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Contextualizações da abordagem metodológica e da estratégia de pesquisa

3. METODOLOGIA

3.1. Contextualizações da abordagem metodológica e da estratégia de pesquisa

Devido às preocupações da academia referentes à pesquisa como área de ensino, surgiram debates e questionamentos que traziam a dicotomia entre a pesquisa qualitativa e a pesquisa quantitativa, sendo a primeira, alvo de críticas sobre a falta de rigor. Ainda existem críticas que são procedentes sobre estudos com métodos qualitativos, pois, “[...] as deficiências de tais estudos decorrem em sua maioria, não de limitações específicas dos métodos, mas sim de seu uso inadequado. [...]”. (VIEIRA, 2006, p. 14).

Com o evidente aumento da complexidade no campo dos estudos organizacionais e do fenômeno administrativo como fato social (VIEIRA, 2006), passou então a ser defendido o argumento a favor das conversações entre teorias com origens epistemológicas distintas. Logo, diante do objetivo desta pesquisa, sua formatação metodológica está apoiada na abordagem qualitativa, sendo um estudo teórico-empírico, de natureza exploratória-descritiva, que utiliza a fenomenologia como método de pesquisa.

Com relação à abordagem qualitativa, destaca-se que sua evolução foi marcada por rupturas, pois contempla tensões teóricas subjacentes e inovadoras que a deixam distante de outras teorias,

práticas e estratégias de pesquisa. Entretanto, Chizzotti (2008) afirmou que os pesquisadores que optam pela pesquisa qualitativa reconhecem que a experiência humana não pode ser confinada aos métodos que se ocupam do estabelecimento de leis gerais ou do estudo dos fenômenos recorrentes - conhecidos como métodos nomotéticos – e sim, é uma decisão pela descoberta de novas vias investigativas sem pretender com isso, furtarem-se ao rigor e à objetividade.

A pesquisa qualitativa tem um potencial significante e Mattos (2006) destacou que não há porque os acadêmicos ficarem em busca de generalizações apenas com a finalidade de afirmar um superior status metodológico que foi atribuído inicialmente à abordagem positivista, já que o mais importante é a maximização do capital científico. Contudo, algumas escolhas são essenciais na pesquisa qualitativa. Tal afirmação consiste em chamar a atenção para a escolha correta de métodos, teorias oportunas, reconhecimento e análise de diferentes perspectivas, na variedade de abordagens disponíveis e nas reflexões do pesquisador a respeito de sua pesquisa. Nesse contexto, convém mencionar a afirmação de Flick (2004, p. 28) de que “a pesquisa qualitativa é orientada para a análise de casos concretos em sua particularidade temporal e local, partindo das expressões e atividades das pessoas em seus contextos locais”. A fenomenologia, inserida no método de pesquisa qualitativa, teve sua origem no campo da filosofia. Silva (2010) e Gil (2009) consensaram que o pesquisador é orientado para o fenômeno que está sendo investigado e, em se tratando de estudos organizacionais, a fenomenologia pode ser utilizada na compreensão de como o mundo é vivido pelas pessoas e visa ao esclarecimento de aspectos referentes à natureza da experiência vivida. À medida que o pesquisador considera o fenômeno como um caso, ele pode ler e extrair, de cada fonte de evidência, assertivas significativas e, após organizá-las e integrá-las, pode chegar à elaboração da estrutura essencial do fenômeno, e assim, pode-se dizer que se tem um “estudo de caso fenomenológico”. (GIL, 2009, p. 96).

Desse modo, no que diz respeito ao desenvolvimento desta pesquisa, foi utilizada a estratégia de estudo de caso, pois ela possibilita a análise de um fenômeno que ocorre em um determinado contexto (YIN, 2005), principalmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos. Nesse sentido, o estudo de caso é a estratégia preferida quando a pergunta de pesquisa proposta começa em “como” ou “por que”, o que justifica o alinhamento entre a pergunta proposta nesta pesquisa com a estratégia em referência.

No entanto, os casos devem ser selecionados e estudados de maneira que seja possível encontrar resultados válidos que permitam a replicação dos mesmos procedimentos metodológicos com cada um dos casos (YIN, 2005), ou mesmo, que seja possível fazer comparações com casos que sejam contrastantes. Podem ser utilizados inclusive para atingir, descrever, testar e até gerar teorias, conforme afirmações de Eisenhardt (1989). O caso selecionado e estudado nesta pesquisa foi o filme comercial/ artístico ‘O discurso do Rei’ (The King’s speech), dirigido por Tom Hooper, produzido pela Paris filmes em 2011.

