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cores no edifício do ijf

Cada cor representa um setor do hospital: EiXO VERDE: Onde i ca o paciente estabilizado, que a qualquer momento pode receber alta.

EiXO AMARELO: É uma pequena Unidade de Terapia Intensiva (UTI) chamada de Risco 1. Usa-se quando o pacien- te foi estabilizado, mas precisa de aparelhos.

EiXO VERMELHO: Onde são realizados os

atendimentos em caráter imediato. O critério é o grau de sofrimento intenso com risco iminente de morte do paciente. EiXO AZUL: Atende os pacientes da atenção primária.

breves minutos no pátio. Macas amontoadas, guardas municipais e seguranças do hospital dividem o mesmo espaço conturbado, logo diante da principal porta de acesso dos acidentados.

O IJF também atende pelo apelido de Frotão. Pelas costas, é xin- gado de Matadouro – que, segundo o dicionário, quer dizer açou- gue ou lugar onde se está muito exposto à morte. À exceção das quatro placas numa das paredes do edifício, cada qual de uma cor – verde, amarelo, vermelho e azul –, a maior parte do prédio é cinzento, es- curo e apático.

O IJF é um hospital terciário — com maior porte e complexi- dade — que se serve de uma quantidade mensal de soro suiciente para completar o tanque de combustível de 400 carros do modelo Celta. Presta atendimento 24 horas para pacientes de alta complexi- dade, com prioridade para acidentes envolvendo traumas, queima- duras e intoxicações, nessa ordem.

O equipamento oferece 434 leitos, sendo 33 na UTI, onde é conciliada a demanda de 400 a 600 atendimentos diários. A cada hora no IJF, chega uma média de aproximadamente 20 acidentados – dois por minuto, segundo os cálculos. O paciente mais velho já

operado no hospital tinha 108 anos.

Somente a diária de um acidentado comum é superior a um salá- rio mínimo: custa R$ 814 para o hospital. Com o paciente internado na UTI, o IJF chega a gastar R$ 1.312 por dia.

Todo mês, cerca de 13 mil pacientes deitam nos leitos do hos- pital. Metade deles vem de cidades do Interior do Ceará – em geral, municípios da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF): Maraca- naú, Maranguape, Caucaia, Horizonte e Pacajus. Os funcionários adeptos do exagero pregam, inclusive, que o IJF já atendeu pacien- tes vindos de São Paulo e até do exterior. O complexo do IJF é com- posto por um prédio de oito andares, onde funciona o hospital, e pelos anexos: o bloco administrativo; o estacionamento interno dos funcionários; a casa amarela do arquivo e da assessoria de impren-

sa; e a antiga, ainda preservada, Assistência Municipal de Fortaleza (AMF) – com três pavimentos, ali operava o hospital antes de se

tornar Instituto.

Para a manutenção mensal de toda a estrutura, o hospital gasta em torno de R$ 19 milhões com medicamentos, material e folha de pagamento. O custo é dez vezes maior do que o recurso dispo- nibilizado pela Prefeitura de Fortaleza, que todo mês desembolsa R$1.750.000 para o hospital, segundo dados da Superintendência. Por isso, embora seja uma Autarquia do Município, o IJF é parte também do Estado, do Ministério da Saúde e de toda sorte de con- veniados com os quais sela parceria.

O IJF é um hospital que tem uma capela com horas marcadas para abrir e, por isso, permanece trancada boa parte do dia. Mesmo assim, o lugar está de braços abertos para crentes de toda espécie, numa estrutura arquitetônica pitoresca, de teto arredondado e pa- redes com detalhes em vidro fosco. Para acessar a capela, basta des- cer a rampa ensebada da rua Barão do Rio Branco, por onde se tem acesso ao IJF pelo subsolo. Na ladeira, é recomendado segurar-se às barras amarelas, carcomidas pelo tempo, a im de que seja evitado um escorregão.

A poucos metros do espaço religioso, há um gramado modesto, alguns fumantes cercados por cartazes conselheiros – O Ministério da Saúde adverte: fumar é prejudicial à saúde – e muitos semblantes exauridos de visitantes e acompanhantes. Completa o cenário uma lanchonete polivalente, onde salgados, bolos e bombons dividem espaço com escovas de dente, absorventes, meias, chinelos de dedo e calcinhas descartáveis.

