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2 Caracterização das Perturbações

2.2 Atraso Global do Desenvolvimento

3.1.1 Contextos de Intervenção

A intervenção psicomotora pode realizar-se em diversos contextos diferenciados, de forma a estimular o seu envolvimento, num contexto de exploração (Freitas e Silva, 2010), pelo que, e na sequência dos contextos de intervenção da estagiária, serão abordados de seguida.

3.1.1.1 Atividade Motora Adaptada

A atividade motora adaptada (AMA) objetiva que os indivíduos consigam atingir conforto, segurança e sucesso num envolvimento diferente, estimulando a sua participação ativa no processo reabilitativo (Freitas e Silva, 2010), quer seja realizada com o objetivo educativo, recreativo, competitivo ou terapêutico (Marques, Castro e Silva, 2001). É através da AMA que os indivíduos ganham a oportunidade de vivenciar experiências sensoriomotoras e sociais (Cardoso, 2011), através de exigências adaptadas ao nível de desempenho do indivíduo em questão (Rodrigues, 2006). A atividade motora adaptada baseia-se, tal como o próprio nome indicia, no movimento e nas competências motoras desde a tonicidade até às praxias globais e finas (Almeida, 2013), pelo que se depreende o contributo que a estimulação dos fatores psicomotores pode deter no seio do desenvolvimento das pessoas (Fonseca, 2010) com necessidades de apoios (Santos e Morato, 2007). A AMA proporciona aos indivíduos, as condições necessárias para que se estimule o seu desenvolvimento, recorrendo ao lúdico (Almeida, 2013; Cardoso, 2011), e considerando as capacidades, necessidades e interesses de cada pessoa (Moreira, 2004). Esta prática apresenta inúmeros benefícios, tais como: melhoria na autoestima e autoconceito, desenvolvimento da autoconfiança na realização das atividades da vida diária, participação na reabilitação a nível físico e da aptidão física (Cardoso, 2011; Lotan, Isakov, Kessel e Merrick, 2004), fortalecimento de ossos e articulações, melhorias a nível da força e tónus muscular (Munster e Pereira, 2012), melhorias no âmbito psicológico e social (Cardoso, 2011), melhorias na saúde mental (Munster e Pereira, 2012), ganhos de habilidades motoras e a promoção do equilíbrio emocional (Freitas e Silva, 2010), desenvolvimento de competências psicomotoras (Munster e Pereira, 2012) e melhorias na QdV (Cardoso, 2011).

Nos últimos anos tem-se verificado uma maior procura deste tipo de intervenção, para as pessoas com DID, promovendo a sua reabilitação e integração social (Cardoso, 2011). Ramos, Sousa, Estevens, Gomes e Santos (2017) reforçam a importância e relevância deste tipo de intervenção quando avaliaram as competências motoras, sensoriais e cognitivas de sete adultos com DID com mais de 40 anos, e constataram resultados positivos, em quase todos os itens, após a implementação de um programa elaborado para o efeito. Deve ter-se atenção quando se escolhe o tipo de atividade disponibilizada, considerando-se o perfil funcional do indivíduo, privilegiando a inclusão (Instituto Português do Desporto e da Juventude, 2016), e procurando intervir de forma individualizada e especializada (Silva, 2012), mesmo que se trate de desportos coletivos.

A atividade motora adaptada pode ser realizada em diversas modalidades, sendo uma das mais comuns as atividades adaptadas no meio aquático.

3.1.1.2 Psicomotricidade no Meio Aquático

Na atualidade, a intervenção psicomotora é reconhecida, em diversos contextos e domínios, principalmente na área da saúde. É também a nível do meio aquático que esta tem vindo a ser uma aposta (e.g.: Jardim e Santos, 2016; Leitão e Santos, 2017), principalmente para a primeira infância (Matias, 2010), pois possibilita a educação e reabilitação psicomotora (Freitas e Silva, 2010).

