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Contextualizando o campo

No documento marciamarianasantosdeoliveira (páginas 85-89)

4. A PESQUISA DE CAMPO: DESCOBERTAS E DESAFIOS

4.1. Contextualizando o campo

A Escola Municipal Bonfim iniciou suas atividades no ano de 1989, em um prédio cedido pela Igreja Santa Rita de Cássia, no Bairro Bonfim. Em 1991, a escola passou a funcionar em um prédio alugado pela Prefeitura Municipal de Juiz de Fora, localizado na Rua Américo Lobo, nº 1621, no Bairro Bairu, pois procurava atender à crescente demanda da população dos bairros adjacentes ao Manoel Honório.

Com a necessidade de expansão por atendimento, no ano de 2006, a prefeitura municipal alugou mais um espaço, denominado Prédio II, para o funcionamento de seis novas turmas. Esse espaço encontra-se situado na Rua Barão do Retiro, nº 148, no Bairro Bonfim.

As oficinas de leitura foram realizadas em duas turmas dessa escola, uma do 2º período da Educação Infantil, que fica no prédio II, e outra do 1º ano do Ensino Fundamental, no prédio I. Como o foco desta pesquisa se coloca nas práticas de leitura literária com as quais as crianças da Educação Infantil se envolvem e para as quais produzem sentidos, as análises serão feitas com base nas oficinas realizadas no 2º período da E.I e, por isso, a descrição da escola se restringirá ao prédio II.

O prédio II, localizado na Rua Barão do Retiro, dispõe de três salas de aula, que são organizadas para atender às crianças em dois turnos. Esse prédio possui peculiaridades que o distinguem de um espaço que seria o mais adequado ao atendimento de crianças da Educação Infantil: é um prédio de apartamentos, residencial,

20O grupo de pesquisa LINFE, no ano de 2010, iniciou, na E. M. Bonfim, uma pesquisa de caráter

longitudinal denominada “Práticas de leitura na Educação infantil e na transição ao Ensino Fundamental”, que teve duração de dois anos. Essa pesquisa tinha por objetivo compreender as práticas de leitura desenvolvidas na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Como essa escola atende somente até o 1º ano do E.F, nós prosseguimos o estudo em outra escola, também participante da pesquisa, que atende à E.I e sos anos iniciais do E.F. Esse estudo culminou na realização de um novo projeto de pesquisa denominado “Práticas de leitura nos anos iniciais do Ensino Fundamental.”.Outros projetos que se vincularam ao grupo LINFE também foram desenvolvidos na E. M. Bonfim, como “Possibilidades de uma produção fílmica com crianças da Educação Infantil”, financiado pelo Fundo de Apoio à Pesquisa na Educação Básica – FAPEB.

cujos três primeiros andares foram alugados pela Prefeitura para o funcionamento da escola. No último andar, residem famílias, que atravessam o espaço da escola em seus deslocamentos diários.

A garagem do prédio foi adaptada e ali funciona um espaço coberto para recreação e prática de Educação Física. Nos outros andares, funcionam três salas de aula, almoxarifado, cozinha, refeitório, sala de TV e banheiros.

Vale ressaltar que não há, na E. M. Bonfim, espaços dedicados especificamente à leitura, pois a escola não conta, em sua infraestrutura, com bibliotecas e/ou salas de leitura. Diante disso, as práticas de leitura para/com as crianças ficam restritas ao espaço da sala de atividades, que são organizadas de forma a favorecer o trabalho em grupo, incentivando as crianças a se organizarem de acordo com seus interesses. A decoração da escola busca valorizar, nas paredes e em outros espaços, a produção das crianças a partir da exposição de seus desenhos e trabalhos feitos na escola.

Apesar de observar que a equipe pedagógica busca valorizar a autonomia das crianças, é preciso considerar que existem cuidados necessários com os deslocamentos e as brincadeiras das crianças nesse espaço, dadas suas limitações estruturais.

