• Nenhum resultado encontrado

A Convenção para o Futuro da Europa

2. DE MAASTRICHT A NICE – O INÍCIO DA INTEGRAÇÃO ECONÔMICA

3.2 A Convenção para o Futuro da Europa

O Tratado de Nice que alterou o Tratado da União Européia, deixou várias questões sem repostas, e conscientes deste fato os líderes europeus estabeleceram o ano de 2004 como sendo o período ideal para mais uma reforma. Neste sentido foi anexado ao Tratado de Nice a Declaração Respeitante ao Futuro da Europa, sendo aprovada na Declaração Laeken, que convoca a Convenção sobre o Futuro da Europa que propôs, como ponto central, o estabelecimento do compromisso político focado para a formatação da Constituição Européia.

A Declaração Respeitante ao Futuro da Europa, anexa a Nice, deixa clara a necessidade de um debate mais amplo e aprofundado sobre o futuro da União Européia conforme §3º, 4º e 7º da Declaração Nº. 23 anexa ao Tratado de Nice sendo respectivamente:

§3º. “Tendo aberto caminho ao alargamento, a Conferência apela a um debate mais amplo e aprofundado sobre o futuro da União Européia. (...) Em cooperação com a Comissão e com a participação do Parlamento Europeu, fomentarão um amplo debate que associe todas as partes interessadas: representantes dos Parlamentos nacionais e do conjunto da opinião pública, ou seja, círculos políticos, econômicos e universitários, representantes da sociedade civil, etc. Os Estados candidatos serão associados a este processo segundo formas a definir”.

§4º. “Na seqüência do relatório a ser apresentado ao Conselho Europeu em Gotemburgo, em Junho de 2001, o Conselho Europeu aprovará uma declaração, na reunião de Laeken/Bruxelas de Dezembro de 2001, que incluirá as iniciativas apropriadas para dar seguimento a este processo”.

§7º. “A Conferência acorda em que, uma vez terminado este trabalho preparatório, será convocada em 2004 uma nova Conferência dos Representantes dos Governos dos Estados-Membros, (...) a fim de introduzir nos Tratados as correspondentes alterações”.75

A Convenção para o Futuro da Europa estabeleceu um formato diferente das demais Conferências. Ela não foi produzida a portas fechadas; sendo convocados vários grupos de interessados em participar do processo. Porém, por possuir um formato de conferência intergovernamental era composta em sua grande maioria por representantes dos Estados-membros, e foi levada por uma via natural em direção da defesa dos interesses nacionais em detrimento aos interesses comuns, estabelecendo debates muito complexos que um cidadão comum dificilmente pode acompanhar.

As dificuldades obviamente levaram ao afastamento gradual do processo de discussão, transformando o que deveria ser um “fórum de assuntos comunitários e de interesse geral e comum”, em “debate político”, o que claramente levantou um grande pessimismo sobre as possíveis conclusões do processo.

A Conferência Intergovernamental iniciou oficialmente os seus trabalhos dia 4 de Outubro de 2003. Durante vários meses produziu uma série de atas e documentos que objetivavam o acordo político que deu origem à primeira Constituição para a Europa com texto finalizado em 18 de Junho de 2004. Os trabalhos da CIG foram definitivamente encerrados com a assinatura da Constituição em Roma, no dia 29 de Outubro de 2004.

Os “documentos gerados”76 em dois anos de trabalhos obedeceram

obviamente uma ordem cronológica. Sustentando como base que tais documentos geraram o modelo decisivo para a Constituição Européia; torna-se imprescindível a observação de alguns dos resultados que se destinaram a sintetizar o desenvolvimento das negociações.

A primeira contribuição da CIG 2004 foi um conjunto de medidas reativas ao Conselho de Ministros quanto a sua estrutura e funcionamento, com grande ênfase a divisão deste Conselho e três partes (Economia e Moeda; Assuntos Internos e Justiça e Política Externa e de Segurança) com principal destaque para a criação do Ministro dos Negócios Estrangeiros que adquiriu as responsabilidades nos domínios

da PESC substituindo a figura do Alto Representante, englobando as atividades desempenhadas por este até então, bem como a de outros assuntos sobre as relações exteriores; como por exemplo assumir a presidência do Conselho dos Negócios Estrangeiros e estabelecer os demais aspectos de ação da União em assuntos internacionais. Outro aspecto importante se estabeleceu nesta convenção foi à formação do Conselho e a presidência do Conselho de Ministros. Debatido em forma de questionário, manteve-se a confirmação da função legislativa do Parlamento Europeu pelo método de co-decisão com o aprofundamento das suas competências sobre a aprovação do orçamento comunitário.

Um aspecto importante a salientar na CIG 2004 foi em relação à rotatividade dos Presidentes dos diferentes Conselhos, exceção feita ao Ministro de Negócios Estrangeiros que é responsável pela PESC, estabelecendo às demais a rotatividade de “seis meses”. Neste sentido, com a rotatividade após o alargamento para vinte e cinco Estados-membros, cada Presidência reassumiria o cargo a cada doze anos e meio, o que realmente não parece lógico. Esta rotatividade se estende inclusive na Presidência da União, o causou grande polêmica.

Várias alternativas foram apresentadas como a manutenção do modelo rotativo e outras que defendiam a reformulação do processo com eleição por seus pares, todas demonstrando suas vantagens e desvantagem das referidas alternativas. A alternativa mais aceita finalmente foi que, para algumas presidências o modelo rotativo seria mantido, como exemplo a do conselho Europeu e do Conselho dos Assuntos Gerais. Os demais Conselhos, incluindo a Presidência da União, teriam um mandato de um ano e meio, eleitos pelos seus pares, o que provavelmente estabeleceria uma maior continuidade aos trabalhos das instituições.

Os debates intrincados não se fizeram presentes apenas nos assuntos relativos a rotatividades dos presidentes dos diversos Conselhos. As propostas com de reformulação dos princípios da subsidiariedade e da proporcionalidade, bem como da reformulação do papel dos Parlamentos Nacionais receberam mais de 1000 propostas de emendas, por não refletir os resultados do trabalho das discussões da Convenção.

No aspecto da subsidiariedade e da proporcionalidade a CIG sugeriu que todos os projetos e atos legislativos europeus sejam fundamentados observando os princípios da subsidiariedade e da proporcionalidade. Estes projetos devem incluir os elementos que permitam apreciar e avaliar o impacto financeiro do projeto, bem como as respectivas implicações para a regulamentação da aplicação pelos Estados-membros incluindo a legislação regional. Tal proposta alivia a carga de trabalho dos parlamentares e determina maior eficácia na tomada de decisões.

A CIG também sugere que os Parlamentos Nacionais receba da Comissão Européia o programa legislativo anual e qualquer outro instrumento de programação legislativa ou de estratégia política que a Comissão apresente ao Parlamento Europeu e ao Conselho de Ministros, além disso, o protocolo na sua versão revista solicita que a Comissão transmita direta e simultaneamente aos Parlamentos Nacionais, ao Parlamento Europeu e ao Conselho todos os seus projetos de atos legislativos europeus, proporcionando por essa medida o melhor nível de informação já conseguido pelos Estados-membros, onde antes (Amsterdã) havia uma designação que os Parlamentos Nacionais receberiam tais documentos “no devido tempo”.

O resultado final desta CIG foi consagrado em 29 de Outubro de 2004, quando em Roma, se deu a assinatura do “Tratado que estabelece uma Constituição para a Europa”. Da mesma forma como aconteceu com os Tratados fundadores, deverá ser ratificado pelos 25 Estados-Membros segundo as regras constitucionais respectivas.

Documentos relacionados