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Para desenvolvermos este tópico de nossa dissertação, utilizaremos uma bibliografia pertinente para compreendermos a fundação do TEN – Teatro Experimental do Negro, e o contexto das populações negras na cidade do Rio de Janeiro, além das matérias que saíram no periódico da entidade, intitulado de “Jornal Quilombo”, que acompanhou e divulgou os interesses e as atividades produzidas por este lugar social.

O TEN - Teatro Experimental do Negro foi fundado na cidade do Rio de Janeiro no ano de 1944, no final da vigência do Estado Novo, pelo intelectual negro Abdias do Nascimento. Tinha por intuito, além de produzir peças teatrais, motivar o negro, através da alfabetização, a combater a discriminação e o preconceito racial que existia na sociedade carioca. Funcionava em sede emprestada da União Nacional dos Estudantes, na Praia do Flamengo.

Nascimento (2004, p.209), explicou que o que o influenciou na fundação da organização foi principalmente a falta de atores negros em cena, nos teatros da cidade e do país, pois sempre que estavam em cartaz peças com papéis que representassem personagens negros, era comum pintar os atores brancos com tinta preta; com isso, atuavam nos espetáculos em detrimento dos atores negros. Para Nascimento (2004, p.209), isso era inadmissível em um país como o nosso, que, segundo ele, tinha na década de 1940, uma população de 60 milhões de habitantes, composta por 20 milhões de pessoas negras, que os diretores artísticos escalassem artistas brancos para as peças teatrais podendo estrelar com atores negros.

Com esta reflexão, Abdias do Nascimento organizou o grupo que, além dele, contou com a participação de Aguinaldo de Oliveira Camargo; o pintor Wilson Tibério (1916-2004)135, que era gaúcho de Porto Alegre, e morava na Europa na época; Teodorico dos Santos e José Herbel. A estes cinco, se juntaram, logo depois, Sebastião Rodrigues Alves, militante negro; Arinda Serafim, Ruth de Souza, Marina Gonçalves - empregadas domésticas -; Claudiano Filho; Oscar

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Wilson Tibério nasceu em Porto Alegre no ano de 1916. Estudou na Academia Real de Belas Artes do Rio de Janeiro. Lá participou de inúmeras exposições e das decorações do Carnaval de 1942 e 1943. Entre os destaques de seu currículo, exibe a participação em uma coletiva ao lado de Pablo Picasso, na Galerie Henry Tonchet, em Paris, no ano de 1951. Faleceu em Paris em 2004. Maiores informações: Jornal do Comércio de Porto Alegre, de 14, 15 e 16 de fevereiro de 2003. Comportamento: “Um reencontro” escrito por Tânia Barreiro. Na ocasião, o jornal trata do reencontro entre Wilson Tibério com o seu irmão, Manoel. Também foi possível notar, através de Wilson Tibério, “as idéias em movimentos” já que ele nasceu em Porto Alegre, morou no Rio de Janeiro e na França, mantendo contatos com o TEN.

Araújo, José da Silva, Antonieta, Antonio Barbosa, Natalino Dionísio, entre outros (NASCIMENTO, 2004, p.211).

Conforme o seu organizador:

Em 1944, no Rio de Janeiro, o Teatro Experimental do Negro, ou TEN, se propunha a resgatar, no Brasil, os valores da pessoa humana e da cultura negro-africana, degradados e negados por uma sociedade dominante que, desde os tempos da colônia, portava a bagagem mental de sua formação metropolitana européia, imbuída de conceitos pseudocientíficos sobre a inferioridade da raça negra. Propunha-se o TEN a trabalhar pela valorização social do negro no Brasil, através da educação, da cultura e da arte. (NASCIMENTO, 2004, p.210).

Para L.C. Pinto (1953, p.277), originalmente o grupo surgiu como um protesto contra a ausência do negro nos palcos brasileiros, ou contra sua presença apenas em papéis de segunda categoria, geralmente bufões e ridículos, que assim teatralizavam a posição subalterna do negro na estrutura social. Passou a existir, a partir do TEN, um Grupo dedicado a representar peças em que eles tivessem a oportunidade de se revelarem e se destacarem.