Os critérios de escolha para o uso desse filme estão relacionados a alguns fatores: possibilidade de trabalhar o processo de comunicação; ter sido baseado em dados reais, apesar de não ser condição necessária; desejo da pesquisadora em trabalhar um discurso pela análise do discurso; possibilidade de triangulação das fontes de evidências; devido à proposição metodológica – da abordagem qualitativa e do método fenomenológico – ser compatível com coleta e análise de dados e; devido à oportunidade de realizar simulações em administração, fatores esses que permitiram à pesquisadora um aprofundamento nas abordagens envolvidas nesta pesquisa. Reitera-se a importância de salientar que os filmes fornecem componentes verbais e não verbais dos eventos. Os filmes comerciais/artísticos apresentam como vantagem – dentre diversas outras já destacadas na fundamentação teórica desta pesquisa – uma maneira diferente de contar algo/ uma história. O filme aqui analisado foi baseado em fatos verídicos e, portanto, possíveis, embora essa não tenha sido uma condição para a seleção do filme. Seu uso torna-se possível e válido em função da possibilidade do acesso repetido e sem limites às cenas, visando à minimização das inferências pessoais de quem utiliza a linguagem fílmica como ferramenta, o que justifica na prática sua aplicação (FLICK, 2004; LEITE; LEITE, 2007, 2010). As autoras Vanoye e Goliot-Lèté (1994) argumentaram que a linguagem fílmica possibilita a apreensão e a aprendizagem a partir da sua observação sistemática, afirmação essa que reforça a contribuição desta pesquisa à comunidade acadêmica e organizacional.

Tendo sido apresentados os argumentos do uso do estudo de caso nesta pesquisa, contextualizando-o na linguagem fílmica, convêm mencionar a natureza dos objetivos deste projeto. Trata-se de um estudo de caráter exploratório e descritivo. O estudo exploratório tende a proporcionar maior familiaridade do pesquisador com o problema e viabiliza o aprimoramento de ideias e até a descoberta de intuições (GIL, 2007). Esse mesmo autor salientou que, por ser flexível em seu planejamento, o estudo exploratório possibilita a consideração de vários aspectos

relacionados ao fenômeno estudado e envolve o levantamento bibliográfico, estudo de caso e a análise de exemplos que, por sua vez, possibilitam a compreensão do pesquisador, dentre outras características. Vergara (2000) destacou que a investigação exploratória é realizada quando há pouco conhecimento acumulado e sistematizado e que por sua natureza de sondagem, as hipóteses poderão surgir durante ou ao final da pesquisa.

Quanto ao caráter descritivo, a mesma autora (2000, p. 47) afirmou que esse tipo de pesquisa “não tem compromisso de explicar os fenômenos que descreve, embora sirva de base para tal explicação”. O autor Gil (2007) esclareceu que a pesquisa descritiva expõe características de determinada população e tem o objetivo de descrever o fenômeno escolhido. Permite a realização de vários estudos e tem por característica mais expressiva a utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, a exemplo, a observação sistemática.

Foi adotada nesta pesquisa, inicialmente, a abordagem dedutiva. As autoras Marconi e Lakatos (2005, p. 46) afirmaram que a dedução “é uma argumentação que torna explícitas verdades contidas em verdades universais. [...]” Reforça-se que é importante elaborar uma fundamentação teórica com uma literatura relacionada ao tema proposto, para com isso, traçar uma fundamentação dos principais autores nacionais e internacionais sobre linguagem fílmica, comunicação, metáforas e o sentido dos discursos nas organizações. Posteriormente, em estudos futuros com o mesmo filme, poderá ser adotada a abordagem indutiva, com o intuito de tirar proveito de novas visões possíveis a partir de uma teoria empiricamente válida, conforme recomendações de Eisenhardt (1989); Marconi e Lakatos (2005); Cervo, Bervian e Da Silva (2007).

Complementa-se com as afirmações feitas por Cervo, Bervian e Da Silva (2007), baseados em consultas feitas à obra de Euryalo Cannabrava, que a dedução e a indução são processos que se complementam e que na prática, recorrer a ambos os instrumentos, permite ao pesquisador demonstrar a verdade dos pressupostos submetidos à análise.

Não obstante, o ato de investigação e pesquisa em ciências sociais aplicadas – especificamente a pesquisa qualitativa em Administração – demanda algumas escolhas que refletem na maneira que o pesquisador vai proceder para chegar a uma conclusão em sua pesquisa. Torna-se importante para o pesquisador a escolha de um paradigma que norteie suas ações, com relação à escolha do objeto de pesquisa, problema, metodologia e fundamentação

teórica. Caldas (2007) descreveu que ao utilizar um paradigma, o pesquisador pode desvendar pressuposições que caracterizam um modo de ver o mundo e que isso lhe permite trazer e fazer associações e análises de teorias distintas, pois trata de uma forma de ver a realidade. Dada a importância de tal escolha, para esta pesquisa foi adotado o aporte do paradigma interpretativista como modo de visão de realidade, pois há a concepção de que a realidade social não existe em um sentido concreto, haja vista que ela é um produto da experiência dos indivíduos, tanto subjetiva quanto intersubjetiva.

O mesmo autor (2007, p. 16) afirmou que “[...] a sociedade é entendida a partir do ponto de vista do participante em ação, em vez do observador”. Cabe então ao pesquisador teórico social interpretativista, tentar compreender o processo de surgimento, sustentação e modificação das múltiplas realidades compartilhadas. Esse autor baseou-se também no pressuposto de que há uma ordem e um padrão no mundo social, porém, criticou outras correntes paradigmáticas que tentam estabelecer uma ciência social objetiva, afirmando que tal objetividade pode ser intangível. Ainda salientou: “[...] A ciência é considerada uma rede de jogos de linguagem, baseada em grupos de conceitos e regras subjetivamente determinados, que os praticantes da ciência inventam e seguem. [...]” (CALDAS, 2007, p. 16). Tendo apresentado o contexto de estudo desta pesquisa, a seguir, estão apresentadas as estratégias escolhidas para coleta de dados.