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Contributo da biomecânica para a análise de alterações da marcha

No documento Tese Mestrado são final corrigida (páginas 51-56)

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.4. Contributo da biomecânica para a análise de alterações da marcha

As patologias musculoesqueléticas, e a osteoartrose em particular, enquanto patologia mais prevalente, são um grupo de patologias que têm inerente a elas uma incapacidade para realizar atividades do quotidiano, e também um prejuízo significativo na qualidade de vida daqueles que delas sofrem, o que faz com que o impacto socioeconómico atribuível a estas seja elevado (Ethgen & Reginster, 2004), quer por custos diretos, quer indiretos.

É por esta soma de motivos, que Hunter & Riordan (2014) reconhecem a osteoartrose como uma das questões atuais mais prementes de saúde pública, sendo que este problema deverá agravar-se consideravelmente no futuro a menos que sejam tomadas medidas para prevenir a doença.

Quando se fala em prevenção, atualmente esta foca-se bastante na prevenção das consequências da doença quando esta está já instalada, ou seja, prevenir a sua evolução e agravamento da sua sintomatologia, incapacidade associada e dependência de terceiros, perda de qualidade de vida, perda de capacidade de trabalho, tendo sempre como pano de fundo os elevados custos sociais e económicos daqui decorrentes. A prevenção tem-se vindo a focar em terapêuticas medicamentosas e programas de exercício para retardar as consequências das patologias musculoesqueléticas, baseadas em indicações médicas e clínicas de guidelines, provenientes de organismos como a National Institute for Health

and Care Excellence, National Health and Medical Research Council, a Australian Acute Musculoskeletal Pain Guidelines Group. Também as modificações e adaptações dos postos

de trabalho e do tipo de trabalho em função das patologias e limitações do trabalhador, como sejam as publicações diversas (em patologias musculoesqueléticas e sectores de atividade laboral) de organismos internacionalmente reconhecidos como o Centers for

Disease Control and Prevention, mais concretamente o The National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH) e a Occupational Safety and Health Administration (OSHA).

Para que todas estas intervenções no âmbito da prevenção fossem possíveis, anteriormente houve uma exploração da biomecânica, para que existisse uma compreensão dos mecanismos cinemáticos e cinéticos do movimento humano, e especialmente da marcha, visto ser uma atividade diária indispensável.

Depois de todas estas décadas a desenvolver equipamentos para recolher dados e tecnologia que os analise, foi possível aplicar estes conhecimentos em intervenções com o objetivo de diagnosticar e prevenir as consequências inerentes às patologias musculoesqueléticas.

Desde há alguns anos a esta parte, o uso de tecnologias, e tecnologias da informação e comunicação, tem sido integrado na área da saúde a uma escala mundial, por exemplo, em consultas de telemedicina que visaram dar acesso a cuidados médicos em

regiões desfavorecidas e remotas do planeta, bem como na realização de cirurgias, em programas de promoção e monitorização da saúde, bem como em situações em que é necessária a intervenção de profissionais de saúde de forma urgente, e até mesmo nos sistemas de armazenamento de dados dos utentes (Lewis, Hodge, Gamage &Whittaker, 2012).

A tecnologia tem um sem número de aplicações na área da saúde, sendo uma área em crescente desenvolvimento. Isto adquire uma relevância ainda maior quando se verifica que a utilização de tecnologia e de tecnologia de informação e comunicação no dia a dia cresce exponencialmente a nível mundial, sendo que Portugal também acompanha esta tendência.

No nosso país, cerca de 60% das pessoas com idades entre os 16 e 74 anos utilizam a Internet, sendo que destas, 35% faz este acesso em mobilidade (Instituto Nacional de Estatística, 2012). Estes níveis de utilização representam um crescimento médio anual de 8% no uso de computador e 9% na utilização de Internet, entre 2008 e 2012. Em relação ao computador e à Internet, existe um maior nível de utilização na faixa etária entre os16 e os 24 anos (Instituto Nacional de Estatística, 2012).

Entre os utilizadores de Internet, 35% usam equipamento portátil1 para aceder à

Internet fora de casa e do local de trabalho, sendo o computador portátil o mais usado neste tipo de acesso (27% dos utilizadores de Internet). Também o chamado equipamento de bolso2, é já usado por 21% dos utilizadores para aceder à Internet em mobilidade,

aparecendo o telemóvel como o mais utilizado para o efeito. Geralmente, a utilização de equipamento de bolso para
navegar na Internet em mobilidade, é sobretudo usado para trocar e-mails (70%), participar em redes sociais (63%), e ainda para ler ou fazer download de notícias online, jornais ou revistas (54%) (INE, 2012).