Abdias do Nascimento, organizador do TEN, nasceu em Franca, interior paulista, no dia 14 de março de 1914. Sua família era numerosa, somando um total de sete irmãos. Sua mãe era doceira, cozinheira e ama-de-leite de filhos de fazendeiros de café. O pai era sapateiro e um católico praticante. Com treze anos de idade, Abdias já ensinava no primário e atuava como guarda-livros em fazendas da vizinhança. Aos dezesseis anos, entrou para o exército, no qual foi expulso por ter se envolvido em uma briga, depois que seguranças o impediram de entrar em um bar na companhia de um amigo, pelo fato de serem negros. Desde a sua infância se envolvia com protestos e passeatas de rua contra a discriminação racial e pela integração do negro à sociedade. No entanto, sua primeira experiência de luta orgânica foi como membro da Frente Negra

Brasileira, fundada em 1931. Como, na época, ele ainda servia no exército brasileiro, envolveu-

se pouco nas atividades da organização, mas distribuiu panfletos reivindicando e denunciando o preconceito em nosso país na ditadura de Vargas. (CEVA, 2006, p.20-21).

Querendo agir em duas frentes, Nascimento promoveu uma primeira experiência de denúncias aos “equívocos e a alienação dos chamados estudos afro-brasileiros” (NASCIMENTO, 2004, p.211), ocorridos, segundo ele, nos Congressos realizados anteriormente e promoveu uma

segunda rumo à conscientização do negro, entendido para ele como de fundamental importância para que o mesmo tomasse consciência da situação objetiva em que se achava inserido no seu país.

Para Guerreiro Ramos (1954, p.215), o Teatro Experimental do Negro, fundado, em 1944 foi a manifestação mais consciente e espetacular do período, caracterizado pela recusa do negro em servir de mero tema de dissertações "antropológicas", e passando a agir no sentido de desmascarar o preconceito de cor.

Localizamos em Dexami (2001, p.361), outra necessidade que explicou a origem do TEN, a de mercado, pois, conforme a autora, devemos entender o Grupo através de várias condicionantes, incluindo esta: “essa identificação pode ser entendida tanto pela necessidade de produzir um espaço de expressão militante para os atores e diretores negros quanto pela abertura de um mercado de trabalho para o ator negro”.

Para Ceva (2006, p.26), o objetivo do TEN, era centralizado no combate ao racismo136e na construção da identidade negra positiva; isso fez emergir um discurso crítico marcado pela imposição da questão racial, questão esta efetivamente desconsiderada como um tema legítimo no contexto das décadas de 1940 e 1950, já que o Brasil tinha um forte projeto nacionalista e culturalmente vivia-se sobre a égide de uma civilização híbrida, miscigenada, um produto do cruzamento entre brancos, negros e índios, ideologia que, como vimos anteriormente foi iniciada com Gilberto Freyre e em seus estudos apresentados por ocasião do Primeiro Congresso Afro-

Brasileiro.

Através destes autores elencamos as principais necessidades sociais apontadas pelo TEN na criação de seus “oásis” sociais:

1- Apontar e agir nos problemas cotidianos do negro 2- Espaço militante de conscientização e de auto-estima 3- Instrução para o mercado de trabalho

4- Vagas no mercado de trabalho

5- Denúncia contra o preconceito e a discriminação através de medidas jurídicas 6- Autonomia de ações a favor da comunidade negra

7- Alfabetização

Se Tuna (2005, p.73) explicou que o Primeiro Congresso Afro-Brasileiro representou um amplo esforço de sistematização do que havia sido produzido até então sobre a cultura afro- brasileira, num tempo em que a Universidade brasileira ainda estava em estágio de formação, eu complementaria que, este esforço foi realizado pela elite agrária nordestina inflamada pelo discurso da miscigenação e que, de fato, foi e é observável, pois vivíamos e vivemos em uma sociedade multirracial com elementos culturais e principalmente humanos nas suas relações mais íntimas em certa harmonia, embora com desigualdades sociais. Qualquer pessoa percebe isto que escrevemos. Mas entendemos, por outro lado que foi a partir de Abdias do Nascimento e do

Teatro Experimental do Negro, que teve início a sistematização da reivindicação jurídica pelos

problemas enfrentados cotidianamente pelo negro em nossa sociedade. Isso representado, através das Convenções e Congressos Negros realizados pela entidade, que além de ter legitimado essas cobranças, significou um esforço teórico de quem sentia na pele o preconceito racial.

