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4. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS – PROVEDORES DE ACESSO À INTERNET

5.2 Convênio ICMS n.º 139/2006

Nos termos destacados supra, ao contrário do que ocorre com a legislação do ISSQN, não existia a menção expressa no que se refere à sujeição passiva dos prestadores de serviços de monitoramento e rastreamento de bens em relação ao ICMS.

Tal omissão, tecnicamente, ainda persiste, pois não existe qualquer lei, em sentido estrito, que menciona expressamente o aludido serviço como fato gerador do tributo. Em verdade, os Estados somente se atentaram para a tributação desse mercado em meados da primeira década dos anos 2000.

Assim, como no caso dos prestadores de serviços de provedores de acesso à internet, os Estados entenderam que o ato de monitorar ou mesmo rastrear bens e pessoas seria qualificado como um serviço de comunicação, configurando, pois, fato gerador da exação estadual.

O Convênio ICMS n.º 139/2006, por sua vez, foi o primeiro ato relacionado ao ICMS que menciona expressamente esses serviços e os caracterizam como serviços de comunicação para fins de incidência dessa exação.

O aludido convênio não trata sobre questões referentes a fato gerador ou mesmo traz definições sobre o alcance dos serviços, papel esse de legislação complementar, frise-se. Os Estados, no âmbito do Confaz, autorizam a remissão parcial dos débitos tributários decorrentes do não recolhimento do ICMS incidente sobre os serviços de comunicação na modalidade de rastreamento.

Em outras palavras, os Estados demonstram por meio da celebração do convênio que os serviços de monitoramento e rastreamento de bens e pessoas configuram fatos geradores do ICMS de maneira tácita, pois autorizam a remissão de débitos e a concessão de regime especial de recolhimento.

O fato foi trazido à tona não apenas pela evolução e crescimento desse setor, mas pode ser relacionado com o aumento da insegurança nos grandes centros urbanos, sendo os serviços utilizados primordialmente para localização de veículos furtados ou roubados.

Em verdade, para fins de contratação de seguros automotivos, a grande maioria das seguradoras exige a instalação e a contratação de serviços de monitoramento e rastreamento, quando não oferecem esses serviços diretamente.

Adicionalmente à anistia de valores, foi, ainda, autorizado aos Estados conceder redução de base de cálculo do ICMS com o intuito de diminuir a carga tributária das empresas do setor.

Não foi surpresa que muitos Estados, como São Paulo, reduziram a base de cálculo do tributo de 25% (alíquota do ICMS para serviços de comunicação) para um quinto dessa alíquota, qual seja: 5%, coincidentemente a alíquota máxima do ISSQN:

Artigo 47 (Rastreamento de veículo e carga). Fica reduzida a base de cálculo do imposto incidente na prestação de serviço de

comunicação, na modalidade de monitoramento e rastreamento de veículo e de carga, de forma que a carga tributária resulte no percentual de (Convênio ICMS-139/06): (Artigo acrescentado pelo Decreto 51.484, de 16.01.2007; DOE 17.01.2007; Efeitos a partir de 08.01.2007.)

[...]

IV – 5% (cinco por cento), a partir de 1.º de novembro de 2013. (Inciso acrescentado pelo Decreto 59.652, de 25.10.2013, DOE 26.10.2013.)

Levando-se em conta que não existe previsão expressa na legislação complementar, em sentido estrito, sobre a possibilidade de tributação dos serviços de monitoramento e rastreamento, a exigência do ICMS por parte dos fiscos estaduais decorre da interpretação de que os serviços em questão se enquadram no conceito de comunicação ou mesmo de telecomunicação.

Há várias respostas à consulta dos fiscos estaduais no tocante à subsunção dos serviços de monitoramento e rastreamento de veículos à norma tributária relativamente à incidência do ICMS.

PTA n.º 16.000202402-67 Origem: Belo Horizonte – MG

ICMS. Comunicação. Serviço de monitoramento e rastreamento de bens e pessoas. A prestação de serviço de monitoramento e rastreamento de bens e pessoas configura prestação onerosa de serviço de comunicação, sujeitando-se, portanto, à incidência do ICMS, nos termos do art. 155, inciso II, da Constituição da República/88.

Resposta à Consulta n.º 630/2000 São Paulo, 4 de outubro de 2000. [...]

18. Porém, o que realmente importa para determinar a possibilidade de aplicação do benefício fiscal em questão é a materialidade do serviço que presta. No caso, não há transmissão unidirecional de mensagens de estação de base a clientes portadores de receptores móveis, que é o que caracteriza o serviço especial de radiochamada, tampouco há autorização para prestar este serviço. Portanto, os serviços prestados pela Consulente estão sujeitos à tributação genericamente prevista na Lei 6.374/89, devendo, portanto, inscrever-se no Cadastro de Contribuintes do ICMS e cumprir as obrigações principal e acessórias previstas no Regulamento do ICMS.

Não apenas no que tange às consultorias tributárias estaduais, mas a existência de lançamentos tributários contra empresas desse setor comprova o entendimento de que as autoridades administrativas estaduais consideram que monitorar algo ou alguém, em verdade, configura um serviço de comunicação ou mesmo de telecomunicação.

É importante destacar que, apesar de o Convênio em comento ter sido supostamente aprovado pelos 26 Estados, verifica-se que alguns deles não concordavam com o entendimento de que os serviços de monitoramento e rastreamento configuram serviços de comunicação, por exemplo, o Estado de Santa Catarina:

Consulta n.º 026/06 – Fazenda de Santa Catarina [...]

a) os serviços que não presta se caracteriza como serviço de comunicação (a informação da localização do veículo ao seu cliente caracteriza comunicação – não prestação de serviço de comunicação – em que o emitente é a própria consulente, o destinatário é o cliente e a mensagem é a localização do veículo. b) a consulente é consumidora final de serviços de telecomunicação (telefonia fixa, internet, transmissão satelital), pois utiliza-os como suporte para prestação de monitoramento de veículos que presta ao usuário final.

Outro fato que merece destaque em relação ao convênio abordado, refere- se ao fato de que os Estados concedem anistia parcial dos débitos nos anos ainda dentro do período decadencial. Tal benevolência, não é ao acaso, pois até a edição desse diploma apenas existia algumas soluções de consulta nesse sentido, evidenciando que os Estados começaram a prestar a atenção a um mercado em crescimento.

De fato, as considerações supra e a discrepância de entendimentos de entes federados da mesma espécie (Estados) comprovam a relevância do tema analisado na presente dissertação.