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Contextualizando a pesquisa, os instrumentos e os procedimentos para a coleta de

3. A recepção dos poemas de Alice Ruiz na sala de aula

3.1. Contextualizando a pesquisa, os instrumentos e os procedimentos para a coleta de

A experiência de leitura literária em sala de aula se deu nos meses de março e abril de 2015. Tivemos como colaboradores 27 alunos da turma do 1° ano “B” do Ensino Médio, sendo que 19 estudantes tiveram uma participação mais ativa. A leitura da poesia de Alice Ruiz foi realizada no horário da manhã, nos dias de segunda (de 11h15 a 12h), de terça-feira (de 7h15 a 8h15) e de quarta-feira (de 8h15 a 10h15)32.

A escolha do público parte de um pressuposto de que esses alunos não tiveram um primeiro contato mais consistente com o texto poético, no sentido de vivência e experiência de leitura. Desse modo, esta suposição está confirmada no resultado dos questionários de sondagem, que nos detemos em analisar no tópico a seguir.

Para dar início à intervenção, observamos a estrutura física da escola (Apêndice A) – como, por exemplo, a sala de aula, o auditório e a biblioteca. A preocupação com o espaço de leitura na escola se dá pelo fato de ser o lugar onde a leitura é negociada e compartilhada.

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Todos os dados divulgados da pesquisa foram autorizados pela instituição. Autorização assegurada pelo Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Em Aspectos metodológicos do ensino de literatura, Rouxel (2013) põe a sala de aula em uma condição de personagem significativa para a mediação da leitura literária, uma vez que o espaço de leitura é o lugar onde comporta a metodologia do professor, a leitura do texto literário e o debate das múltiplas interpretações dos estudantes. Desse modo,

A sala de aula representa assim o papel de regular. Ela é o espaço intersubjetivo onde se confrontam os diversos “textos de leitores”, a fim de estabelecer o texto do grupo, objeto se não de uma negociação, ao menos de um consenso. A presença da turma é essencial na formação dos jovens leitores: lugar de debate interpretativo (metamorfose do conflito de interpretação), ela ilumina a polissemia dos textos literários e a diversidade dos investimentos subjetivos que autoriza (ROUXEL, 2013, p.23).

A biblioteca também foi contemplada na pesquisa, uma vez que, segundo Balça (2011, p.209), “a biblioteca escolar configura-se assim como uma das instituições que contribui para a formação de crianças e de jovens leitores”. Com efeito, observamos que é um espaço conservado e propício à leitura. Em contrapartida, a biblioteca não era um lugar acessível. Em uma entrevista que fizemos com a professora responsável pelo lugar, revelou-nos que nem sempre foi organizado (Apêndice B). A maioria dos livros encontrados nas estantes foi doada por professores e familiares dos discentes. Ressaltamos, aqui, que não encontramos livros doados pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) no espaço de leitura, já que foi retirado das estantes pela professora responsável da biblioteca, justificando-nos que os exemplares não eram procurados pelos docentes e alunos da escola.

O acervo da biblioteca possui uma diversidade de gêneros literários, dos quais boa parte do seu repertório é compreendida de uma literatura canônica e de voz masculina. Dessa forma, havia apenas seis livros de poesia de autoria feminina (Apêndice B).

Além das observações sobre a estrutura física, houve uma investigação nos materiais didáticos (Apêndice C). Essa procura teve como finalidade observar se a poesia

de autoria feminina está sendo lida em sala de aula. Nos três livros analisados, percebemos que há uma lacuna no que diz respeito à lira feminina. Essa ausência pode nos sugerir uma fragilidade na formação dos discentes de nível médio. Desse modo, Pinheiro (2014, p.145), destaca a carência de uma leitura que contemple uma experiência humana tão singular que é a da figura da mulher, que pode levar os estudantes a vivenciar, projetar-se na leitura em compartilhar suas inquietações em sala de aula, se faz presente no âmbito e no livro didático.

