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Capítulo 5 Conclusões e Contributos

5.2 Contributos e limitações do estudo

Tal como foi referido no início deste trabalho, o estudo empírico realizado foi fortemente condicionado pelas restrições de tempo e meios, pelo que, não se pretendeu, em nenhum momento da investigação, que veiculasse todas as respostas e explicações possíveis às questões inicialmente colocadas. A própria natureza exploratória do estudo não permite generalizar resultados, nem mesmo, chegar a um nível aceitável, digamos assim, de profundidade em nenhum dos aspectos estudados.

A complexidade do fenómeno estudado, reconhecida por investigadores experientes e de mérito científico provado, não nos deixou a possibilidade de acreditar que, no âmbito de um trabalho académico desta natureza, pudesse ser possível chegar muito mais longe. Contudo, o trabalho realizado permitiu, ainda assim, explorar um conjunto de questões, pertinentes ao estudo do empreendedorismo, que tiveram o seu contributo para o entendimento da realidade das empresas situadas na Zona Industrial de Albergaria-a-Velha. A riqueza do método utilizado, não obstante a inexperiência do investigador, permitiu também, perceber melhor, por via das múltiplas fontes consultadas, as diferentes percepções do fenómeno.

O estudo permitiu perceber que os factores motivadores e, de alguma forma, facilitadores da Inovação nestas empresas são, para os líderes, a transferência tecnológica, a cooperação e as redes, bem como, o nível de competência, formação das pessoas e o trabalho em equipa. Para as equipas de gestão são factores motivadores da inovação, o gosto pela função, a progressão na carreira e o reconhecimento das chefias. Os factores que mais inibem as pessoas de perseguirem as oportunidades de criar algo novo, são o ambiente de trabalho desfavorável e, muitas vezes, as deficientes condições e recursos para as funções que exercem. Os líderes salientaram o facto de não haver financiamento de médio e longo prazo orientado ao investimento, a insuficiente colaboração e eficácia das estruturas de suporte ao nível da investigação e do saber, e a burocracia dos organismos públicos de que dependem as empresas para, por exemplo, certificarem produtos.

As motivações para a constituição das empresas, no caso dos fundadores entrevistados, e para a liderança nos restantes casos, são diversas. Actualmente, é notória, na quase totalidade dos casos, uma preocupação com o assegurar do dinamismo empreendedor dos primeiros anos, bem como, com o problema do “crescimento” e da perda de controlo, em algumas da empresas. Foi interessante verificar que os líderes reconhecem a dificuldade na gestão das pessoas, não obstante a sua boa preparação académica e experiência de gestão. Consideram também, que escolher e gerir bem as equipas, são competências fundamentais do líder de uma qualquer empresa.

Foi unânime o reconhecimento da importância desta força motora para a capacidade de empreender das empresas, embora não tenha ficado claro, como se traduz, na prática, esse contributo.

Num dos casos, foi salientada a importância da formação técnica, de nível superior, para a qualidade da equipa de gestão. Percebeu-se que, na generalidade dos casos, se não mesmo em todos, os líderes consideram que as suas equipas necessitam de mais e melhor formação, e que seria interessante que todos os elementos possuíssem habilitações de nível superior. Contudo, na maioria das situações, os esforços institucionais para promover formação, de forma sistemática e continuada, são manifestamente insuficientes (como é, até, reconhecido pelos responsáveis, entrevistados para este estudo).

No que concerne às limitações do estudo, importa referir uma limitação incontornável que se prende com o tamanho e a representatividade da amostra. A amostragem por conveniência, aqui utilizada, conduziu a sete casos de estudo, muito condicionados à disponibilidade das empresas e dos interlocutores em cada uma delas, e, também, tal como já se referiu, às próprias limitações do investigador.

Considerando, ainda, a questão das limitações do investigador, importa referir que o método do estudo de caso, muito rico neste tipo de investigação, concretamente, investigação que visa “compreender uma realidade presente” (Reto e Nunes, 1994), está particularmente indicado para investigadores seniores. A sua utilização em trabalhos de diagnóstico e análise organizacional exige, segundo Reto e Nunes (1994), características pessoais ao investigador idênticas à de um clínico: ser um bom ouvinte, colocar questões pertinentes, ser adaptativo e flexível por forma a incorporar informações inesperadas, bem como, tanto quanto possível, ser um perito no campo que se encontra a estudar. Como bem se pode entender, tratando-se esta dissertação de um trabalho de iniciação à investigação, não é possível garantir que todos, ou mesmo parte destes requisitos, tenham sido cumpridos pelo investigador.

Relativamente aos métodos e instrumentos de recolha de dados utilizados - o inquérito por questionário e a entrevista – importa referir as limitações que lhe estão associadas e que, inevitavelmente, limitaram também este trabalho. Assim, Quivy e Campenhoudt (1998), advertem para a superficialidade das respostas a um inquérito por questionário, para a

individualização dos entrevistados que são isolados das redes sociais, e ainda, para a fragilidade da credibilidade do instrumento. Este último aspecto exige que a utilização do instrumento seja

feita com cuidados acrescidos, nomeadamente, o rigor na escolha da amostra, a formulação clara e inequívoca de perguntas, a correspondência entre o universo de referência de perguntas e o universo de referência dos inquiridos, bem como, a atmosfera de confiança em que decorre o

questionário. Relativamente ao rigor na escolha da amostra, importa referir que, neste trabalho, optou-se por deixar à consideração dos líderes entrevistados, o número de inquéritos a realizar nas suas empresas, bem como, a selecção dos inquiridos. Dada a diversidade de estruturas organizacionais nos casos de estudo, entendeu-se ser mais conveniente deixar essa decisão aos líderes. Tal facto, como se pode perceber, não permite um controlo efectivo sobre a amostra, nem sobre a execução do próprio inquérito, que foi preenchido sem a presença do investigador.

Ainda relativamente aos instrumentos de recolha de dados, deve-se acrescentar que a flexibilidade da entrevista pode levar o entrevistador a “conversar” de qualquer maneira, descurando o rigor. Esta flexibilidade pode, também, induzir o entrevistador a acreditar na total espontaneidade do entrevistado, bem como na sua própria neutralidade (Quivy e Campenhoudt, 1998). No trabalho que foi desenvolvido há a referir a pouca experiência do entrevistador na utilização do instrumento, e também o seu pouco domínio do assunto, tal como já foi referido.

Quivy e Campenhoudt (1998), em relação à preparação e tratamento dos dados, chamam a atenção para a importância de escolher as medidas estatísticas de acordo com a natureza das variáveis. Assim, medidas como a média, devem ser usadas para descrever variáveis contínuas, quantitativas, portanto. Quando se trata de variáveis nominais ou ordinais, as medidas a usar são a mediana e as percentagens, respectivamente. Neste estudo, e por uma questão de simplificação, usaram-se médias para descrever variáveis ordinais, com o objectivo de avaliar uma tendência, ainda que, essa opção tenha, de alguma forma, hipotecado o necessário rigor estatístico.

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