Já é esboçada, no Projeto Político Pedagógico da escola, a preocupação dos profissionais com relação à segurança das crianças no uso do espaço físico, especialmente no prédio II da escola, por apresentar um número grande de escadas, piso irregular e escorregadio, espaços coletivos comuns às crianças e aos moradores do prédio, entre outras situações que muitas vezes não possibilitam encorajar às crianças a fazerem uso desse espaço com a independência e a autonomia desejáveis.

No que concerne à brincadeira, fica evidente que os profissionais da escola entendem ser esta uma importante atividade para formação cultural das crianças: todos os espaços, incluindo as salas de aula, são legítimos para a realização de brincadeiras com as crianças.

A escola funciona em dois turnos: manhã e tarde, em regime de tempo parcial. No turno da manhã, são atendidas duas turmas do 1º ano do Ensino Fundamental e uma turma do 2º período. As crianças chegam à escola por volta das 7h da manhã e são liberadas às 11h. No turno da tarde, são atendidas uma turma de 1º período e duas turmas de 2º período. As atividades se iniciam às 13h e terminam às 17h.

Atualmente, a escola conta com um quadro de pessoal composto por uma diretora, uma vice-diretora, uma coordenadora pedagógica para o turno da manhã e uma

para o turno da tarde, uma secretária, doze professoras referência, quatro professoras de complementação de carga-horária21 (projeto de Artes), duas professoras de Educação Física, duas professoras de Música, duas cozinheiras e duas auxiliares de serviços gerais. Esses profissionais desenvolvem seus trabalhos nos prédios I e II da escola, nos seguintes turnos e horários: manhã de 7h às 11h e tarde de 13h às 17h22.

A Escola Municipal Bonfim vem buscando, há alguns anos, a aquisição de um prédio próprio, com uma estrutura mais adequada ao atendimento das especificidades do trabalho com crianças pequenas23. Como a demanda por novas vagas na escola é crescente, essa expansão se faz urgente para o atendimento integral das necessidades da comunidade. Por se localizarem uma região mais central da cidade e ser local de passagem para diversas comunidades, a E. M. Bonfim atende a crianças de bairros distintos, a saber: Santa Rita, Bonfim, Progresso, Bairu, Manoel Honório, Nossa Senhora Aparecida, São Tarcísio, Marumbi, Santa Paula, Santa Teresinha, entre outros.

As crianças que frequentam a E. M. Bonfim são oriundas de famílias com perfis socioeconômicos que variam entre o baixo e o médio. Isso porque, geralmente, são famílias que têm rendimento salarial baixo devido aos poucos anos de escolaridade. É notável o envolvimento e a participação das famílias nas atividades escolares. Pode-se perceber que a escola se constitui como um espaço de aprendizagem e acolhimento a essas pessoas que muitas vezes não tiveram formação escolar plena. Isso nos faz pensar sobre os letramentos da comunidade onde se localiza a escola e o papel da leitura na formação dos sujeitos, adultos e crianças24.

A turma na qual realizei as oficinas de leitura que constituíram minha pesquisa de campo era composta por 22 crianças entre 4 e 5 anos de idade, sendo 11 meninas e 11 meninos. Além da professora regente, as crianças têm contato com mais 4

21As crianças têm uma carga horária semanal de 20 horas na escola, sendo 15 horas com a professora

referência, que é aquela que desenvolve diferentes atividades com as crianças, e 5 horas de complementação de carga horária. Nessa complementação de carga horária, as atividades desenvolvidas são organizadas em Educação Física (2 horas semanais) e projeto de Artes (3 horas semanais).

22Dados consultados no Projeto Político Pedagógico da Escola Municipal Bonfim.

23A escola foi contemplada com uma unidade de Educação Infantil do Programa Proinfância. Entretanto,

por razões de ordem político-administrativa, esse prédio ainda não foi entregue .

