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Contributos científicos a partir das análises bibliométricas

CAPÍTULO I – OS ESTUDOS BIBLIOMÉTRICOS

SEÇÃO 2 Contributos científicos a partir das análises bibliométricas

Em termos de contributos, as investigações apoiadas pelas técnicas e as análises bibliométricas oportunizam investigadores a identificarem, entre outros aspectos, tendências nas dimensões de determinado campo científico, como já citado anteriormente. Para compreender melhor esses e outros resultados específicos de investigações, que foram realizadas com o suporte da bibliometria e, ao mesmo tempo, reforçar a utilidade dessas análises como estratégias de produção e difusão do conhecimento científico, serão discutidos a seguir: objetivos, estrutura temporal, banco de dados, tipo de análise e os contributos de alguns estudos na área de Gestão e de Empreendedorismo.

A Tabela 1 traz um resumo de alguns aspectos de investigações, que se apoiaram nesse tipo de análise, para atenderem a diversos objetivos relacionados à produção de novos conhecimentos e novas formas de se organizar a produção do mesmo entre uma variedade de disciplinas associadas a diferentes comunidades científicas. Vários autores realizaram estudos bibliométricos para entender o estado da arte em diferentes disciplinas e subcampos.

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Tabela 1: Contributos de investigações que se apoiaram nas técnicas e análises bibliométricas

Autor Objetivos Amostra Estrutura

temporal

Contributos

Landström & Aström (2012).

Identificar os estudiosos que fizeram importantes contribuições cognitivas para a evolução do campo;

Investigar a distribuição geográfica e as áreas temáticas dos usuários do conhecimento.

12 manuais com 185 capítulos; . Amostra final: 135 obras principais SSCI da WOS.

Período de 1980 a 2010 subdividido em 3 décadas

Identificou os produtores “de conhecimento” que moldaram o campo ao longo do tempo e seus principais trabalhos de pesquisa de empreendedorismo

Fagerberg, et al. (2012).

Investigar o surgimento e características de campos disciplinares orientados para problemas relacionados aos domínios da inovação.

11 manuais de 277 capítulos sobre diferentes aspectos da inovação. Isso deu um conjunto de 130 publicações de núcleo. 3 Períodos multianos: 1950-1969; 1970-1989 e 1990-2008.

Explorou a estrutura da base do conhecimento sobre a inovação, identificando o núcleo da literatura, as características, os usuários dessa literatura e os desafios para o desenvolvimento contínuo do campo.

Martin (2012)

Analisar publicações altamente citadas no campo de pesquisa bibliométrica para estabelecer se os temas dessas publicações e, mais especificamente, as alterações desses temas nos últimos 20 anos, fornecem evidências de uma incidência crescente de produção de conhecimento do “modo 2”

Não idedntificada no corpo do documento. Período: 1990- 2009 dividido em 4 subperíodos de 5 anos cada, Idem Período: 1970-1989.

Apresenta que há indícios de que bibliometria, como um campo de pesquisa, expôs uma mudança de produção de conhecimento para o “modo 2” nas últimas duas décadas

Backhaus, Lugger, & Koch (2011)

Detectar as principais pesquisas (artigos, os autores e os periódicos) B2B em quatro períodos de tempo desde 1972.

Bibliografias de 1392 artigos B2B publicados no IMM, JBBM, e JBIM e as principais revistas de marketing (MJ). 4 períodos multianos (1972-1978, 1987-1991, 1998-2000 e 2007-2009). Descreveu a diversificação da disciplina paralela com uma crescente conectividade de áreas de investigação do núcleo B2B e trocas mais abrangentes de conhecimentos relevantes.

Ronda-Pupo & Guerras- Martín (2010).

i) Estabelecer a evolução da rede científica da “Gestão Estratégica” por meio do

Strategic Management Journal. Ii)

Caracterizar as diferentes fases que a rede da GE atravessou; iii) Determinar o nível de significância da cooperação internacional sobre o conhecimento na área de GE. Todos os artigos publicados no SMJ, do volume 1, nº 1/1980, até o volume nº 30/2009. Período de 30 anos: 1980 a 2009. O período foi estratificado em 3 etapas de 10 anos cada:

Mostrou que a estrutura de rede da comunidade científica da GE em torno do SMJ passou por três estágios: 1) Formação/incorporação; 2) Consolidação/divulgação; 3) Expansão/transformação. Ferreira et al. (2010).

Examinar o estado da arte da pesquisa sobre empreendedorismo na academia brasileira,

Artigos apresentados no EnANPAD Período de 1997 a 2008 - período de 12 anos.

Foi útil para compreender como a academia brasileira tem evoluído e, revelar algumas áreas que podem ser exploradas no futuro. Waugh &

Ruppel (2004).

Determinar periódicos fundamentais na disciplina;

Proporcionar a Morris Library um guia para aquisição e manutenção de periódicos na disciplina,

Fornecer aos futuros alunos uma lista de periódicos do núcleo da disciplina.

265 dissertações, teses e trabalhos de pesquisa de pós-graduação em Educação da força de trabalho e Desenvolvimento na SIUC. Trabalhos escritos de 1995 até 2002 Exemplificação do processo de análise de citações útil para determinar revistas centrais em outros campos interdisciplinares.