Contudo, a aplicação destas tecnologias de informação e comunicação é feita especialmente pelos adolescentes, dos 10 aos 15 anos, sem registo de diferenças significativas entre homens e mulheres: 98% usam computador, 95% acedem à Internet e 93% utilizam telemóvel (INE, 2012).

1 Equipamento portátil inclui: computador portátil, telemóvel ou outro equipamento de bolso como computador de bolso, consola de jogos portátil, leitor de áudio digital ou leitor de e- book.

2 Equipamento de bolso inclui: telemóvel ou outro equipamento de bolso como computador de bolso, consola de jogos portátil, leitor de áudio digital ou leitor de e-book.

De acordo com o Estudo Barómetro de Telecomunicações da Marktest, no trimestre móvel de maio de 2015, 5.383 milhões de indivíduos utilizam smartphone, o que corresponde a 59,4% dos possuidores de telemóvel residentes em Portugal com 10 e mais anos de idade. É mais de metade da população, se forem tidos em conta os números do Censos 2011, que indica um total de 9 milhões e 554 mil indivíduos. (Grupo Marktest, 2015).

A penetração deste equipamento tem crescido sempre, tendo aumentado 83% relativamente ao observado em dezembro de 2012 (Grupo Marktest, 2015), destacando-se os jovens dos 15 aos 24 anos, onde as taxas de utilização crescem acima do valor médio em 55% (Grupo Marktest, 2015).

E a tendência é para continuar. Em 2013, a International Data Corporation

Portugal contabilizou a venda de 2,19 milhões de smartphones. Até ao fim de 2014, a

consultora estimou que seriam comercializados 2,54 milhões de aparelhos - mais 12% que em 2013 (Jornal de Notícias, 2014).

Assim sendo, e visto que também a prevenção das consequências inerentes às patologias musculoesqueléticas conta com um número avultado de estudos, estando já bastante desenvolvida na atualidade, por que não retroceder ainda um pouco mais no natural decurso das patologias musculoesqueléticas e osteoarticulares degenerativas, e considerar como o próximo passo na investigação científica nesta área, o uso das tecnologias já existentes para detetar precocemente alterações nos parâmetros biomecânicos da marcha que possam ser indicadores de desenvolvimento de patologias musculoesqueléticas no futuro, ainda antes de existirem sintomas indicadores de patologia?

É tendo em conta esta perspetiva e, focando-se numa deteção de alterações nos indicadores/parâmetros biomecânicos ligados ao aparecimento da patologia, que este trabalho surge. Para já partimos para uma avaliação de parâmetros cinemáticos da marcha, mais concretamente os parâmetros espácio-temporais da marcha, para percebermos se estes (e quais em concreto) são alterados com o decurso da idade em patologias unilaterais do membro inferior. Este será um primeiro passo para que possamos transferir este tipo de conhecimentos e usá-los como base para desenvolvimento de aplicações para smartphones, que usando elementos já existentes nos smartphones, nomeadamente o acelerómetro e

giroscópio, que recolhem e avaliam o nosso movimento diariamente, sendo capazes de detetar diferenças nos nossos padrões de movimento ao longo do tempo, diferenças essas que estarão ligadas ao desenvolvimento de patologias musculoesqueléticas, e diferenças essas que são detetadas quando ainda só se tratam de alterações predisponentes e não existe qualquer tipo de patologia instalada.

Já neste sentido, ou perspetiva anteriormente descrita, aponta o estudo de Sun, Wang & Banda (2014), o qual usou iPhones, que incluem acelerómetro triaxial e giroscópio, para determinar parâmetros da marcha baseados nos dados recolhidos através destes, sem que haja qualquer necessidade de recorrer a sistemas que incluam medições de sensores inerciais, quer sejam eles integrados em fatos ou não. O objetivo deste estudo foi perceber se o iPhone (sendo apenas um ponto de recolha e não vários sensores) tem capacidade para recolher dados fidedignos e comparáveis, em diferentes pavimentos, estando colocado em diferentes localizações do corpo e em vários sujeitos. Os resultados obtidos demonstraram que os dados recolhidos pelo iPhone podem constituir uma base de dados consistente e fidedigna para a análise de marcha, ainda que mais estudos necessitem ser realizados.

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