1 A TRAJETÓRIA DA ESCOLA DE PHARMACIA E ODONTOLOGIA DE
1.3 Corpo Docente
O corpo docente que atuou na Escola de Pharmacia e Odontologia de Uberaba era formado, em sua maioria, por profissionais atuantes em outras atividades, ficando o ato de lecionar como atividade secundária. Estes professores atuavam no ensino superior e não tinham uma formação docente específica. Apesar de não estarem impedidos de atuarem, "nenhuma das reformas até 1930 procurou resolver o grande problema desta época que foi a inexistência de escolas preparadoras de formação de professores, quase todos autodidatas" (MENDONÇA, 2005, p. 03).
Uma das primeiras dificuldades enfrentadas pela Escola de Uberaba recaiu justamente na procura por professores qualificados para compor o quadro docente da instituição. A legislação em vigor, Decreto Federal n.º 16782-A de 13 de janeiro de 1925, regulava as cadeiras privativas de ambos os cursos, sendo de Odontologia, “metallurgia e chimica applicadas, technica odontologica, pathologia e clinica odontologica, prothese, e orthodontia e prothese dos maxillares” (Art. 127) devendo ser lecionadas por Cirurgião Dentista (Art. 126) e de Pharmacia, eram privativas as disciplinas de “pharmacia galenica, pharmacognosia, pharmacia chimica, chimica analytica e chimica toxicologia e bromatologica.” (Art. 116), devendo ser lecionadas por farmacêutico (Art. 115).
Apesar da exigência legal sobre as disciplinas privativas para professores com formação acadêmica em ambos os cursos, havia dificuldade de encontrar profissionais aptos e que quisessem atuar na docência do ensino superior, o que nos chama a atenção para:
[...] a falta de instituições específicas de formação, o exercício da profissão em tempo parcial ou como atividade secundária, a baixa remuneração, a falta da exigência de uma licença para exercer a profissão docente e os obstáculos na elaboração de normas e valores na produção de uma cultura profissional dos professores. (SANTOS, 2013, p. 10)
A Escola de Uberaba, no período pré Reforma Educacional de 1930, conseguiu se adaptar a falta de professores, para tanto, o recurso adotado foi de não cumprir a legislação com relação a qualificação profissional do seu corpo docente, levando em conta a falta de fiscalização do Estado que proporcionava certa liberdade a estas instituições livres.
No período pós Reforma Educacional, a falta de professores legalmente adequados para lecionar em algumas disciplinas perdurou na Escola de Uberaba, sendo possível encontrar nos pareceres do CNE, falas apontando essa prática, aparentemente comum, nas escolas de ensino superior, sobretudo, na Escola de Uberaba.
Na Escola de Uberaba, houve uma rotatividade significativa de professores, e segundo Casanova (2012, p. 59) lecionaram na Escola de Pharmacia e Odontologia de Uberaba 63 professores, em sua maioria, médicos, dentistas e farmacêuticos, sendo possível localizar dentre eles, agrônomo e bacharéis em direito.
A forma de seleção dos professores na Escola de Uberaba, foi, até o registro de seu primeiro Estatuto, em 1929, por indicação direta da diretoria, e após, deveria ser por concurso público40. Uma das exigências da Reforma Educacional de 1931, foi o ingresso do professor, nos quadros de alguma instituição de ensino superior somente por meio de concurso público. Houve registro de alguns editais da Escola de Uberaba, após 1931, para concurso de professores catedráticos.41
Os professores que atuaram na Escola de Uberaba, em maioria eram oriundos da própria cidade, alguns, ajudaram a fundar a Escola, em 1926. Estes professores foram sendo contratados a partir da necessidade da Escola, conforme abertura das turmas.
Apresento três quadros referentes aos docentes que atuaram na Escola de Uberaba. O primeiro, dos professores que atuavam no curso de Pharmacia até o ano de 1930. O segundo, idem do curso de Odontologia e o terceiro, uma lista como nome de todos os professores que atuaram na Escola de Uberaba, independente do tempo e época que lecionou.
O quadro a seguir resume os professores que atuaram na Escola de Uberaba, no curso de Pharmacia até o ano de 1930 e suas respectivas disciplinas.