Schildt &, Sillanpää (2004).

Realizar análise bibliométrica das referências mais citadas em artigos de empreendedorismo;

Explorar a relação entre grupos de investigadores;

Apresentar diferenças em tendências para citar os grupos identificados entre vários países e IES.

1.650 artigos relacionados ao empreendedorismo de 30 revistas – Plataforma: SSCI, ISI WOS publicados durante os últimos 10 anos.

Período de 1994 a 2003.

Apresentou os grupos de autores mais importantes sobre o empreendedorismo em conjunto com uma rede mostrando a interdependência entre esses grupos de investigadores.

Glänzel & Schubert (2003).

Analisar as redes científicas por meio da colaboração e dos indicadores baseados em coautoria em três níveis: i) Individual; ii) Transacional; iii) Multinacional.

Todos os documentos registados nos volumes anuais (artigo carta, nota ou revisão) extraídos do SSCI – ISI. Publicações acumuladas nos anos 1980, 1990 e 2000.

Forneceu uma visão geral do desenvolvimento e aplicação de indicadores baseados em coautoria.

Fonte. Elaboração própria a partir da revisão da literatura.

Esses estudos recorreram a diferentes bases de dados para executar uma análise aprofundada da disciplina. Landström e Åström (2012) e Fagerberg et al. (2012) utilizaram referências citadas a partir de capítulos de “Handbooks” em pesquisas sobre empreendedorismo e inovação, respectivamente. Para esses autores, os capítulos desses manuais, geralmente, escritos por especialistas e estudiosos proeminentes dentro do campo, parece razoável supor que esses incluem as referências mais importantes e relevantes para seus trabalhos acadêmicos. Assim, partem do princípio que o

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subconjunto de referências, referido muitas vezes nos “manuais”, constitui as obras fundamentais do campo.

Ronda-Pupo e Guerras-Martín (2010) constituíram o banco de dados de seus estudos com todos os artigos publicados em um único periódico, o Strategic Management

Journal (SMJ). Os autores justificaram a escolha pelo facto de SMJ ser uma das três

melhores revistas dentro da área de Gestão estratégica de todo o mundo, para além de manter um crescimento estável em seu fator de impacto para os últimos 4 anos que antecederam ao estudo. Backhaus et al. (2011) se apoiaram nos artigos publicados em três importantes revistas do Marketing Business-to-Business (B2B), o Industrial

Marketing Management, Journal of Business-to-Business Marketing e o Journal of Business and Industrial Marketing. Varandas Junior et al. (2011) fizeram uso das

publicações da base de dados de periódicos da plataforma ISI Web Of Knowledge do portal CAPES – Brasil para constituir o banco de dados de seus estudos. Schildt e Sillanpää (2004) utilizaram os artigos com assuntos relacionados ao empreendedorismo publicados em 30 revistas indexadas ao Social Science Citation Index (SSCI), ISI Web

Of Science. Martin (2012) os principais periódicos utilizados pelos pesquisadores

bibliométricos, incluindo Scientometrics, Journal of the American Society of

Information Science and Technology (JASIS), Research Evaluation, Journal of Information Science, Journal of Informetrics and Information Processing and Management. Ferreira et al. (2010) utilizaram as comunicações apresentadas em

conferências (EnANPAD) e Waugh e Ruppel (2004) os trabalhos de pesquisa, teses e dissertações de estudantes de pós-graduação de uma IES.

Outro aspecto relevante no que diz respeito a esse tipo de análise é a estrutura temporal definida pelos estudos. Nos estudos de Backhaus et al. (2011) sobre o marketing B2B, os artigos foram agrupados em quatro períodos multianos (1972-1978, 1987-1991, 1998-2000 e 2007-2009), cada um com um comprimento mínimo de, aproximadamente, três anos e distância entre os períodos de um mínimo de seis anos, para reduzir variações aleatórias de curto prazo (Van Raan, 1996).

Noutra perspectiva temporal, Ronda-Pupo e Guerras-Martín (2010) consideram um intervalo de 10 anos adequado, por representar um período importante de crescimento e de maturidade de um determinado campo científico. Nessa linha, estudaram a evolução

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da produção científica da Gestão estratégica a partir da criação do jornal de referência, o

Strategic Management Journal (SMJ) em 1980 e final, em 2009, data do último

exemplar de três décadas de publicações. Esse período foi estratificado em três etapas de dez anos cada. Da mesma forma, Landström e Aström (2012) utilizaram esses mesmos critérios de estratificação temporal, e Martin (2012) dividiu quatro décadas de estudo em quatro subperíodos de cinco anos cada.

