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3.2 – OS CONTEXTOS DE PRODUÇÃO DA PROPOSTA DA AGENDA 21 ESCOLAR: O CONTEXTO DE INFLUÊNCIA E DE PRODUÇÃO DO TEXTO

O ENCAMINHAMENTO DA AGENDA 21 ESCOLAR

3.2 – OS CONTEXTOS DE PRODUÇÃO DA PROPOSTA DA AGENDA 21 ESCOLAR: O CONTEXTO DE INFLUÊNCIA E DE PRODUÇÃO DO TEXTO

Para tratar do encaminhamento dado à proposta da Agenda 21 Escolar, nos pautaremos em seus contextos de produção (BALL, B.; BOWE, R., 1998 apud MAINARDES, 2006. LOPES; MACEDO, 2006).

Sendo assim, partimos da sua formulação no contexto de influência. Lambertucci (2008), ao analisar diversos materiais desenvolvidos pelo governo federal e do estado de São Paulo e, entre eles os dois documentos vinculados à proposta da Agenda 21 Escolar analisados nesta pesquisa – “Formando COM-VIDA: Construindo Agenda 21 na Escola” (MMA/MEC) e “Água Hoje e Sempre: Consumo Sustentável” (SEE/SP), concluiu que “[...] os mesmos devem ser entendidos como resultado das políticas públicas elaboradas pelo Estado visando à disseminação da Educação Ambiental nas Escolas. [...]”(p. 173). De forma mais específica, a referida pesquisadora assinala em sua investigação, que no caso destes documentos, as políticas sob as quais foram elaborados apresentam-se vinculadas aos Acordos Internacionais, como segue:

[...] A pesquisa revelou que estas políticas, presentes no Estado brasileiro desde a década de 1970, apresentam-se, de maneira geral, vinculadas aos Acordos Internacionais dos quais o Brasil é signatário. Foi possível destacar algumas Conferências, Programas e publicações realizadas no âmbito internacional que constatei contribuíram e inspiraram a elaboração de políticas voltadas para o enraizamento da Educação Ambiental no Brasil.

A pesquisa revelou também que a partir destes grandes eventos o Estado brasileiro foi criando leis e programas com o objetivo de cumprir as metas propostas pelos ‘Acordos Internacionais’ elaborados nestes grandes eventos. [...] (LAMBERTUCCI, 2008 p. 173 – grifo nosso).

Nesse sentido, embora a Agenda 21 Global tenha se configurado como um soft-law, ou seja, não tem força de lei e, portanto, não cria vínculos legais para os

países que a ratificaram (FORMIS, 2006), podemos dizer que suas metas foram definitivas no contexto de influência da elaboração da proposta da Agenda 21 Escolar. Conforme já apresentamos, a Agenda 21 Global foi um dos documentos elaborados na II CNUMAD, realizada em junho de 1992, no Rio de Janeiro (Brasil). Nos 40 capítulos desse documento estão expressos compromissos que 179 países (entre eles o Brasil) assumiram de construir um novo modelo de desenvolvimento econômico, social e ambientalmente sustentável. Um desses compromissos foi o de criar as Agendas 21 Nacionais e propor o desenvolvimento das Agendas 21 Locais. O Brasil desenvolveu sua Agenda 21, em 2002, com 21 objetivos. O décimo terceiro objetivo da Agenda 21 Brasileira é promover a Agenda 21 Local e o desenvolvimento integrado e sustentável, no qual consta a recomendação da instituição da Agenda 21 nas escolas (BRASIL, 2004).

Já no que se refere aocontexto de produção do texto, pudemos identificar, no estado de São Paulo, uma situação bastante instigante na elaboração da proposta da Agenda 21 Escolar (que inclusive nos motivou a investigá-la). Tivemos a elaboração de dois documentos – “Formando COM-VIDA: Construindo Agenda 21 na Escola” (MMA/MEC) e “Água Hoje e Sempre: Consumo Sustentável” (SEE/SP) – voltados para a implementação de uma proposta educativa “comum” (Agenda 21 Escolar), em um mesmo período (2004), por duas instâncias diferentes de poder (federal e estadual), e tais documentos tiveram “tratamento” praticamente independentes.

