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CAPITULO 2: ORDEM PATRIARCAL E DESIGUALDADES DE GÊNERO NAS RELAÇOES

2.2. Contextualização do gênero

A questão em torno do sexo nas relações sociais significa considerar os aspectos físicos e biológicos do “macho” e da “fêmea”. Consequentemente, a partir das diferenças sexuais a sociedade construiu os papéis de homens e mulheres, ou seja, o que é determinado ao masculino e ao feminino.

A noção geral na qual se distingue sexo de gênero consiste em que o primeiro se refere ao biológico da espécie humana, enquanto o segundo acomoda a relação com os significados que cada sociedade atribui a tal fato, pode-se dizer que o gênero é o sexo socialmente construído, Kergoat (2003, p.55) ressalta:

36 Classes sociais: Grandes conjuntos de seres humanos que compartilham um mesmo modo de vida

e uma mesma condição de existência. Diferenciam-se, enfrentam-se entre si, constroem sua própria identidade social e se definem tanto pela propriedade ou não dos meios de produção, como pelos seus interesses, sua cultura política, sua experiência de luta, suas tradições e sua consciência de classe (de si mesmos e de seus inimigos). As classes exploradoras vivem às custas das classes exploradas, as domina e as oprimem, por isso vivem em luta e conflito permanente ao longo da história. Néstor Kohan [2003? ]. p, 2.

As condições em que vivem homens e mulheres não são produtos de um destino biológico, mas, antes de tudo, construções sociais. Homens e mulheres não são uma coleção – ou duas coleções – de indivíduos biologicamente distintos. Eles formam dois grupos sociais que estão engajados em uma relação social específica: as relações sociais de sexo. Estas, como todas as relações sociais, têm uma base material, no caso o trabalho, e se exprimem através da divisão social do trabalho entre os sexos, chama a, de maneira concisa, divisão sexual do trabalho.

O conceito de gênero surgiu para explicar as relações de dominação- exploração entre homens e mulheres a partir da percepção que o determinismo biológico marcou as mulheres fortalecendo as relações de poder e hierarquia que permeia na contemporaneidade. Para Saffioti (2004)), o conceito de “gênero” é utilizado para dar conta das relações patriarcais, assim como o conceito de “classe” é para dar conta das relações capitalista.

O uso simultâneo dos conceitos de gênero e patriarcado, já que um é genérico e o outro especifico dos últimos seis ou sete milênios, o primeiro cobrindo toda a história e o segundo qualificando o primeiro ou, por economia, simplesmente a expressão patriarcado mitigado ou, ainda, meramente patriarcado (SAFFIOTI, 2004. p, 132).

A autora discorre que o conceito de patriarcado já revela o fenômeno muito antes do conceito de gênero ser traçado, trata-se de um sistema de dominação que se refere a milênios da história e ao ser determinado explica as desigualdades de gêneros. Saffioti (2004) reitera que se deve ficar atento à conceituação de gênero, visto que este, distrai a atenção do poder do patriarca “neutralizando” a exploração-

dominação masculina pelas diferenças biológicas.

Porém Machado (2000) entende que o conceito de gênero não implica deixar de lado o de patriarcado, e sim de abrir a possibilidade de novas indagações, muitas vezes não feitas porque o uso exclusivo de “patriarcado” parece conter já, de uma só vez, todo um conjunto de relações como são e porque são.

“O conceito de “relações de gênero” não veio substituir o de “patriarcado”, mas sim, o de “condições sociais da diferença sexual”, o de “relações

sociais de sexo”, e o de “relações entre homens e mulheres””

(MACHADO, 2000. p, 4,grifo do autor)

Ainda sobre a visão da feminista, ela considera que:

Gênero é uma categoria engendrada para se referir ao caráter fundante da construção cultural das diferenças sexuais, a tal ponto que as definições sociais das diferenças sexuais é que são interpretadas a partir das definições culturais de gênero. Gênero é assim uma categoria classificatória que, em princípio, pode metodologicamente ser o ponto de partida para desvendar as mais diferentes e diversas formas de as sociedades estabelecerem as

relações sociais entre os sexos e circunscreverem cosmologicamente a pertinência da classificação de gênero (MACHADO, 2000. p, 5).

A compreensão das relações de gênero importa que sejam entendidas como uma construção social baseada na diferenciação biológica dos sexos, expressa através de relações de poder e subordinação, representada pela normatização de funções e atividades e desse modo a divisão sexual do trabalho que se perpetua da ordem patriarcal e capitalista.

A sociedade capitalista burguesa apoderou-se dos fundamentos do patriarcado e com ele toda a tradição sexistas, no qual vigora o pensamento em que mulheres não podem exercer os mesmos trabalhos que homens por terem condições físicas inferiores, e que por tais causas seu trabalho é de menor valor, remetendo ao caráter construído socialmente das diferenças entre homens e mulheres. Como já abordado aqui no capítulo anterior, a normatização de papeis na organização familiar, importa salientar que as justificativas dadas pelas diferenças de tarefas foram atribuídas as condições físicas de cada sexo por cerca de 60% dos entrevistados como poderá ser evidenciado no próximo item que aborda sobre a existência de profissões para homens e mulheres.

Portanto, são determinações importantes nessa concepção das relações de gênero: O gênero é definições construídas - o que é do homem e o que é da mulher; Sempre envolve relações hierarquizadas de poder - as atribuições do homem tem mais valor; e o gênero é mutável e varia conforme a cultura e diferentes tempos históricos de uma mesma sociedade - às mulheres já ocuparam posições de privilégios em tempo longínquos.

2.3. As desigualdades de gênero para compreensão da divisão sexual do

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