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2.3. FORMAS DE ORGANIZAÇÃO SOLIDÁRIA DA ATIVIDADE

2.3.2. Cooperativas

A primeira cooperativa a surgir no mundo foi fundada por um grupo de tecelões na pequena cidade de Rochdale, na Inglaterra, em 1844, como forma de enfrentar as dificuldades impostas pela revolução industrial (SINGER, 2002; BRASIL, 2003). No Brasil, a primeira cooperativa foi criada em 1847, nos moldes da precursora criada na Inglaterra. Esta organização serviu de referencial aos novos empreendimentos coletivos,

consolidando os princípios do incipiente cooperativismo brasileiro (SEAGRI/BA, s.d.). Segundo números oficiais, atualmente existem 7.549 cooperativas no país, com 5,3 milhões de associados, que empregam em torno de 170 mil pessoas em 13 ramos de atividades distintas (BRASIL, 2003).

A regulamentação do cooperativismo no Brasil foi instituída em 1971, através da Lei nº 5.764:

“(...)

Art. 4º As cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas a falência, constituídas para prestar serviços aos associados, distinguindo-se das demais sociedades pelas seguintes características:

I – adesão voluntária, com número ilimitado de associados, salvo impossibilidade técnica de prestação de serviços;

II – variabilidade do capital social representado por quotas- partes;

III – limitação do número de quotas-partes do capital para cada associado, facultado, porém, o estabelecimento de critérios de proporcionalidade, se assim for mais adequado para o cumprimento dos objetivos sociais;

IV – inacessibilidade das quotas-partes do capital a terceiros, estranhos à sociedade;

V – singularidade de voto, podendo as cooperativas centrais, federações e confederações de cooperativas, com exceção das que exerçam atividade de crédito, optar pelo critério da proporcionalidade;

VI – quórum para o funcionamento e deliberação da Assembléia Geral baseado no número de associados e não no capital;

VII – retorno das sobras líquidas do exercício, proporcionalmente às operações realizadas pelo associado, salvo deliberação em contrário da Assembléia Geral;

VIII – indivisibilidade dos fundos de Reserva e de Assistência Técnica Educacional e Social;

IX – neutralidade política e indiscriminação religiosa, racial e social;

X – prestação de assistência aos associados, e, quando previsto nos estatutos, aos empregados da cooperativa;

XI – área de admissão de associados limitada às possibilidades de reunião, controle, operações e prestação de serviços.

Segundo BRASIL (2003), a lei tem sido atualizada a fim de “que sejam detalhadas ações para desobstruir os ‘gargalos técnicos’ que impedem o avanço do cooperativismo brasileiro”. De fato, a lei apresenta anacronismos. Ao declarar que elas têm como objetivo “prestar serviços aos associados”, não se leva em conta o fato de que as cooperativas são elementos facilitadores do desenvolvimento regional, pois agem de forma desconcentradora, envolvendo recursos locais para populações locais. Outra declaração anacrônica é a de que as cooperativas “não (estão) sujeitas a falência”. Desta maneira, tem-se uma visão protecionista e que as considera como incapazes de agir de forma auto-suficiente.

Uma reputação indevida que enfrenta o cooperativismo é a de que ele serviria de blindagem à restrição de direitos dos cooperados, notadamente no que diz respeito aos direitos trabalhistas. Entretanto, os empreendimentos que utilizam tais práticas não podem ser considerados cooperativas, uma vez que não guardam os valores e os princípios cooperativos. Segundo BRASIL (2003), “o cooperativismo é um instrumento perfeito para uma parceria na organização da sociedade, com neutralidade e dentro da legalidade na defesa dos direitos dos cidadãos”.

Os valores sobre os quais se baseia o cooperativismo são ajuda e responsabilidade próprias, democracia, igualdade, transparência, responsabilidade social, eqüidade e solidariedade. No que se refere aos princípios cooperativos, que são as linhas orientadoras através das quais as cooperativas levam à prática os seus valores, estes são (COFAC, 2005; ICA, 2004; OCB/MS, s.d.):

“I – Adesão Voluntária e Livre – As cooperativas são organizações voluntárias, abertas a todas as pessoas aptas a utilizar os seus serviços, e dispostas a assumir as responsabilidades como membros, sem discriminações de sexo, sociais, raciais, políticas ou religiosas;

II – Gestão Democrática e Livre – As cooperativas são organizações democráticas, controladas pelos seus membros, que participam ativamente na formulação das suas políticas e na tomada de decisões. Os homens e as mulheres, eleitos como representantes dos demais membros, são responsáveis perante estes. Nas cooperativas de primeiro grau os membros têm igual direito de voto (um membro, um voto); as cooperativas de grau superior são também organizadas de maneira democrática;

III – Participação Econômica dos Membros – Todos contribuem igualmente para a formação do capital da cooperativa, o qual é controlado democraticamente. Se a cooperativa é bem administrada e obtém uma receita maior que as despesas, esses rendimentos serão divididos entre os sócios, proporcionalmente aos trabalhos de cada um. O restante poderá ser destinado para investimentos na própria cooperativa ou para outras aplicações, sempre de acordo com a decisão tomada na assembléia;

IV – Autonomia e Independência – As cooperativas são organizações autônomas, de ajuda mútua, controladas pelos seus membros. Se firmarem acordos com outras organizações, incluindo instituições públicas, ou recorrerem a capital externo, devem fazê-lo em condições que assegurem o controle democrático pelos seus membros e mantenham a autonomia da cooperativa;

V – Educação, Formação e Informação – As cooperativas promovem a educação e a formação dos seus membros, dos representantes eleitos e dos trabalhadores, de forma que estes possam contribuir, eficazmente, para o desenvolvimento das suas cooperativas. Informam o público em geral, particularmente os jovens e os líderes de opinião, sobre a natureza e as vantagens da cooperação; VI – Intercooperação – As cooperativas servem de forma mais eficaz os seus membros e dão mais força ao movimento cooperativo, trabalhando em conjunto, através das estruturas locais, regionais, nacionais e internacionais;

VII – Interesse pela Comunidade – As cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentado das suas comunidades através de políticas aprovadas pelos membros.” (OCB/MS, s.d.)

Estes princípios comprovam que as cooperativas têm o potencial de agregar as potencialidades individuais em benefício do conjunto. De acordo com BRASIL (2003), “o desenvolvimento do cooperativismo é indissociável de uma política de desenvolvimento econômico com solidariedade e justiça social”.

Analisados os princípios de organização solidária e justa da Economia, passa-se a examinar a seguir quais dos processos e instrumentos da Logística podem contribuir para a eficácia e eficiência destes nobres e justos princípios de organização da atividade econômica.

CAPÍTULO 3

GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTO OU SUPPLY

CHAIN MANAGEMENT

Este capítulo se inicia com uma discussão sobre as origens do Supply Chain Management – SCM. Continua com considerações a respeito deste conceito, situado de forma retrospectiva dentro do pensamento logístico, bem como da definição de cadeia de suprimento. O capítulo se encerra com o estudo dos três grandes segmentos básicos que a constituem, bem como dos fluxos existentes entre eles.