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Cooperação e Competição nos Relacionamentos

No documento DISSERTAÇÃO DE MESTRADO (páginas 36-41)

2.1 RELACIONAMENTOS INTERORGANIZACIONAIS

2.1.3 Relacionamentos Cooperativos

2.1.3.1 Cooperação e Competição nos Relacionamentos

A dinâmica existente nas redes interorganizacionais tem sido apresentada pela literatura como resultante de uma série de aspectos que reúnem em uma mesma rede de relacionamento, cooperação e competição. No cenário competitivo atual tem se

proliferado um grande número de interações entre organizações concorrentes que cooperam entre si para alcançar objetivos comuns, de maneira que se assume o pressuposto de que o estabelecimento de relacionamentos cooperativos influencia o comportamento competitivo das organizações (CHEN, 1996; GIMENO, 2004; GNYAWALI; MADHAVAN, 2001). Balestrin e Vargas (2004) acrescentam que a confiança e a cooperação ocorrem simultaneamente com a competição e que são diretamente influenciadas pelos aspectos estruturais das redes interorganizacionais. Dessa forma, Loiola e Moura (1996) destacam que as formas interorganizacionais cooperativas são estruturas que privilegiam as relações de parceria sem, no entanto, eliminar a competição e os conflitos.

Mais do que distinguir estratégias cooperativas das competitivas, é preciso entender também como elas se relacionam. As estratégias competitivas concentram-se em questões sobre como uma organização pode obter vantagem competitiva sobre um concorrente. Existem duas abordagens tradicionais dentro do pensamento sobre estratégia competitiva. A primeira enfatiza que os lucros superiores derivam da estrutura da indústria a qual a organização faz parte e a partir do ajuste das estratégias genéricas, ou seja, liderança em custos, diferenciação e foco (PORTER, 1989). A segunda abordagem considera que a vantagem competitiva é obtida a partir dos recursos e competências únicas que a organização possui, as quais são combinadas para adicionar valor aos produtos e serviços, sendo difíceis de serem imitadas ou adquiridas (BARNEY, 1991, 1996; WERNERFELT, 1984). A habilidade de manter a estrutura de uma indústria e a posição da organização dentro dela pode ser alcançada pela cooperação com competidores. Isso poderia ser um relacionamento prioritariamente defensivo contra organizações dominantes; ou um relacionamento mais ofensivo com a intenção de assegurar uma forte posição dentro da indústria ou reduzir as oportunidades de novos entrantes (CHILD; FAULKNER, 1998).

Porém, é preciso reconhecer que, mesmo após estabelecer relacionamentos cooperativos, as organizações podem continuar a competir de outras formas. Por meio de relações de cooperação, as organizações podem trabalhar juntas para a melhoria coletiva do desempenho, compartilhando recursos e realizando atividades conjuntas num determinado mercado. Ao mesmo tempo, tais parceiros também podem competir por meio de ações independentes em outros mercados para a melhoria do seu próprio desempenho (GNYAWALI; MADHAVAN, 2001). Human e Provan (1997) concordam que, face à dinâmica inerente às redes interorganizacionais, as organizações podem

colaborar em um determinado projeto e competir em outros.

Para Bengtsson e Kock (1999) e Lado, Boyd e Hanlon (1997), quando se analisa a natureza dos relacionamentos entre competidores, quatro tipos diferentes de relacionamentos podem ser identificados a partir da combinação entre cooperação e competição, como pode ser observado na figura 02.

Figura 02 - Diferentes Combinações entre Cooperação e Competição.

Fonte: Adaptado Bengtsson e Kock (1999) e Lado, Boyd e Hanlon (1997).

A coexistência é caracterizada por relacionamentos que não incluem qualquer tipo de troca econômica, ou seja, existem somente trocas de informações e interações sociais. Além disso, os laços são bastante fracos, pois os competidores se conhecem, mas não interagem entre si (BENGTSSON; KOCK, 1999; LADO; BOYD; HANLON, 1997). Tal situação pode ocorrer em ambientes estáveis nos quais os competidores, apesar de atuar num mesmo mercado, não se consideram concorrentes entre si em função, talvez, da grande demanda pelos seus produtos.

No caso da existência de baixa competição e alta cooperação, as interações são freqüentes, compreendendo trocas comerciais, informacionais e sociais. Outras formas de interações podem surgir, embora as trocas sociais, de conhecimento e econômicas, sejam as mais freqüentes. Apesar da existência de cooperação, isso não significa que as organizações não compitam entre si e, talvez, exista um grau de desconfiança entre elas. Esse relacionamento pode ser formal ou informal. Os relacionamentos formais são caracterizados pela existência de acordos formalizados, enquanto que os informais são baseados em normas socialmente construídas e na confiança. As normas e os acordos formais ajustam a distribuição de poder e a dependência entre competidores de forma que os conflitos sejam raros. Além disso, os competidores têm objetivos comuns e a proximidade entre eles é baseada em fatores

Coopetição Competição Coexistência Cooperação Alta Alta Baixa Baixa Cooperação Competição

físicos e psicológicos (BENGTSSON; KOCK, 1999; LADO; BOYD; HANLON, 1997). Já as relações em que existe alta competição e baixa cooperação são caracterizadas pela ação e reação em função das ações dos competidores. Se um competidor lança uma nova linha de produtos, o outro provavelmente será obrigado a empreender ações competitivas para neutralizar o efeito daquela ação. Nesse caso, o poder e a dependência são igualmente distribuídos entre os atores, baseados na posição que cada um ocupa na rede. As normas são baseadas em regras informais aceitas como “regras do jogo” pelo conjunto dos competidores independentemente (BENGTSSON; KOCK, 1999; LADO; BOYD; HANLON, 1997).