O que também é observável atualmente, pois embora o negro tenha mudado consideravelmente através das décadas, notamos que ainda são poucos os que conseguiram se destacar em setores sociais importantes, seja em cargos públicos, comerciais de televisão, novelas, pilotos de avião, etc., o que identificamos como influências do preconceito e que com o desenvolvimento político da humanidade será superado.

Retornando às propostas do TEN, neste lugar social foram organizados concursos de artes plásticas, concursos de beleza que enalteciam os padrões afro-brasileiros, eventos sócio- políticos. Também foi nele onde se cogitou uma medida constitucional para a criação de uma legislação anti-racista, além da produção de um periódico, intitulado de “Jornal Quilombo”. (NASCIMENTO, 2000, p.210).

O jornal Quilombo: vida, problemas e aspirações do negro; divulgou trabalhos do TEN em todos os seus campos de ação, entre 1948 e 1951. O jornal trazia reportagens, entrevistas, e matérias sobre assuntos de interesse à comunidade. A precariedade dos recursos financeiros do TEN, e do poder aquisitivo de seu público, não lhe permitiu uma permanência maior. (NASCIMENTO, 2004, p.223).

Antes de fundar o TEN – Teatro Experimental do Negro, Abdias foi preso na ditadura do Estado Novo, sendo que, depois de liberto, organizou, em 1938, o Congresso Afro-

Campineiro.137Segundo ele:

Protestando contra o Estado Novo, fui condenado pelo tribunal de Segurança Nacional no Rio de Janeiro, e ao sair da prisão em abril de 1938, fui com Geraldo Campos de Oliveira, companheiro de cárcere, ajudar na organização do Congresso Afro-Campineiro, com Agnaldo de Oliveira Camargo, Aguiar Sampaio, o tipógrafo Jerônimo e José Alberto Ferreira, entre outros. Este Congresso, realizado com a colaboração do Prof. Nelson Omegna, no Instituto de Ciências e Letras de Campinas, teve o propósito de combater o ostensivo racismo e separatismo tradicional dessa cidade, e avaliar a situação geral do negro no país. Durante uma semana discutiram-se as condições de vida do negro brasileiro sob vários aspectos: econômico, social, político, cultural. (NASCIMENTO, 2000, p.203).

Abdias é, hoje na maturidade de seus 94 anos de idade, um intelectual orgânico negro, que iniciou esta função nos quadros do movimento frentenegrino na década de 1930. Mas ao refletir sobre a entidade a que pertenceu, na atualidade, passados setenta anos, ele critica a maneira integracionista com que a Frente Negra procurou conscientizar as populações negras no período. Conforme suas palavras:

A Frente Negra Brasileira representava, sem dúvida, a maior expressão da consciência política afro-brasileira da época, consciência essa formada ao reagir contra o mais evidente aspecto do racismo, a sistemática segregação e exclusão à base de critérios raciais. Tratava-se de uma consciência e uma luta de caráter integracionista, à procura de um lugar na sociedade “brasileira”, sem questionar os parâmetros euro-ocidentais dessa sociedade nem reclamar uma identidade específica cultural, social ou étnica. (NASCIMENTO, 2000, p.206).

Discordamos da visão atual de Abdias do Nascimento pelo seguinte motivo: há setenta anos, a Frente Negra lutou pela elevação social e a inserção social do negro brasileiro em várias regiões do Brasil. Considerando o período tumultuado em que a mesma viveu, crise de 1929, “Revolução de 1930”, Período de Guerras, crise liberal, ascensão das ideologias centralizadoras,

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O Congresso Afro-Campineiro foi considerado por nós como o primeiro oásis formado para se combater o racismo no Brasil.

etc., ela deve ser sim pensada como um movimento questionador, pois passou a abrir portas em um momento nada fácil.

Pensamos que para refletirmos, na atualidade, o que representou esta organização para as populações negras devemos contextualizar, evitando com isso cair no erro que freqüentemente foi repetido pelos sociólogos da USP138, que ao examinarem o movimento especifico de São Paulo, levaram em conta somente aquele núcleo em sua profundidade, mas sem aprofundar o contexto político e social vivenciado pelo movimento frentenegrino através de outras vertentes espalhadas por outros Estados brasileiros. Pois a Frente Negra que existiu no Rio Grande do Sul, por exemplo, e como vimos no primeiro capítulo de nossa dissertação, queria a integração através da identificação assumida da identidade negra, em seus aspectos sociais, culturais e políticos. Portanto, ao pesquisar esta organização devemos entendê-la como um movimento frentenegrino, pois concordamos com Flávio dos Santos Gomes (2005, p.55), quando diz que: “para se analisar a FNB temos que pensar em seus desdobramentos que foram diversos, ganhando perfis e configurações particulares”. Ou seja, devemos pensá-la através de um “movimento de idéias”.

