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Contrato de compra e venda

No documento Extinção do Contrato de Empreitada (páginas 50-53)

CAPÍTULO II: NOÇÃO E ASPECTOS GERAIS DE EMPREITADA

5. Distinção de figuras afins

5.3. Contrato de compra e venda

É ponto assente ter a distinção entre o contrato de empreitada e o contrato de compra e venda das mais difíceis de realizar111, sobretudo em determinados casos de compra e venda

106 Pedro Romano Martinez, Direito das Obrigações (Parte Especial), 2ª Edição, Almedina, 2010, p. 332. 107

Pedro Romano Martinez, Direito das Obrigações (Parte Especial), 2ª Edição, Almedina, 2010, p. 331.

108 Pedro Romano Martinez, Direito das Obrigações (Parte Especial), 2ª Edição, Almedina, 2010, p. 331.

109 E é tanto mais assim quanto actualmente o Direito do trabalho contém uma chamada «presunção» da

celebração de um contrato de trabalho quando se verifiquem determinados indícios de laboralidade: art. 12.º do CT.

110

Neste sentido, Pedro Romano Martinez, Direito das Obrigações (Parte Especial), 2ª Edição, Almedina, 2010, p. 332.

111 Pedro Romano Martinez, Direito das Obrigações (Parte Especial), 2ª Edição, Almedina, 2010, p. 333 e ss;

Menezes Leitão, Direito das Obrigações, Vol. III – Contratos em Especial, 7ª Edição, Almedina, 2010, p. 510 e ss..

(como compra e venda de coisa futura), quando comparados com determinados casos de empreitada, como a empreitada em que é o empreiteiro a fornecer os materiais a utilizar na obra. A dificuldade da questão, que no nosso Direito não é isenta de consequências práticas, é testada pela existência de uma jurisprudência significativa sobre a matéria.

Assim, diz-se vulgarmente, na compra e venda o vendedor está adstrito a uma prestação de dare; na empreitada o empreiteiro a uma prestação de facere.

A compra e venda é um contrato real quoad effectum112, enquanto a empreitada é sempre contrato obrigacional, e pode ou não ter efeitos reais, caso haja uma transferência de propriedade da obra, que segue um regime particular (art. 1212.º do CC).

Contudo, há dificuldades de qualificação, sobretudo face à compra e venda de bens futuros, quando é o empreiteiro a fornecer os bens a empregar na obra, como é aliás a regra, na falta de convenção ou uso em contrário (art. 1210.º/1 do CC), e ainda mais quando o valor dos bens ultrapassa o valor do trabalho.

O primeiro critério utilizado para resolver essa dificuldade de qualificação é expresso pelo brocardo accessorium sequitur principale113: o elemento predominante determina a qualificação (no caso de construção de imóveis em terreno do dono da obra, toda a construção é acessória do solo). O critério é válido para as situações em que a transferência da coisa é acompanhada de uma prestação acessória (por exemplo, venda de automóvel com obrigação

de fazer alterações na carroçaria, ou venda de um computador com deveres de instrução e assistência técnica114). Contudo, por vezes é difícil determinar o que é acessório: continuando o exemplo dado acima, será possível entender que no caso em que se vende um automóvel mas com obrigação de fazer alterações significativas, o essencial ainda é uma coisa, e que é acessório o trabalho que nela será feito?

Um desenvolvimento desta mesma ideia leva a considerar que a celebração de um contrato que tem por objecto a produção e entrega, por uma das partes, de bens produzidos em massa, sem que o adquirente tenha introduzido qualquer diferença específica face a um modelo (Ana encomenda a Bruno 12 cadeiras do modelo «X» constante do catálogo deste

último), seja configurada como uma compra e venda; já numa hipótese semelhante, mas em

que os bens sejam produzidos por medida, ou tomando como base um modelo ao qual se

112 Para a justificação desenvolvida desta afirmação, v. Menezes Leitão, Direito das Obrigações, Vol. III –

Contratos em Especial, 7ª Edição, Almedina, 2010, p. 14, 15 e 20 e ss..

113

A este respeito v., entre nós, Pedro Romano Martinez, Direito das Obrigações (Parte Especial), 2ª Edição, Almedina, 2010, p. 334; e Menezes Leitão, Direito das Obrigações, Vol. III – Contratos em Especial, 7ª Edição, Almedina, 2010, p. 511.

114

Pedro de Albuquerque e Miguel Assis Raimundo, Direito das Obrigações (Contratos em Especial), Vol. II, 2ª Edição revista, Almedina, 2013, p. 211.

introduzem alterações relevantes para satisfazer o interesse do adquirente, a qualificação será a de empreitada (Ana encomenda a Bruno 12 cadeiras baseadas no modelo “X” do catálogo

deste último, mas alternando os materiais, as cores, introduzindo alguns elementos de design diferentes, etc.)115.

Muito discutido se apresentou na nossa Jurisprudência doutrinal e judicial o caso particular do fornecimento e montagem de elevadores. Doutrina e tribunais, reconhecendo a essencialidade dos trabalhos de montagem e instalação na economia do contrato e na satisfação o interesse do cliente, bem como a especial preparação técnica necessária a esses trabalhos, defenderam a qualificação como empreitada. Exemplos próximos são os do

fornecimento e da instalação de casas pré-fabricadas e de caldeiras116.

A Doutrina confere ainda relevância à vontade das partes117, o que parece claramente de perfilhar: a forma como as partes intencionaram o contrato celebrado é determinante para encontrar o «centro» do negócio, na coisa ou no trabalho.

Em STJ 09-06-2005 (Ferreira de Almeida)118, decidiu-se que «O fornecimento dos materiais necessários à execução da obra não altera a natureza do contrato, como resulta dos arts. 1210.º e 1212.º, do Código Civil, o primeiro dos quais põe mesmo normalmente a cargo do empreiteiro o fornecimento dos materiais e utensílios necessários à execução da obra»; afirmando-se ainda que «Há empreitada, se o fornecimento dos materiais é um simples meio para a feitura da obra, e o trabalho constitui o fim do contrato. Há venda se o trabalho é simplesmente um início para obter a transformação da matéria».

Em STJ 15-01-1992 (Joaquim de Carvalho)119, considerou-se como «contrato de fornecimento de materiais (compra e venda) com assistência técnica na sua aplicação e não de subempreitada, o contrato no qual uma firma de construção civil se obriga a impermeabilizar uma laje de um estádio desportivo, fornecendo os materiais para tal, embora o trabalho de aplicação seja da responsabilidade técnica daquela firma e seja efectuado por pessoal de quem a contratou».

115

Pedro de Albuquerque e Miguel Assis Raimundo, Direito das Obrigações (Contratos em Especial), Vol. II, 2ª Edição revista, Almedina, 2013, p. 212.

116

Pedro de Albuquerque e Miguel Assis Raimundo, Direito das Obrigações (Contratos em Especial), Vol. II, 2ª Edição revista, Almedina, 2013, p. 213.

117

Pedro Romano Martinez, Direito das Obrigações (Parte Especial), 2ª Edição, Almedina, 2010, p. 337.

118 STJ 09-06-2005 (Ferreira Almeida), Proc. 5B1396/ITIJ (poderes do Supremo Tribunal de Justiça – poderes

da Relação – matéria de facto – empreitada – compra e venda – distinção – contrato misto).

119 STJ 15-01-1992 (Joaquim de Carvalho), in Boletim do Ministério da Justiça, 1992, 413, 503 (compra de

No documento Extinção do Contrato de Empreitada (páginas 50-53)