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O CORPO DISCIPLINADO – A BELEZA MÍSTICA DA FILHA DE MARIA

O corpo feminino, ao longo da história da Igreja Católica, ocupa um importante espaço de preocupação e cuidados. No catolicismo, o corpo feminino foi sendo pensado e teorizado por sacerdotes celibatários que viam no desejo despertado pelo corpo feminino um obstáculo ao seu celibato, que, por sua vez, se constituiu como o principal argumento de superioridade do clero católico. Apesar de a base da valorização do celibato advir ainda dos primeiros séculos da Igreja Católica, Uta Ranke-Heinemann afirma que “Com os dogmas da Imaculada Conceição em 1854 e da infalibilidade papal em 1870, o século XIX seria não apenas o século da Mariologia e do papado, como também o do celibato.”165, esse

mesmo século que traz os fundamentos do ultramontanismo e da romanização dos

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RANKE-HEINENMANN, Uta. Eunucos pelo reino de Deus: mulheres, sexualidade e a Igreja Católica. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos, 1996. p. 130.

quais a Pia União das Filhas de Maria é herdeira direta. Ademais, Ranke-Heinemann também argumenta que

Os celibatários da Igreja nunca conseguiram lidar livre e abertamente com as mulheres. Seu status e estilo de vida foram por demais baseados na diferenciação e oposição ao casamento e à feminilidade para que não vissem as mulheres como a negação de sua existência celibatária e uma ameaça a ela. As mulheres muitas vezes os atingiram como a personificação das armadilhas do demônio.166

São esses homens que buscarão ensinar às mulheres católicas, em especial as Filhas de Maria, como devem lidar com seus corpos, num momento em que as modas, modos e costumes estão mudando de forma acelerada, e colocam em evidência os corpos femininos na sociedade. Corpos, os quais, principalmente nos maiores centros urbanos, passam a reivindicar, não sem resistências por parte da sociedade conservadora, seus espaços e um maior protagonismo diante das novidades que os novos tempos oferecem.

Logo, como forma de combater as mudanças que influenciavam os comportamentos femininos, a revista valorizava a contrição e uma concepção de beleza feminina que disciplinava o corpo, ou seja, trata-se de um corpo feminino que sempre faz alusão ao espírito, como verdadeiro distintivo de beleza e que deve ser valorizado. O corpo feminino, na primeira fase, é essencialmente um corpo rigidamente delimitado, elevado na dimensão espiritual que lhe é atribuída. Desta forma, o que se fala sobre ele é velado, mas sobre as modas, que cobrem ou descobrem o corpo fala-se muito, embora o que fica implícito é que é preciso renegar as novas modas para que se continue disciplinando um corpo, já que, a partir do instante que o corpo fica em evidência e à mostra, sua tendência é o pecado. O corpo, veículo de prazer, quando sentido, fisicamente falando, é objeto de perdição, pois é a partir dele que a mulher peca e induz ao pecado.

Assim, o corpo feminino é insinuado, porém nunca mencionado claramente, principalmente no que se refere a prazeres terrenos, com isso incentiva- se um corpo sensível ao espírito, não ao mundo. A beleza feminina, na primeira fase da revista, passa pelo resguardo do corpo que nunca deve estar à mostra e, mais do que isso, o ideal de beleza de uma Filha de Maria, nesse período (1915-1932),

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passa por valores etéreos. Logo é a beleza espiritual que é concebida como o ideal de beleza de uma Filha de Maria.

Em virtude dessa preocupação de cercear o corpo feminino, a moda foi um dos assuntos que mais incomodou a Igreja católica em se tratando do gênero feminino. Para a Igreja, pensamento ecoado pela revista “Maria”, todas as virtudes femininas pareciam começar a partir de sua vestimenta, desse modo, não havia, portanto, nenhuma possibilidade de redenção feminina que não passasse pelo trajar com pudor, recato, ou melhor, não havia redenção feminina sem a preocupação com o corpo. O corpo feminino, sedutor, sensual deveria ser anulado, escondido sob tecidos grossos, mangas longas e saias compridas.