Retornando aos dois principais interesses do TEN, que eram “denunciar os Congressos

Afro-Brasileiros realizados anteriormente” e “conscientizar o negro de seus problemas

cotidianos”, o Grupo organizou as Convenções e a Conferência do Negro, além de manter uma proposta de alfabetização continua em sua sede.

Neste sentido realizou, nos mesmos moldes dos Congressos anteriores, “oásis” para debater a situação cotidiana enfrentada pelo negro, concretamente em seus aspectos sociais, ações que distanciaram estas iniciativas do tom cultural apresentado nos Congressos realizados no Recife e em Salvador, que, como vimos anteriormente, delinearam interesses mais tradicionais sobre a contribuição da identidade e das populações negras na formação de sociedade nacional. Já em um segundo momento o TEN, acreditava que para que os negros atingissem a plena

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Entre os anos de 1950 e 1980, sociólogos como Florestan Fernandes e Roger Bastide contribuíram muito em suas pesquisas no que tange à formação e à organização dos Movimentos Negros paulistas e principalmente no que conhecemos sobre a Frente Negra Brasileira. No entanto, seus aprofundamentos em torno da FNB, devem ser entendidos como pesquisas realizadas sobre o núcleo paulista, que embora repressentassem em seus estatutos os negros brasileiros, ela era somente de São Paulo e interior, pois existiram vertentes da Frente Negra em outros Estados com ideologias políticas completamente diferentes, embora todas elas primassem pela elevação social do negro na década de 30, conforme vimos no Primeiro Capítulo desta dissertação. Por isso denominamos as Frentes Negras, como um “movimento frentenegrino” tendo sua origem em São Paulo, mas levando em consideração os seus desdobramentos em outras regiões brasileiras.

consciência de sua condição social vivenciada, deveriam, os mesmos, participar de cursos de alfabetização e de cultura, o que de fato aconteceu, pois conforme Abdias:

Cerca de seiscentas pessoas, entre homens e mulheres, se inscreveram no curso de alfabetização do TEN, a cargo do escritor Ironides Rodrigues, estudante de Direito dotado de um conhecimento cultural extraordinário. Outro curso básico, de iniciação à cultura geral, era lecionado por Aguinaldo Camargo, personalidade e intelecto ímpar no meio cultural da comunidade negra. (NASCIMENTO, 2004, p.211).139

Os seminários realizados no TEN tinham por objetivo “formar uma turma de técnicos hábeis para organizar grupos, tendo em vista a eliminação das dificuldades emocionais que impediam a plena realização da personalidade do negro”. Com as turmas formadas, o Grupo atuava em morros, terreiros e em associações, promovendo a valorização social do negro”. (L.C PINTO, 1954, p.288).

O dirigente do Grupo, responsável teórico direto por este setor de atividades foi Alberto Guerreiro Ramos. Para Pinto (1954, p.292), é a partir destas atividades que surgiu a bandeira de luta de forte conteúdo emocional e místico, capaz de se propagar, de despertar, de arrastar os homens negros com a força estimulante que têm as grandes idéias e as mensagens redentoras, a ideologia da negritude.

Tendo como ideologia esta bandeira, o Grupo passou a ser acusado de racista às avessas, tanto por grupos de direita ligados à UDN, como por grupos da esquerda, ligados ao Partido Comunista. (NASCIMENTO, 2000, p.214).

Para L.C. Pinto (1953, p.293), artistas, poetas, escritores, pequena elite intelectual negra, homens de sensibilidade multiplicada pelo choque de sua vocação, seu temperamento e suas ambições de encontro à realidade de classe e de raça em que estão situados, racionalizaram a sua queixa e transformaram sua cor, fonte, muitas vezes, de dissabores, num valor supremo para eles, sob o qual se abrigam para dizerem, “sem medo e sem vergonha”: niger sum!

