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Cores e o agendamento

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Capítulo IV ANÁLISE DA REVISTA BOA FORMA

2.1 Análise dos dados

2.1.1 Cores e o agendamento

Para complementar a análise, avaliamos também as cores em que as chamadas de capa são impressa. Constatamos que as mais utilizadas são o branco, o vermelho, o rosa e o preto.

Carrion (2008, p.71) explica o uso de cada uma, além de salientar que são importantes no processo comunicacional, pois provocam reações emocionais, incorporam regras e códigos constituídos por sistemas ou campos semânticos.

A cor branca representa liberdade, paz, limpeza, verdade. A associação afetiva é estabelecida com juventude, otimismo, afirmação e estabilidade. Assim, avaliamos que o uso desta cor foi utilizada em chamadas com afirmativas as quais remetem a determinado exercício físico, dieta ou técnica estética irá realmente provocar o efeito desejado, como a perda de peso, eliminação de estrias e celulites além de modelar o corpo.

Podemos ainda inferir que o uso da cor associado às chamadas pode provocar nas leitoras certa reação de otimismo e autoconfiança de que se seguirem as recomendações transmitidas pelo magazine irão reduzir o peso. Grafadas em branco foram encontradas os seguintes exemplos:

T8 6 minutos de exercício mental por dia você queima 4,5kg em um mês T10 seis minerais que enxugam seu corpinho

T20 - 4kg em 2 semanas com shakes feitos em casa T21 Plano fácil para você não ficar de fora

T22 Angélica barriga chapada sem plástica

T19 Linda no verão! Tratamento que vale por uma lipo – 10 truques de 1 minuto para esculpir as pernas

T13 Daniella Sarahyba revela seus 9 segredos para secar! T16 Urgente! Cardápio para desinchar, desintoxicar

T17 Na academia ou na balada torre até 400 calorias em 1 hora T18 5kg mais enxuta com o regime ortomolecular

T3 Os segredos da low carb

O rosa está associado à feminilidade, amabilidade e positividade, assim as chamadas impressas nesta cor expressam positividade de que a leitora conseguirá emagrecer e apresenta solução para problemas estéticos tipicamente femininos. Transcrevemos apenas os exemplos que foram grifados na mencionada cor, no entanto, o sentido se estabelece dentro do contexto da frase que as quais estão inseridas:

T1 2 garotas testaram T5 “fast food 3,6 kg”

T6 Horóscopo da Boa Forma

T9 vem para corrida, correndo! (plano fácil de 12 semanas) T25 Celulites

Já a cor preta instiga a curiosidade, capta o que acontece sem dizer ao que veio. Destacamos os seguintes exemplos os quais despertam na leitora a curiosidade de saber mais a respeito do assunto:

T1 Ano novo, corpo novo - o programa de dieta+ exercício que vai virar livro - Veja o antes e depois.

T2 3 power plano de caminhada (na areia e no mar). T3 dieta Supersucesso nos EUA!

T4 Extra, Extra: Novidades da ciência para você ficar bonita, sarada e de bem com a vida

T5 “Comi só por um mês e sequei.

T6 os astros ajudam você a ficar enxuta em 2005.

T7 a musa do Pânico na TV, magra e sarada com um treino que a gente mostra aqui.

T9 Seca gordura, turbina o astral e até ajuda a descolar um gatinho (plano fácil de 12 semanas).

T10 Heróis da dieta ortomolecular. T16 2 dias.

T18 Carol Castro.

T23 Guilhermina Guinle, 36 anos, 6 kg mais magra. Copie o cardápio e a aula. T24 concorra a 4 viagens de navio.

T25 cremes supereficientes e tratamentos que resolvem. T26 Água emagrece! A ciência comprova.

T27 Adriane Galisteu, 37 anos, 10 kg mais magra 2 meses depois de ter bebê. T28 você vai secar 1 kg em 2 dias, 2 kg em 7 dias, 4 kg em 20 dias.

T29 chapa a barriga e derrete a gordura (treino vapt-vupt). T30 emagreça andando com seu cão.

T31 Treino Express. T33 dieta fácil derrete.

T34 maneiras de sem fazer dieta.

T35 Seque a barriga e desenhe o corpo. T36 Siga a dieta e perca 5 kg em 1 mês. T37 fique de olho no rótulo e emagreça.

T38 Claudia Raia, 44 anos com a dieta do tipo sanguíneo (aqui, o cardápio para seu tipo).

T39 a aposta dos experts para resolver de vez o seu problema T40 Por que malho e não perco peso? Nós temos a solução

O vermelho representa vínculo afetivo, profundidade nas relações, efervescência, calor, agressão, sedução, remete ainda a proibição e revolução, sendo utilizada também para transmitir ânimo e credibilidade. As chamadas sobre dieta, a

quantidade de quilos que serão perdidos ou que as entrevistadas eliminaram aparecem grafadas em vermelho atraindo a atenção das leitoras para reduzirem o peso também.