A moda, especialmente para as Filhas de Maria da primeira fase da revista, tem essa conotação proibitiva, como tudo aquilo que visava embelezar e colocar em evidência o corpo feminino. Essa necessidade de embelezar o corpo era vista como algo da fútil vaidade feminina, que alimentava a moda. A vaidade em torno do corpo, entretanto, é a pior de todas elas.

Os anos 1920 foram marcados pelo desejo de mudança de comportamentos. É a época das melindrosas e das “a la garçonne”. De mulheres que começam a reivindicar, mostrar e usufruir dos seus corpos. A moda ousa colocar esse corpo até então velado à mostra. Ao contrário do que se possa pensar, as novas modas não colocavam em demasia o corpo à mostra. Entretanto, a Igreja estava atenta aos mínimos detalhes e qualquer sinal de um corpo rebelde que ousa desvelar-se, ainda que aos poucos, é logo encarado como um perigo a ser combatido. Braços começam a escapar dos vestidões de manga longa e compor um visual com vestidos de mangas mais curtas; vestidos que se aproximam perigosamente dos joelhos incomodam os conservadores que achavam um escândalo as pernas visíveis. Como se não bastasse, com o argumento de se adaptar melhor ao nosso clima tropical, as grossas meias femininas, as quais deveriam impedir que a pele das pernas ficasse minimamente à mostra, passam a ser substituídas por meias finas, que não escondiam totalmente as pernas das moças e, por isso, seu uso era motivo de reprimenda na revista.

No processo de construção da identidade da Filha de Maria como espelho de Maria, era necessário constituir ela mesma como exemplo. Quando nos debruçamos sobre as relações estabelecidas entre a Igreja Católica e o gênero feminino no Brasil, a questão da moda é inevitável. Entretanto, o que se torna

possível verificar ao analisar detidamente a revista Maria é que essa questão não surge nos primeiros momentos da associação. A inclusão da moda nas questões que envolvem as Filhas de Maria é uma consequência direta da modernidade e das mudanças vivenciadas pela sociedade brasileira.

[...] Se examinarmos atentamente a sociedade moderna, acabamos por constatar que nos trajes actuaes predomina a moda inconveniente. Podemos adiantar que o vestir-se o menos possivel bate o record, e as conveniencias mais elementares não são respeitadas.

Decotes imprudentes, ausencia de mangas, transparencias atrevidas, constituem na quase totalidade o vestuario feminino.

[...] Chegamos ao cumulo do exagero. É uma questão mais grave do que se pensa. Deve haver uma reacção para convencer as adeptas destas modas que a belleza, o encanto e a elegância são unicamente a simplicidade e a graça da modestia christã. Precisamos mostrar publicamente que não somos moças pagãs, mas cathólicas decididas, promptas para a reacção contra o paganismo dos costumes.

[...] Chegou o tempo da reacção, em obediência á voz do Santo Padre, que é a Voz da Igreja.

É de mistér a luta, individual e colectiva. [...]167

A preocupação, as reprimendas e as orientações sobre o “Flagello hodierno” não aparecem com tanta ênfase nos primeiros anos da revista. Somente a partir de 1919, as referências e condenações às modas estarão presentes em praticamente todos os números do periódico. Importa ressaltar que, em princípio, em se tratando de modas, a revista fala de forma genérica da mulher, sem, no entanto, fazer qualquer referência às Filhas de Maria e seu modo de trajar. Ao contrário, recomenda-se a elas a permanência de suas práticas, são elas: dar exemplo pelo pudor, não aderir aos trajes modernos, manter seus corpos ocultos debaixo de pesados tecidos, longas mangas, grossas meias, decotes ausentes e ainda tentar convencer às jovens católicas o quão perniciosa pode ser a sedutora moda, a qual tem por princípio colocar à mostra aquilo que em nome do recato deve ser escondido: o corpo feminino. Na visão da revista, são as Filhas de Maria, diante das transformações, o sustentáculo da tradição, quer dizer, os baluartes dos corpos silenciados, enclausurados, ou pelo menos deveriam ser.

