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convicção de que fariam uma guerra libertária para os vietnamitas Como pensavam em termos de Guerra Fria, os

No documento Edição completa (páginas 44-48)

norte-americanos não perceberam que sua ação seria vista,

pelos vietnamitas, como imperialista.

Crise dos Mísseis. Nesse episódio houve uma confusão de- vido ao fato de a URSS enviar dois documentos de teores distintos entre si. Um propunha um acordo e o segundo era bem mais agressivo. McNamara diz ter recomendado ao presidente Kennedy a responder o primeiro recado. Isto foi feito e a crise foi solucionada.

Dessa forma, temos que, além da proporcionalidade, é parte constituinte de uma tomada de escolha prudente a sabedoria da limitação de nosso conhecimento. Isso nos traz à memória nossa TE3, que diz ser incerto o conheci- mento do mundo. Podemos então lançar mais duas teses metodológicas:

TM4) O conhecimento incerto do mundo nos reco-

menda agir de forma prudente; em caso de uma cri- se isto significa evitar o conflito o máximo possível.

TM5) Deve-se tentar persuadir nações que comparti-

lhem interesses e valores para a ação que envolva poder.

TO10) Nações têm interesses. TO11) Nações têm valores.

TM5) A guerra deve ser usada apenas como último re-

curso.

Lesson #4: Moral principles are often ambiguous guides to

foreign policy and defence policy, but surely we can agree what we should establish as a major goal of U.S. foreign policy and, indeed, of foreign policies across the globe: the avoidance in this century of the carnage – 160 million dead – caused by conflict in the 20th century.

TE5) Princípios morais podem levar a ações diferentes. TE6) Baseando-se em um critério objetivo (número de

mortos), pode-se chegar a um objetivo principal co- mum.

TT7) O objetivo principal comum para o século 21 é a

prevenção da carnificina (morte aos milhões).

TM6) A prevenção da carnificina é o primeiro passo

para a paz final.

Como já foi dito, para por em prática os métodos de diminuição dos malefícios da guerra, é preciso que as na- ções adotem um princípio moral que serviria como uma contenção interna ao uso desenfreado do poder, a saber, o princípio moral da prudência. Isso faria com que a de- sigualdade de poder existente – de forma material – entre as nações, fosse reduzida a uma igualdade de fato no uso desse poder.

Lesson #5 We, the richest nation in the world, have failed in

our responsibility to our own poor and to the disavantaged in the most fundamental terms of nutrition, literacy, health and employment.

TO 12) A pobreza e a desigualdade social são objeto

das relações internacionais.

TO 12.1) Questões sociais, econômicas e educacionais

são objeto das relações internacionais.

TM7) Certas condições sociais, e não apenas militares,

são necessárias para o equilíbrio de poder.

Lesson #6 Corporate executives must recognize there is no

contradiction between a soft heart and a hard head. Of course, they have responsabilities to stockholders but they also have responsabilities to their employees, their customers and to society as a whole.

TO13) O capital privado é objeto das relações interna-

cionais.

TM8) O capital privado deve contribuir para diminuir

as desigualdades sociais.

TM9) A igualdade social é mais um passo para a paz.

A TM9 funcionaria como uma solução externa para o equilíbrio de poder, sobrepondo igualdade material com a igualdade de uso do poder.

Lesson #7 President Kennedy believed a primary

responsability of a president – indeed the primary responsability of a president – is to keep the nation out of war, if at all possible.

TM10) O primeiro objetivo dos chefes de estado deve

ser evitar, se possível, que seus paises entrem em guerra.

Vemos em TM10 o uso da prudência como uma solu- ção interna de equilíbrio, o que mostra o Idealismo entran- do no Realismo, ou seja, a concepção realista de relações internacionais sendo modificada pela concepção idealista.

TM11) a guerra não é o primeiro recurso na solução de

problemas internacionais. Todavia,

TM12) A guerra não é um recurso excluído.

Aqui vemos a junção das duas concepções: tem-se um fim – a paz –, um recurso último – a guerra – e um mode- rador – o não uso imediato da guerra.

Retiraremos agora mais algumas teses dessa fala de McNamara: “a responsabilidade da guerra é do presiden- te”.

TN2) Os chefes de estado são responsáveis pela entrada

em um conflito armado.

TO14) As nações têm sempre um chefe.

TO15) Um indivíduo é responsável por uma guerra.

Levando-se em conta TO2 e seus corolários e TO15, temos:

racionalmente.

McNamara, comentando o termo The Fog of War, afir- ma que a guerra é tão complicada que a capacidade huma- na não dá conta de todas suas variáveis, nosso julgamento e nossa compreensão não as alcançam e, devido a isso, mata- mos gente desnecessariamente. Nós somos racionais, mas a razão humana tem limites. Assim:

TE7) O conhecimento da guerra é incompleto.

Todavia, o estudo da guerra é um campo de trabalho racional, temos então que:

TE8) O conhecimento da guerra é incerto, é probabi-

lístico.