Por fim, procuramos assistir uma aula da disciplina de Língua Portuguesa na turma do 1° ano B (Apêndice D). A sala de aula era quente, havia apenas dois ventiladores pequenos para atender uma turma de 27 alunos. Constatamos, também, muito barulho que vinha de fora da escola, tais como: o som de britadeira33 e o barulho de carros e motos que passavam com frequência nas ruas transversais do colégio. Durante as observações da aula, percebemos uma turma desmotivada e uma metodologia de ensino calcada em um modelo tradicional, que se centrava apenas no livro didático.

Para coletar os dados, aplicamos um questionário34 para sondar os horizontes de expectativas dos estudantes. As demais escolhas de coleta de dados foram: a gravação (áudio) das aulas, o diário de leitura35 dos estudantes e o diário de bordo do professor/pesquisador.

Após as investigações iniciais, lançamos mão de uma metodologia baseada nas concepções do Método Recepcional de Aguiar e Bordini (1993), a fim de iniciarmos a intervenção em sala de aula. Acreditamos que “para conhecer melhor a leitura na escola,

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É um tipo de máquina que tem como finalidade quebrar pavimentos de rua ou asfaltos a fim de restaurá-los.

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Entendemos os questionários de sondagem como um instrumento de coleta de dados. Dessa forma, consideramos que são “documentos que contêm um número de perguntas às quais os respondentes terão que responder. Eles talvez terão que marcar nos espaços, escrever opiniões ou colocar as opções em ordem de importância. O ponto importante é que o pesquisador normalmente não está presente quando o questionário está sendo preenchido” (MOREIRA, CALEFFE, 2006, p.85).

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Machado, Lousada, Abreu-Tardelli (2005) consideram que o diário de leitura é um gênero textual que permite que os estudantes expressem, em primeira pessoa, as suas reflexões, as suas dúvidas e seus questionamentos a respeito de uma leitura.

o denominado ‘método recepcional’ pode trazer uma contribuição importante, pois procura saber o modo como o estudante está convivendo com a leitura no âmbito da sala de aula” (PINHEIRO, 2003, p.39). Desse modo, a perspectiva metodológica adotada privilegia a relação texto-leitor, uma vez que exige do professor/pesquisador uma postura de mediador. É por esse viés que buscamos alternativas que favoreçam o encontro do leitor com as experiências poéticas do texto. Portanto, desenvolvemos cinco encontros com a turma do 1° ano B (Apêndice E), com o propósito de realizarmos a experiência de leitura literária.

O nosso estudo está configurado no modelo de pesquisa-ação, em que houve uma investigação dos dados obtidos por meio de uma intervenção de pequena escala em um ambiente escolar. Engel (2000) comenta que o método da pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social que surgiu a partir de uma necessidade de preencher o vazio entre teoria e prática. No ponto de vista da área educacional, esse modelo de investigação proporciona ao pesquisador, enquanto mediador de leitura, um comprometimento com os jovens leitores em formação, uma vez que as situações levantadas no ambiente escolar levem a uma reflexão, em que se possam nortear as escolhas metodológicas do pesquisador, contribuindo, dessa maneira, para a formação dos indivíduos.

A partir desse viés, conceituamos o nosso processo metodológico como quanti- qualitativo. Moreira e Caleffe (2006, p.73) comentam que “a pesquisa explora as características dos indivíduos e cenários que não podem ser facilmente descritos numericamente”. Nesse sentido, há dados que foram coletados através de observações, de gravações, de questionários e de diários de leitura. No entanto, o estudo também é de cunho qualitativo, uma vez que obtemos informações e situações em que os dados são expressos por meio de estatísticas e de gráficos.

Consideramos, por sua vez, a pesquisa etnográfica, no sentido de pensar o trabalho de campo na perspectiva científica, no qual, conforme Moreira e Caleffe (2006,

p.85), exige do pesquisador uma vivência nas atividades do grupo a ser pesquisado, a fim de obter dados.

Com efeito, podemos analisar a pesquisa no contexto bibliográfico, sendo que haverá uma leitura de livros didáticos e de textos científicos com a finalidade de refletir a respeito da leitura literária no âmbito escolar.