Ao eleger a moda como um inimigo da moralidade a ser duramente confrontado, os editores da revista pareciam ter ciência de que as associadas da Pia União, apesar da vigilância, da constante pregação, não eram imunes à sedução do trajar moderno e, por isso, era imprescindível combater o corpo visível das Filhas de

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Maria. Por outro lado, seus corpos domados, deveriam ser redutos do exemplo e, a partir disso, a elas caberia também combater o excesso dos corpos indomados das “levianas” filhas de Eva. Não demorará muito para que a revista comece a dar sinais de que tais jovens não estavam tão imunes assim, especialmente aquelas que residiam nas capitais e estavam mais suscetíveis às novidades modernas. Afinal, a Filha de Maria protagonista da primeira fase da revista é reflexo da imagem da tradição cristã católica que tem Maria como modelo e inspiração, entretanto, por ser mulher, há sempre o risco da “natureza” de Eva e, como todas as outras mulheres do seu tempo, estavam na sociedade e não numa casta redoma de vidro.

Postaes de amiga Querida Santinha

A vida do campo faz tanto bem! Não tenho saudades dos dias que passei nessa tua capital que te fascina tanto com seus entretenimentos frivolos, passa-tempos perigosos, variedades infinitas nos trajes, nos modos e... Ah! não imaginas como me impressionou mal essa fome de moda que tem ameaçado até mesmo as F. de M. Lembras-te daquelle passeio? Ao nosso lado trajando rigorosamente, um decote exagerado e livre que chamou a attencção de todo bonde, ia O. D. que nem se dava por achada. Descuidada, leviana, os braços nús, inteiramente nús, não tinham socego: ora sobre as pernas cruzadas (cruzadas de tal modo que mortificava a qualquer passageiro pudico e christão) ora sobre o espaldar do largo banco, já segurando a cabeça, já corrigindo caprichosa e irrequieta o lindo penteado que vento buliçoso e brincalhão ia de quando em vez desarrumando. Vi-a d’outra feita, entrar de fita azul na capella do... Que Filha de Maria!

As d’aqui são mais simples nos modos e na moda e por isto me edificam mais. Felizmente ahi mesmo são poucas, como O.D. que vive a copiar as vaidades do seculo, quando devia pelo nome e pela fita que traz, salvar a modéstia, o recato e o pudor que são melhor ornamento das donzelas christãs. – Tua Aline.168

Mesmo fazendo referência ao trajar de O.D., a personagem do texto, o que parece incomodar na imagem dessa Filha de Maria desviante é a libertação do corpo que se movimenta com liberdade, sem amarras. É o cabelo cujo penteado esvoaça com o vento e contrasta com o ideal comportado de cabelo que deve ser longo, mas não livre, de preferência preso a um coque, pois o cabelo solto deixa a mulher mais atraente. Os braços “nus” também incomodam, mais ainda incomoda sua inquietação, espaldados no banco contrastando com os movimentos contidos, discretos, limitados que deveriam ter um corpo feminino em público. E, por fim, as pernas que se cruzam e descruzam quando bem entende O.D. Como nos lembra Michelle Perrot,

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O corpo está no centro de toda relação de poder. Mas o corpo das mulheres é o centro, de maneira imediata e específica. Sua aparência, sua beleza, suas formas, suas roupas, seus gestos, sua maneira de andar, de olhar, de falar, e de rir (provocante, o riso não cai bem às mulheres, prefere-se que elas fiquem com as lágrimas) são objeto de uma perpétua suspeita. Suspeita que visa o seu sexo, vulcão da terra. Enclausura-las seria a melhor solução: em um espaço fechado e controlado, ou no mínimo sob um véu que mascara sua chama incendiária.169

É importante ainda que se ressalte o recorte espacial que a autora do texto faz: na capital, e acrescentamos nas cidades maiores, as influências das novidades modernas eram mais presentes e, consequentemente, mais tentadoras. No campo e nas cidades menores, a modernidade chegava com menos intensidade e, com isso, os corpos femininos estavam menos à mostra. Embora a autora faça questão de ressaltar que são poucas as Filhas de Maria que cedem à tentação da “nudez”, não é de se desprezar que, em um grupo, cuja vigilância constante visa um corpo velado, haja corpos rebeldes que insistem em se mostrar, apesar das admoestações do contrário. As “vaidades do século” colocavam em risco o recato e o pudor representados pela fita azul.

