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Capítulo 4 Estudo empírico 4.1 Metodologia

7.1. Contribuições para a literatura sobre stresse em enfermagem

Considera-se que o presente estudo enriquece a literatura existente no que concerne à investigação-ação sobre a gestão do stresse na profissão da enfermagem por duas razões: Em primeiro lugar, pela escassez de estudos em Portugal que se debrucem sobre programas de intervenção para a gestão do stresse ocupacional – mais ainda na profissão da enfermagem.

Com o presente estudo verifica-se que, apesar das diferenças individuais na experiência de stresse, as intervenções de gestão do stresse de curta duração, nas quais se insere o programa “Gestão Optimista do Stresse” podem ser pertinentes para reduzir os níveis de stresse dos seus participantes, bem como forma de desenvolvimento e aprimoramento de estratégias de autocuidado e gestão do mesmo.

Relativamente aos sintomas de stresse, o presente estudo verificou que na generalidade os tipos de sintomas aparentam variar conjuntamente, pelo que estudos futuros poderão focar-se apenas na avaliação de um tipo concreto de sintomas como medida fidedigna da experiência de stresse. Para além disso, os resultados obtidos poderão ser úteis a profissionais de psicologia interessados na aplicação do programa em outros contextos, ou na comparação com outras intervenções de gestão do stresse em profissionais de saúde. Para além disso, o presente estudo reúne também evidências que podem ser do interesse de profissionais de enfermagem ou directores clínicos interessados em implementar práticas de gestão do stresse adequadas às necessidades dos trabalhadores e do contexto ocupacional onde se inserem.

Por último, embora já existam em Portugal outros trabalhos sobre intervenções para a gestão do stresse em profissionais de enfermagem (p.e. Duarte e Pinto-Gouveia, 2016), este trabalho demarca-se pela sua utilização de um desenho de intervenção quasi experimental para avaliação da eficácia de uma intervenção. Este tipo de desenho de estudos não só é considerado como uma alternativa aos ensaios clínicos que utilizem grupos experimentais e grupos de controlo (Hawkins et al., 2007), como também é considerado mais adequado para aplicação em contexto organizacional (Cooper, 2015).

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7.2. Limitações

Relativamente às limitações do presente estudo podemos destacar vários pontos importantes:

Em primeiro lugar, os questionários quantitativos foram traduzidos para língua portuguesa, contudo, devido a questões de tempo e operacionalização não foi possível realizar a sua adaptação.

Relativamente à distribuição dos participantes pelos períodos de treino, embora Hawkins et al., (2007) recomendem a aleatorização da ordem dos participantes como forma de melhoria da validade externa, tal não foi possível de realizar no presente estudo uma vez que a distribuição dos participantes teve de ter em conta os períodos de férias de modo para garantir a assiduidades dos participantes nas sessões de treino. No que concerne à avaliação dos níveis de stresse dos participantes, Christ (2007) recomenda que o período de tempo da avaliação seja especificado a priori, referido na secção metodológica do estudo e explicitada na representação gráfica. No entanto, devido ao facto da amostra ser composta por enfermeiros trabalhadores por turnos, não foi possível definir um ponto específico que pudesse ser aplicável para que todos os participantes preenchessem os questionários de avaliação.

À semelhança de outros estudos (House citado por Bliese et al., 2017; Viswesvaran, Sanchez, & Fisher citado por Bliese et al., 2017) os resultados podem espelhar o papel das diferenças individuais e das variáveis contextuais na resposta ao stresse, uma vez que tal como nos trabalhos anteriormente referidos, verificou-se também no presente estudo a influência das questões de vida na experiência de stresse dos participantes.

É também importante referir que no presente estudo, o período de tempo de administração do programa foi encurtado de dez para cinco sessões, o que poderá ter comprometido os efeitos da intervenção e não ter possibilitado aos participantes o tempo necessário para desenvolver e consolidar adequadamente as suas competências de gestão do stresse. Para além do mais, existem fatores que podem ter influenciado os resultados da intervenção: o nível de envolvimento dos participantes, que segundo Cooper (2015) pode afetar a eficácia das intervenções realizadas em contextos ocupacionais, dificultando por conseguinte a persuasão dos participantes para a importância da mesma – aspeto também referido por Cooper (2015) como de elevada nocividade para a eficácia das intervenções de gestão de stresse desenvolvidas em contextos ocupacionais. Para além disso, a existência de exigências na vida dos

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participantes poderão ser fatores com influência sobre os seus níveis de stresse, sobre os quais não possuímos qualquer controlo.

Por último, importa ainda referir um aspeto importante também relacionado com a avaliação dos níveis de stresse. No presente estudo foram utilizadas apenas medidas de autorrelato como forma de avaliação da variável em estudo. No entanto, a literatura sobre stresse defende que a inclusão de medidas psicofisiológicas pode acrescentar valor à investigação psicológica ao proporcionar uma avaliação adicional e potencialmente corroborativa das medidas de autorrelato (Metzenthin et al., 2009; Smyth, Huckelbridge, Thorn, Evans & Clow, 2013). Por esta razão, uma limitação do presente estudo prende-se com a não utilização de medidas biológicas de avaliação dos níveis de stresse. Tal poderia ter sido feito através de medidas dos níveis de cortisol salivar, que segundo Rocha, Martino, Grassi-Kassisse e Souza, (2013) são medidas que permitem identificar concisamente a presença de stresse no trabalho de enfermagem.