T16 perder 1kg

T20 Dieta certa para seu tipo de corpo

T28 S.O.S dieta - você vai secar 1 kg em 2 dias, 2 kg em 7 dias, 4 kg em 20 dias T30 Plano rápido de caminhada

T31 5 minutos que chapam a barriga T33 Detox pós-festa 2 kg em 5 dias T38 7 kg mais magra

T39 Celulite, flacidez, gordura localizada T35 Power caminhada

T36 Vinagre queima gordura!

Assim, o uso de cores e imagens proporcionam uma leitura mais eficiente e agradável, ainda transmitem informações que trabalham com o imaginário do público.

Boa Forma representa a cultura de massa, acompanha as mudanças da realidade feminina, é escrita normalmente por mulheres, ou seja, responde as dúvidas, angústias e ansiedades do público leitor, transmitindo, refletindo e reafirmando a cultura.

A revista é uma importante propagadora de um ideal de corpo, na medida em que garante que a temática esteja sempre presente, divulgando as últimas novidades sobre o assunto, definindo e incorporando tendências. Deste modo, a previsibilidade e repetição das temáticas e dos conteúdos entre as edições são explanadas pela tematização, a qual é definida como

um procedimento informativo que faz parte da hipótese da agenda-setting, representando uma modalidade que lhe é particular: tematizar um problema significa na realidade, colocá-lo na ordem do dia da atenção do público, dar- lhe a importância adequada, salientar sua centralidade e sua significatividade em relação ao fluxo normal da informação não-tematizada. (WOLF, 2003, p.165)

A ênfase nas palavras, emagrecer, detonar calorias, força de vontade, determinação, dietas, exercícios físicos as tornam portadoras de determinados valores, ou seja, revelam que Boa Forma reproduz e reflete o padrão corporal da atualidade associando o corpo a uma mercadoria que reflete ainda as características da sociedade de consumidores do início do século XXI.

Segundo Lipovetsky, o corpo na sociedade de consumidores é um objeto que passa por transformações constantes para se adequar ao padrão sociocultural da atualidade, mas por outro lado, está em constante modificação revelando o hedonismo e narcisismo da atual sociedade, pois “a cirurgia estética, as procriações in vitro, mas também o consumo de psicotrópicos com vista à ‘gestão’ dos problemas existências ilustram essa relação individualista com o corpo”. (LIPOVETSKY, 2007, p.56)

O corpo ao ser comparado a uma mercadoria é segmentado, exigindo uma variedade de exercícios e produtos para cada parte, como cremes para pernas, área dos olhos, braços, rosto.

Assim, em uma sociedade na qual os valores das mercadorias são fixados pelo status que proporcionam, o corpo apresenta também seu "preço" fundamentado na lógica capitalista, ou seja, quanto mais torneado, firme e magro for, maior é seu valor cultural e social em virtude da imagem apresentada aos outros. A comparação ainda pode ser estabelecida pelo investimento financeiro necessário para se obter uma semelhança ao exposto na capa de Boa Forma.

A afirmativa de Baudrillard (1995, p.172), ampara a comparação entre a aplicação de capital para a aquisição de uma mercadoria com o corpo, “o corpo limita- se a ser o mais belo dos objetos que possuem, manipulam e consomem psiquicamente. O corpo reapropriado torna-se em função de objetivos capitalistas; quer dizer, se investe é para o levar a frutificar”. Assim, o padrão estético corporal da sociedade do início do século XXI segue o princípio normativo do prazer, da rentabilidade, do hedonismo, do narcisismo e da emulação.

A sociedade do inicio do século XXI, conforme relatado no primeiro capítulo, possui as seguintes características: presença marcante do consumo emocional, busca pela satisfação instantânea e constante, transformação do ser humano em mercadoria, gosto pela novidade, desperdício, narcisista. De tal modo, Boa Forma reforça, reflete e reproduz as normas da sociedade consumista.

No entanto, algumas chamadas revelam o lado paradoxal tanto do próprio veículo quanto da sociedade contemporânea, pois apresentam a conquista da perfeição estética como um ato honorífico, por outro mostram soluções ágeis, prazerosas e sem sacrifício.

Outra observação que realizamos foi sobre as imagens que estampam a capa do magazine. Geralmente são atrizes/modelos/apresentadoras que sintetizam o mito da

perfeição estética e do imaginário feminino. As personalidades ainda se assemelham a uma mercadoria exposta na vitrine.

Assim como uma indústria do sistema capitalista, a revista apresenta aos seus leitores os produtos e as ofertas. O corpo das celebridades estampado na capa é a mercadoria que está à venda, o imaginário da perfeição estética feminina, àquele que fará que o indivíduo se sinta aceito, reconheça sua identidade e posição social e as ofertas são as ginásticas, as dietas, cremes e cirurgias estéticas.

De tal modo, o corpo magro, torneado, firme e sem marcas torna-se, no século XXI, sinônimo de prestígio, sucesso, bem-estar, exibicionismo, emulação e honra. Uma mercadoria que é exposta para ser vendida e usufruída seja para a satisfação ou prazer emocional, experiencial ou ostentatória.

