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Capítulo 4 Estudo empírico 4.1 Metodologia

4.1.3. Desenho do estudo.

4.1.3.1. Descrição do desenho de linha de base múltipla. O desenho de linha de base múltipla1 (LBM) é um desenho experimental de sujeito único2 que pode ser

usado para avaliar a mudança intra-sujeito3, envolvendo geralmente múltiplos

participantes num contexto de replicação. A LBM permite determinar que a mudança de uma variável dependente em vários participantes se deve à introdução de uma variável independente em diferentes períodos de tempo (Smith, 2013). Neste sentido, na LMB, os participantes passam gradualmente de uma fase de linha de base inicial4 para uma

fase experimental (Christ, citado por Ferron, Moeyaert, Noortgate & Berevtas., 2014). A passagem gradual da fase de controlo à fase experimental para um ou mais participantes aumenta o número de oportunidades de comparação dos dados das condições experimentais e de controlo (Johnston & Pennypacker, 2009). A medição

1 Por linha de base, entende-se o nível de oscilação de uma variável dependente ao longo de um determinado período de tempo (Ex. a oscilação dos níveis de stresse nas cinco primeiras semanas anteriores ao inicio do treino de gestão do stresse).

2 Quando falamos de um sujeito único podemos referir-nos a um indivíduo, um contexto específico (Ex. um hospital) ou um contexto alargado (ex. Comunidade) (James Bell Associates, 2012).

3 Mudança entre a condição pré e pós intervenção.

4 Denominamos de “fase de linha de base inicial” o intervalo de tempo no qual a variável dependente em estudo é controlada até à introdução da variável independente (neste caso, a aplicação do treino de gestão do stresse). Esta fase varia para cada participante, em função do período de tempo no qual realizou o treino.

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simultânea da variável dependente em diferentes participantes permite estabelecer múltiplas linhas de base que funcionam como condições controlo até à introdução da variável independente em diferentes momentos temporais (Rhonda, Murray, Andridge, Penner & Hade 2011).

A LMB pode ser de tipo concorrente ou não concorrente. Na LBM concorrente, a variável independente é aplicada ao participante com a linha de base mais estável. Após existir a demonstração de um efeito de intervenção e a estabilização das linhas de base dos participantes subsequentes, o procedimento é repetido com o participante mais estável e assim sucessivamente. Este tipo de LBM é o mais comum e requer a avaliação dos níveis de base de dois participantes no mesmo período temporal (Carr, 2005), oferecendo também uma maior flexibilidade de estabelecimento de níveis de base estáveis (Christ, 2007).

Na LBM não concorrente, a aplicação da variável independente é feita de forma consecutiva, permitindo a avaliação dos participantes em diferentes períodos de tempo. Este tipo de desenho pode também ser entendido como uma série de replicações de condições A-B (ausência de tratamento-aplicação de tratamento) nas quais apenas difere a duração da fase de linha de base (Carr, 2005). A LBM não concorrente é especialmente vantajosa na investigação aplicada (Hayes citado por Carr, 2005), oferecendo também uma maior flexibilidade no recrutamento de participantes (Christ, 2007).

Em termos de variantes, a LMB pode ser aplicada inter contextos, comportamentos ou participantes. A LBM utilizada no presente estudo – inter participantes – consiste na aplicação consecutiva de uma variável independente (neste caso, do treino de gestão do stresse) em diferentes sujeitos ao longo de diferentes períodos de tempo (Huytema, 2011). Esta variante permite comparar o efeito de uma intervenção apresentada em diferentes pontos de tempo entre vários sujeitos, permitindo demonstrar uma relação causal entre o tratamento e as mudanças observadas (Watson & Workman, 1981). Tal é possível uma vez que, quando um ou mais sujeitos são expostos a uma sequência devidamente controlada de condições de controlo e experimentais, presume-se que as suas características pessoais permaneçam relativamente estáveis e constantes ao longo de todas as condições. Isto deixa apenas as variáveis externas associadas a cada uma das condições como forma de justificação de diferenças nos dados entre ambas. Com todas as variáveis externas devidamente controladas, é então possível demonstrar controlo experimental. O controlo experimental é uma relação causal apenas possível de ser provada quando

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todas as explicações alternativas aos resultados apresentados possam ser descartadas (Johnston & Pennypacker, 2009).

A literatura indica que a utilização de desenhos de LBM tem potencial para fazer contribuições científicas (Christ, 2007) e é vantajosa por diversas razões: Em primeiro lugar, a LBM não requer a retirada da variável independente (Carr, 2005); a duração relativamente curta dos desenhos de LBM evita a influência de efeitos de maturação (Christ, 2007); os desenhos de LBM possuem uma forte validade interna, uma vez que o início da intervenção é temporalmente espaçado entre os participantes (Ferron, Moeyaert, Noortgate & Berevtas., 2014), permitindo demonstrar não apenas que as mudanças observadas são resultado da intervenção, mas também a sua significância (Hawkins, Sanson-Fisher, Shakeshaft, D’este & Green, 2007). Por esta razão, a LBM tem sido sugerida como alternativa a ensaios clínicos aleatorizados (RCT’s) ou ensaios de grupo aleatorizados (GRT’s) uma vez que requer poucos sujeitos para testar uma intervenção, reduzindo os custos e as dificuldades de recolha de uma amostra suficientemente robusta para realizar os tipos de estudos referidos anteriormente (Hawkins et al., 2007; Kelly, 1980). Para além disso, face aos RCT’s, os desenhos de LBM requerem menos sujeitos, podendo os mesmos funcionar como os próprios controlos (Hawkins et al., 2007).

4.1.3.2. Operacionalização do desenho no presente estudo. Para a operacionalização do presente estudo, optou-se por um desenho de linha de base múltipla não concorrente inter participantes (Johston & Pennypacker, 2009). Os participantes foram distribuídos pelos diferentes períodos de intervenção em função da sua disponibilidade de forma a garantir a presença assídua em todas as sessões do programa. O programa foi administrado em 5 sessões de treino com a duração de 90 minutos cada. É também importante referir que, devido a constrangimentos de tempo não foi possível realizar avaliações de follow-up após o término do presente estudo.

4.2. Ambiente

Todas sessões de aplicação do programa “Gestão Otimista do Stresse” foram realizadas numa sala própria dentro da Unidade de Cuidados Continuados da Clínica de Vila Viçosa da Cruz Vermelha Portuguesa, cedida pela direção da instituição.