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A literatura infantil contemporânea

No documento marciamarianasantosdeoliveira (páginas 61-64)

2. COSTURANDO OS FIOS DA HISTÓRIA: “ERA UMA VEZ” A LITERATURA

2.2. A literatura infantil contemporânea

Na atualidade, é possível perceber a multiplicação de várias iniciativas que procuram ampliar o acesso da população, principalmente das crianças, aos livros literários infantis. O Estado, como principal agente regulador da educação pública brasileira, vem, através da implantação de projetos e políticas públicas, criando novas possibilidades de expansão e oferta de livros para a sociedade. Nesse contexto, uma das contribuições mais relevantes tem sido a aquisição de obras literárias pelo Programa Nacional Biblioteca na Escola – PNBE -, criado em 1997 pelo Ministério da Educação. Esse programa é executado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE -, em parceria com a Secretaria de Educação Básica do MEC, com o objetivo de ampliar e implantar bibliotecas escolares por meio da dotação de acervos, selecionando e distribuindo às escolas obras de literatura e materiais de apoio para formação do professor.

Se, de um lado, as políticas públicas de incentivo à leitura e sua necessária democratização estão acontecendo e algumas propostas pedagógicas significativas de leitura literária estão sendo realizadas, por outro lado, é preciso reconhecer que existe um espaço aberto a ser preenchido no processo de formação de leitores, em muitas instituições, no que se refere ao papel do professor como mediador no despertar do gosto, do interesse, do comportamento leitor e, sobretudo, desse profissional como leitor. Como aponta Cademartori (2012),

O Brasil ainda não é um país de leitores, situação determinada por fatores de natureza social, econômica, política, histórica, cultural. No entanto, existe hoje especial sensibilidade para esse assunto, traduzida em inúmeras iniciativas, públicas e privadas, para promover a leitura.

Não podemos esquecer, porém, que muitos professores não tiveram as condições necessárias para se desenvolverem devidamente como leitores e, às vezes, pensam ser deficiência pessoal, o que, na verdade, provêm de âmbito muito mais amplo, como a dívida social do país com seu povo (CADEMARTORI, 2012, p. 25).

A formação do professor leitor é condição fundamental para que sejam desenvolvidas mediações de leitura literária adequadas às crianças, principalmente aquelas que estão na Educação Infantil, pois, de acordo com Paiva (2008), a leitura de textos literários com as crianças pequenas contribui, de forma decisiva, para a formação do futuro leitor, “especialmente do leitor literário que poderá apreciar, a qualquer momento e ao longo de sua vida, a Literatura, com “L” maiúsculo, desfrutando, assim, da experiência estética proporcionada por essa manifestação artística” (PAIVA, 2008, p. 36).

Ainda hoje existe a permanência de obras que se vinculam à ação educativa, preocupadas com valores menos tradicionais, mas ainda entrelaçadas ao ensino escolarizante, mesmo que de forma lúdica e especulativa. Entretanto, percebemos avanços no modo de conceber o texto literário que passou a ser visto como arte literária. Assim sendo, deve ser considerado em seus aspectos estéticos, que ousam da fantasia, da imaginação e da afetividade e que permitem ao pequeno leitor transcender sua realidade, preenchendo-a de significações que perpassam o real e o imaginário. Para Cademartori (2012),

A literatura contemporânea desfruta de maior liberdade em relação à ficção do século XIX, cujos propósitos realistas valorizavam a reprodução pelas personagens de comportamento e circunstâncias da vida comum. A literatura destinada às crianças, no entanto, sempre pôde, com liberdade total de criação, imaginar mundos mágicos, fantásticos, alternativos, sobrenaturais. Exceção feita às ficções que abrigam em certa medida tendência realista, a literatura infantil sempre encontra passagem – por caverna, toca, espelho ou ventania – para um mundo encantado, território do maravilhoso, em que as leis ordinárias do mundo real entram em suspensão (CADEMARTORI, 2012, p. 35).

Essas concepções sobre a literatura influenciam o modo como os professores medeiam a relação das crianças com o texto literário nas atividades pedagógicas. O consumo dos livros pelas crianças é mediado por instituições sociais como a família e a escola, que têm a função de oportunizar a aproximação dos leitores com o mundo mágico dos livros infantis. A escola, como agente formal na tarefa de formar leitores,

tem o papel decisivo de proporcionar às crianças a participação do mundo letrado. A literatura, considerada em sua dimensão estética, possibilita ao pequeno leitor vivências singulares e padrões de leitura do mundo.

São muitas as facetas assumidas pela atual produção literária infantil brasileira. De acordo com Lajolo e Zilberman (2009), a incorporação da oralidade talvez seja a marca mais típica dos livros infantis produzidos a partir de 1960. O uso da oralidade possibilita a aproximação com o universo das crianças leitoras, que podem transformar a realidade utilizando o poder da linguagem no imaginário infantil.

A produção contemporânea oferece às crianças pequenas vivências diferenciadas com o texto literário em interface com outras linguagens. A relação entre as linguagens visual e verbal também possibilita a produção de sentidos para a leitura, dividindo o espaço do livro e concorrendo com a atenção do leitor. As atuais obras para crianças abrangem não só livros com palavras, mas com imagens e com imagens e palavras. Essa relação entre imagens e palavras apresenta diferentes graus de complexidade, ora pode ser de autonomia ou relação complementar, e ora pode ter sentidos que se extrapolam na interação entre as duas linguagens, contrapondo-as ou confirmando-as.

É certo que, de acordo com Cademartori (2010, p. 18), “parte considerável dos livros de literatura infantil contemporânea apresentam um texto verbal e um texto visual, propiciando à criança experiências estéticas e de sentido com os dois códigos”.A interação entre esses dois textos estimula múltiplas percepções do leitor, principalmente das crianças pequenas, que, usando a linguagem em sua dimensão estética e lúdica, podem conhecer a obra em toda sua expressividade.

A produção literária infantil deste início de século mostra acentuada inclinação para transcender as fronteiras de gênero e também para estabelecer novas relações entre imagens e palavras. As ilustrações abandonaram o modesto papel de ficar a serviço do que relatam as palavras e passaram a constituir um outro texto, de natureza visual, que estabelece a interação com o verbal. Assim, ambos se tornaram igualmente fundamentais no livro para as crianças (CADEMARTORI, 2012, p. 51).

Na literatura infantil de hoje, encontramos também uma vertente temática que se volta à afirmação da alteridade, reconhecendo os diferentes grupos sociais como produtores na/de cultura. Assumir a literatura com o olhar contemporâneo significa reconhecer as diversas referências sociais, históricas, políticas e culturais e a multiplicidade de manifestações humanas de povos e culturas.

Contemporaneamente, os livros infantis constituem um profícuo segmento de produção e de circulação cultural o qual, gradativamente, vem conquistando espaços maiores. Nesse percurso histórico, a literatura infantil veio se constituindo como modalidade literária, fato que originou, na atualidade, a preocupação de estudiosos, pesquisadores, professores e escritores para/com esse ramo da literatura brasileira.

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