O conteúdo da revista nesta pesquisa pode ainda ser interpretado a partir da vertente satisfação/prazer da leitora ao buscar adquirir a informação que é do seu interesse. O contentamento/deleite no aspecto informacional pode ser explicado fundamentando-se na hipótese da Agenda-setting, a qual afirma que a mídia é uma agenda social que pauta todos os dias à sociedade o que é importante incluir ou excluir das discussões diárias. Essa hipótese defende que em consequência da ação dos meios de comunicação, o público sabe ou ignora, presta atenção ou descarta, realça ou negligencia elementos específicos dos cenários públicos.

Apregoa ainda que o público tende por incluir ou excluir de seus conhecimentos o que a mídia inclui ou exclui de seu próprio conteúdo; sustenta o que está presente na ordem do dia que são os assuntos presentes na agenda dos veículos de comunicação. A importância que a sociedade dá a esses assuntos coincide com o grau de importância que a mídia o retratou. Quanto maior o grau de exposição do sujeito à mídia, maior será o efeito do agendamento; os meios de comunicação não dizem como pensar, mas sobre o que pensar e, portanto, podem influenciar a maneira como o destinatário organiza a imagem da realidade.

No entanto, a sociedade retroalimenta as temáticas abordadas nos meios de comunicação, ou seja, a mídia busca pautar os assuntos que serão veiculados com base no que a sociedade deseja se informar. Este processo Martins da Silva (2008, p.86) denomina de contra-agendamento.

Contudo, há três formas distintas de agendamento midiático: 1) aquela que é feita por iniciativa da própria mídia, chamado de agendamento autônomo; 2) aquela que vem de fora para dentro das redações, agendamento heterônomo; 3) aquela que atua, de

forma permanente e sustentável para buscar a melhor visibilidade e melhor tratamento de temas institucionalizados, chamado de agendamento institucional (Martins da Silva, 2008, p.84).

Martins Silva ainda enumera três áreas de investigação do agendamento: Public Agenda-setting (estabelecimento da agenda do público): se constitui na relação causal entre os assuntos pautados pela mídia e as questões priorizadas pelo público; Policy Agenda-setting (estabelecimento da agenda da política governamental): referente às pesquisas do campo da política e comunicação que investigam como os meios influenciam nas percepções dos próprios políticos e Media Agenda-setting ou Agenda- building (estabelecimento ou construção da agenda pela mídia): que corresponde às análises sobre o processo de construção da agenda oferecida pelos veículos midiáticos.

A revista Boa Forma apresenta temáticas que são do interesse do seu público alvo, ou seja, assuntos que falam do cotidiano feminino em relação aos cuidados com o corpo. Assim, o processo se torna cíclico, pois as leitoras são motivadas a lerem a revista por abordar tópicos que satisfazem suas necessidades informacionais, e a segunda, em distribuir a notícia que é relevante para os seus receptores.

De tal modo, emissores e receptores tornam-se sujeitos ativos no processo de comunicação, sendo o agendamento realizado tanto pela mídia como pela sociedade.

Contextualizando a hipótese do agendamento para nosso objeto de pesquisa inferimos que Boa Forma, como uma mídia destinada a um público específico é também pautada pelas questões do cotidiano da mulher brasileira do século XXI, referente aos cuidados com a beleza e a boa forma. O magazine ao tematizar coloca os assuntos na ordem da preocupação do público, fazendo com que a atenção seja voltada para aquele tema.

As leitoras tendem a incluir ou excluir de seus próprios conhecimentos aquilo que a revista inclui ou exclui de seu conteúdo. No entanto, pelo contra-agendamento as leitoras também pautam para Boa Forma os assuntos que são veiculados todos os meses. Consideramos que Boa Forma tende a reiterar e reproduzir o cotidiano das leitoras em relação aos cuidados com o corpo.

Nas dez edições analisadas percebemos que em todas, as personagens que estampam as capas da revista são atrizes ou apresentadoras de televisão, brancas, novas, bem sucedidas, batalhadoras, felizes, sedutoras além de possuírem, entre elas, um corpo bem semelhante.

Esta última observação nos remete a considerar o corpo destas mulheres como uma mercadoria produzida em série para ser comercializada. De tal modo, o magazine legitima não apenas o posicionamento da revista sobre o assunto, mas também trabalha com o imaginário do público.

Assim, o magazine potencializa a busca e o imaginário social do ideal de corpo perfeito ao reproduzir mulheres magras, brancas, relacionar boa forma com felicidade, sucesso, honorabilidade, autoestima e sedução.

Pela análise podemos realizar outras considerações. Há uma previsibilidade e repetição sobre a temática: em que as atrizes são utilizadas como exemplo de pessoas persistentes e dedicadas para se manterem jovens, com o corpo em forma.

O uso da linguagem apelativa e verbos no imperativo procuram oferecer informações sobre como estas celebridades superaram uma fase na qual não estavam com seu peso ideal.

Acrescentamos ainda que o corpo como um identificador cultural e social, pode ser compreendido respaldado na teoria funcionalista dos meios de comunicação como uma mercadoria de simbologia cultural, a qual é apresentada transmitindo uma mensagem à sociedade.

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