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Capítulo III Estudo de caso

1. Contextualização do Projeto

3.2. Contrato de leitura

A concretização desta atividade passou por várias etapas. A primeira consistiu numa conversa com os alunos sobre os livros que andavam a ler e os que gostariam de ler, os temas de que mais gostavam, assim como o género de leituras preferidas. Na sequência desta conversa, informei-os da atividade a desenvolver (contrato de leitura), dos objetivos que lhe estavam implícitos e agendei com eles uma ida à BE. Na Biblioteca, durante cinquenta minutos, os alunos manipularam livremente os livros e cada um organizou uma lista de cinco livros que gostaria de ler, anotando o título, o autor, a editora e o código de cada obra. Desta forma, ficaram a conhecer os livros existentes na sua Biblioteca e onde se encontravam. No final da visita, um grande número de alunos levou um livro consigo para ler em casa. Esta foi mais uma estratégia que encontrei para aproximar os adolescentes do livro, pois apercebi-me de que frequentavam pouco a Biblioteca e de que não tinham conhecimento dos livros aí existentes e que lhes poderiam interessar.

Na aula seguinte e após a ida à Biblioteca, um contrato de leitura125 foi distribuído a cada aluno das duas turmas, onde constavam a identificação das partes envolvidas, assim como as cláusulas que o regiam. A leitura e a análise desse documento foram revertidas para o estudo dessa tipologia textual.

Após o estudo, o contrato foi datado e assinado pelas partes envolvidas: as duas professoras, como primeiro outorgante e o aluno, como segundo outorgante.

Os termos da primeira cláusula, que regia os deveres dos segundos outorgantes, divergiram de uma turma para outra.

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Relativamente ao contrato estabelecido com o 10.º E126, o segundo outorgante comprometeu-se a:

• ler um livro por período, a selecionar de entre os que constavam da lista fornecida pelo primeiro outorgante127 ou propostos pelo segundo e aceites pelo primeiro;

• apresentar oralmente o livro lido à turma; • preencher uma ficha de leitura128

, fornecida pelo primeiro outorgante, do livro lido, que poderia auxiliar o aluno no momento da sua apresentação oral à turma; • ler outras propostas de leituras, feitas pelo primeiro outorgante ao longo do ano letivo;

• promover e/ou participar em debates ou outras atividades suscitadas pelas leituras feitas pelo próprio ou pelos colegas da turma.

Quanto ao contrato estabelecido com o 11.º K129, a primeira cláusula teve de ser adaptada à turma, uma vez que, para este ano de escolaridade, os docentes do grupo disciplinar de português, confrontados com o facto de a maioria dos discentes não ler as obras a estudar, tinham instituído que estes deviam fazer apresentações orais no âmbito das obras literárias que seriam objeto de estudo ao longo do ano letivo. Para isso, os professores forneciam uma lista de temas relacionados com as obras a estudar e os adolescentes escolhiam um de entre os vários propostos. Aproveitando a referida relação de temas, fornecida pela coordenadora do grupo disciplinar, selecionei vários textos e/ou obras130, existentes na BE, que apresentei aos alunos, orientando as suas leituras e auxiliando-os nas pesquisas a desenvolver. Os discentes, depois de escolherem o tema, deviam ler, individualmente ou em pequenos grupos, os textos propostos e/ou outros para procederem às apresentações orais131 solicitadas de forma fundamentada e o mais "implicada" possível.

Assim, o segundo outorgante comprometeu-se a:

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cf. Apêndice XXVII 127

A lista de livros apresentada aos alunos foi elaborada de acordo com as listas de livros recomendados pelo projeto LER+ do Plano Nacional de Leitura (PNL) (Sugestões de Leitura, para o Ensino Secundário e Leitura Autónoma - Temas científicos, para o 3.º Ciclo e o Ensino Secundário), às quais foram acrescentados os títulos sugeridos pelos alunos aquando da visita à Biblioteca da Escola.

128 cf. Apêndice XXXIV 129 cf. Apêndice XXVIII 130 cf. Apêndice XXXII 131 cf. Apêndice XXXIII

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• ler, atempadamente, as obras literárias objeto de estudo, de acordo com as indicações fornecidas pelo primeiro outorgante;

• preencher uma ficha de leitura da obra lida (fornecida pelo primeiro outorgante);

• ler as propostas de leitura ("Outras Leituras") feitas pelo primeiro outorgante ao longo do ano letivo;

• fazer apresentações orais à turma, selecionando um de entre vários temas propostos pelo primeiro outorgante ou por sugestão do segundo e aceitação do primeiro;

• promover e/ou participar em debates ou outras atividades suscitadas pelas leituras feitas pelo próprio ou pelos colegas da turma.

Devo referir que a lista de livros elaborada e entregue aos alunos do 10.º E também foi dada à turma 11.º K, apesar da especificidade do contrato estabelecido com estes alunos, como enumerei acima. Empenhada em estimular o gosto pela leitura literária, perceciono o "Contrato de leitura" como mais uma iniciativa para informar os discentes sobre obras e autores, portugueses e estrangeiros, com mais ou menos mérito reconhecido. O importante, para estes alunos específicos, que dizem não ler, é oferecer-lhes oportunidades de leitura e fazer com que percebam que existe uma imensidão de livros sobre variadíssimos assuntos, até mesmo sobre aqueles que lhes interessam mais.

Desta forma, procurei colaborar com o grupo disciplinar de português e, ao mesmo tempo, incutir hábitos de leitura e de pesquisa de informação nestes adolescentes, consciencializando-os para a importância de uma postura ativa na construção do conhecimento e na sua formação plena.

Ao estabelecer o contrato de leitura com os meus alunos, procurei estimular o gosto pela leitura literária, levando-os a encarar o contrato, não como uma obrigatoriedade, mas como uma forma de descoberta do prazer de ler. Ao incentivar a busca de temas e de livros que os podem cativar e ao aceitar as suas sugestões de leitura, penso ter conseguido mitigar a componente de obrigatoriedade que só os afasta, geralmente, de qualquer tipo de leitura. Por outro lado, experienciei com grande alegria que, depois de alguns alunos terem lido e apresentado com entusiasmo os livros por eles livremente escolhidos, outros sentiram curiosidade e,

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de forma espontânea, acabaram por os ler, tecendo comentários nas aulas seguintes acerca das leituras realizadas.

Gostaria muito de ter ido mais longe e de ter alargado estas pequenas comunidades de leitura ao nível da escola, aproveitando alguns dos seus excelentes espaços (por exemplo, a BE/CRE, o anfiteatro ao ar livre, o polivalente) para partilhar as melhores apresentações com outros alunos da escola e assim incentivar o prazer de ler num maior número de jovens. Porém, fruto da minha situação atual de trabalhadora- estudante, de mãe e de esposa, não consegui concretizar esse objetivo. Fica, contudo, a ideia a criar raízes mais fortes para poder vingar num futuro próximo. Assim espero.

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