24Sobre esse assunto, vale ressaltar o projeto “Maleta Viajante” que é desenvolvido na escola. Esse

projeto busca incentivar a leitura de livros literários infantis no ambiente familiar. Para isso, a cada semana, uma criança da turma leva para casa a maleta que contém vários livros infantis, com a proposta de que após a leitura junto das crianças, os pais relatem em um caderno de notas como foi essa experiência. Outro projeto que envolve a participação dos pais é o da “Bliotecasinha”, que se constitui como um espaço de empréstimo de livros infanto-juvenis. Os familiares das crianças solicitaram que a escola construísse um acervo de livros para adultos, para que também pudessem fazer empréstimos de livros.

professores (professor de complementação de carga horária e professores das aulas especializadas). As oficinas foram realizadas somente nos horários em que a professora regente estava com a turma, visto ser essa professora que participa do projeto de extensão realizado pelo grupo LINFE, anteriormente referido.

A parte fixa da rotina das crianças começa a partir de brincadeiras com peças de montar que elas realizam durante algum tempo. Na sequência, são desenvolvidas diferentes atividades com as crianças, como contação de histórias, pinturas, jogos, escritas coletivas, entre outras. Não existe, para essas atividades, uma sequência que se repita todos os dias.

A sala de atividades é o principal ambiente onde as vivências são proporcionadas e compartilhadas entre os diferentes sujeitos. A sala é ampla e conjuga um banheiro. Possui cinco mesas, em que podem sentar até quatro crianças, armários, sendo um destinado aos professores e os outros dois a brinquedos, livros, fantoches, fantasias e outros objetos para as brincadeiras das crianças. As crianças têm acesso a esses armários, ficando os objetos ao seu alcance. Contudo, só podem usá-los nos momentos destinados a essa finalidade pela professora. Na parede, há um quadro de giz e o alfabeto, além de envelopes com os trabalhos feitos pelas crianças.

Diante do exposto, é necessário refletir sobre as implicações desse espaço na constituição dos sujeitos e no tipo de vivência que ele possibilita às crianças e aos adultos. A teoria histórico-cultural nos permite pensar essas implicações, ao considerar que sujeito e meio constituem uma unidade, ou seja, que a relação entre a criança e o meio, que se dá na vivência, tem implicações no desenvolvimento da criança, quando consideramos o papel do meio nesse desenvolvimento. Para Jerebtsov (2014, p. 21), “as vivências são as relações com o outro, reduzidas no plano interno. Diferentes mundos sociais, diferentes culturas, constituem diferentes sistemas de vivência”.

Ao nascer no meio cultural, o ser humano se relaciona com esse meio e nele vai se constituindo sujeito. A capacidade do homem de interpretar os elementos do meio se dá a partir das vivências que ele tem nesse meio. Nesse sentido, Vigotski ressalta que é impossível pensar no tempo sem pensar no espaço, pois são duas experiências com o meio que constituem o ser humano, que se situa a partir de sua vivência interna e externa. O homem, sujeito histórico-cultural, está situado em um determinado tempo e espaço, em um meio, em uma sociedade. Ele transforma esse meio e, ao transformá-lo, também se transforma. Desse modo, faz-se importante discutir os tempos e os espaços

da Educação Infantil, uma vez que esses vão constituir as vivências das crianças na primeira infância.

Ainda para Jerebtsov (2014, p. 23), “cada idade forma seu repertório de instrumentos, o espaço semântico e os limites das vivências possíveis. Vivência é a unidade do sentido e da forma de sua realização, modo de expressão”. Os espaços e os tempos da Educação Infantil, quando organizados com vistas ao desenvolvimento da criança pequena, possibilitam vivências significativas com o meio, fato que contribui para sua inserção cultural e formação individual e coletiva. Foi a partir dessa ideia, de proporcionar às crianças vivências significativas com o meio, que planejamos e desenvolvemos as oficinas de leitura, que serão apresentadas no próximo tópico.

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