Concluindo a lição, vale observar outra fala de McNamara em que recomenda desconfiarmos dos senti- dos, pois corremos o risco de só ver o que queremos ver; em uma atividade técnica, deixar de lado as crenças. O exemplo dado é o de um soldado que pensou ter percebido um ataque vietnamita no sonar de seu submarino, quando na verdade tratava-se de animais marítimos. O erro, con- tudo, só foi compreendido depois que os EUA retaliaram fortemente o Vietnam. O bombardeio ficou conhecido, ali- ás, como Rolling Thunder. Disso retiramos:

TE9) Os sentidos são a fonte do conhecimento. TE10) Os sentidos são influenciados pela razão.

Lesson #8 War is a blunt instrument by which to settle

disputes between or within nations, and economic sanctions are rarely effective. Therefore, we should build a system of jurisprudence based on the International Court – that the U.S. has refused to support – which would hold individuals responsible for crimes against humanity.

TM13) A guerra é um instrumento grosseiro na solu-

ção de problemas.

É como cortar algo com uma faca cega, ao cortar cau- sam-se danos colaterais indesejados ao produto (“a guerra termina quando se passa por cidades e vilarejos semeando morte e destruição, pois essa é a lógica da guerra”). Aos olhos de McNamara essa é uma lógica inevitável, por isso a guerra deve ser evitada, e, se existir, deve seguir os preceitos da prudência e do sucesso para ser a mais justa possível.

TO16) A guerra causa muitos estragos.

Mas:

TM14) Sanções econômicas não são eficazes. TM15) Deve-se melhorar a guerra.

Como?

TM16) Equilibrando seus poderes antagônicos.

Isso se torna possível regulando os atos pelo fator moral da prudência – a proporcionalidade. A despropor- cionalidade seria um crime contra a humanidade.

TM17) Punindo atos abusivos.

De que maneira?

TM18) Julgando os indivíduos em vez das nações.

Por meio de quê?

TM19) Por meio de uma corte internacional.

TO17) A humanidade é objeto das relações internacio-

nais.

Lesson #9 If we are to deal with terrorists across the globe, we

must develop a sense of empathy – I don`t mean “sympathy”, but rather “understanding” – to counter their attacks on us and the Western World.

TM20) Deve haver negociação com terroristas.

Nesse caso:

TM21) Entender como o inimigo atua.

Para isso:

TM22) Colocar-se na perspectiva do inimigo para en-

tender como ele pensa.

TE11) O pensamento humano pode ser compreendi-

do.

TE12) A ação humana pode ser compreendida.

TE13) Conhecemos a ação humana por experiência de

pensamento.

Essa última tese propõe o método apriorístico, e pro- visório, do thought experiment ou Gedanken experiment. Isso nos permitirá começar a conhecer o inimigo, procurar saber o que deseja, abrindo-se a chance de negociação, em vez da guerra diretamente.

TM23) O diálogo deve antecipar-se à guerra.

Lesson #10 One of the greatest dangers we face today is

the risk that terrorists will obtain access to weapons of mass destrution as a result of the breakdown of the Non- Proliferation Regime. We in the U.S. are contributing to that breakdown.

TO18) Terroristas são objeto das relações internacio-

nais.

TM24) O tratado de não proliferação de armas nuclea-

res – TNP – deve ser mantido.

Considerações finais

Este artigo procurou mostrar que o pensamento de Robert S. McNamara a respeito das relações internacio- nais encaixa-se bastante bem com as proposições de Hans Morgenthau a respeito do mesmo tema. A idéia principal foi trabalhar as proposições dos dois teóricos numa pers- pectiva de alinhamento, isto é, em seqüência. Procurei mostrar que há uma transferência teórica de problemas entre as duas teorias, o que indicaria uma progressividade no programa de pesquisa. A minha principal tese a esse

respeito é que McNamara fornece uma unidade de medida para o preceito moral e o pragmático de Morgenthau, qual seja, a vida humana – sua manutenção ou destruição.

Preciso dizer que um ponto falho nesse artigo é a falta de uma discussão sobre o que seria o núcleo do programa de pesquisa analisado, bem como o que seria sua heurís- tica positiva. Esta é uma questão que exige ser enfrentada uma vez que se queira prosseguir em uma análise usan- do o termo programa de pesquisa em sentido lakatosiano. Pretendo empenhar-me em tal investigação em um artigo posterior.

Também é necessário dizer que os trabalhos na área

de relações internacionais que procuram quantificações - unidades de medida – pra fundamentar melhor meta- teoricamente suas análises, o fizeram em relação à medida de poder. Esse parece ser o caso de Ray S. Cline em World

Power Assesment 1977: a Calculus of Strategic Drift. Dessa

forma, a medida proposta nesse artigo seria apenas componente de um aspecto do poder, o militar, deixando de lado outros campos importantes como o econômico e as dimensões do soft power. Todavia, essa discrepância com outras linhas de estudo não parece impedir que se procure quantificar os pressupostos de Morgenthau – a prudência e o sucesso.

Notas

1 McNamara, Robert S. “Ten Lessons”. In Morris, Errol. (diretor), Fog Of War – Eleven Lessons from the Life of Robert S. McNamara, 2003.

2 Chiappin, José R.N., “Racionalidade, Decisão, Solução de Problemas e o Programa Racionalista”. Ciência & Filosofia, no 5, 155-210, São Paulo, 1996.

3 Chiappin, José R.N. “Os fundamentos teóricos do programa do realismo em política internacional: a concepção de Morgenthau e a política de poder”. Carta Internacional, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1997.

De Havana a Doha: o sistema

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