Por outro lado, sem a preocupação de uma análise dinâmica da evolução do campo, Varandas Junior et al. (2011), Waugh e Ruppel (2004) e Schildt e Sillanpää (2004) realizaram seus estudos com base numa análise estática, ou seja, com a definição de um único período (ver Tabela, pág. 41). Tal como a estratificação temporal e as fontes de dados desses estudos, os tipos de análises utilizadas também foram diversificados, tais como as análises de rede social e de copalavras (Ronda-Pupo & Guerras-Martín, 2010); a Análise de citações (Waugh & Ruppel, 2004) e de cocitações (Backhaus et al., 2011); a Análise de cluster (Fagerberg et al., 2012); as Frequências de cocitação e os links mais fortes entre autores e a representação gráfica da estrutura intelectual do núcleo de conhecimento do campo (Landström & Aström, 2012); as técnicas bibliométricas para apresentarem a evolução da literatura e das citações ao longo do tempo e Análise de rede social (Varandas Junior et al (2012); Análise de cocitações e de coautoria (Schildt & Sillanpää, 2004).

Em relação a essas pesquisas, a seleção de banco de dados contou com a escolha das revistas da área, conforme o interesse específico de cada estudo, de modo que o escopo das investigações é limitado automaticamente a uma determinada base de dados. Nesse sentido, é razoável supor que uma ampliação da seleção de periódicos, alterações na estratificação temporal, ou ainda, a seleção de palavras-chave poderiam alterar os resultados.

Em termos de contributos, os resultados dessas investigações permite-nos considerá-los como valiosas para o desenvolvimento da produção e da evolução do conhecimento, oportunizando os autores identificarem, por exemplo, as evoluções ocorridas nas estruturas intelectual, social e conceitual de diversas áreas do conhecimento, destacando a importância acentuada de autores, tópicos temáticos, publicações, relações

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intergrupais, distribuição geográfica, cooperação internacional, etc., ou ainda, a caracterização de estágios ao longo do desenvolvimento dos diversos campos.

As respostas às questões de pesquisa levantadas, em torno da evolução ao longo do tempo dos diversos campos científicos, trouxeram resultados que, dificilmente, seriam obtidos se não pela via da bibliometria. Geralmente, outras estratégias utilizadas para realizar estado-da-arte não revelam o estado do conhecimento sobre sua estrutura e evolução. Estudos bibliométricos usam pesquisas publicadas para avaliar tendências e, eventualmente, definir padrões, contribuindo, assim, para explorar, organizar e dar sentido aos trabalhos feitos em certa disciplina. Fornece um método eficaz para mapear tematicamente um campo específico de estudo e permite-lhes ser visto de forma holística. Assim, ajuda a evitar as armadilhas de uma revisão de literatura narrativa, que, às vezes, pode ser vulnerável às críticas de que a escolha dos artigos foi parcial, arbitrário ou de âmbito limitado.

Consoante aos objetivos desses estudos, em termos de novidades, pode-se expressar que eles agregaram, nas análises, unidades pouco utilizadas, como os países, mostrando a estrutura geoespacial de disciplinas, a interdisciplinaridade, os indícios de mudança da forma de produção do conhecimento para o “modo 2”, a natureza mutante dos campos, os núcleos de conhecimentos, as principais mudanças nas práticas de publicação à medida que autores, cada vez mais, procuram maximizar sua pontuação em um ou mais indicadores bibliométricos, as teorias assumidas e as direções das pesquisas para o futuro.

Entre os contributos aqui já citados, o conjunto desses documentos, no mínimo, representa relevantes esforços de pesquisa para as disciplinas, uma vez que seus resultados são semelhantes com outras revisões de literaturas existentes. Essas abordagens bibliométricas poderão ser reveladoras das lacunas de pesquisa, conexões entre autores e teorias, ajudando a investigação científica a responder com mais responsabilidade suas demandas.

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CAPÍTULO II – ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA: EXPLORANDO A BASE DO CONHECIMENTO DA EDUCAÇÃO PARA O EMPREENDEDORISMO.

INTRODUÇÃO

O crescimento excepcional da educação para o empreendedorismo, a partir dos anos de 1990, como campo científico, revela que as interações temáticas começam a ser reconhecidas, o que torna evidente a necessidade de desenvolver estratégias para descrever empiricamente as questões fundamentais, que suscitam respostas para as perspectivas e os impactos desse crescimento para o século XXI. Neste contexto, as análises bibliométricas poderão ser excelentes estratégias para revelar essas interações entre diferentes escolas de pensamento e oferecer maior objetividade aos resultados.

Este estudo utilizou técnicas bibliométricas e análise de cluster para apresentar a evolução temática da pesquisa sobre EE. O estudo apoiou-se nas análises de copalavras para descrever as interações invisíveis que existem entre diferentes fases do processo evolutivo do campo e, para melhor compreender o desenvolvimento ao longo do tempo da dimensão conceitual.

O estudo é constituído de três seções: A primeira seção destina-se aos procedimentos metodológicos, descrevendo-os a partir da seleção das palavras-chave de buscas, dos critérios para constituição do banco de dados e as demais etapas de desenvolvimento do estudo. Os resultados e as discussões desta investigação serão apresentados na segunda seção. Nesta seção será dada uma interpretação sobre a natureza quantitativa e qualitativa da pesquisa, levando em conta as especificidades de cada intervalo de tempo observado nas interações entre as várias áreas temáticas no campo, e na última seção, as considerações finais do estudo.

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