Em sua primeira fase, a revista parece enfrentar tal missão com certa tranquilidade, mas a aparentemente fácil tarefa de criar jovens marianas exemplares torna-se a cada ano mais complexa. As Filhas de Maria não estavam isoladas do mundo e a questão do trabalho feminino também diz respeito a elas. Mas como já sinalizamos nesse capítulo, a revista esperava contar com o trabalho das leitoras, mas não o trabalho remunerado, que abria para a mulher o mercado de trabalho, algo visto com muita cautela pelos setores conservadores. Entretanto, é bom que reafirmemos que a mão de obra feminina que incomoda é aquela das classes mais abastadas, posto que camadas médias e altas, que reivindicavam para si os valores burgueses da mulher “rainha do lar”, não devem arriscar a honra de sua família trabalhando fora do lar.

De acordo com o estudo de Susan K. Besse, em se tratando da força de trabalho feminina no Brasil, as discussões, por vezes, parecem paradoxais, especialmente nas camadas pequeno-burguesas, onde uma série de argumentos era levantada em favor do trabalho feminino. Entre eles, as dificuldades materiais de sobrevivência, que na década 10 e 20 do século XX, estavam agravadas com a

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inflação e a depressão econômica e, além das dificuldades financeiras, que poderiam ser aliviadas com a renda extra das mulheres da casa, (mãe, filhas, tias solteiras), havia também o discurso da modernização do país, com a necessidade de novas ocupações femininas.

Não obstante, havia também aqueles que viam com muita desconfiança essa saída da mulher para o mercado de trabalho. Muitos consideravam essa saída como fator de desagregação social e de desmantelamento do modelo de família burguesa. A ausência da mulher do lar, para ir ao trabalho, era vista como maléfica pelos conservadores, mesmo quando se tratava da classe operária, uma vez que, por eles, a mulher era vista como a base da estabilidade e da moralidade da família, em cuja responsabilidade estava a educação dos filhos, futuros trabalhadores. Segundo Besse,

Os conservadores deploravam a necessidade de as mulheres de todas as classes ingressarem na força de trabalho, prevendo que isso iria corrompê- las, desestabilizar suas famílias, pôr em risco sua saúde e a saúde de seus filhos e solapar a estabilidade social e a ordem política.170

Mesmo com toda a discussão sobre o trabalho feminino, mesmo para as mulheres dos segmentos mais abastados, a posição da revista, em sua primeira fase, era clara: a mulher pertence ao lar, a menos que ela saísse do lar em nome da Igreja e suas causas. Logo, o trabalho aparece nas páginas da revista, mas sempre em outra conotação que não aquela profissional e remunerada. O trabalho da Filha de Maria era voluntário, era um serviço à sociedade e, nesse sentido, não sofria censuras de nenhuma parte. Não à toa, e com a ajuda do discurso cristão-católico que enfatiza a caridade, que

As organizações femininas de caridade se proliferaram e prosperaram a partir do final da década de 1910. As mulheres de classe média e alta aderiam animadamente às fileiras cada vez maiores de voluntárias, pois a participação lhes oferecia tanto um meio de ingressar na corrente predominante da vida pública quanto uma válvula de escape para seus talentos e energias.171

Era somente nesse modelo que as Filhas de Maria deveriam ter um corpo público e de dedicação ao trabalho. Assim como a relação com o corpo físico, a

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BESSE, Susan K. Modernizando a desigualdade: reestruturação da ideologia de gênero no Brasil, 1914-1940. Tradução Lólio Lourenço de Oliveira. São Paulo: EDUSP, 1999. p. 145.

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relação com o trabalho deveria ser religiosa, visando à elevação espiritual, à defesa da fé católica e à busca da salvação. Desta maneira, era preciso diferenciá-las das demais e lembrá-las do que lhes cabia como missão, para isso trazer constantes comparações era importante para incentivar o permitido e reforçar o proibido.

