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2.3.3 Contribuição do Serviço Social na Gestão do Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente

Em busca de um trabalho que efetivamente dê respostas às necessidades e garantias de diretos dos usuários e familiares, como profissional, levantamos alguns questionamentos em relação à atuação e às ações dos conselheiros, principalmente por achar que tais ações devem ser práticas democráticas, que definam prioridades, objetivos e metas em favor da criança e do adolescente. A dificuldade em descentralizar os serviços prestados pelo Conselho Tutelar, com os profissionais (equipe técnica) na organização administrativa, impossibilita compartilhar saberes que são necessários e fundamentais para qualidade dos serviços oferecidos pelo órgão.

A gestão democrática da política de promoção e defesa dos direitos da criança e do adolescente deve ser um processo de partilha e divisão do poder político no qual é fundamental a participação dos usuários. No entanto,

observou-se uma metodologia centralizada, constituída por: ações rotineiras, pontuais e isoladas.

A proteção integral requer, diferentemente, além do cumprimento das competências, um processo democrático e participativo, com ações articuladas dentro da perspectiva de um novo modo do fazer público.

Romper com as formas tradicionais de atendimento é pensar nas relações democráticas, através da atuação conjunta (conselheiros e equipe técnica), devendo ser pedagógica, informativa e democraticamente compelida a dialogar com a população na ação, na decisão e na avaliação dos serviços prestados. Essa nova dinâmica social definida pela institucionalização da participação popular na co-gestão das políticas públicas aparece no final dos anos de 1980 e início dos anos de 1990, como um contraponto à história das políticas sociais brasileiras.

Mas é preciso dinamizar as ações, sistematizar os atendimentos e informações a fim de nortear os procedimentos para garantir uma intervenção, a nível micro, de efetividade e com impactos produzidos na vida das crianças e adolescentes e seus familiares, refletindo numa melhor qualidade de vida dos mesmos.

As ações a nível micro são extremamente necessárias, para a efetivação do direito da criança e do adolescente, especialmente os atendimentos, aconselhamentos e aplicação das medidas de proteção, como já visto neste capítulo. Para tanto, o assistente social traz um questionamento e reflexão acerca do Art. 136 - II, do Estatuto da Criança e do Adolescente, quando se refere ao “aconselhamento” aos pais e/ou responsáveis.

O estudo mostra que aplicar a Lei (as medidas de proteção) e “aconselhar” a família, como prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente, não efetiva o direito de todas as crianças e adolescentes, usuários do Conselho Tutelar, e, portanto faz-se necessário a superação do conceito “aconselhar”, por outro, que efetivamente garanta o direito, como o sugerido, a informação.

Aconselhar, segundo o dicionário Aurélio, significa “dar conselho, recomendar, sugerir”, o que de fato não significa o cumprimento das medidas de proteção pela família. O aconselhamento dado pelos conselheiros abre opção à família, quanto a seguir ou não a aplicabilidade das medidas de proteção, como ocorre com os casos reincidentes.

O conceito de informação, que até então não tínhamos dado atenção, ganha novo significado teórico para o Estatuto da Criança e do Adolescente, objetivando responder à problemática da reincidência, podendo dar conta de garantir o direito da criança e do adolescente.

A informação, que enfatiza a sensibilização e a orientação, requer a

interação dialógica entre o falar e o ouvir, resultando no conhecimento da família acerca dos direitos dos seus filhos, e assim levá-las ao cumprimento da medida de proteção e a efetivação desta. Isto significa dizer que a informação do conselheiro tutelar, para o conhecimento das famílias, é um ato de reflexão sobre a ação (violação), resultará em prevenção de novas violações de direitos e conseqüentemente a diminuição da reincidência no órgão.

Acrescentamos que, nos casos em que persistirem em reincidir, sugerimos um trabalho específico (reuniões, grupos socioeducativos) com as famílias reincidentes, a ser desenvolvido pela equipe técnica, buscando proporcionar mudanças. Em primeiro lugar, ao nível de conhecimento da lei e

dos direitos, pelos violadores; e em segundo lugar, pelas mudanças de atitudes dos mesmos, e, assim, aumentar a probabilidade de efetivação da medida de proteção.

Em outras palavras, os efeitos das intervenções e os resultados alcançados devem considerar mudanças de comportamentos e atitudes das famílias com os usuários ou vice-versa, para assim termos soluções sustentáveis e evitar a ocorrência de reincidências dos casos, com as mesmas ou novas violações de direitos.

Para tanto, os conselheiros não devem usar a burocracia acima da qualidade dos serviços, na medida em que não viabilizam espaço para os usuários, ou ainda pouca autonomia para equipe técnica trazerem inovações, sugestões e novas propostas. Nesse sentido, a falta de relação entre as ações de nível macro e micro e a não aliança entre os segmentos sociais e os profissionais pode constituir perda na qualidade dos serviços, além de não legitimar o verdadeiro sentido histórico do Conselho Tutelar, isto é, a participação popular na gestão e no controle.

Tais questões geram conflitos que o assistente social encontra no campo de trabalho, podemos citar como exemplo:

A discordância entre a própria equipe de conselheiros: podendo ser observadas contradições geradas pelas várias visões sobre o mesmo objeto. Mesmo assim, dificulta a abertura por parte dos profissionais (equipe técnica) nas ações de suas “competências”, especificados no Art.136 do ECA, focalizando-os na intervenção técnica apenas nos atendimentos psicossociais. Em outras palavras, os conselheiros não compartilham decisões de caráter administrativo com os técnicos. Baseados nas atribuições de sua competência,

estes têm dificuldade de descentralizar os serviços, fazendo uma inversão do papel que lhe foi atribuído, podendo configurar como um dos limites para a eficiência da atuação.

O assistente social é um profissional que tem procurado desenvolver seu papel num processo colaborativo, tornando relevante sua participação no andamento da organização, no planejamento e avaliação das ações. Nesse sentido, o profissional é demandado a atuar na identificação das necessidades sociais, trazendo perspectivas e desafios a serem alcançados.

• Perspectivas - Consolidar o Serviço Social como canal de intermediação entre os/as usuários/as e o Conselho Tutelar para a identificação das demandas, discussão das dificuldades e resolução dos problemas, através do planejamento e avaliação dos atendimentos.

• Desafios – Fazer interpretar a intervenção do assistente social pelos conselheiros, pois os mesmos, quase sempre, não têm visão ampla das funções do assistente social. Isso torna um exercício contínuo para o profissional fazer reconhecer que é agente de transformação no âmbito da instituição, que viabiliza e luta para garantir o acesso da população a todos os níveis de atendimento. Assim, caminha para contribuir com a universalidade do direito e da cidadania.

Nesse sentido, a ação do assistente social não está limitada ao campo de intervenção profissional, sendo também, uma prática que imprime

racionalidade e constrói conhecimento. Assim sendo, compreende um conjunto de ações e atividades desenvolvidas na área pública, objetivando suprir, sanar ou prevenir18 as violações de direitos contra crianças e adolescentes, por meio de métodos e técnicas próprios às demandas17, para atender às reais necessidades dos usuários, buscando sua autonomia social.

Desta maneira, a gestão democrática pressupõe fundamentalmente a descentralização das ações. Do contrário, a institucionalização dos Conselhos Tutelares significará a mera legitimação dos padrões autoritários, centralizadores, excludentes e clientelistas que caracterizam as relações historicamente travadas entre governo e povo, no Brasil.