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A necessidade da sociedade em criar mecanismos de disciplina para a convivência entre os indivíduos da sociedade dizem respeito a aplicação de instrumentos formais e informais de controle com base em um plano social. Ocorre que tais instrumentos tem falhado, pois dentro do contexto de socialização o indivíduo não se encaixa com as imposições postas pelo Estado.

Godoy (2007, p. 155) diz que

Nesta linha de intelecção, vale lembrar que a teoria do controle social baseia- se no princípio pelo qual a ordem estabelecida em determinada sociedade ou em determinado grupo humano procura assegurar a obediência de seus membros através de padrões de comportamento, sendo esses de natureza jurídica, moral, política, econômica, ideológica, filosófica, religiosa, literária, artística, e assim por diante, tudo corroborado com os interesses das classes economicamente fortes e politicamente dominantes. Cumpre ratificar, que é nesse arcabouço que se encontra a problemática da criminalização, ou melhor, os critérios relacionados às ações e omissões humanas consideradas anti-sociais, delituosas, enfim, sujeitas à repressão penal.

Infelizmente, o Estado utiliza a prisão como um instrumento formal de controle, ocorre que tal visão não passa de uma ilusão descabida, pois o indivíduo que tem sua liberdade privada é colocado em condições humilhantes, uma vez que nenhuma prisões brasileiras possuem caráter pedagógico, muito pelo contrário, estas auxiliam na deterioração do corpo e da mente do sujeito. Desta forma,

[...] o condenado à prisão adentra em um ambiente alienante, onde todas as relações são deformadas no âmago. Além da privação da liberdade, a prisão acarreta inúmeras outras sequelas ao indivíduo, que penetra num mundo não natural, onde tudo é restritivo. As regras de vida na prisão fazem prevalecer relações de passividade-agressividade e de dependência-dominação, que de forma consideravelmente generalizada não deixam espaço para a iniciativa e o diálogo, são hábitos que incentivam o desprezo pela pessoa, aumentando o isolamento interior, visto que, o ambiente de opressão desvaloriza a autoestima, fazendo desaparecer a comunicação autêntica com o próximo e impedindo a construção de atitudes e comportamentos socialmente aceitáveis para quando chegar o dia da libertação. (GODOY, 2007, p. 157)

Nesse sentido, a prisão despersonaliza o homem, bem como, dessocializa, pois tal instituição tem caráter retrógado, submetendo o indivíduo a condições

degradantes, sem que seja observado os direitos e garantias fundamentais do homem, assim, para Godoy (2007, p. 158), “[...] não há outra vertente senão mudar o eixo da política criminal brasileira, o que pode se dar através de um direito penal mínimo”.

No que diz respeito ao encarceramento de massas, frente a política de combate às drogas no Brasil,

[...] o que se percebe é o grande número de pessoas recolhidas à prisão por tráfico de drogas, e a consequente ineficácia das medidas voltadas ao usuário, que não deve, por determinação legal, ser apenado, mas sim receber tratamento do Estado. De fato, o legislador não se preocupou em estabelecer critérios claros e objetivos para distinguir a figura do traficante da do usuário. Assim, é comum que usuários sejam processados e condenados pela prática do crime de tráfico de drogas, refletindo a seletividade do aparato penal. (SILVEIRA, 2020, p. 2)

Desta forma, a seletividade punitiva pune rotineiramente indivíduos que pertencem às camadas mais baixas da sociedade, situação que pode ser observada através do dados divulgados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em agosto de 2018. Estes mostram que 95% da população carcerária são homens e apenas 5% mulheres; 30% dos presos tem entre 18 e 24 anos de idade; já quanto ao tipo de delito que conduziu a grande maioria das pessoas à prisão, 27% estão presos pelo crime de roubo, enquanto 24% da população carcerária, valor que corresponde a quase 1/4, estão recolhidos à prisão pela prática do tráfico de drogas. (JUSTIFICANDO, 2020)

Tais dados nos mostram o perfil do criminoso pelo Estado; para Andrade (1997, p. 270), a “[...] clientela do sistema penal é constituída de pobres, não porque têm maiores chances para delinquir, mais precisamente porque têm maiores chances de serem criminalizados e etiquetados como delinquentes”, portanto, correspondem com a massa marginalizada da sociedade. Assim, conforme Silveira (2020, p. 2)

[...] não basta que o sistema tenha um discurso ideológico, mesmo que não sirva para proteger todos ou para cumprir as funções de recuperar. É preciso selecionar as pessoas que serão punidas, para provar que o sistema está cumprindo o seu papel social. Para ocorrer à seleção das condutas, ou pessoas na verdade, é preciso operar um elaborado processo de seleção. E esse processo de seleção de pessoas é o método pelo qual se escolhe quem efetivamente será punido por cometer crime, quem efetivamente vai ser taxado como criminoso. Bissoli (1998, p. 180) enfatiza que a seleção acontece devido à impossibilidade de prever todos os possíveis crimes, assim como também é impossível punir todas as pessoas que cometem crime. Por isso, mesmo que o processo de criminalização devesse tratar igualmente todas as pessoas e interesses não é isso que ocorre, ele é desigual e seletivo.

Ainda no que diz respeito ao encarceramento de massas, de modo a demonstrar a seletividade penal, uma pesquisa realizada pelo DEPEN – Departamento Penitenciário Nacional - trazendo o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias - INFOPEN, de 2014, demonstrou que no Brasil a população carcerária correspondia a 607.741 presos, 4º lugar entre os 20 países com maior número de presos no mundo, tais dados, mostraram que 31% dos presidiários estão dentro da faixa etária de 18 a 24 anos; 67% dos presos são da cor negra, ou seja, a cada 03 pessoas presas, 02 são negros, além disso, 53% dos presos não possuem se quer o ensino fundamental completo. No que diz respeito ao tráfico, este é o crime mais condenado pelo Brasil, totalizando no ano da pesquisa 55.920 presos por tráfico, 7.655 por associação ao tráfico, e 2.738 por tráfico internacional de drogas, destes números, 60% dos presos por tráfico são negros e pardos. (SILVEIRA, 2020, p. 4)

Nesse sentido,

Resta evidente, portanto, que a política criminal de drogas, no ordenamento jurídico brasileiro, é sim seletiva e contribui para o encarceramento de massas e o controle social. A quase totalidade dos aprisionados pela prática dos delitos consagrados na Lei de Drogas são pobres, de baixa escolaridade, cor predominantemente negra. Infelizmente, rotula-se o traficante e o usuário, e as políticas de droga se voltam, automaticamente, ao sancionamento destes indivíduos. (SILVEIRA, 2020, p. 3)

O controle de massas e a seletividade penal são dois instrumentos que devem ser extintos do Estado democrático de direito, evitando com que os indivíduos recebam rótulos devido a estereótipos, bem como possibilitar uma maior eficácia por parte da preocupação do Estado em reduzir os índices de violência.

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