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Formas e Níveis

No documento DISSERTAÇÃO DE MESTRADO (páginas 31-34)

2.1 RELACIONAMENTOS INTERORGANIZACIONAIS

2.1.2 Formas e Níveis

Os relacionamentos interorganizacionais se apresentam basicamente de quatro formas. A primeira delas é o relacionamento entre pares de organizações. Nele, uma organização A interage com uma organização B. Apesar desse tipo de relacionamento ser, provavelmente, o que recebeu maior atenção nas pesquisas empíricas, a sua análise provê pouca informação sobre o ambiente das organizações. Considerando que as organizações estão envolvidas em mais de uma relação em dado tempo, um entendimento da totalidade de condições ambientais que afetam os relacionamentos é obtido somente quando se observam, de forma agregada, todas as relações e transações envolvidas (ALDRICH, 1979).

A segunda forma é a de conjunto interorganizacional (ALDRICH, 1979) ou ligação em roda (CUNHA; CARRIERI, 2003) e originou-se da análise de conjuntos de papéis desempenhados de forma que é possível traçar o impacto das variações em um relacionamento diático à medida que afetam outras relações em par no interior do conjunto. Nessa forma, a ênfase reside em uma organização central e em seus relacionamentos diáticos com outras organizações, ou seja, a organização focal interage com mais de uma organização de um tipo particular, porém não existe interação mútua entre os outros membros (ALDRICH, 1979; CUNHA; CARRIERI, 2003).

A terceira forma de relacionamento interorganizacional são as redes interorganizacionais. Elas envolvem todas as organizações unidas por um tipo específico de relação e são formadas identificando-se os elos entre todas as organizações em uma população (ALDRICH, 1979). As redes constituem o padrão total de relacionamentos entre um grupo de organizações que se coordenam entre si em um sistema social para atingir metas coletivas e de interesse próprio ou resolver problemas específicos em uma população-alvo. As redes interorganizacionais, portanto, podem ser

muito complexas em função das possibilidades de formas e tipos de ligações possíveis entre as organizações, o que pode se agravar em função do tamanho e do contexto social no qual a rede está inserida (HALL, 2004).

O quarto tipo de interação é a chamada de ligação em corrente. Nela, cada membro do conjunto está ligado em série com a organização focal e existe contato somente na primeira ligação (CUNHA; CARRIERI, 2003).

Para Balestrin e Vargas (2004), as várias formas que as redes interorganizacionais adquirem provocam uma ambigüidade no próprio entendimento do termo. Essa problemática é discutida por Castells (1999), baseado no argumento de que as redes interorganizacionais aparecem sob diferentes formas, em diferentes contextos e a partir de expressões culturais diversas. Exemplo disso são as redes familiares nas sociedades chinesas; as redes de empresários oriundos de ricas fontes tecnológicas dos meios de inovação, como no Vale do Silício; as redes hierárquicas do tipo Keiretsu japonês; as redes organizacionais de unidades empresariais descentralizadas de antigas organizações verticalmente integradas e forçadas a se adaptarem a realidade atual; as redes horizontais de cooperação, como as existentes no norte da Itália, e as redes internacionais resultantes de alianças estratégicas entre grandes organizações que operam em diversos países (BALESTRIN; VARGAS, 2004).

Ao discutir as várias formas que uma rede interorganizacional pode assumir, Marcon e Moinet (2001, p. 167) desenvolvem uma tipologia que leva em consideração dois critérios: a natureza dos laços entre os atores e o grau de formalização de suas relações. “A natureza dos laços [...] constituídos entre os membros de uma rede, é um primeiro eixo de referência bastante pertinente desde que se trate de rede”. Tais elos, representados por um eixo vertical, podem se apresentar na forma de uma atividade de cooperação horizontal ou, então, como uma rede de relacionamento entre matriz e filial. Já o eixo de referência horizontal “é o grau de formalização mais ou menos reconhecida das relações constituídas entre os membros da rede” (MARCON; MOINET, 2001, p. 168). Em uma das extremidades desse eixo, situa-se um tipo de relacionamento com o maior grau de formalização que representa contratos jurídicos entre as partes. Na outra extremidade, encontram-se os relacionamentos com alto grau de informalidade, característica própria de relações baseadas em amizade, em laços familiares, em origens comuns e histórias compartilhadas, por exemplo (MARCON; MOINET, 2001). O cruzamento desses dois critérios serve de base para o estabelecimento de um mapa de

orientação conceitual das redes interorganizacionais, como mostra a figura 01.

Figura 01 - Mapa de Orientação Conceitual.

Fonte: Adaptado Marcon e Moinet (2001).

A partir do modelo de Marcon e Moinet (2001), percebe-se que em cada um dos pontos do quadrante poderá existir um tipo particular de configuração em rede, de forma que o modelo auxilia na compreensão da ampla diversidade de formas de redes interorganizacionais existentes. De forma geral, os dois critérios utilizados permitem que as redes sejam classificadas em quatro tipos: redes verticais; redes horizontais; redes formais; e redes informais. As redes verticais apresentam uma estrutura hierárquica que é utilizada, por exemplo, pelas grandes redes de distribuição que adotam a estratégia de redes verticais para se posicionar mais próximas dos clientes. As redes horizontais caracterizam-se pela cooperação interorganizacional e são constituídas por organizações que guardam, cada uma, sua independência, mas que optam por coordenar certas atividades específicas de forma conjunta. Já as redes formais são caracterizadas pela existência de contratos que regulam o relacionamento, estabelecendo regras de conduta entre os atores. Por sua vez, as redes informais surgem sem a utilização de qualquer tipo de contrato formal, situação resultante, sobretudo, do nível de confiança existente entre os atores (MARCON; MOINET, 2001).

Considerando os tipos de relacionamentos acima, surgem diferentes níveis de análise que permitem direcionar o foco de maneira a favorecer o melhor entendimento dos relacionamentos interorganizacionais. Auster (1994) destaca três níveis de análise para os estudos interorganizacionais: i) nível individual; ii) nível organizacional; e iii) grupos organizacionais. No nível individual, o foco se concentra sobre como as pessoas afetam as ligações interorganizacionais e os efeitos das ligações interorganizacionais sobre os indivíduos.

Rede Vertical

Rede Horizontal

O nível organizacional tem seu foco orientado sobre as características organizacionais e o seu relacionamento com a criação, gestão, manutenção persistência e fracasso dos relacionamentos interorganizacionais (AUSTER, 1994). Oliver e Ebers (1998) consideram que esse nível focaliza as propriedades ou ações individuais das organizações. Exemplos de estudos que têm recebido uma atenção especial da literatura, a partir desse nível de análise, incluem questões como: motivos organizacionais para estabelecer ligações; como se dá a escolha do parceiro; e como ocorre a negociação do relacionamento (AUSTER, 1994).

Já no nível dos grupos organizacionais o foco é orientado para as propriedades ou ações de um conjunto de organizações (OLIVER; EBERS, 1998). Avaliar como determinadas características ambientais afetam a formação e a transformação dos relacionamentos é um exemplo de estudo nesse nível de análise (CUNHA; CARRIERI, 2003). Embora as distinções gerais entre os níveis de análise sejam claras, os limites específicos são mais difíceis de delinear. O limite do nível de análise dos grupos organizacionais é o mais ambíguo, particularmente no atual contexto, em que conglomerados multinacionais são bastante comuns (AUSTER, 1994).

No documento DISSERTAÇÃO DE MESTRADO (páginas 31-34)