O meio aquático é considerado um “ambiente facilitador” e um “envelope corporal”, proporcionando ao indivíduo a realização de atividades de forma autónoma e participativa, i.e., ser um agente ativo, utilizando os próprios meios, recursos e estratégias (Candeloro e Caromano, 2007; Filho, 2003). Segundo Filho e Andrade (2007), o facto de a água ser aquecida provoca relaxamento muscular, proximidade corporal e aconchego. O meio aquático assume-se como um ambiente relacional, onde através do jogo e do movimento, se possibilita a exploração psicomotor estruturante (Martins, 2010; Teixeira-Arroyo e Oliveira, 2007).

As evidências dos seus efeitos a nível psicomotor, cognitivo, fisiológico, sensorial, social, entre outros, encontram-se bem documentadas na literatura (e.g.: Biasoli e Machado, 2006). De forma resumida, a literatura (Biasoli e Machado, 2006; Candeloro e Caromano, 2007; Filho, 2003; Martins, 2010; Matias, 2005; Varela, Duarte, Sereno, Dias e Pereira, 2000) aponta: o controlo respiratório que serve de base para as restantes aquisições, a diminuição da tonicidade e o domínio do equilíbrio (vertical e horizontal) para a deslocação e movimento em vários planos, a estimulação da lateralização e da

propulsão, a estimulação das praxias (global e fina), estimulação das funções executivas (e.g.: atenção, concentração e memória), relaxação muscular, controlo socio-emocional, optimização das capacidades adaptativas, entre outras. Além disso, programas psicomotores neste contexto parece deter melhorias ao nível da qualidade de vida (Jardim e Santos, 2016) e de competências adaptativas (Leitão e Santos, 2017).

O meio aquático fornece ao indivíduo a possibilidade de experienciar novas vivências, a nível da perceção sensorial e da atividade motora. Desta forma, vêem-se estimulados e desenvolvidos todos os fatores psicomotores (Teixeira-Arroyo e Oliveira, 2007). Por outro lado, este meio facilita ainda a realização de movimentos, o que pode ajudar na melhoria da perceção corporal, bem como das suas capacidades e potencialidades (Teixeira-Arroyo e Oliveira, 2007).

O processo de aprendizagem da natação deve seguir uma sequência evolutiva lógica, desde o controlo de alguns comportamentos de medo e receio, passando pelo domínio do espaço e do meio pela equilibração (vertical e horizontal) e pelo controlo da respiração, que permitirão, posteriormente, a deslocação na água (Carvalho, 1991) e o movimento proficente (Colomina, Sánchez, Valdivielso, Ortiz e Contreras, 2007), pelo que este meio parece incidir na organização sensoriomotora adaptativa (Matias, 2005). Acresce ainda a necessidade da atenção para a relação entre a pessoa e o mediatizador (neste caso, o psicomotricista), que deve levar em consideração as características da pessoa, apostando na aprendizagem de competências aquáticas, adequando as atividades às características da pessoa – i.e., idade cronológica, capacidades, necessidades de apoios, objetivos e expectativas, em contexto lúdico e otimizando o tempo útil das sessões (Jardim e Santos, 2016). Para isto, é importante disponibilizar materiais que auxiliem o indivíduo a exteriorizar, espontaneidade, a sua expressividade motora (Filho, 2003). O princípio pedagógico pelo qual a intervenção psicomotora no meio aquático se rege, tem por base a atividade lúdica, bem como as experiências simbólicas (Filho e Andrade, 2007).

No presente contexto de intervenção, foi beneficiada a reaprendizagem postural e psicomotora, através do aumento da amplitude do andar, correr, saltar e rodar, bem como a estimulação do desenvolvimento do jogo simbólico, da comunicação verbal e não-verbal, experiências lúdicas e conhecimento corporal.

Esta primeira parte de cariz mais teórico permitiu o aprofundamento do conhecimento que auxiliou a reflexão sobre a prática da estagiária ao longo do ano letivo, que será apresentada então no próximo capítulo.

Realização da Prática

Profissional

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