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CAPÍTULO 1. OS CONTRATOS DE TRANSFERÊNCIA TECNOLÓGICA NO ÂMBITO

1.2 A IMPORTÂNCIA DOS CONTRATOS DE TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

1.2.2 Transferência de Tecnologia 17

1.2.2.2 Contratos de Transferência de Tecnologia 21

O contrato deve ser considerado o foco da negociação, pois expressa a verbalização da negociação por escrito, através de regras, em forma de cláusulas, que se tornam uma fonte obrigatória e prática na vida econômica entre as partes negociantes e, de forma geral, para a sociedade.

Para Ulhoa Coelho (2006), “o contrato gera efeitos apenas entre as partes

vinculadas, não criando direitos e obrigações a terceiros, vigorando-se o princípio da relatividade. Aqui também existem exceções, onde alguns contratos beneficiam partes não participantes do acordo, como também exigem destas uma obrigação. Além do aspecto relacionado aos sujeitos atingidos pelo contrato, este também não deve alcançar bens estranhos ao seu objeto, mencionado pela doutrina como um aspecto objetivo do princípio da relatividade”.

Observa-se que, através do vínculo firmado por contrato, fica claro e fácil dirimir qualquer imprevisto ou incidente, tendo em vista a força da lei incutido nele, daí a importância de sua concretização. Os contratos têm sua natureza firmada em leis e princípios jurídicos constitucionais que têm como função a compreensão, interpretação e aplicação do sistema jurídico que os regem. Eles devem obedecer aos princípios básicos de direito, tais como autonomia de vontade, supremacia de ordem pública consensual, força obrigatória, relatividade dos efeitos, tipicidade dos contratos e sua abolição, boa fé, e geralmente de forma expressa, por escrito.

A Constituição Federal (1988) é o principal arcabouço legal de respaldo para a proteção dos ativos intangíveis, e os seus art. 1º, art. 3º e 4º que estabelecem os princípios fundamentais da República Federativa do Brasil:

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Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I - a soberania; II - a cidadania;

III - a dignidade da pessoa humana;

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político.

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II - garantir o desenvolvimento nacional;

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:

I - independência nacional;

II - prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos povos; IV - não-intervenção;

V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz;

VII - solução pacífica dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;

IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X - concessão de asilo político.

Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.

23 Assim, é a Administração Pública, conforme estipula o art. 37 da Constituição Federal Brasileira (CF), que age de forma direta ou indireta para a proteção das criações, estabelecendo regras, com ampla defesa da Lei Maior que regula o país bem como as demais leis que corroboram para que essa proteção, negociação e transferência aconteçam com máxima segurança legal.

Traz em seu bojo o art. 37, caput, da CF: “A administração pública direta e

indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência,...”.

Ainda falando dos princípios que norteiam a proteção da propriedade intelectual, não se deve esquecer a Lei 9.784/1999, que regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal, em seu art. 2º que trata de tais princípios que dão força ao Direito, que fundamenta a decisão da Administração Pública, e que diz:

Art. 2o A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.

Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de:

I - atuação conforme a lei e o Direito;

II - atendimento a fins de interesse geral, vedada a renúncia total ou parcial de poderes ou competências, salvo autorização em lei;

III - objetividade no atendimento do interesse público, vedada a promoção pessoal de agentes ou autoridades;

IV - atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé;

V - divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as hipóteses de sigilo previstas na Constituição;

VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obrigações, restrições e sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento do interesse público;

VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a decisão; VIII – observância das formalidades essenciais à garantia dos direitos dos administrados;

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IX - adoção de formas simples, suficientes para propiciar adequado grau de certeza, segurança e respeito aos direitos dos administrados;

X - garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de alegações finais, à produção de provas e à interposição de recursos, nos processos de que possam resultar sanções e nas situações de litígio;

XI - proibição de cobrança de despesas processuais, ressalvadas as previstas em lei;

XII - impulsão, de ofício, do processo administrativo, sem prejuízo da atuação dos interessados;

XIII - interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento do fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de nova interpretação.

Com todo esse amparo legal, através da atuação da Administração Pública, direta ou indiretamente, através de seus agentes, firmados nos princípios fundamentais do Direito, os contratos surgem com força legal, a fim de trazer segurança às negociações tecnológicas entre parceiros, estabelecendo entre esses um vínculo jurídico.

Vale salientar que eles podem ser firmados de forma tácita, não escrita, porém não têm aceitação jurídica, pois não há provas documentais da transação. Tais princípios e normas estão fincados na Carta Magna Brasileira, a Constituição Federal de 1988. Como dito outrora, o contrato é um acordo feito entre partes, estabelecendo regras, regulamentos, prazos, enfim, vínculos surgidos de uma negociação tecnológica.

Pode-se comparar o contrato de transferência tecnológica ao segredo industrial, pois ambos são acordos entre as partes, o primeiro referente a um produto, e o segundo referente a um conhecimento que não pode ser divulgado. Contudo, ambos tratam de uma inovação, potencialmente comercializada, e a esse respeito afirma o autor Delmanto (1975) que “o segredo de fabricação é um bem incorpóreo, que nasce pela descoberta, tem sua

tradição pela comunicação e se extingue pela divulgação”. Assim, é possível concluir que

uma relação de parceria firmada através de um contrato traz mais segurança e respaldo jurídico para a entrada da tecnologia no comércio, sem prejuízo para as partes negociantes.

Os contratos ainda podem ser firmados dentro ou fora do país, os primeiros geralmente são firmados entre ICT ou titulares/depositantes de direitos residentes no país, e os segundos entre titulares/depositantes não residentes no país, por exemplo, empresas

25 estrangeiras. Assim, consideram-se contratos de importação aqueles celebrados no exterior, enquanto contratos internos são aqueles cujas partes são domiciliadas no país.

Deve ser salientado que os contratos, tanto os nacionais como os estrangeiros, podem ser averbados no INPI, dando uma maior publicidade às negociações realizadas, o que serve também como base de dados estatísticos sobre a inovação no Brasil, principalmente os contratos de importação, que implicam em transferência de recursos para o exterior, e os internos que prevêem pagamentos em moeda nacional. Porém, sendo este tipo de procedimento apenas uma opção, poucas instituições e parceiros se preocupam em fazer desta forma, se detendo tão somente ao valor jurídico do contrato. A faculdade da averbação do contrato junto ao INPI pode prejudicar a relação de parceria, no que se refere ao repasse dos

royalties dos contratos celebrados em níveis nacional e internacional, precisando ser objeto de

debate pela sociedade e pelos setores acadêmicos envolvidos em inovação.

Tendo em vista os benefícios dessa averbação perante a Lei 11.196/05, conhecida como “Lei do bem”, que institui o regime especial de tributação para a plataforma de exportação de serviços de tecnologia da informação - REPES, o Regime Especial de Aquisição de Bens de Capital para Empresas Exportadoras - RECAP e o Programa de Inclusão Digital; dispondo sobre incentivos fiscais para a inovação tecnológica, ou seja, criada para a concessão de incentivos fiscais às pessoas jurídicas que realizarem pesquisa e desenvolvimento de inovação tecnológica.