Por sua vez, o relacionamento no qual ocorre cooperação e competição simultaneamente, pode incluir trocas econômicas e não-econômicas. O poder do ponto de vista da cooperação do relacionamento é baseado em aspectos funcionais de concordância. Já o poder do ponto de vista da competição do relacionamento é baseado na posição do ator na rede. De forma similar, a dependência pode aumentar de duas maneiras: quando cooperando, a dependência é estipulada em acordos formais ou baseada na confiança; e, quando competindo, a dependência está relacionada à posição do ator na rede e mais igualmente distribuída. Os conflitos são raros em função de que os competidores convivem mais harmoniosamente. Existem regras claras e formalizadas para a cooperação e a competição é baseada em regras informais de comportamento. Os objetivos da cooperação são conjuntamente definidos e os objetivos da competição são instrumentalmente orientados de acordo com cada organização individualmente (BENGTSSON; KOCK, 1999, 2000; LADO; BOYD; HANLON, 1997).

Para Bresser, Dunbar e Jithendranathan (1994), as organizações são mais favoráveis às estratégias de cooperação quando percebem que têm habilidades limitadas em atender às demandas ambientais que são caracterizadas por múltiplas interdependências e mudanças imprevistas. Conseqüentemente, a incerteza ambiental e a interdependência também provêem novas oportunidades de cooperação. Nesse sentido, Harrigan (1988) e Bresser (1988) acrescentam que uma organização pode fazer uso de estratégias de cooperação para complementar suas estratégias competitivas (BENGTSSON; KOCK, 1999; LADO; BOYD; HANLON, 1997).

A literatura tem procurado explicações para os diferentes níveis de cooperação e competição existentes nas redes interorganizacionais de forma que se dá destaque ao aspecto da imersão social, ou seja, o embeddedness (DACIN; VENTRESCA; BEAL,

1999; GRANOVETTER, 1985; UZZI, 1996, 1997). A partir dessa perspectiva, tem-se que o comportamento dos atores é influenciado pelo conjunto dos relacionamentos que eles mantêm. A problemática da imersão social preocupa-se em compreender como as estruturas sociais afetam a vida econômica. Dentro desse objetivo de entendimento, a pesquisa de redes sociais tem procurado analisar os campos em que as organizações estão imersas e como estes afetam o seu comportamento. Uzzi (1997), por exemplo, procura demonstrar como a economia e a estrutura social são interdependentes, afetando o comportamento e as relações entre organizações. Nesse sentido, a participação em uma rede de relacionamentos molda o comportamento competitivo e cooperativo das organizações (GNYAWALI; MADHAVAN, 2001).

Se por um lado as estratégias competitivas são benéficas para as organizações, por outro, ao agir como rivais, exclusivamente de maneira competitiva, as organizações tendem a caminhar para um jogo no qual ninguém ganha ou para uma situação ainda pior na qual todos perdem. Quando o comportamento é exclusivamente competitivo ocorrem apenas retornos temporários de curto prazo, sendo difícil manter a competitividade estratégica ao longo do tempo. Dessa forma, torna-se necessário que haja um desdobramento das estratégias de competição para abranger estratégias que usufruam os benefícios da cooperação (LEÃO, 2005).

Como conseqüência da dinâmica de cooperação e competição existente nos relacionamentos interorganizacionais, surge uma nova forma de caracterizar interdependência entre as organizações por meio da convergência de interesses e objetivos comuns. Marcon e Moinet (2001) caracterizam o ambiente de cooperação e competição como resultado da combinação das relações de influência entre os atores e o campo de ação reticular. As relações de influência podem variar de um equilíbrio até uma situação em que um único ator domina os relacionamentos. Por sua vez o campo de ação reticular refere-se à proximidade geográfica ou à proximidade temática como característica principal da rede interorganizacional. O cruzamento dos dois campos de ação reticular com as relações de influência resulta em quatro tipos de redes que combinam níveis diferenciados de cooperação e competição, como pode ser observado na figura 03.

Campo de Ação Reticular

Território Proximidade Temática Dominação de um Ator Rede Territorial

Dominada Rede Temática Dominada Relações de Influência Equilíbrio das Influências Rede Territorial Coopetitiva Rede Temática Coopetitiva

Figura 03 - Campo de Ação Reticular e Relações de Influência.

Fonte: Marcon e Moinet (2001, p. 140).

No caso de uma rede caracterizada pela proximidade geográfica ou, então pela proximidade temática, na qual existe um único ator dominante, tem-se uma rede dominada (temática ou territorial). Nesses casos, um único ator ou poucos atores dominam as relações em função de gozar de maior poder de influência em um território bastante fechado e, conseqüentemente, a tendência é a de que a competição impere nesses relacionamentos.

Já no caso de uma rede caracterizada pela proximidade geográfica ou, então, pela proximidade temática, na qual existe equilíbrio de influência entre os atores, ocorre um equilíbrio entre cooperação e competição. Nesse sentido, existe uma mobilização que procede da cooperação voluntária dos atores, sendo inevitável, também, a existência de um equilibrado grau de rivalidade.

No documento DISSERTAÇÃO DE MESTRADO (páginas 36-41)