No subsolo, o balcão de informações dá as boas vindas sob a bri- sa tímida de um ventilador empoeirado e as bênçãos de uma Nossa Senhora de Fátima plastiicada. A poucos metros do balcão, funcio- nários do IJF em marcha oicializam a chegada no ponto eletrôni- co. Após a passagem monitorada pela vigilância, descortinam-se no

mesmo pavimento uma agência bancária, a ouvidoria, o centro de imagens e a coordenação de serviços gerais, que gerencia zeladores, maqueiros, ascensoristas e todo o conjunto de proissionais à parte do universo médico.

Diariamente, uma média de 15 acompanhantes, pacientes ou visi- tas sentam diante dos olhos verdes do ouvidor e tecem comentários sobre o hospital – a maioria, críticos. Enquanto isso, no refeitório, um piso acima, todos os dias o equivalente ao peso de uma criança de 10 anos é desperdiçado: 26 quilos – quantidade que garantiria o almoço de uma só pessoa por quase duas semanas. Às vezes, a pessoa come com os olhos. O mal da humanidade é não pensar no outro, iloso- fa a chefe da Nutrição, Ângela Matos.

No mesmo pavimento do refeitório, quase cinquenta frascos entupidos de formol, de todos os tamanhos e cores, enileiram-se numa exibição sepulcral de cobras, aranhas, insetos e escorpiões venenosos, na entrada do Centro de Assistência Toxicológica (Cea- tox). É lá que funcionam os laboratórios de pesquisa dos farmacêuti- cos do hospital. O Centro está integrado à emergência, onde odores fortes de sangue, misturados por vezes com cheiro de xixi e vômito, envolvem a atmosfera do pátio.

O IJF é um edifício onde dizem que fantasmas zombam da sani- dade dos zeladores durante a madrugada, assombrando as escadarias, acendendo luzes e abrindo torneiras. Zeladores relatam visagens de uma loira, uma freira e uma antiga funcionária. Nada comprovado.

Toda a dipirona usada em um ano no IJF daria para amenizar diariamente a dor e a febre, por pelo menos sete anos, da população inteira das ilhas Seychelles, país à leste do continente africano, com 81.895 habitantes.

Há no hospital um tímido depósito de achados e perdidos, vin- culado ao serviço de Segurança, onde se amontoam dentaduras, cé- dulas de cruzeiro e muletas abandonadas.

de pacientes são protocolados e enviados ao Cemitério do Bom Jar- dim, onde se acomodam em sepulturas reservadas – procedimento adotado quando a família rejeita a perna, o braço ou qualquer outra parte do corpo do acidentado.

Entre o segundo e o sétimo andares, estão distribuídos, na or- dem crescente: os serviços de odontologia e endoscopia, além das nove unidades de internação de pacientes pós-cirurgia; as oito salas do Centro Cirúrgico; o centro de material e esterilização; a Unidade de Terapia Intensiva (UTI); a unidade de buco maxilo facial; e o Centro de Tratamento de Queimados (CTQ).

Do sertão ao litoral, uma das mais belas vistas de Fortaleza pode ser admirada no último andar do prédio, onde funciona a biblioteca, um auditório, o Centro de Estudos e Pesquisas (Cepesq) e as resi- dências médicas. Acima dele, o heliponto de enfeite.

Para muitos, o IJF não passa de um lugar detestável, em condi- ções de penúria, que causa nojo e repele. Para outros tantos funcio- nários do IJF, é um lugar respeitado – quando muito, querido. Do alto de uma saleta com vista privilegiada para a cidade, vizinho à bi- blioteca, no 8º andar, trabalha um desses funcionários com carinho quase paternal pelo hospital.

O médico aposentado Geraldo Timóteo, com 50 de casa, não sabe mais o que é a vida longe dos sabores e dissabores do IJF – a relação, frisa, está longe de ser dependência emocional. Na verdade, é uma relação vital: Não consigo deixar o IJF. Não é paixão pelo IJF. É porque a minha vida está ligada a ele como um cordão umbilical. Tenho impressão de que, se cortar o cordão umbilical, eu morro.

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