É importante ressaltar novamente, a existência de um terceiro documento, mais antigo, voltado para a implementação da proposta da Agenda 21 Escolar: o material “Agenda Ambiental na Escola” (MEC/MMA). Tal documento, de instância federal, é retomado no documento estadual (Água Hoje e Sempre: Consumo Sustentável), mas não o é no documento federal (Formando COM-VIDA: Construindo a Agenda 21 na Escola). Também é importante salientar mais uma vez, que esse terceiro documento (Agenda Ambiental na Escola), na verdade o primeiro da “série”, foi elaborado em 2001, durante a segunda gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (membro do PSDB). Já o documento federal mais recente (Formando COM-VIDA: Construindo Agenda 21 na Escola) foi elaborado em 2004, durante a primeira gestão do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (membro do PT). O documento estadual (Água Hoje e Sempre: Consumo Sustentável), por sua vez, que menciona o documento federal mais antigo (Agenda

Ambiental na Escola), foi elaborado em 2004, durante o governo de Geraldo Alckmin (membro do PSDB).

Tais constatações, ao que tudo indica, parecem evidenciar um “conflito político-partidário” presente neste contexto de produção da proposta em questão. Seja por concepções diferentes quanto aos problemas e seu encaminhamento, seja simplesmente pela desconsideração do que é instituído pelo partido político alheio, tais conflitos constituem verdadeiros entraves para a continuidade de propostas educativas ou mesmo de outras áreas da ação governamental, na troca de diferentes partidos.

Em nossa entrevista com a Pcenp, podemos dizer que esses conflitos se manifestam em seu depoimento, quando esta trata da motivação da CENP para inserir a Agenda 21 Escolar no documento “Água Hoje e Sempre: Consumo Sustentável”. É o que se percebe nos trechos de sua entrevista a seguir:

A [proposta da] Agenda Ambiental, não surge com a questão do COM-VIDAS [referindo-se ao documento federal recente]. A Agenda Ambiental Escolar, ela já vem do governo anterior. Então, no governo anterior, do Fernando Henrique com o Paulo, o Paulo Renato, no Ministério do Meio Ambiente, em que há então uma articulação do Ministério [Meio Ambiente] com o MEC [...] que continua, que a política saiu, a formulação saiu daí. [...]

Havia um programa que era a “Agenda Ambiental Escolar” [referindo-se ao documento federal antigo] E nós usamos essa mesma proposta neste material. Só que a gente destacou a questão da água, demos uma introdução, tal, tal, tal, né? [...] Quando foi em 2005, nós também, mesmo em 2004 fizemos juntos uma formação com o MEC. Embora eles tenham uma outra visão de EA, tá? [...] O foco [do MEC] é a escola, porque [esta] atinge a comunidade. Não é a formação do professor, do ponto de vista de orientá-lo, ajudá-lo a ver, a partir da sua disciplina, as outras conexões com os outros saberes. [...] É mais informação, é o que interessa, para o MEC atual, é mobilização da sociedade. [...]

Então, é muito mais mobilização da sociedade. Empurrar a sociedade, forçando para que as escolas e a instituição pública educacional respondam às diretrizes da política nacional, tá? Então, eles [MEC] abandonam os PCNs. Mesmo porque era como se não tivesse identidade o atual governo, né? Mas a identidade dele é mobilização, tanto que toda a mobilização inicial e transferência de verba, no sentido, para que eles atuem com os COM-VIDAS, é com a sociedade civil, é com ONG, né? [...]

Mas eles [referindo-se ao terceiro setor] não respondem às necessidades dos professores, do diretor, do professor coordenador, não é? O discurso não o ajuda na formulação do fazer escolar, na formação propriamente dita, entendeu?

Podemos perceber que Pcenpestabelece uma distinção no que se refere às concepções de trabalho a ser realizado, ou seja, aos objetivos das diferentes instâncias de poder. Segundo a referida entrevistada, enquanto a CENP (SEE/SP) objetiva formar/orientar o corpo docente da rede estadual paulista, o MEC/MMA objetiva mobilizar a sociedade para que esta responda às diretrizes da política nacional. Tal distinção, de certa forma, foi identificada durante a análise dos documentos vinculados à proposta da Agenda 21 Escolar por nós realizada.

Cabe aqui salientar ainda que ao perguntarmos àPcenp sobre o tratamento dado pela SEE/SP ao documento federal “Formando COM-VIDA: Construindo Agenda 21 na Escola”, essa professora deixou claro que, na sua opinião, “uma proposta não invalida a outra”, que “elas não são excludentes”, sem expressar, no entanto, a intenção ou existência de encaminhamentos para articulá-los junto às escolas (esse depoimento daPcenpfoi registrado em nosso caderno de campo).

3.3 – OS CONTEXTOS DE PRODUÇÃO DA PROPOSTA DA AGENDA 21 ESCOLAR: O