40 Mesmo após o Estatuto e a Reforma Educacional de 1931, ainda houveram casos de professores nomeados sem concurso público, que era uma exigência da legislação federal.
Quadro 5: Quadro de professores e disciplinas do curso de Pharmacia até o ano de 1930. CURSO DE PHARMACIA
MATÉRIA PROFESSOR
1º Ano
Physica Dr. Francisco Mineiro de Lacerda Chimica Geral e Mineral Dr. Nicoláu João de Oliveira Botânica Geral e Systematica
Applicada á Pharmacia Dr. Ovidio de Rezende Alvim (substituto)
2º Ano
Chimica Organica Dr. Cesário Roxo (substituto) Zoologia Geral e Parasitologia Dr. Carlos de Moraes (substituto)
Pharmacia Gallenica* Dr. José Sebastião da CostaMédico 3º Ano
Microbiologia Mozart Felicissimo (substituto)
Chimica Analytica* Dr. Cesário RoxoFarmacêutico
Biologia Geral e Physilogia Dr. Mozart Felicissimo
4º Ano
Pharmacognosia* Dr. Nicoláu João de OliveiraMédico Chimica Toxicologica e Bromatologica* Dr. Carlos de Moraes42 (substituto) Farmacêutico Hygiene e Legislação
Pharmaceutica Dr. Paulo Rosa
Pharmacia Chimica* Dr. Mozart Furtado Nunes
* Disciplinas privativas. / Fonte: Relatório Anual de 1931, p. 04. (Anexo A, 164.33)
Das quatro disciplinas privativas que deveriam ser lecionadas especificamente por farmacêuticos, conforme determinava a legislação, duas estavam sob o comando de médicos. Essa situação, de irregularidade, não pode ser vista exatamente como má fé de seus diretores, mas sobretudo, pela dificuldade das instituições de ensino superior encontrarem profissionais para atuarem na docência.
42 Carlos de Moraes seria designado inspetor federal da Escola de Uberaba, sendo responsável pelos Relatórios enviados ao Conselho Nacional de Educação sobre esta instituição. Os Relatórios assinados por Carlos Morais, mais tarde seriam contestados no Relatório de Correição de 1934, feito por Jurandyr Lodi.
No curso de Odontologia da Escola de Uberaba, também houve dificuldade de encontrar docentes com a qualificação exigida por lei, conforme podemos verificar na exposição abaixo:
Quadro 6: Quadro de professores e disciplinas do curso de Odontologia até o ano de 1930. CURSO DE ODONTOLOGIA
MATÉRIA PROFESSOR
1º Ano
Anatomia descriptiva e medico- cirurgica da bocca e suas
dependencias
Dr. Francisco Mineiro de Lacerda
Histologia e Noções de
Microbiologia Dr. José Sebastião da Costa Physiologia Dr. Gastão Vieira de Souza
Metallurgia Dr. João Modesto CruvinelMédico 2º Ano
Pathologia Geral e Anatomia Pathologica especialmente
bocca Dr. Gastão Vieira de Souza
Techinica Odontologica Dr. Aristoteles Teixeira de Salles Dentista
Prothese, segundo anno Dr. João Primavera JuniorDentista Pathologia e Clinica
Odontologica Dr. João Modesto CruvinelMédico 3º Ano
Clinica Odontológica Dr. Assis Moreira Júnior
Orthodontia e prothese dos maxillares
Dr. Evarndro Americano do Brasil
Dentista Hygiene especialmente da
bocca Dr. Sebastião Fleury
Therapeutica Dr. Aristoteles Teixeixar Salles Fonte: Relatório Anual de 1931, p. 07. (Anexo A, 164.33)
Das cinco disciplinas privativas, duas estavam sendo lecionadas pelo médico João Modesto Cruvinel. Esta situação não afetou a diplomação dos alunos referente a primeira fase desta instituição, mas trouxe sérios problemas no período pós Reforma Educacional, sendo uma das irregularidades apontadas no Relatório de Correição de Jurandyr Lodi, em 1934, e entregue ao CNE.