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Para saber mais da Proposta Pedagógica do TEN, ver: CEVA, Antonia Lana de Alencastre. O Negro em Cena: a proposta pedagógica do Teatro Experimental do Negro (1944-1968), 2006, p.72-73. Ceva concluiu que: “O TEN, mesmo com uma atuação breve (1944-1968), e devido à falta de patrocínio e de espaço físico próprio para a sua continuidade, mantém na contemporaneidade, se compararmos com as entidades atuais do movimento negro, as suas demandas. A educação é uma forma de luta contra a discriminação racial” e segue a autora: “...A Frente Negra (1931-1937) e o TEN (1944-1968) fizeram da educação sua principal estratégia de ação, para transformar a situação social do negro/a na sociedade brasileira”.

Retornando às Convenções e à Conferência proposta pelo TEN, notamos uma nova abordagem a partir destes encontros, pois nestes lugares sociais o interesse passou a ser sobre os temas que versavam diretamente sobre a realidade social do negro. Conforme L.C. Pinto (1953, p.32), “os estudos sobre o negro no Brasil quase que se limitaram, até hoje, a encarar o negro como espetáculo, no qual o centro de interesse estava localizado na assimilação do africano ao Novo Mundo, ou, mais particularmente, nos produtos desses processos sobre os diversos setores da vida brasileira: religião, língua, culinária, vestuário, música”. Quanto à questão de sua existência na sociedade brasileira, de maneira a pesquisar suas reais condições sociais, estes assuntos jamais despertaram o interesse sério ou sistemático de estudiosos do negro no Brasil. Foi Justamente com este intuito que o TEN organizou as Convenções e Conferência do Negro.

Sobre os “oásis” que esta entidade realizou, destacam-se a Primeira e a Segunda

Convenção Nacional do Negro. A primeira, na capital paulista no ano de 1945, que contou com

a presença de 500 pessoas; a segunda, em 1946, na capital carioca, com a presença de mais de 200 pessoas. As Convenções foram acontecimentos políticos de cunho popular, sem pretensões acadêmicas. Foram tratados temas sobre necessidades negras e situações socioeconômicas. A partir do interesse de seus organizadores, surgiram reivindicações concretas a favor das populações negras como a admissão de gente negra para a educação secundária e superior, formulação de uma lei antidiscriminatória e medidas jurídicas contra a discriminação. (NASCIMENTO, 2000, p.211).

É importante salientar que a cidade do Rio de Janeiro, devido à industrialização e urbanização crescente passa a ser socialmente e politicamente diferente das cidades do nordeste, como Salvador e Recife, locais onde ocorreram os Congressos anteriores, pois a questão racial era latente. Segundo Donald Pierson, que pesquisou as relações raciais na Bahia nos anos quarenta, no centro e no sul do país existia um sentimento de “preconceito de cidade cosmopolita”, entretanto, para o autor, esses casos eram exceções ao padrão cultural do Brasil. E cita exemplos de que para uma organização negra ter respaldo e existir, necessita ter, na cidade em que a mesma surge, forte tensão racial. (PIERSON, 1949, p.414).

Faremos uma breve análise, tendo como suporte as pesquisas realizadas em 1953 por L.C. Pinto em Rio de Janeiro, uma vez que foi nesta cidade de forte tensão racial que surgiu o TEN.

O sociólogo L.C. Pinto, que pesquisou as populações negras na cidade na década de 1950, identificou a industrialização e a urbanização, como fatores de origem das fortes tensões raciais na cidade, comprovadas mediante as suas pesquisas de ordem demográfica, de estratificação social e ecológica.

Na ordem demográfica, verificou-se uma queda da população negra na cidade, sendo que a proporção dos brancos passou, entre 1872 e 1950, de 55,21% para 69,86%, a dos negros, no mesmo período, diminuiu de 24,13% para 12,30%, o que era a tendência dominante no país. (L.C. PINTO, 1953, p.49). Sobre a estratificação social, percebeu que, embora tivessem permanecido teoricamente abertas as portas para os negros de outras camadas sociais, os meios para atingi-las, o progresso objetivo, para a maioria veio acompanhado pela urbanização a pela conseqüente proletarização. (PINTO, 1953, p.111).

Sobre a “ecologia” foram analisadas as distribuições dessa população nos espaços geográficos da cidade; Pinto (1953, p.113) explicou: “Um dos aspectos mais odiosos da discriminação racial é a segregação residencial, que obriga, pela força do costume, da lei, ou ambos, a população de determinado grupo étnico, inferiorizado pelo grupo dominante”, seja

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