineral e de estiramento, 16. eixo de dobra intrafolial – lineação de interseção, 17. eixo de dobra tardia, 18. transporte por cavalgamento, 19. transporte lateral sinistral, 20. superfície principal de cavalgamento. Extraído de Morales et al. (1996).

Figura 4.2: Estereogramas referentes à foliação principal presente nas rochas do Domínio Cratônico. A) Todas as atitudes medidas. B) Atitudes medidas próximo à superfície de cavalgamento (aproximadamente 2 Km). C) Atitudes medidas distante da superfície de cavalgamento.

Figura 4.3: Estereogramas referentes à lineação presente nas rochas do Domínio Cratônico. A) Todas as atitudes medidas. B) Atitudes medidas próximo à superfície de cavalgamento (aproximadamente 2 Km). C) Atitudes medidas distante da superfície de cavalgamento.