Como a rotatividade de professores era alta, sobretudo, na fase pós Reforma Educacional de 1931, seria difícil confeccionar um quadro preciso conforme foi feito do período pré Reforma Educacional. Optei por trabalhar com o quadro trazido por Casanova (2012, p. 59) onde ela conseguiu reunir todos os professores que atuaram na instituição no período em que a Escola de Uberaba funcionou. Segundo Casanova (2012, p. 74), “o corpo docente era constituído por profissionais de Uberaba e de outras cidades”.
No quadro abaixo é possível identificar, na maioria dos casos, a profissão principal de cada um dos professores. Esta representação não considera o tempo nem o ano em que o professor atuou na instituição, ou seja, se o professor atuou um breve período de tempo ou longo, irá constar igualmente na relação abaixo:
Quadro 7: Lista nominal dos professores que atuaram na Escola de Uberaba durante sua
vigência (1926 a 1936). Álfen Cordeiro da Paixão -
Farmacêutico
Álvaro Guaritá - Médico Antônio de Carvalho - Médico Antonio Sabino de Freitas Júnior - Médico
Aristóteles Salles - Cirurgião-dentista Assis Moreira Júnior - Cirurgião-dentista Boulanger Pucci - Médico
Carlos Alberto Quadros Carlos Morais - Farmacêutico Carlos Terra - Médico
Cesário Roxo - Farmacêutico David Carvalho - Farmacêutico Didino Napoleão - Médico
Domingos Paraiso Cavalcanti - Médico Eduardo Palmério - Dentista
Evandro Americano do Brasil - Dentista Francisco Fernandes - Médico
Francisco Mineiro Lacerda - Médico Gastão Vieira de Souza - Cirurgião- dentista
Helly Souza Andrade - Médico Henrique Von Krügger Scheroeder - Farmacêutico
Hermenegildo Miziara
Inácio de Oliveira Ferreira - Médico Jeferson Teixeira Alvares
João Edson do Couto
João Henrique Sampaio Vieira da Silva - Médico
João Modesto Cruvinel - Médico
José Augusto Ferraz - Cirurgião-dentista José de Oliveira Ferreira - Médico José Sebastião da Costa - Médico José Virgílio Mineiro - Médico Juarés de Souza Lima - Médico Levi Cerqueira - Bacharel em Direito Luiz de Paula - Médico
Manoel Libânio Teixeira - Cirurgião- dentista
Mário Pinheiro
Moacir Medina Coeli - Advogado Mozart Felicíssimo - Médico Mozart Furtado Nunes - Médico Norberto de Oliveira Ferreira - Médico Odilon Fernandes - Cirurgião-dentista Olavo Rodrigues da Cunha - Médico Oldemar da Silva Guimarães
Osvaldo Pinto Coelho - Médico Oto do Lago Galvão
Ovídio de Rezende Alvim Paulo Rosa - Médico
Raymundo Soares de Azevedo - Agrônomo
Romeu de Campos Ferreira - Farmacêutico e Dentista Rui Barbosa Pinheiro - Médico
Santos Gabarra - Médico e Farmacêutico Sebastião Fleury - Advogado
Sócrates Bandeira - Médico Victor Mascarenhas - Médico Victorio Guaraciaba - Bacharel em Direito
João Nicolau de Oliveira - Médico João Primavera Júnior - Cirurgião- dentista
Jorge A. Frange - Médico
Josafá Amado Dantas - Bacharel em Direito
Josafá Oliveira Dantas - Bacharel em Direito
Waldemar da Costa e Silva Virgílio Mineiro - Médico Rui Soares Pinheiro
Fonte: CASANOVA, 2012, p. 59.
Atuaram na Escola de Uberaba um total de 63 professores, segundo Casanova (2012), de diversas origens, mas a sua maioria, residentes na própria cidade de Uberaba. Essa rotatividade demonstra o acerto de Santos (2013) quando afirma a falta de preparo deste profissionais para atuarem no ensino superior somada há falta de incentivos, como salário melhores e vislumbre de uma carreira progressiva, fazendo com que esses docentes deixassem de se interessar pela carreira acadêmica.