A donzella mundana trabalha com atividade para o mundo, para seu corpo, para o tempo presente, e não faz quasi nada por Deus, pela salvação e Eternidade.

A donzella devota trabalha muito mais por Deus e sua salvação, pelo Céo e Eternidade, do que pelo mundo e seu corpo e para o tempo presente.

A donzella mundana procede com infatigavel e ardente atividade acerca das cousas que lhe agradam e é tíbia e negligente no trabalho que não escolhe nem lhe apraz.

A donzella devota procede com igual ardor e perseverança no trabalho que a contraria assim como naquele que lhe agrada, porque em tudo busca o beneplácito de Deus.

A donzella mundana facilmente omite seus deveres, quando só Deus é testemunha de suas acções e é estimulada e animada pela vista das creaturas.

A donzella devota é tão fiel aos seus deveres na presença de Deus só, como em publico; somente este pensamento: Deus me vê, lhe basta: o mundo nada vale a seus olhos.

A donzella mundana é escrava do respeito humano; não ousa fazer o que Deus e a Religião a pode reprovar e desprezar.

A donzella devota é sobranceira ao respeito humano: nunca o receio de incorrer na censura e disperso das criaturas a detem, quando sabe a vontade de Deus acerca do que tem a fazer.172

Os contrastes desenhados pela revista dão indícios de como o tempo e o modo de sentir-se da Filha de Maria devem ser moldados de outra forma. O tempo do presente, o prazer e a satisfação de si não devem estar entre as preocupações e necessidades das jovens piedosas. Seu tempo e sua satisfação devem ser de outra ordem: não é o físico e o atual, é o etéreo e a eternidade. Não é para esse mundo, enfim, a Filha de Maria ideal, que a revista busca edificar em sua primeira fase.

Usar contos curtos como forma de repassar lições sobre comportamentos era uma prática comum das publicações católicas, um exemplo é o jornal católico O Nordeste, editado na capital cearense, que costumava publicar muitos textos sobre o comportamento feminino e que tinha, nos contos, a principal forma de comunicar-se com a leitora173.

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Confrontros e Contrastes em palavras. In: Revista Maria, ago. 1919. p. 115.

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Certamente a escolha por contos se dava por vários aspectos, entre eles por ser um texto de entendimento mais fácil, mais rápido, no mesmo instante em que as narrativas eram eficazes em despertar o medo das leitoras que pudessem estar em alguma situação que a Igreja colocava como perigosa para a mulher. Entretanto, a revista Maria, nesse sentido, diferenciava-se das publicações católicas em geral e, ao falar de modas e modos, não tem por regra usar o conto como instrumento de convencimento. Ao contrário, os textos que falam sobre o comportamento feminino e as modas são textos de opinião, são artigos que falam sem muitos rodeios sobre os males da modernidade, especialmente no que se refere ao moralmente frágil universo feminino. Mesmo os textos enviados pelas leitoras assumiam esse tom de artigo de opinião, reunindo referências históricas, afirmações teológicas e, algumas vezes, citando autores para embasar os argumentos apresentados.

Nos primeiros anos da década de 1930, ainda na primeira fase da revista, tornar-se-á cada vez mais comum a organização de Congressos Eucarísticos pelo país. Uma clara demonstração de força da Igreja para o Estado e a sociedade, utilizando-se da numerosa “Legião Branca” como exemplo de mobilização. Como nos fala Riolando Azzi,

Os congressos eucarísticos nacionais, iniciados na década de 1930, constituem uma das manifestações públicas mais importantes utilizadas pela Igreja Católica para reafirmar sua presença na sociedade. Quatro eram as finalidades principais dessas solenes celebrações. Em primeiro lugar demonstrar publicamente a força da instituição católica, (...) reafirmar a preeminência da fé católica entre o povo brasileiro, (...) mostrar o potencial de força política, subjacente nessa numerosa aglomeração de fiéis. (...) Por último, essas solenes manifestações de fé deviam mostrar que era chegado o momento efetivo de transformar o Brasil num país verdadeiramente cristão.174

Alguns desses Congressos eram organizados especificamente para as Filhas de Maria e, nestes, eram elas que proferiam conferências, defendendo ideias,